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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Da Teoria de Massas à Pedagogia da Escuta um longo caminho...

 

Há uma visão de mundo que vamos construindo a partir das nossas vivências, nutridas por valores momentâneos ou princípios construídos ao longo da vida com as nossas crenças, pensamento crítico ou posições ideológicas. Quem não sabe ouvir, não sabe dialogar. Apenas impõe sua forma de pensar e agir.

Inicio a caminhada por um tema tão complexo, expondo minhas inquietudes ao imaginar a base de um mandato, seja de que cargo for, de um partido ou mesmo da sociedade como “massa”, pois na minha estreita visão isso tanto caracteriza estes setores da sociedade como algo que pode ser usado para qualquer fim, dar sustentação ao que  vem de cima da base na pirâmide social ou ainda nos distancia de apostarmos em formação e organização como métodos para uma possível mudança de sociedade e de valores.

Enquanto a formação liberta e a organização mostra os caminhos de enfrentamento, o senso comum de massas aliena, aprisiona e torna grande parte da sociedade em presa fácil para qualquer situação.

Ao falar de “massas”, como comportamento ou como um fenômeno humano poderia caminhar por várias linhas de estudo e análise, desde a Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon, à Teoria de Freud do Comportamento de Massas, que afirma que quando uma pessoa se torna parte de uma multidão, sua mente inconsciente é liberta e entre outras variáveis de comportamento ele tende a seguir o líder carismático da massa.

Le Bon compreendia que a psicologia da multidão era necessária para uma compreensão adequada da história e da natureza humana, quando afirma:

Em certas horas da história, meia dúzia de homens pode constituir uma multidão psicológica, ao passo que centenas de indivíduos reunidos acidentalmente podem não constituí-la. Por outro lado, um povo inteiro, sem que haja aglomeração visível, às vezes torna-se multidão sobre ação desta ou daquela influência. (GUSTAVE LE BON, p. 30).

Porém, no sentido de buscar sustentação para minhas inquietudes, usarei o conceito de dois autores da comunicação, que conceituam “massa”:

Massa: grande grupo de indivíduos compreendido sempre pela base do menor coeficiente de organização, interação, produção enunciativa consciente e coesão possível, ou seja, pela menor quantidade de pontos comuns identificáveis entre os indivíduos do grupo, o que confere ao “objeto” representado pelo termo um caráter indistinto, uma falta de clareza que acaba sendo sua principal característica. (VILALBA, 2006, p. 119).

Massa. O termo descreve um vasto, mas amorfo conjunto de indivíduos com comportamentos semelhantes, sob influência externa, e que são vistos pelos seus possíveis manipuladores como desprovidos de identidade própria, formas de organização ou de poder, autonomia, integridade ou determinação pessoal. Representa uma visão da audiência dos media [sic]. (MCQUAIL, 2003, p.506).

Ao caracterizarmos, aceitarmos ou concordarmos de que é necessário um coletivo de massas para tocarmos o projeto que defendemos, comungamos dos mesmos ideais do pensamento estratégico da direita de que o povo só serve para cumprir determinados ritos ou tarefas pré-determinadas e servir a quem mais lhe seduziu.

Além disso, pensando estrategicamente no processo eleitoral, cabe uma pergunta: você que será candidato ou candidata a um cargo público, tem base eleitoral organizada ou apenas eleitores e eleitoras? Dessa resposta podemos concluir quem é representante de um projeto coletivo desenvolvido a várias mãos ou da velha forma falida de representatividade, onde não importa que acordo foi feito ou com quem anda, pois o importante é a vitória eleitoral.

Precisamos ter a coragem de romper com mais essa engenharia do sistema, que interfere diretamente no processo de mudança da sociedade que temos para a sociedade queremos, intervindo nos setores caracterizados como “massas”, oferecendo formação com base na realidade local, ajudando no processo de organização coletiva e escolhendo alguém para votar que respeite o projeto construído a várias mãos ou que saia dele e não em alguém que se acha tão importante e sabido ou sabida, a ponto de se considerar insubstituível.

Caso o que escrevo faça sentido para você, bem vindo e bem vinda à desconstrução das massas de manobras e a construção de novos arranjos coletivos rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
tEstatístico e pesquisador em Gestão Social

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 165 p.

LE BOM, Gustave. Psicologia das Multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Título original PSYCHOLOGIE DES FOULES © Presses Universitaires de France, 1895 © Edições Roger Delraux, 198O, para a língua portuguesa. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2016/03/le-bon-gustave-psicologia-das-multidc3b5es.pdf. Acesso em 17 de junho de 2021.

MCQUAIL, D. Teoria da Comunicação de Massas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

VILALBA, R. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006.




8 comentários:

  1. Pior que não se trata só de alienação das massas por pensamentos ideológicos, mas, ultimamente com um auxílio bastante poderoso: proliferação de fake News!

    Mentiras contadas inúmeras vezes até se tornar quase real, se misturam com a realidade até ninguém mais dar bola de saber se é verdade ou mentira…
    Essa praga é talvez a maior invenção para alienação e controle das massas… 🥺

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  2. Olá companheira Arlete.
    De fato vivemos momentos que eu jamais imaginaria que vivêssemos.
    O que temos é a resistência para combatermos esse reino do mal.
    Grato pela leitura e pelo comentário.

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  3. Conteúdo que expressa mais uma vez o quanto precisamos nos organizar enquanto massa pensante e consciente. Resistência é fundamental e ela se dá nos processos formativos e organizativos da base, da comunidade,

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  4. E de tomada de consciência do quanto há necessidade da derrubada deste poder corrompido antidemocrático.

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  5. Estou sem palavras, principalmente por conhecer indivíduos que têm tanta vontade de achar que sabem de algo que só eles sabem, que fazem parte dessa massa que confunde bom senso com senso comum. E assim condenamos milhares de pessoas a uma vida miserável

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  6. O Toni conseguiu abrir uma janela iluminada sobre um tema que é tão intrincado pra muita gente. Gente simples e gente de teorias sobrando pra todo lado.
    Ao fim do texto, a gente fica como uma criança que descobre um bom professor, qdo ela já não sabia mais o que fazer com tantas indagações.
    Ficou um gosto de quero mais, na descoberta do quanto ainda é preciso aprender, e reconstruir!

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  7. Toni, parabéns!! Excelente artigo.
    Isso é humilhante:

    "Ao caracterizarmos, aceitarmos ou concordarmos de que é necessário um coletivo de massas para tocarmos o projeto que defendemos, comungamos dos mesmos ideais do pensamento estratégico da direita de que o povo só serve para cumprir determinados ritos ou tarefas pré-determinadas e servir a quem mais lhe seduziu."

    A massa se humilha diante da burguesia, pois essa nos trata inferiormente.
    Precisamos de uma conscientização coletiva para que a massa não se deixe humilhar.
    O preconceito, o machismo, a homofobia, o racismo, a tortura, são formas de humilhação.
    O presidente Lula é uma pessoa maravilhosa que se coloca no mesmo patamar das pessoas.
    Ele não tem complexo de vira-lata. Nem nós.
    Se eu fosse uma escrava no século XlX, acredito que não aceitaria a escravidão. Seria uma escrava fujona. E não teria medo de morrer chicoteada no tronco.

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  8. Muito grato por você ter complementado o conteúdo através de seus comentarios.
    Abraço

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