Quero
iniciar essa conversa, indignado e lamentando a morte de Eduardo Campos, que
por coincidência ou não, ocorreu no
mesmo dia da morte do seu avô Miguel Arraes. Sua morte deixa o processo eleitoral
mais pobre. Quem perde é a democracia.
É
inacreditável o que rola no momento nos diversos noticiários do PIG. Eles não
estão preocupados com o que aconteceu do ponto de vista humano, mas apenas e
tão somente com a preocupação do que possa ocorrer no cenário político
eleitoral. Como dar uma virada ou uma reviravolta nas projeções eleitorais. Para
isso estão usando a figura fragilizada de Marina Silva, que é obvio que assumirá
o posto de sucessora de Campo, até mesmo por uma questão de humanidade. São
urubólogos urubologando.
Para
o PIG Marina Silva é como se fosse um antídoto contra Dilma e o Partido dos
Trabalhadores. Para isso fazem projeções, puxam fatos semelhantes que ocorreram
no passado e pregam: “Contra Dilma? Marina nela!”. Lamentável! Profundamente
lamentável. Imagino que a hora seja de lamentar o ocorrido e deixar para que o
PSB e Marina decidam o que todos sabemos que ocorrerá. Da minha parte acharei
ótimo que venha Marina, pois ela só irá tirar o sono do candidato Aécio.
Enquanto
assistia o noticiário, apesar da minha revolta, senti vontade de escrever sobre
o processo eleitoral. Falar um pouco sobre a importância do voto e de votar,
principalmente para mostrar para muita gente que posta no facebook e outras
redes coisas inacreditáveis, que o voto ou o ato de votar, não caiu do céu e
sim foi uma dura conquista a partir de muita luta. Estamos nos aproximando das
próximas eleições. Uma data importantíssima para a manutenção do processo
democrático brasileiro e para o exercício da cidadania.
Um
amigo hoje no facebook postou um cartaz com a seguinte frase: “Em 2014 vote em Ali Babá, Ele só tem 40
ladrões”. Uma frase que reflete o extremo do senso comum imposto pela velha
mídia golpista, aquela mesma que pertence a apenas seis famílias abastadas e
que torce para que o PT e a Presidenta Dilma errem feio, tanto pelo fato de
provar que um Partido de origem de trabalhadores não tem condições de governar
o Brasil, como também por tentar emplacar seu principal candidato.
Respondi
a esse amigo: “Caro amigo. Permita-me discordar radicalmente de você. Esse é um tipo de comentário
que coloca todos na lata do lixo. Trata-se do senso comum imposto pela mídia. É
claro que não é assim. Mário Sergio Cortela, por exemplo, respondeu a essa
pergunta afirmando o seguinte: menos de 10% da população pode ser considerada
de pessoas corruptas, envolvidas com a violência e com coisas antiéticas, o
restante são pessoas trabalhadoras e do bem. É essa mídia golpista, que
pertence a seis famílias abastadas, que vende a ideia de que todos são iguais e
que todos roubam, que passam essa ideia distorcida da democracia. Eu
particularmente defendo a ideia de que a maior responsabilidade é do próprio
povo, que ao não participar da vida politica do país, votam em qualquer um,
seja por desprezo da política como a mídia determina, por ignorância ou ainda pela
falta de completa de conhecimento. Assim, como muita gente morreu para que você
eu tivéssemos o direito de votar, vale a pena participar e votar de forma consciente.
Um país sem partido é uma ditadura e toda ditadura é algo do mal. Eu vou votar
em pessoas que sou capaz de jurar que não roubam. Se você quiser lhe passo a
lista. Abraço e saudade dos velhos tempos de nossos debates”.
A
propósito, coletei alguns dados sobre a história do voto e do processo
eleitoral no Brasil, apenas para dar sentido ao assunto desse artigo e também
para que algumas pessoas que o lerem, possam se informar e saber que nada caiu
do céu. Foram anos de luta contra ditadores, onde muitos pagaram com a própria
vida.
Segundo
dados da Câmara dos Deputados, a primeira eleição no Brasil, que se tem
conhecimento, aconteceu em 1532 quando os moradores da Vila de São Vicente em
São Paulo foram às urnas para eleger o Conselho Municipal. Isso mesmo. Um
Conselho Municipal. Numa eleição indireta, o povo elegeu seis representantes e
em seguida a escolha dos oficiais do Conselho.
