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sábado, 13 de agosto de 2016

PARA ENTENDER: ACABOU! O QUE FAZER?

Começo esse texto sem negar as enormes melhorias que aconteceram no país desde as eleições de 2002. A ideia é discutir a que preço conquistamos essas mesmas melhorias e o que fazer daqui para frente.

O PT e a esquerda em geral, parece ou fingem não entender que as forças que realmente detém o poder no Brasil - os donos do capital - estão com a “faca e o queijo” na mão. Pior, “faca e queijo” cedidos a eles por conta do nosso abandono das ruas e acreditar que as redes sociais poderiam substituir a política. Grande engano, as redes podem marcar eventos e expor as mentiras de nossa mídia. Mas a política de verdade não é feita nas redes e muito menos nos interiores dos gabinetes e corredores de Brasília. Ela é feita olho no olho, ombro a ombro, como “nos antigamente”. Ao abandonarmos o olho no olho, deixamos de priorizar as relações horizontais e passamos a adotar as relações verticais, o tal “centralismo democrático” que não prioriza as discussões na base do partido, revivendo em alguns momentos o pior do “stalinismo”.

Passamos a apostar nos projetos pessoais mais do que nos projetos (planejados e/ou executados) de transformação das cidades e seus cidadãos. As ações passaram a visar a manutenção dos cargos e mandatos a qualquer custo, mesmo que esse custo venha a ser o abandono dos princípios políticos que nos norteavam. Abrimos mão da discussão com a militância ao implantarmos o PED e deixar de lado os Núcleos e Setoriais, que até então eram a alma do Partido. Expulsamos parlamentares e deixamos que outros saíssem sem uma discussão aprofundada sobre o que realmente estava acontecendo, quais os reais interesses. Essa “nova” visão do Partido trouxe nomes da oposição para a legenda, negociou votos para o Rodrigo Maia na Câmara ou mesmo, a sobrevivência à Lava Jato.

Por outro lado, os reais donos do poder - os donos do capital, perceberam que o mesmo estava em disputa, em jogo. Parcela do PT passa a disputar o poder “por cima”, através de acordos que nos colocaram permissivos ao uso abusivo das doações financeiras. Entendido isso, os donos do capital passam a atuar estrategicamente na desconstrução da imagem do PT e de suas principais lideranças. Usam e abusam da falta de normatização da mídia e fecham acordo com uma classe até então “ignorada” politicamente, os juízes, promotores e procuradores, o Judiciário. As corporações estrangeiras também se colocam partícipes dessa estratégia, calando o governo americano em relação ao Golpe. São pelo menos 12 anos de massacre midiático que desembocaram no julgamento da AP 470, o Mensalão. Julgamento que arranhou, mas não impediu a vitória eleitoral do PT no Governo Federal, porém o Congresso Nacional começou a ser reconfigurado. Na reeleição da Dilma, a Lava Jato tentava terminar o que o Mensalão não conseguiu. De novo mantivemos o Governo Federal, mas o Congresso se transformou no pior Congresso da história brasileira. Nem a Ditadura obteve tal vitória. De lá para cá, o Brasil tem sua imagem e sua recente história destruída e achincalhada internacionalmente. Nossos “homens” da justiça, comprometidos com o “andar de cima”, rasgam as Leis, a Constituição e qualquer vestígio de moral pública ou individual. Voltamos a ser vistos, como uma República das Bananas como no início do século XX. Nada do que relatado aqui, incomoda os donos do poder, aqui e muito menos nas corporações estrangeiras de olho em nossas riquezas, em especial o petróleo. No dicionário deles, moral e princípios não existem para além de servi-los.

Hoje, no ano de 2016, mesmo depois de tudo que aconteceu, mesmo com o impeachment da Dilma em vias de ser aprovado definitivamente no Senado, o Partido continua dividido. Parte insiste nos acordos com o “andar de cima”, e parte tenta reviver as ruas. Mas os dias são outros, os mais empobrecidos continuarão fora das ruas, e a classe média que antes formava alguma opinião a nosso favor, hoje, com boa vontade, está dividida por conta do massacre midiático e cultural do projeto neoliberal. Os movimentos de 2013 não serviram de aprendizado, nem para a classe dominante, apesar de terem se apropriado do movimento e, muito menos, para parte da esquerda que não entendeu a mensagem colocada pela juventude. Mesmo as ocupações das escolas em São Paulo, com seu caráter totalmente horizontal, conseguiu abrir os olhos de alguns parlamentares e dirigentes políticos/sindicais.

Fato mesmo, é que a juventude já mandou o recado - o modelo está esgotado e não os representa mais. Precisamos mudar nossa forma de fazer política ou teremos pela frente um bom tempo de governos fascistas esquizofrênicos (que defendem o livre mercado). Precisamos construir juntos com a juventude uma nova forma de fazer política.

