A escolha
por essa temática foi ao lembrar que nasci num sítio, na cidade de Belo
Jardim – PE, circundado por mata fechada e a possibilidade de usar essa imagem
como uma metáfora para nosso dia a dia. Algo que transitasse por algumas
contradições e o que não faltam são contradições a serem observadas, tanto
nossas como de pessoas que conhecemos. Quem não conhece uma criatura que mudou
de lado ou de opção ao primeiro lampejo?
Caminhar
em mata fechada sem conhecer o caminho é o mesmo que entrar num rio sem saber
nadar. Por outro lado, para quem vive a vida ao deus-dará, qualquer destino serve ou
estará entregue ao acaso.
Lembrando que a mística:
destino-acaso não se define por si só, pois o acaso pode ser o atrevimento de
um momento que queria ser destino.
A partir desse contexto me
deparo com as primeiras dúvidas: Será que todo ser humano tem dois “eus” dentro
de si? Duas personalidades? Duas formas de ser? Dois estilos de sentimentos, com oalgo
próximo da dualidade do bem e do mal?
A impressão que se dá é a de
que de fato somos luz e sombra ao mesmo tempo, como sugere a Psicologia
Analítica de Jung. Um lado se esconde para que o outro aflore. Fenômenos esses que
ocorrem todos os dias com milhares de pessoas e nem mesmo elas se atem às
mudanças de comportamento, que provavelmente também afetam quem vive ao lado. Isso pode
gerar um estado depressivo, onde alegrias e tristezas se misturam, assim como
sofrimento e felicidade, fazem parte dessa caminhada. A partir daí, o grande desafio é a busca do conhecimento interior e como dominar cada um desses sentimentos.
Ao buscar ajuda nos
clássicos sobre essa dualidade, chegamos a várias compreensões. Segundo
Rousseau o ser humano nasce bom e é a sociedade que o vicia. Daí vem à discussão
de que o ser humano é produto do meio.
Por outro lado, no Estado da
Natureza, Thomas Hobbes afirma que os homens (usarei por conta própria a
mudança de homens para seres humanos) podem todas as coisas e para tanto
utilizam todos os meios para atingi-las. Afirma ainda que os “seres humanos”
são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um
poder de violência ilimitado.
Hobbes afirma ainda que no
uso de suas faculdades naturais, para conquista e manutenção do bem
conquistado, os “seres humanos” usam da razão, da paixão, da experiência e da
força física se necessário for, mas também o descarta quando não mais se
interessam. Talvez isso explique o drama, por exemplo, de quem ama ou se
apaixona e não é correspondido. Um drama desnecessário, pois não há a menor
razão de se gostar de alguém que não corresponde à outra pessoa, porém isso
acaba sendo um fator importante para o crescimento dos seres humanos. O sofrimento também
gera crescimento.
Já Santo Agostinho afirma que, sendo o homem imagem e semelhança
do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar. O livre arbítrio, aliado
às escolhas levam os seres humanos a amar, mas também a odiar, de forma
particular de cada um e de cada uma. A contraposição ao ódio vem da máxima religiosa
de que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Máxima essa totalmente desvirtuada nos dias de hoje por muita gente.
Para fechar a questão de forma particular para esse
post, Nietzsche afirma que o conceito de bom ou de mau na esfera moral não
possui sentido em si mesmo, de modo que nada, em sua essência, é objetivamente
bom e tampouco mau. Creio que a partir dessa visão, vêm as crenças, valores e
atitudes. Imagino ainda que dê para encaixar nesse contexto o fato de que não
existe verdade absoluta e sim a verdade particular de cada um e de cada uma e suas
consequências, como por exemplo, a lei do retorno.
Ao nos darmos conta de que possuímos
duas pessoalidades, como agir com cada uma delas? Por onde anda meu outro eu?
Esse caminho pode nos dar respostas do porque que algumas pessoas mudam da água
para o vinho sem nenhuma explicação? O importante é entendermos que o lado do bem conserva, enquanto o do mal
destrói o que vier pela frente.
