Israel Gonçalves
Os atentados ao semanário Charlie
Hebdo e os sequestros de cidadãos, que ocorreram desde o dia 07 de janeiro, na
França, são fatos repugnantes e devem ser punidos de forma severa. Uma parte da mídia televisa cobriu os fatos de
forma full time e ao longo da sua programação
trouxe especialistas na área para expor suas opiniões sobre as ações ora dos
extremistas, ora do governo francês e do outro lado do atlântico também
ocorriam ações de extremistas, mas na Nigéria. A diferença que isso foi
noticiado apenas em um ou outro momento pela mídia. Alguns veículos de
comunicação impressa dedicaram meia página para o que correu na Nigéria, enquanto
os atos na França mereceram até 6 páginas inteiras.
O que corre na Nigéria é
diferente do que aconteceu na França, mas não menos relevante. Na república
africana há uma guerra civil que não é reconhecida pelo Estado nigeriano. O
grupo que se opõe por meios de armas ao governo se intitula de Boko Haram,
pelos analistas o grupo é considerado braço armado do grupo terrorista Al
Quaeda. O Boko Haram também proíbe a liberdade de expressão Ocidental, já matou
milhares de cidadão civis nigerianos e usa como tática o sequestro de crianças em
escolas para doutriná-las. A Nigéria tem
a 7ª maior população mundo, com 175 milhões de habitantes, é um país
importante, pois faz parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP) e é considerada uma potência econômica regional. Já os atos de terrorismo na França, que são
considerados atentados contra a liberdade de expressão Ocidental, já são bem
conhecidos por nós, assim como a importância histórica da França para o mundo.
Nesse contexto fica uma questão para se debater: será que para a mídia
brasileira a vida de nigerianos tem menor importância do que a vida de poucos europeus
e, por isso, a divulgação do que ocorre naquela república tem um tempo menor?
A pauta da mídia televisa
brasileira é parcial, como fica claro nas diferenças de cobertura entre o que aconteceu
na França e o que ocorreu na Nigéria. Como exposto, a Nigéria não é um pequeno
país perdido no continente africano, ao contrário é relevante geopoliticamente
para o Norte da África Ocidental. Outro fator importante é que mais da metade
da população brasileira tem sua história ligada ao
continente africano, por isso, os fatos que ocorrem na Nigéria deveriam ter a
mesma atenção que se dá aos da Europa. São questões como essas que devem fazer
parte de debates sobre a democratização da mídia brasileira.
Israel Gonçalves é cientista
político, professor e autor do livro: O Brasil na missão de paz no Haiti.