Abaixo, após o poema do Bertold, segue o texto do companheiro Marcos de Dios. Até porque, nada é imutável.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá

NADA É IMPOSSÍVEL MUDAR
Bertold Brecht
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

A crise política vivida na América Latina e pela sociedade brasileira está interligada a uma disputa interna entre frações das classes dominantes pelo controle do aparelho do Estado.  A disputa é dada entre grupos “desenvolvimentistas”, que pensam o estado nacional e grupos “financistas” que defendem o livre capital, o livre mercado. Ambos capitalistas. No outro lado da moeda, temos os partidos de esquerda, burocratizados e verticalizados, estranhando setores da sociedade, das classes populares, que estão gestando uma nova concepção de valores morais e familiares. Construtores de uma nova ética social baseada na verdade, na horizontalidade e respeito à autoridade constituída pelo diálogo conflituoso das relações interpessoais e o bem estar do Planeta. Construindo uma nova institucionalidade em todos os campos (família, escola, trabalho, política, economia, nas relações de Amizade e Amorosas,...), e lutando para romper com o papel que temos enquanto nação na divisão internacional do trabalho, nos imposto desde o período colonial. Construir uma nova unidade de esquerda, baseada não na uniformidade, pois respeitará as diferenças, formulará e discutirá horizontalmente as propostas programáticas que irão nos mover em direção a uma organização plural e democrática na sua radicalidade. Resistir através da transformação da realidade que nos cerca e principalmente, deixar de lado momentaneamente os interesses do meu grupo político em nome de um Projeto Maior, possibilitador da esperança construída coletivamente para uma sociedade mais solidária, humana, sustentável e como consequência, mais Justa e Amorosa.

Marcos de Dios
Prof. De Filosofia e História
Secretaria de Formação PT-Maricá

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A presidente do FMI afirma que os velhos vivem demais...

O que pode ser novidade a essa altura do golpe? Apenas as desgraças futuras, que o “mordomo de filme de terror”, como chamou Renan, promete se solapar de vez o governo. Uma coisa boa nessa história é que ele não esconde nada. Declara publicamente, sem o menor constrangimento, a quem serve e o que pretende fazer para restaurar o poder da casa-grande, além de servir como espião aos Estados Unidos, onde ofereceu, além da vinda das empreiteiras americanas, a gestão do petróleo brasileiro. Algo impensável há pouco tempo.

Acompanhei de longe a resistência do povo turco, que evitou um golpe de estado e aí me dou conta de como grande parte da população brasileira é atrasada em termos de consciência política, direitos constitucionais e principalmente sobre o papel institucional da sociedade organizada no que se refere à participação e controle social de todas as políticas públicas. Esse setor da sociedade age como ventríloquos da mídia golpista e escolhem seus representantes, vezes pelo coração e outras tantas por desprezo e em ambos os casos, muito longe da razão. É melhor votar nulo do que por desprezo.

Voltando para a crise política atual, acredito que estamos pagando muito caro pelos governos Lula e Dilma não terem feito às reformas necessárias quando as condições eram totalmente favoráveis, além de mais caro ainda, pelo fato de ambos os governos não terem investido pesado nas mídias alternativas, como por exemplo, a radiodifusão comunitária, onde milhares de Rádios e TVs poderiam estar contando o que o PIG não conta, assim como fazer a defesa de um governo eleito democraticamente, que foi sorrateiramente solapado.

O Vampiro Temer é apenas um condutor de um barco desgovernado que foi roubado de seu verdadeiro dono, porém quem pensa estrategicamente para onde esse barco deve caminhar e com quem dentro dele, são as forças do capital internacional, aliadas a elite brasileira devassa que se acostumou a ser servida e uma leva de empresários que enxergaram no golpe uma ótima oportunidade de rasgarem a CLT e mexerem em conquistas que até então pareciam imexíveis.

Quero chamar a atenção nesse artigo para o fato de que toda crise gera um estado de tensão e uma profunda ruptura na arte de sonhar. Mesmo tendo consciência clara do processo e sabendo que se trata de mais uma reciclagem do capitalismo, em alguns momentos também embarco no túnel do tempo e reviro o passado em busca de alguma luz no fim do túnel.

Foi numa dessas viagens que recorri a Paulo Freire para tentar entender o que ele chamava dos “Condenados da Terra”, que na prática são os excluídos e as excluídas da sociedade e com isso tentar dimensionar a responsabilidade que a militância de uma causa nos obriga a ter.

É bom que se entenda, que dirigentes de entidades, candidatos e candidatas ao legislativo e executivo, representantes de qualquer ordem e principalmente quem se consideram lideranças, mexem e muito, às vezes sem nenhuma permissão, com os sonhos das pessoas, com as fantasias expressas na possibilidade de mudança na qualidade de vida e é essa expectativa que faz com que elejam seus pretensos representantes.

A indignação de grande parte da sociedade, com ou sem consciência política, vem do fato de se sentirem lesados e lesadas pelos seus representantes. Sentem-se enganados e buscam um ponto de referência para a mudança. Daí, ou encontram falsos líderes que tentam lhes vender terra no paraíso ou ainda velhos e novos políticos que quer apenas se dar bem e novamente o paraíso como recompensa. A partir dessa constatação dá para entender o que são as famosas “garrafinhas” na vida política?

Tenho afirmado que a sociedade está doente. A cada dia nasce seus estereótipos. Por sua vez o capitalismo não foi, não é e nunca será uma alternativa econômica. Suas crias continuam a desprezar a humanidade.

Como não se indignar, por exemplo, com a declaração da Presidente do FMI Christine Lagarde (uma pessoa também velha), quando afirma que “os idosos vivem demais e são um perigo”? Como não ficar possesso com a declaração de outro ser desprezível, Rimantė Šalaševičiūtė, ministra lituana da Saúde, membro do PSD Lituano, que declarou pouco depois de tomar posse, em 2014, que a eutanásia deveria ser considerada como uma boa opção para os pobres que não podem pagar os cuidados de saúde.

Para o capitalismo bom mesmo seria matar aquelas crianças que nascem com algum tipo de problema e desnutridas, assim como se encurtar a vida de pessoas idosas, pois em ambos os casos o custo-vida para o capitalismo selvagem é muito alto. Julga-se a humanidade a partir de números e de resultados. É a teoria do ter versus a do ser. É por exemplo, a teologia da Prosperidade versus a da Libertação.