A
partir dessa conversa, o que fica latente a meu ver é a necessidade permanente do
autoconhecimento, que pode levar até a vida toda e que mesmo que uma pessoa venha
a se descobrir, se torna impossível um autoconhecimento pleno, pois somos
momentos, lutamos pelo previsível, buscamos coisas simples e nos decepcionamos
quando nos deparamos com o imponderável. Ninguém se conhece totalmente, apenas
o que é aparente o resto se torna ilusão.
Por
entre as frestas da mata se vê um belo amanhã. Isso vale para os dias
complicados que vivemos hoje, onde o ódio tenta competir com o amor e se tornar
o senso comum, porém serve mesmo é para acreditamos que por trás de cada
arvoredo existe uma bela paisagem para ser vista, mas também para ser
vivida. Basta acreditamos e servir à causa maior que pode mudar o mundo.
Algo
me parece real. Quando tudo que nos rodeia começar a parecer tangível, principalmente
pelos nossos desencontros, por certo o amor continuará sendo uma coisa finda,
usando um trecho da belíssima poesia “Memórias” de Carlos Drummond de Andrade.
A partir dessa compreensão, é visível que o ato de amar perpassa religiões,
credos e ideologias e sua materialização faz com que a solidariedade seja um
caminho seguro em busca das nossas essências.
Enquanto
há vida existirá um amanhã, que podemos imaginá-lo, tanto como uma chuva de verão com
cheiro de terra molhada, como gotas de orvalho com cheiro de mato verde ou como
luz ao sair da escuridão, pois virá recheada de esperança.
Na
visão da minha existência, ontem plantei um pé de esperança e bebi na fonte
cristalina daquele riacho e estou certo de que amanhã estarei nas ruas com o
povo de bem comemorando a retomada da luz que está em trevas.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Imagem: http://frestapoetica.blogspot.com/
Pessoas finas, produzem coisas finas. Parabéns
ResponderExcluirGrato pelo comentário...
Excluir!!
ResponderExcluirMaravilhoso e profundo, me fez ver como sou ou estou neste momento.
ResponderExcluirLindo comentário. Grato
ExcluirExcelente reflexão.
ResponderExcluirObrigado Ednaiara. Escrevo com o coração.
ExcluirMuitíssimo bom texto. Uma visão dual do ser muito bem fundamentada.Resta agora escrutinar o nosso ser para que possamos nos conhecer melhor.
ResponderExcluirÓtima reflexão sobre o texto. Isso mesmo. Precisamos aprofundar para termos o mínimo de certeza de qual é o nosso limite.
ExcluirIniciar o dia ...e o dia do amigo com uma " Fresta Poética" nos ilumina até que a Lua de outrora chegue!
ResponderExcluirMaria José um lindo comentário. Escrevo com o coração.
ExcluirObrigado
Excepcional Toni !!!
ResponderExcluirViajei ao ler essa mensagem,como as palavras foram demostrando caminhos ,os exemplos nosso de cada dia,as dúvidas e mistemist que sempre questionamos em pensamentos.
Parabéns amigo , digno de ser cimparycompar na rede social ,muito bom .
Abraço
Leandro
Olá Leandro
ResponderExcluirConfesso que me emocionei pelo seu comentário. Tento escrever com os olhos e os corações de quem lê. Muito obrigado pela palavras. São de alento e que me fazem continuar.
Parabéns pelo texto muito bom esse seu amadurecimento pessoal. Cada dia melhor meu grande irmão, a vida no controle. Realmente, o conhecimento do eu produz esse crescimento. É fácil sermos melhores que os outros, o difícil é ser melhor do que quem eu fui ontem. Sempre em frente.
ResponderExcluirObrigado Mano pelo comentário.
ExcluirRealmente caminhar olhando para a frente requer antes de qualquer coisa de saber onde se quer chegar.
Abraço
Belo texto Camarda,parabéns...
ResponderExcluirBoooom dia, Primo. Excelente texto! Vi passar nesse texto os meus 50 anos das minhas saudades de Sanharo -PE,cidade vizinha de Belo Brasil.
ResponderExcluirApaz-me ler um texto desses.
Muito grato.
Primo obrigado pela palavras.
ExcluirSão esses comentários que nos fazem seguir em frente.
Abraço