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quinta-feira, 19 de julho de 2018

Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã...


A escolha por essa temática foi ao lembrar que nasci num sítio, na cidade de Belo Jardim – PE, circundado por mata fechada e a possibilidade de usar essa imagem como uma metáfora para nosso dia a dia. Algo que transitasse por algumas contradições e o que não faltam são contradições a serem observadas, tanto nossas como de pessoas que conhecemos. Quem não conhece uma criatura que mudou de lado ou de opção ao primeiro lampejo?

Caminhar em mata fechada sem conhecer o caminho é o mesmo que entrar num rio sem saber nadar. Por outro lado, para quem vive a vida ao deus-dará, qualquer destino serve ou estará entregue ao acaso.

Lembrando que a mística: destino-acaso não se define por si só, pois o acaso pode ser o atrevimento de um momento que queria ser destino.

A partir desse contexto me deparo com as primeiras dúvidas: Será que todo ser humano tem dois “eus” dentro de si? Duas personalidades? Duas formas de ser? Dois estilos de sentimentos, com oalgo próximo da dualidade do bem e do mal?

A impressão que se dá é a de que de fato somos luz e sombra ao mesmo tempo, como sugere a Psicologia Analítica de Jung. Um lado se esconde para que o outro aflore. Fenômenos esses que ocorrem todos os dias com milhares de pessoas e nem mesmo elas se atem às mudanças de comportamento, que provavelmente também afetam quem vive ao lado. Isso pode gerar um estado depressivo, onde alegrias e tristezas se misturam, assim como sofrimento e felicidade, fazem parte dessa caminhada. A partir daí, o grande desafio é a busca do conhecimento interior e como dominar cada um desses sentimentos.

Ao buscar ajuda nos clássicos sobre essa dualidade, chegamos a várias compreensões. Segundo Rousseau o ser humano nasce bom e é a sociedade que o vicia. Daí vem à discussão de que o ser humano é produto do meio.

Por outro lado, no Estado da Natureza, Thomas Hobbes afirma que os homens (usarei por conta própria a mudança de homens para seres humanos) podem todas as coisas e para tanto utilizam todos os meios para atingi-las. Afirma ainda que os “seres humanos” são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado.

Hobbes afirma ainda que no uso de suas faculdades naturais, para conquista e manutenção do bem conquistado, os “seres humanos” usam da razão, da paixão, da experiência e da força física se necessário for, mas também o descarta quando não mais se interessam. Talvez isso explique o drama, por exemplo, de quem ama ou se apaixona e não é correspondido. Um drama desnecessário, pois não há a menor razão de se gostar de alguém que não corresponde à outra pessoa, porém isso acaba sendo um fator importante para o crescimento dos seres humanos. O sofrimento também gera crescimento.

Já Santo Agostinho afirma que, sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar. O livre arbítrio, aliado às escolhas levam os seres humanos a amar, mas também a odiar, de forma particular de cada um e de cada uma. A contraposição ao ódio vem da máxima religiosa de que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Máxima essa totalmente desvirtuada nos dias de hoje por muita gente.

Para fechar a questão de forma particular para esse post, Nietzsche afirma que o conceito de bom ou de mau na esfera moral não possui sentido em si mesmo, de modo que nada, em sua essência, é objetivamente bom e tampouco mau. Creio que a partir dessa visão, vêm as crenças, valores e atitudes. Imagino ainda que dê para encaixar nesse contexto o fato de que não existe verdade absoluta e sim a verdade particular de cada um e de cada uma e suas consequências, como por exemplo, a lei do retorno.

Ao nos darmos conta de que possuímos duas pessoalidades, como agir com cada uma delas? Por onde anda meu outro eu? Esse caminho pode nos dar respostas do porque que algumas pessoas mudam da água para o vinho sem nenhuma explicação? O importante é entendermos que o lado do bem conserva, enquanto o do mal destrói o que vier pela frente.