Um estudo recente divulgado no último dia 8 de julho pelo FMI, alerta que em 2035, cerca de 20% da força de trabalho em Portugal será considera “velha”. O valor representa um aumento explosivo, pois atualmente esse número é de 14,9%, sendo que na Espanha, Itália e Grécia irá mais que duplicar.

O mais assustador é que a preocupação dos técnicos do FMI, representantes do capitalismo selvagem, expressa no documento citado acima, não vem do fato de que poderá haver um desequilíbrio em termos oportunidades de trabalho e consequentemente de sobrevivência, mas que essa mão de obra “velha” vai reduzir o crescimento da produtividade e aumentar o custo social.

Cita ainda o documento que o envelhecimento da força de trabalho, que caminha de mãos dadas com o envelhecimento da população e com o declínio da natalidade, “será provavelmente um empecilho significativo ao crescimento da produtividade durante as próximas décadas”.

O que me interessa nessa conversa é saber até que ponto seremos capazes de libertar o povo para que tomem suas próprias decisões de forma consciente, sem usá-lo, seja como mão de obra barata ou ainda como “garrafinhas”, que se traduzem em “massa de manobra” para os politiqueiros de plantão.

O mais trágico é que a capacitação e a formação política como antídoto a esse processo de desigualdade acabam sendo algo “subversivo”, infelizmente até mesmo em setores da chamada esquerda brasileira, pois ao libertar pode se criar uma competição, principalmente aos eternos candidatos.

Paulo Freire em seu Livro Pedagogia da Autonomia faz um alerta: “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.

Referências:



Sobre a Eutanásia: http://www.jornaltornado.pt/eutanasia-pode-ser-opcao-pobres/ 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
tonicordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Antes sonhar com o impossível do que fantasiar com o que sequer existe

Muitos acontecimentos na vida política do país e na nossa região de Campinas têm me preocupado nos últimos tempos, pois o que está em jogo não é a vida de fulano ou ciclano e sim o destino de um partido que fez história.
Como o brasileiro não tem cultura partidária e não consegue entender que não há democracia sem partidos, joga tudo no sujeito partidário e não em quem usou e usa as siglas para seus interesses pessoais e a saga de poder. O que deveria ser de fato discutido é qual é o projeto politico-ideológico que esse ou aquele partido defende, pois aí saberíamos de que lado está ou a quem serve.
De antemão quero destacar o PT de Campinas que com todos seus problemas e disputas internas, amadurece e por unanimidade lança o nome de Marcio Pochmann para prefeito, com uma vice mulher e com composição paritária. Algo inovador num país de herança machista entranhada no nosso dia a dia.
Quero iniciar essa conversa me perguntando até que ponto a militância política cresceu nos últimos anos que a fizesse defender com clareza uma causa? Até que ponto quem se considera liderança não usa ainda sua base política como verdadeiras “garrafinhas”, que servem apenas para votar? Até que ponto o Partido dos Trabalhadores cresceu, que possibilite rejeitar candidatos e candidatas que transformam seus mandatos em mandatos de resultados, como se fossem gestores de empresas privadas? Estamos preparados para substituir os candidatos eternos? Trabalhamos nossas bases para a renovação?
São muitas perguntas em busca de novas respostas. Quem vive a vida partidária passo a passo não pode se deixar contaminar por essa ou aquela conduta, que nada tem a ver com as comuns divergências das sadias linhas de pensamento, onde só o PT tem. Quem não aceita isso é porque quer o partido só para si para atender suas necessidades e aí a luta será dura.
Numa visão mais geral, há de notar que a vida politica do país passa por uma verdadeira convulsão social. De um lado alienados e alienadas em fúria marcham para o precipício, sem ao menos se darem conta que estão sendo massa de manobra de malafaias, bolsonaros, cunhas e tantos outros calhordas e do outro um movimento que ressurge das cinzas, diversificado, com pouca origem partidária, porém com um cunho ideológico muito claro. Lutar pela manutenção da democracia e da liberdade política.
O que se faz necessário e urgente é discutir com esses movimentos e com os grupos que vão se organizando, se esse momento para eles representa o sonho de mudanças profundas na sociedade ou apenas a fantasia do enfrentamento que poderá morrer quando a primeira barreira for rompida.
Uma das diferenças entre sonhar e fantasiar, é que enquanto sonhar requer um caminho a trilhar que pareça viável, mesmo que leve tempo, fantasiar caminha na velocidade do vento, sem direção e com a sensação de que de fato aconteceu. Enquanto sonhar nos compromete e nos responsabiliza por às vezes nos distanciar dos sonhos por pura distração, fantasiar se constrói na calada dos nossos silêncios, muitas vezes de forma irresponsável. Enquanto os sonhos nos alimentam, a fantasia nos engana de que estamos alimentados.
Embarco nessa abstração para tentar moldar no campo da militância política, quem milita por uma causa e quem é levado pelas fantasias de alguém. Quem age impulsionado pelas escolhas conscientes e quem age apenas por interesse no que chama de poder, ou ainda para alimentar o ego e os sonhos sejam de quem for.
A meu ver, os desencontros contidos numa sociedade de desiguais e manipulados pela fantasia dominante, leva grande parte da população a enxergar sonhos como ilusão, enquanto fantasiam sem compromissos e sem responsabilidades, compondo um cenário do faz de conta, seja por ação ou por omissão. Não vivem de fato a vida, são apenas levados por ela.
Essa viagem ao faz de conta seduz, não só os que poderiam ser considerados como alienados e alienadas, mas infelizmente também o universo de instituições como sindicatos, partidos, organizações não governamentais e principalmente o universo político eleitoral, onde a extrema maioria decide uma eleição pura e tão somente pela emoção e muito longe da razão.
Toda vez que uma pessoa vai à urna votar apenas porque é obrigado, age ou por desprezo, induzido por uma mídia viciada e partidária, e assim vota em qualquer um ou uma ou ainda vota por pura paixão, achando que seu candidato é o melhor, sem ao menos conhecer suas reais intensões. O resultado é esse Congresso Nacional espúrio. O mais conservador e reacionário da recente história do país. Ou seja, a pessoa desinformada não constrói e sim é levada a construir sonhos alheios ou ainda embarcar na fantasia que não lhe pertence.
Como dizia Paulo Freire, sonho com uma sociedade se reinventando de baixo para cima, onde, a partir de um processo anárquico consciente, questione-se e peite-se toda forma de poder exercido de cima para baixo. Nesse processo, mais vale um ano de experiência popular do que cinquenta anos de vida política, dedicada ao próprio ego. 

