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Um
dia me perguntaram se eu me sinto um poeta. Respondi: “Quem me dera!”.
Considero-me apenas alguém que gosta de escrever e escreve para satisfazer a
alma e aplacar determinados sentimentos que transitam pelos meus momentos.
Escrevo para minha história de vida e para quem caminha comigo.
Em
dias frios, nublados e de puro silêncio, ao fugir da introspecção, recorro à
escrita como uma terapia necessária, buscando uma conexão entre a vida real do
dia a dia e os meus sonhos e fantasias que vou construindo noite adentro. Uma viagem
no carrossel do tempo ao meu mundo interior, saindo da realidade presente ao cenário
que gostaria de viver quando o verão chegar. Quem sabe o sonho mesmo seja
florir o jardim da alma para alguém especial visitar.
Quem
curte plantas, seja num quintal ou mesmo num vaso, sabe que da raiz à flor há uma
longa caminhada comandada pelo tempo e pelo carinho que temos com o
que plantamos. Assim são as plantas e assim são as pessoas. Quem não cultiva o
jardim da alma não é capaz de cultivar nem mesmo uma flor. Quem não enxerga a
beleza numa planta e não sente sua forma de comunicação em cada
mudança ou em cada toque, como entender a metamorfose que gerou uma borboleta?
Lá
atrás havia uma casinha no alto rodeada de vegetação, um terreiro de terra
batida, cheiro de relva misturada com a de terra molhada, banho de chuva e de
rio, fogão de lenha, milho no quintal e uma avó carinhosa a me fazer cafuné,
mas dura também quando alguém mexia em suas bolachas e biscoitos. Quem pensava
em felicidade? A felicidade era o que se vivia no dia a dia e só depois de
velho descobrimos essas pequenas coisas que ficam grudadas na alma.
Depois
vieram as figurinhas, bolas de gude, pipas em dias de sol, disputa de corrida
com carrinho de rolimã e brincadeiras de rua em noites enluaradas. Uma infância
pobre financeiramente, mas rica em aprendizado e em como enfrentar as
discriminações da pobreza e por ser nordestino num bairro burguês de São
Bernardo do Campo, além de aprender que pessoas com depressão precisam mesmo é de
carinho e não de palpites que só machucam.
Creio
que tenha sido nesse momento que a minha consciência crítica foi despertada e
aprendi que luta de classe começa bem cedo pela dignidade humana. Isso me levou
à Teologia da Libertação, há anos de luta habitacional e em inúmeras passeatas
com milhares de pessoas para inundar de gente a Igreja Matriz, o Paço
Municipal, Estádio da Vila Euclides e Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, juntos na luta trabalhista e contra a ditadura militar. Dessa luta
surgiu uma moradia nascida num mutirão habitacional com 200 famílias.
Quem
sabe essa vivência tenha me ajudado a enxergar as diversas formas de amar. Amor
pela vida. Amor pela luta e pela causa. Amor fraterno e solidário. Amor pelos
amigos e pelas amigas que são para sempre e em especial o amor exclusivo que
sentimos por alguém que faz o coração bater mais forte, onde sexo se torna complemento
e não a razão principal para manter alguém ao nosso lado. Ao entendermos isso entendemos
também o que nos leva a optar por alguém para caminharmos juntos rumo ao futuro
do infinito enquanto dure.
Como
um recado ao futuro, vou plantando com a esperança de ver crescer, florir e dar
frutos, com o compromisso de regar todos os dias, adubar a terra e cuidar para
que as ervas daminhas não tome conta, com o desejo de quando o verão chegar encontrar
um quintal florido como um brinde da primavera, com borboletas e até alguns
pássaros dando vida ao jardim da alma.
Bem
vindos e bem vindas poetas e poetisas que vão me inspirando a escrever pensando
naquela fada madrinha que esteve no meu sonho ontem à noite.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
Mais um texto do mestre Toni, sem se preocupar de desnudar a alma, até que a gente possa ver seus tempos de menino, aprendiz de sonhador.
ResponderExcluirPodemos perceber, então, que o sonhador/menino se depara, em tempos de adulto, com a vida mostrada em suas agruras
Aí, não tem mais jeito de fugir de um engajamento político cheio de coragem! É hora de protagonizar o cara que luta incansável pela justiça social.
Isso aê, mano, vamos seguindo esta estrada, que continua colorida de sonhos, mas não disfarça a força de guerrear pelo bem se todos.
Parabéns, poeta guerreiro!
Olá companheira Maria.
ResponderExcluirSeus comentários me enche de coragem e alegria para continuar em frente.
Muito grato pela leitura e comentário.
Grande abraço
Muito profundo Tony, parabéns esse texto falou comigo, pois sou nordestina e essa história faz parte da minha infância, um abraço
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