Nas
diversas contradições da democracia brasileira, o voto transitou por diversos
momentos. Em 1821, por exemplo, os homens livres acima de 25 anos, inclusive
analfabetos, puderam eleger representantes para a Corte Portuguesa. As pessoas
com menos de 25 anos, só podiam votar se fossem casados ou oficiais militares,
desde que tivessem no mínimo 21 anos. A permissão para os maiores de 18 só
ocorreu em 1934.
Em
1881 a Lei Saraiva estabelece a obrigatoriedade do Título de Eleitor, porém
estabelece a proibição do voto do analfabeto.
Imaginava-se
que a Proclamação da República em 1889, trouxesse mudanças importantes na
Legislação Eleitoral criada em 1824, porém o que aconteceu foi a manutenção da
proibição de eleitores menores de 21 anos, mulheres, analfabetos, mendigos,
soldados rasos, indígenas e integrantes do clero. Ainda era o setor
privilegiado quem decidia sobre os rumos da Nação. Apenas em 1891 a população
teve acesso ao voto para presidente e vice da República.
Dando
continuidade ao processo eleitoral, há de se destacar o ano de 1932. Nesse ano foi
criada a Justiça Eleitoral, a mulher ganhou o direito de votar e foi aprovado o
sigilo do voto.
Tudo
ia muito bem até que em 1937 o Código Eleitoral é revogado. As eleições livres
são suspensas e é estabelecida a eleição indireta para presidente com mandato
de seis anos. Vale registrar que de 37 a 45 foi o período do Estado Novo, onde certo
cidadão que já estava no poder a muito tempo de nome Vargas impõe uma nova
Constituição, em um golpe de Estado autoritário, dilui o Congresso e assume
poderes ditatoriais com o objetivo de perpetuar seu governo. Essa situação só
muda com a nova Constituição de 1946, onde o processo democrático foi retomado.
Essa
Constituição dura até 1964, quando um novo golpe, agora militar assume o poder,
destituindo o Congresso e somente em 1989, a partir de muita luta por
democracia e diretas já, o povo pode novamente eleger um presidente de forma
direta (Collor), que não dura muito tempo no poder e é cassado pouco tempo
depois, assumindo seu vice, nada mais, nada menos que o Sr. Sarney. O período
militar foi um dos períodos mais sombrios do nosso país, tomado por uma forte
repressão, tortura e muitas mortes e desaparecidos na luta por liberdade e por
eleições livres e diretas.
Com
a constituição de 1988, conhecida como a Constituição Cidadã, uma nova era
eleitoral tem início, além de restabelecer as eleições diretas, os jovens
passam a ter o direito de votar a partir dos 16 anos e as pessoas acima de 70
anos também.
Esse
pequeno histórico revela apenas a importância do voto e das eleições, que na
verdade é indiscutível, mesmo que seja obrigatório, que não deveria ser, porém
o que está em discussão não é o voto em si, mas a grande luta do momento pela moralização
da política e dos políticos, onde o combate à corrupção seja a grande palavra
de ordem. Precisamos sair na defesa de quem é sério, mas diante do sistema que impõe
que um candidato a Deputado Federal, para disputar é pé de igualdade com os
demais tenha que dispor de 10 milhões de reais para a campanha, fica difícil para
a população entender tamanha heresia. Perguntam: de onde veio esse dinheiro?
Qual a vantagem diante de um custo tão alto? Quem financiou? E eu pergunto: a
quem pertencem os mandatos? Porque se for do próprio indivíduo, sinceramente
não vale a pena nem o apoio. Os mandatos tem que serem da população junto com
os partidos que originou a candidatura. Prestação de contas permanentes para a
população e para os filiados do partido. Assim deveria ser.
Uma
saída é a provação de uma Constituinte exclusiva para uma ampla Reforma
Política, que aprove um financiamento público de campanha e outras medidas
visando maior controle por parte da população e um absoluto controle no
financiamento privado, que se constitui na principal fonte de corrupção quando
as empresas pedem de volta seus investimentos.
Apesar
da importância do voto e do ato de votar, se você meu caro ou cara, leitor ou
leitora, não participar, continuará votando em quem pensa por você.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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