Mesmo que a democracia representativa fosse apenas o ato de votar, defendo que as pessoas exerçam esse direito sem serem manipuladas ou conduzidas como as garrafas são num caminhão de entrega.
O ato de sonhar começa a se materializar no exato momento da revolta e se concretiza quando as pessoas dizem não a qualquer sistema que oprima e alimente o poder de alguns e algumas contra a maioria que se faz conduzida.
Na vida real sonho e fantasia se completam, porém na vida política a fantasia afasta a possibilidade da luta concreta e aí acaba virando um pesadelo.
Que tal transformarmos as "garrafinhas" num exército de homens e mulheres que dirão sim para o que sonham e não para as fantasias seja de quem for?
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 11 de junho de 2016

Uma Liderança Comunitária ou um Político de Carreira?

Caro leitor ou leitora, quem você respeita mais? Um Político de Carreira, onde a política a única profissão e para tal afasta ou anula quem aparecer mais do que ele ou ela, com medo de alguém que se destaque e venha a ameaçá-lo, ou uma Liderança Comunitária que surja da população e dos setores organizados e seja escolhida para representar o projeto ou o seguimento? Quem é mais digno de sua confiança?

Você acha que se o povo tivesse consciência política e clareza suficiente para decifrar os códigos e os jogos do poder, quem seriam eleitos(as) nas eleições? Os políticos profissionais com seus projetos pessoais ou de seus grupos de interesse ou as lideranças populares escolhidas a partir do processo de participação? A partir dessa visão, quem estaria mais frágil a um impeachment, Dilma ou um político tipo Alckmin? Lula ou um feito FHC?

Quem dos dois modelos (político de carreira ou liderança comunitária) está mais propício à bandalheira e aos caixas dois para as campanhas milionárias? Quem precisa mais de marketing eleitoral? Quem precisa mais de carregadores de bandeiras? Quem vai ter mais gente voluntária interessada na campanha e colaborando de forma gratuita?

São várias perguntas com uma única resposta: a tal da democracia representativa sem participação está em crise mortal. Está na UTI, convalescendo, pelo simples fato de não representar ninguém a não serem os próprios políticos de carreira e seus escusos interesses, pois não nasceram da participação e sim do oportunismo. Na verdade esse tipo de político quer o povo que questiona bem longe, principalmente depois de eleito.

Em minha visão, aí está o nó crítico da política brasileira. O ponto de partida para uma possível explicação do que chamamos de politicalha, ou ainda na longa caminhada, desde a República para explicar tantos golpes, repressões, ditadores e porque não dizer para o moderno golpe “democrático” em curso no país. São políticos sem projetos participativos e se acham seres iluminados que vieram ao mundo para serem servidos de votos.

Quem não conhece um ser profissional de carreira que nasceu vereador, deputado ou senador e pretende morrer como tal, sem contar que no meio desse oportunismo nascem também os cargos executivos com prefeito(as), governadores(as) e para a Presidência da República que são eternos candidatos(as). Esses ou essas jamais admitem o surgimento de alguém que ouse lhe tirar a possibilidade de uma candidatura eterna. Creem piamente que nasceram com dons especiais. Que foram escolhidos pelo Criador para velejarem eternamente pelos mares do poder. Acreditam ainda que só eles ou elas serão capazes de resolver todos problemas da humanidade.

Trata-se de um fenômeno velho e conhecido, que está mais para a questão cultural do que para a questão política em sua essência. Porém, na prática se transforma no que estamos vendo hoje, com alianças mercantilistas, campanhas caras e a corrupção como elemento chave para os desvios de dinheiro público, seja para enriquecimento pessoal ou para financiamento de campanhas. Tudo em nome da tão surrupiada democracia.

Ideologicamente essas criaturas servem ao poder econômico global, seja de que partido for e qual sua plataforma política, afinal papel aceita tudo e a política tradicional também. Nela, vale mais quem tem um conchavo convincente do que um projeto escrito a várias mãos.

A verdadeira política se faz em campo, junto com os setores organizados da sociedade, promovendo novas lideranças através do conhecimento, criando conselhos de mandatos, criando conselhos populares, ajudando a população a se organizar e, sobretudo, respeitando os Fóruns Temáticos e Populares, que é de onde poderão sair os políticos de fato representativos para os próximos pleitos. Quem faz o contrário serve aos seus interesses e se torna uma falsa liderança no poder.

A maioria dos atores da política brasileira nunca praticou nem dez por cento do que pregam ou pregaram, portanto são palavras jogadas as vento, onde a população sonhadora compra como verdade absoluta.