A partir dessa conversa, o que fica latente a meu ver é a necessidade permanente do autoconhecimento, que pode levar até a vida toda e que mesmo que uma pessoa venha a se descobrir, se torna impossível um autoconhecimento pleno, pois somos momentos, lutamos pelo previsível, buscamos coisas simples e nos decepcionamos quando nos deparamos com o imponderável. Ninguém se conhece totalmente, apenas o que é aparente o resto se torna ilusão.

Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã. Isso vale para os dias complicados que vivemos hoje, onde o ódio tenta competir com o amor e se tornar o senso comum, porém serve mesmo é para acreditamos que por trás de cada arvoredo existe uma bela paisagem para ser vista, mas também para ser vivida. Basta acreditamos e servir à causa maior que pode mudar o mundo.

Algo me parece real. Quando tudo que nos rodeia começar a parecer tangível, principalmente pelos nossos desencontros, por certo o amor continuará sendo uma coisa finda, usando um trecho da belíssima poesia “Memórias” de Carlos Drummond de Andrade. A partir dessa compreensão, é visível que o ato de amar perpassa religiões, credos e ideologias e sua materialização faz com que a solidariedade seja um caminho seguro em busca das nossas essências.

Enquanto há vida existirá um amanhã, que podemos imaginá-lo, tanto como uma chuva de verão com cheiro de terra molhada, como gotas de orvalho com cheiro de mato verde ou como luz ao sair da escuridão, pois virá recheada de esperança.

Na visão da minha existência, ontem plantei um pé de esperança e bebi na fonte cristalina daquele riacho e estou certo de que amanhã estarei nas ruas com o povo de bem comemorando a retomada da luz que está em trevas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social



Imagem: http://frestapoetica.blogspot.com/

18 comentários:

  1. Pessoas finas, produzem coisas finas. Parabéns

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  2. Maravilhoso e profundo, me fez ver como sou ou estou neste momento.

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  3. Muitíssimo bom texto. Uma visão dual do ser muito bem fundamentada.Resta agora escrutinar o nosso ser para que possamos nos conhecer melhor.

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    1. Ótima reflexão sobre o texto. Isso mesmo. Precisamos aprofundar para termos o mínimo de certeza de qual é o nosso limite.

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  4. Iniciar o dia ...e o dia do amigo com uma " Fresta Poética" nos ilumina até que a Lua de outrora chegue!

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    1. Maria José um lindo comentário. Escrevo com o coração.
      Obrigado

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  5. Excepcional Toni !!!
    Viajei ao ler essa mensagem,como as palavras foram demostrando caminhos ,os exemplos nosso de cada dia,as dúvidas e mistemist que sempre questionamos em pensamentos.
    Parabéns amigo , digno de ser cimparycompar na rede social ,muito bom .
    Abraço

    Leandro

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  6. Olá Leandro
    Confesso que me emocionei pelo seu comentário. Tento escrever com os olhos e os corações de quem lê. Muito obrigado pela palavras. São de alento e que me fazem continuar.

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  7. Parabéns pelo texto muito bom esse seu amadurecimento pessoal. Cada dia melhor meu grande irmão, a vida no controle. Realmente, o conhecimento do eu produz esse crescimento. É fácil sermos melhores que os outros, o difícil é ser melhor do que quem eu fui ontem. Sempre em frente.

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    1. Obrigado Mano pelo comentário.
      Realmente caminhar olhando para a frente requer antes de qualquer coisa de saber onde se quer chegar.
      Abraço

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  8. Belo texto Camarda,parabéns...

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  9. Boooom dia, Primo. Excelente texto! Vi passar nesse texto os meus 50 anos das minhas saudades de Sanharo -PE,cidade vizinha de Belo Brasil.
    Apaz-me ler um texto desses.
    Muito grato.

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    1. Primo obrigado pela palavras.
      São esses comentários que nos fazem seguir em frente.
      Abraço

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