Estamos
terminando um ano muito complicado para quem não domina os códigos do poder. Um
ano onde o ódio se fez presente e a direita representante da elite econômica da
Casa Grande nadou de braçada, por várias questões.
A
primeira delas pela própria desorganização dos movimentos sociais, com raras exceções,
como é o caso do MST que se tornou um movimento de vanguarda na luta pela terra
e pela Reforma Agrária, ou ainda a CONTAG que representa os agricultores em
suas diversas frentes.
A
segunda vem do fato das forças progressistas acharem que chegaram ao poder,
sendo que num país capitalista como o nosso, como bem afirmava Karl Marx, quem
determina e determinará é o econômico. Vide a crise atual.
Chegamos
ao poder ou chegamos aos governos? Essa confusão está plantada, inclusive na
cabeça de muitos petistas e faz com que não se avance em termos de
conscientização, de formação política-ideológica e principalmente de renovação
de lideranças e de quadros. Esse fenômeno é também sintomático com maior
proporção, no setor sindical. Muitos sindicalistas se tornam verdadeiros proprietários
de seus sindicatos e as eleições são decididas na base dos chamados “bate paus”,
que são trogloditas contratados para bater e ameaçar os contrários de quem os
contratou. Uma verdadeira síndrome dos faraós. Em muitos sindicatos Só a
diretoria se beneficia. A categoria fica sempre com as sobras.
Porém,
a mais séria e complicada questão, vem do fato do Congresso mais conservador
que a história já produziu, elaborando e votando leis da Idade Média, como é o
caso do Estatuto da Família, ou ainda favoráveis à terceirização, que será um
duro golpe na classe trabalhadora. Vale observar o desserviço prestado pelos
sindicatos e centrais pelegos, que elegem seus representantes para fazerem o
que o patronato sempre desejou.
É
importante observar qual foi o primeiro ato do novo Congresso. Logo de cara,
para dizer quem manda, a maioria dos deputados rejeitou sem nenhuma reação
popular, o Projeto da Política Nacional de Participação Social apresentado pela
Presidenta Dilma, com o simples argumento de que se tratava de um projeto
bolivariano (fazendo citação à Simon Bolívar – líder revolucionário da
Venezuela) e que a aprovação desse projeto seria um desrespeito para quem foi
eleito justamente para representar a população.
Quem
acredita nisso? Quem de fato se sente representado pela maioria dos deputados
eleitos? Quem esse povo representa?
Diria
que o ano foi tão complicado que merece ser estudado, para que se chegue à
conclusão de que se um terreno não for limpo e constantemente monitorado, quem
toma conta são as ervas daninhas. É assim que se sente a maioria do povo
brasileiro, ouvindo todos os dias nos noticiários que todos roubam, porém na
hora de prender, quem paga a culpa é justamente o partido do governo e alguns
aliados e todos os demais pousam de bons samaritanos, mesmo se sabendo que
foram eles que quebraram o Brasil várias vezes. Se uma grande parte da justiça
fosse imparcial, prenderia seja quem for de que partido for.
Voltando
ao tema principal desse post, vale perguntar, diante da conjuntura nacional
atual, o que faz com que uma pessoa se coloque à disposição para um cargo
eletivo, seja no executivo ou no legislativo? Que projetos defendem? A quem representam?
Como a população que não participa toma suas decisões na hora de votar? Que
papel tem uma mídia pertencente a seis famílias abastadas?
A
impressão que se tem é que a maioria dos eleitos, seja pelo executivo ou legislativo,
defendem apenas seus interesses pessoais e de grupos, ou pior, os interesses de
quem os financiou. Governam e legislam de costas para a população, de olhos bem
abertos para o financeiro atrás do “Caixa Dois”, sem projetos, sem
diagnósticos, sem planejamentos, sem nenhuma sistematização dos processos, sem
melhoria para os servidores de carreira, que são tratados como máquinas. Enfim
sem nenhum compromisso com a melhoria da qualidade de vida da população,
principalmente a que mais necessita de apoio.
O que
fazer? Não perder a esperança da mudança e saber que não há nada que não se
possa mudar. É preciso dialogar com a população. É necessário formar novas
lideranças. É fundamental investir em formação técnica e política. É preciso
voltar ao processo de cooptação, tão bem sucedido na década de 80 e 90, onde
homens e mulheres disputavam as ideias no seio da sociedade.
Não
há desculpas. Se os partidos não fazem, ou ainda, se as direções partidárias,
dos movimentos ou sindicais, não estão interessadas pelo medo de uma disputa
futura, sempre haverá alguém que estará e esse é o único caminho. Faz-se
necessário de forma urgente a criação de grupos de estudos e trabalho, com
capacidade de organização e formação e formar o maior número de pessoas que compreendam
minimamente os códigos do poder e os enfrentamentos que virão. Essa é a única
solução para se continuar sonhando com uma sociedade justa, fraterna e igual
para todos e todas.
Como dizia Paulo Freire: “Quer dizer,
para isso, é preciso que a gente anteontem já tivesse descruzado os braços para
reinventar essa sociedade. Uma sociedade onde a exigência de justiça não
signifique nenhuma limitação da liberdade e a plenitude da liberdade não
signifique nenhuma restrição do dever de justiça”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br