Como dizia Paulo Freire: A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 4 de junho de 2016

A importância da escolha de uma candidatura própria

Estamos diante de um processo eleitoral para prefeitos(as) e vereador(as) complicado, pois estamos em pleno golpe político e o pior, tramado e articulado pela extrema direita junto com os chamados “aliados” do Partido dos Trabalhadores. Os “amigos bons de votos”. Diante disso uma pergunta necessária: o PT deve lançar candidaturas próprias mesmo com grande possibilidade de perder em várias localidades, ou se aliar a alguém, em muitos casos a reboque de uma candidatura, apenas para mostrar que está vivo, ou ainda em troca de alguns cargos?

Imagino se tratar de uma resposta complexa que requer antes de tudo atitudes, visto que o PT no momento se encontra na berlinda de um processo golpista, que simplesmente anseia e trabalha pelo seu fim. Só isso já reforçaria a ideia de que o PT tem que ocupar todos os espaços possíveis em causa própria e se aliar apenas aos partidos que não compactuaram com o golpe, estabelecer regras, a partir de suas resoluções de quem serão seus candidatos, além de participar das alianças políticas sendo protagonista e não apenas pela composição e participação, como se fosse de favor.

Como filiado defendo a ideia de que o Partido restabeleça, potencialize e aposte cada vez mais na formação política, com todas as correntes participando, pois só o conhecimento livrará a base partidária de ser tratada por alguns como “garrafinhas” e ser chamada apenas para votar. Para os veteranos da vida política como eu, a luta por uma causa acaba se transformando em nosso projeto de vida e os interesses pessoais acabam dando espaço para toda ação e reação que tenha à frente a melhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas excluídas da sociedade e para isso a formação política é fundamental. 

Nessa caminhada, o Partido dos Trabalhadores foi e ainda é para uma grande parte de sonhadores e sonhadoras, o ponto de encontro da diversidade, a interação com a causa e o amadurecimento para uma ruptura política definitiva com a sociedade de desiguais, rumo à construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Quem pensa dessa forma jamais aceitará a ideia do Partido ter um pensamento único, ou seja, apenas uma linha de pensamento. É a pluralidade que o alimenta. A disputa de ideias e a pluralidade das linhas ideológicas, através das diversas correntes é o que garante que de fato o PT seja um partido e não um Inteiro, como é comum em quase todos os partidos.

Outro fator a ser observado e um dos grandes equívocos de muitos dirigentes de alguns partidos do campo da esquerda e porque não dizer também de parte da militância política, foi o de se enveredarem pelo “canto da sereia”, de que o PT e seus aliados, ao chegarem à Presidência da República, tinham também chegado ao poder e não apenas aos governos. Esqueceram talvez de que, como bem afirmava Karl Marx, num país capitalista quem determina é e sempre será o econômico. Quem duvida disso é só analisar o fundamento político e ideológico do golpe em curso e a quem o golpe serve.

Vale lembrar que o Capitalismo é um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos e não públicos. Todos e todas que lhe afrontarem terão como resposta, ou a repressão ou um esquema golpista como vivemos na atualidade.

É importante ressaltar também que o golpe político em curso não foi articulado nesse momento e sim estrategicamente elaborado há anos. A direita política com toda liberdade de ação trabalhou nas entranhas do poder e preparou um desmonte do projeto político e social defendido pelo Partido dos Trabalhadores, não via Forças Armadas e sim a partir do próprio Congresso Nacional e do Senado. Trata-se de um golpe moderno, à luz da Constituição e com o apoio da bandalheira eleita.

Qual o maior desafio do momento? Não permitir que a direita organizada com todos seus instrumentos, caminhe firme rumo ao pedido e consolidação de cassação de registro do Partido dos Trabalhadores e criminalize, junto com os movimentos sociais, qualquer ação que envolva a militância política do país.

Não se trata apenas de uma preocupação, mas de um fato que está sendo trabalhado no âmbito da Lava Jato, que tem como premissa principal derrubar Dilma, prender Lula e cassar o registro do PT. Esse é o campo de luta que envolve toda militância.

Os primeiros passos já foram dados e os demais estão em curso, que envolve entre outras ações, o encurtamento do Partido com alguns e algumas saindo dele para não serem chamados de petralhas, a caminho da sedução das carreiras-solos e de seus projetos pessoais, assim como uma drástica redução do número de prefeitos (as) e vereadores (as) nas próximas eleições. Outra tática da direita e da justiça partidária é a perseguição a lideranças chaves, como por exemplo, a condenação a José Dirceu e a prisão de outros nomes graúdos. Uma verdadeira devassa partidária.

A partir desse cenário, se fazem necessárias a defesa intransigente da vida partidária e a defesa clara e cristalina do projeto que os militantes defendem.

Não há nada mais importante nesse momento, do que o Partido mostrar sua cara, defendendo o projeto escrito a várias mãos e lançar candidaturas próprias em todas as localidades possíveis, com o firme propósito, não apenas de ocupar uma cadeira, seja no executivo ou no legislativo, mas de continuar e resgatar as bandeiras históricas que fizeram com que a população brasileira votasse por quatro vezes em Lula e Dilma, assim como voltar às ruas na defesa das principais lutas onde o povo ainda excluído estiver presente.

