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sexta-feira, 9 de julho de 2021

Quando chegar o verão as flores da primavera ainda estarão presentes...

Imagem Disponivel em:
 https://www.facebook.com/jjardimdaalma/photos/a.100716844652880/111648973559667/?type=1&theater

Um dia me perguntaram se eu me sinto um poeta. Respondi: “Quem me dera!”. Considero-me apenas alguém que gosta de escrever e escreve para satisfazer a alma e aplacar determinados sentimentos que transitam pelos meus momentos. Escrevo para minha história de vida e para quem caminha comigo.

Em dias frios, nublados e de puro silêncio, ao fugir da introspecção, recorro à escrita como uma terapia necessária, buscando uma conexão entre a vida real do dia a dia e os meus sonhos e fantasias que vou construindo noite adentro. Uma viagem no carrossel do tempo ao meu mundo interior, saindo da realidade presente ao cenário que gostaria de viver quando o verão chegar. Quem sabe o sonho mesmo seja florir o jardim da alma para alguém especial visitar.

Quem curte plantas, seja num quintal ou mesmo num vaso, sabe que da raiz à flor há uma longa caminhada comandada pelo tempo e pelo carinho que temos com o que plantamos. Assim são as plantas e assim são as pessoas. Quem não cultiva o jardim da alma não é capaz de cultivar nem mesmo uma flor. Quem não enxerga a beleza numa planta e não sente sua forma de comunicação em cada mudança ou em cada toque, como entender a metamorfose que gerou uma borboleta?

Lá atrás havia uma casinha no alto rodeada de vegetação, um terreiro de terra batida, cheiro de relva misturada com a de terra molhada, banho de chuva e de rio, fogão de lenha, milho no quintal e uma avó carinhosa a me fazer cafuné, mas dura também quando alguém mexia em suas bolachas e biscoitos. Quem pensava em felicidade? A felicidade era o que se vivia no dia a dia e só depois de velho descobrimos essas pequenas coisas que ficam grudadas na alma.

Depois vieram as figurinhas, bolas de gude, pipas em dias de sol, disputa de corrida com carrinho de rolimã e brincadeiras de rua em noites enluaradas. Uma infância pobre financeiramente, mas rica em aprendizado e em como enfrentar as discriminações da pobreza e por ser nordestino num bairro burguês de São Bernardo do Campo, além de aprender que pessoas com depressão precisam mesmo é de carinho e não de palpites que só machucam.

Creio que tenha sido nesse momento que a minha consciência crítica foi despertada e aprendi que luta de classe começa bem cedo pela dignidade humana. Isso me levou à Teologia da Libertação, há anos de luta habitacional e em inúmeras passeatas com milhares de pessoas para inundar de gente a Igreja Matriz, o Paço Municipal, Estádio da Vila Euclides e Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, juntos na luta trabalhista e contra a ditadura militar. Dessa luta surgiu uma moradia nascida num mutirão habitacional com 200 famílias.

Quem sabe essa vivência tenha me ajudado a enxergar as diversas formas de amar. Amor pela vida. Amor pela luta e pela causa. Amor fraterno e solidário. Amor pelos amigos e pelas amigas que são para sempre e em especial o amor exclusivo que sentimos por alguém que faz o coração bater mais forte, onde sexo se torna complemento e não a razão principal para manter alguém ao nosso lado. Ao entendermos isso entendemos também o que nos leva a optar por alguém para caminharmos juntos rumo ao futuro do infinito enquanto dure.

Como um recado ao futuro, vou plantando com a esperança de ver crescer, florir e dar frutos, com o compromisso de regar todos os dias, adubar a terra e cuidar para que as ervas daminhas não tome conta, com o desejo de quando o verão chegar encontrar um quintal florido como um brinde da primavera, com borboletas e até alguns pássaros dando vida ao jardim da alma.

Bem vindos e bem vindas poetas e poetisas que vão me inspirando a escrever pensando naquela fada madrinha que esteve no meu sonho ontem à noite.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social




 

3 comentários:

  1. Maria José Resende09 julho, 2021

    Mais um texto do mestre Toni, sem se preocupar de desnudar a alma, até que a gente possa ver seus tempos de menino, aprendiz de sonhador.

    Podemos perceber, então, que o sonhador/menino se depara, em tempos de adulto, com a vida mostrada em suas agruras
    Aí, não tem mais jeito de fugir de um engajamento político cheio de coragem! É hora de protagonizar o cara que luta incansável pela justiça social.

    Isso aê, mano, vamos seguindo esta estrada, que continua colorida de sonhos, mas não disfarça a força de guerrear pelo bem se todos.

    Parabéns, poeta guerreiro!

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  2. Olá companheira Maria.
    Seus comentários me enche de coragem e alegria para continuar em frente.
    Muito grato pela leitura e comentário.
    Grande abraço

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  3. Muito profundo Tony, parabéns esse texto falou comigo, pois sou nordestina e essa história faz parte da minha infância, um abraço

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