Algumas razões para a defesa de uma candidatura própria:
  1. A possibilidade concreta de trazer para o âmbito do processo eleitoral a possibilidade de defesa da vida partidária, assim como a visão de que o Partido não está morto, como pretende a direita e a imprensa golpista e sim mostrar que não só ele está vivo, como pretende ampliar o escopo do projeto formatado até o momento de forma participativa.
  2. A possibilidade de ampliação do debate com a sociedade de que o partido continua na defesa da parcela ainda excluída da sociedade, junto com os atores envolvidos, assim como na defesa intransigente de tudo que foi conquistado pelos trabalhadores e por grande parte da população.
  3. A possibilidade de mostrar que o Partido dos Trabalhadores e sua história são muito maiores do que as crises que o cercam, ou ainda dos desvios de algumas pessoas que usaram a legenda em benefício próprio e terão que pagar por isso.
  4. A possibilidade de usar o ambiente eleitoral para formatar e cumprir junto com a sociedade um Plano de Governo dinâmico e participativo.
  5. A possibilidade concreta do Partido não se comportar como figurante, sendo levado a reboque de nenhuma candidatura, apenas e tão somente por participar e sim trabalhar a ideia do partido ser protagonista de sua história e de suas experiências concretas.
  6. A possibilidade de envolver a militância ativa ou quem se encontra afastado por vários motivos, na defesa de propostas próprias e compromissos de participação efetiva, seja nos Conselhos de Mandatos de vereadores ou ainda nos Fóruns Municipais a serem criados.
  7. A possibilidade de motivar filiados, filiadas e simpatizantes nos Cursos oferecidos pela Fundação Perseu Abramo, como por exemplo, o Curso Difusão do Conhecimento, que discute entre outros conteúdos a função da militância no processo de formulação das Políticas Públicas.
Essas e outras razões, expressas nas Resoluções Partidária, nos afirmam que defender uma candidatura própria, num momento tão difícil como o Partido dos Trabalhadores passa, além de ser uma obrigação, se constitui num compromisso público de continuidade das lutas concretas e da visão de que em muitas ocasiões ganhar é perder e perder é ganhar.

Como militante de uma causa, prefiro me enveredar pelos caminhos da luta, mesmo que seja recheado de contratempos, do que servir ao nada apenas para satisfazer minhas vaidades.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

domingo, 29 de maio de 2016

Dilma não errou, foi honesta.


De acordo com os golpistas, em seus telefones grampeados, Dilma tinha que sair. É unanimidade entre Senadores, Deputados e donos de empreiteiras, que a presença da presidenta como chefe de estado não contribuía para o que eles entendem como política: Dilma não parou a operação lava-jato; Dilma não fechava acordo; Dilma não aceitava entrar em esquemas; Dilma não era de confiança dos políticos corruptos. Entre as falas, Dilma era honesta demais.

Dilma teve o impedimento do seu mandato porque moldou um governo buscando driblar chantagens dos parlamentares, deu autonomia investigativa à polícia federal e não utilizou do dinheiro público para benefício pessoal. O filósofo Platão dedicou suas últimas décadas a construir o conhecimento primário sobre a Política e as intenções dela aos republicanos. Aristóteles, seu discípulo, fez críticas à filosofia dele e dizia que ética e política não se relacionam. Partindo deste entendimento da filosofia grega e aos olhos dos golpistas, o impedimento de Dilma era não só correto, como necessário, pois ela era ética.

Uma vez que ela, enquanto chefe de estado buscou a ética, quebrou um laço histórico de fazer política no Brasil, com jeitinhos e acertos internos contrários à vontade do povo. A saída da Dilma é o “status quo” de uma turma que tem o sobrenome corrupção: governam a sexta maior economia do mundo com práticas de privatizar bens públicos e destruir direitos conquistados com muito sacrifício por toda classe trabalhadora.

Que tenhamos mais Dilma, que possamos ter mulheres, sim, na política! E não somente homens brancos e ricos, como agora. Por mais honestidade e por princípios que não sejam individuais, mas sim coletivos.

Leonardo Koury - Escritor, blogueiro e militante dos movimentos sociais

domingo, 15 de maio de 2016

Ai que saudades das Cebolas do Egito

                                                                         
Bruno Francisco Pereira

Os últimos acontecimentos do país são sinais claros que estamos em tempos de muita disputa e muitas coisas ainda necessitam ser esclarecidas, mas uma coisa é muito clara o GOLPE da elite brasileira cada vez mais se consolida. Cabe também neste momento uma reflexão bastante coerente, clara e objetiva do que está por detrás deste golpe, e ao mesmo tempo temos clareza que ele se consolida porque foram deixados espaços para que ele avançasse.
Nesta última década que experimentamos os governos pós-neoliberais na América Latina, a elite deste continente sempre esteve por detrás de tentativas de desestabilizações da democracia. Foi assim na Bolívia, Venezuela, Paraguai, Equador, Argentina e agora no Brasil. Países estes que durante os anos de 2000 para cá tem se demonstrado, com todas as suas limitações, trincheiras de resistência contra a degradação socioambiental que o capitalismo neoliberal provocou e ainda vem provocando no continente e não dá para negar a história que as políticas implantadas nestes países e que favoreceram milhões e milhões de pessoas deram certo e elevou o grau de cooperação e solidariedade entre as nações do continente.
Estes avanços vão contra os interesses das grandes corporações, que aliadas às mídias tradicionais viram seus interesses serem ameaçados, e por isto que uma nova agenda neoliberal avança neste continente e o Brasil se torna o exemplo mais claro desta nova conjuntura. E todos nós sabemos que foi este mesmo neoliberalismo econômico que chegou ao Brasil nos anos 1990 com e eleição de Fernando Collor de Mello, mas que foi aprofundado nos oito anos de outro Fernando o Henrique Cardoso, que levou o Brasil a quebradeira nos final da década.
Voltar ao passado, retomar estas politicas que penalizam os pobres, me fez lembrar-se do Antigo Testamento em que o povo estava a caminho da terra prometida e que na primeira grande dificuldade quis lembrar o tempo em que estavam na escravidão do Egito, querendo voltar aquelas mesmas situações anteriores sobre a opressão e violência por parte do Faraó, esta passagem que está no livro de Números, capitulo 11 versículos de 1 a 23, podem explicitar em muito o momento atual em que estamos inseridos. Como a nossa sociedade tem saudades das “cebolas do Egito”, tempos em que as dificuldades eram maiores e que este mesmo povo estava á margem da sociedade. Onde seus direitos eram deixados de lado, onde o lucro e o poder eram o que interessavam para a elite brasileira.
O que o governo Temer nos mostrou nestes dois dias foi exatamente isto, a volta de uma política que já deu errado e tem tudo para dar novamente, em 12 horas de governo de quinta a sexta feira, os primeiros anúncios já eram o prenuncio de que seria de fato um governo que iria olhar somente para a elite esquecer os anos de avanços na democracia e no respeito aos direitos sociais da maioria da população, valorizar o deus mercado em detrimento da maioria da população.
Cabe a nós, manter as trincheiras da Resistência, denunciar ao mundo o golpe que esta em curso no Brasil, buscar a solidariedade de nações e organismo que não compactuam com estes desmandos da elite, criar uma frente de resistência dos pobres para que este governo, ilegítimo e impopular possa ser derrotado de uma vez por todas. Agora é a hora de radicalizar a democracia, e radicalizar a democracia no dia de hoje e estar presente nas periferias, nos movimentos sociais, nas classes de lutadores e lutadoras sociais para retomar aquilo que nos roubaram a contra revolução social no Brasil só esta no começo.
Se temos algo a nos alimentar de esperança é saber que não saímos pela porta dos fundos como a elite entrou, saímos pelo mesmo local que entramos com apoio da população, com apoio dos pobres que sabem que tudo isto não passa de um golpe da elite brasileira e das grandes corporações transnacionais que querem tirar proveito das nossas riquezas, para liquidar com algo que temos de valor estratégico para a nossa população que é o Pré-Sal que se estivesse sendo mantido a mesmo sistema de partilha nos colocaria em outro patamar em relação aos países do mundo todo, beneficiando setores estratégicos da população como Saúde e Educação.
Serão até cento e oitenta dias de debate em que teremos que fazer valer a vós do povo, de fato o projeto popular começa agora a ser construído e defender este projeto, contra a usurpação da democracia feita por esta elite é dever de cada um de nós, é dever de cada um de nós.

Bruno Francisco Pereira
Sociólogo - Militante do Coletivo do Grito dos Excluídos 
de Americana e Nova Odessa

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Que lições podemos tirar do golpismo

Antes de qualquer conversa é necessário que se esclareça que o golpe de estado em curso no Brasil se situa entre a ignorância política e o neoliberalismo disfarçado, comandado por uma trupe do mal que comungou com o golpe de 64, lutou contra as diretas já, aprovou várias leis e medidas contra o povo e outros que aderiram por puro oportunismo e enterraram de vez as convicções que diziam ter. Trata-se de uma modalidade moderna de golpe, pois ocorre no campo institucional e sem necessidade de envolver as forças armadas.

Outra questão tão importante quanto, é que essa intervenção moderna e de extrema direita, faz parte de uma nova fase do capitalismo mundial, visto que essa mesma prática ocorre nesse momento em várias partes do mundo capitalista, principalmente em vários países da América Latina, no sentido de conter o avanço das forças progressistas e intervir nas conquistas trabalhistas e os avanços de setores que sempre estiveram excluídos da sociedade.  

Para o bem e para o mal, o triste episódio do último dia 17 de abril ficou marcado na história do país, primeiro pelas aberrações que vimos e ouvimos dos defensores do “sim” e segundo pelo fato de que jamais teria ocorrido algo semelhante se o país estivesse sendo governado pelo PSDB e seus aliados neoliberais. Podemos afirmar que só ocorreu a aceitação do impeachment porque é o PT que está no comando e corre-se o risco de Lula voltar como presidente em 2018. Isso levou os agentes da casa-grande ao tudo ou nada.

Estamos falando de um daqueles momentos que chegamos a sentir vergonha de sermos humanos, tamanha a farsa e a hipocrisia. Tamanha a montagem amadora para velhos profissionais da política. Por outro lado o episódio mostrou como é fácil enganar grande parte da população, pois se assim não fosse os bizarros personagens legislativos seriam outros.

É importante salientar que se trata de um enfrentamento de classe e de medição de forças e pouco tem a ver com a competência da Presidenta Dilma e muito menos com o combate à corrupção. É na verdade um embate ideológico pela disputa do projeto que está em curso e o que a burguesia quer em substituição, a mando principalmente do capital internacional.

O que imagino ser de grande relevância avaliar, principalmente no campo da organização política e social, é o fato do país ter eleito um Congresso tão sinistro como esse, composto por mais da metade de parlamentares com grandes dívidas com a tal da justiça, quase metade ser da bancada milionária, além de mais da metade representar o latifúndio, num país eminentemente urbano. Isso sem contar, que num país de trabalhadores a maioria deles representa a bancada empresarial e muito pouca representação trabalhista, o que mostra também uma enorme fragilidade e desconexão com a realidade das entidades sindicais e a escassez de novas lideranças.

Um cenário ideal para o golpismo. Uma grande oportunidade para os golpistas rasgarem a CLT, junto com a Constituição e de quebra terem milhares de pessoas alienadas, cheias de ódio ao PT, aprovando seus atos e pedindo a volta da ditadura. O golpismo tem como grande suporte ideológico o PIG - Partido da Imprensa Golpista, que se comporta como protagonista do pensamento neoliberal e por outro lado mostra o grande erro do governo federal, de não ter criado regras para os meios de comunicação.

O fato mais grave é que essas criaturas do pobre e falido poder legislativo só se sai bem e fazem o que bem querem porque grande parte da justiça de fato é cega, surda e muda para as ocorrências com quaisquer pessoas ligadas ao PSDB e seus aliados, pois se forem ligadas ao PT, a eles simplesmente a lei.

A primeira lição que fica vem do fato do governo federal não ter investido na comunicação alternativa, como as Rádios e TVs Comunitárias, por exemplo, ou ainda a criação de um canal exclusivo com repercussão nacional, como fez a Venezuela e outros países governados pela esquerda.

A segunda lição a ser aprendida é saber que cada vez que um prefeito ou prefeita, governador ou governadora e principalmente um presidente ou presidenta faz alianças mercantilistas ao invés de programáticas, ficam reféns de oportunismos e oportunistas e só conseguem caminhar em seus mandatos, a custa de muitos cargos e/ou de muito dinheiro.

A terceira lição é reconhecer publicamente que a democracia representativa em curso agoniza. Encontra-se em estado terminal. A maioria dos eleitos do Congresso, com votos e apoio da população pobre, representa exatamente seus opositores, ou seja, o grande capital e dia a dia vai delapidando direitos trabalhistas, dos índios, dos quilombolas e principalmente os direitos sociais, que os classificam como gastos sociais e não como um dever do Estado.

A quarta lição é enxergar e entender que o grande enredo de fundo do golpe em curso é o controle absoluto do processo econômico do país. Querem novamente um exército industrial de reserva (contingente de desempregados), que possibilite o controle salarial e trabalhista. São atores políticos com a missão de facilitarem o acesso americano na gestão do pré sal e das reservas florestais, por exemplo. Além disso, pretendem aprovar os mais de 50 projetos que delapidam todas as conquistas e avanços dos últimos 100 anos, entre eles, a terceirização geral, a mudança de curso dos Projetos Sociais, além do fim do SUS e a prioridade absoluta ao ensino privado.

A quinta lição é entender o processo.  Ou se governa com o povo, respeitando suas organizações e incentivando a criação de outros instrumentos participativos e criando oportunidades de ouvir a população, ou tem que apostar na identidade das lutas, como é o que esta ocorrendo neste momento. O povo está nas ruas, muito mais por entender a gravidade dos fatos e o tamanho do prejuízo que pode ocorrer na tão frágil democracia do que pelo fato de ter sido ouvido ou ser protagonista no processo de governança.

A sexta lição vem das ruas nos mandando um recado. Se por um lado nunca vimos tantos e tantas fascistas e zumbis de direita juntos defendendo o golpe e contra a democracia, por outro vemos milhares de jovens, mulheres, negros, brancos, índios, quilombolas e trabalhadores de várias categorias, unidos se manifestando no Brasil e em várias partes do mundo contra o golpe, contra a mídia partidária e golpista e pela manutenção plena da democracia. Ou seja, o povo que luta pelos direitos, por liberdade e por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, organizado ou não, sempre esteve lá aguardando ser chamado à participação. Que isso sirva de lição.

A sétima lição é a de que o golpe de estado em curso vai revelando a cara e a intensão de seus articulistas, como a traição e a falta de compromisso com a boa política. Fatos esses criados no seio das alianças mercantilistas, onde por um cargo ou uma parcela de poder vale tudo. Isso mostra duas realidades. A primeira é a de que se faz necessário capacitar e formar politicamente a população, principalmente no sentido de seus direitos e para que exerçam melhor o direito de votar e a segunda é de que juntar gente “boa de voto” para ganhar eleições pode levar ao atoleiro, como estamos vendo na atualidade.

A partir dessas constatações ficam algumas inquietações no ar. Como mudar essa realidade? Será via institucional ou via enfrentamento? O que virá após o golpe? Como resgatar alguns valores perdidos?

Creio que só será possível estancar esse cenário golpista com um enfrentamento organizado, seja no campo, nas cidades, nas redes, mas principalmente nas ruas, que em nome da democracia e da mudança da sociedade, mostre aos envolvidos que a luta é por uma causa e não apenas pela manutenção do governo ou de mandatos. Caso contrário, o país corre o risco de voltar pelo menos uns 100 anos na história. Seja o que for que virá, ou aprendemos e enfrentamos os erros ou eles poderão vir com muito mais vigor.  

Há de se entender, que se for para moralizar de fato esse país, uma das coisas que tem que acabar é com o profissional de mandatos. Aquela criatura que uma vez vereador, deputado ou senador, não quer mais largar o osso, quer morrer grudado no cargo. Essa prática, além de perniciosa, intervém diretamente de forma negativa, no surgimento de novas lideranças. É como se os eleitores necessitassem sempre de heróis ou heroínas e não de lideranças construídas no âmbito da participação.

A democracia representativa só sobreviverá se acabarem as candidaturas eternas e as pessoas eleitas tiverem bases participativas de fato e de direito, principalmente para se cumpram na prática os direitos constitucionais de participação e de controle social de todas as políticas públicas. Um dos caminhos para isso é criação e organização dos conselhos de mandatos.

A realidade nos mostra que a partir desse momento, nenhum de nós, nenhum partido, nem mesmo o país será o mesmo, pois grande parte da população busca luz enquanto outra parte caminha para as trevas e conta às lendas que quando estamos bem intencionados e bem acompanhados, todos os caminhos levam à luz e para lá que estou indo.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com