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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Enquanto houver estrelas é sinal que o céu continua azul

Por saber onde quero ir escolhi uma estrela para seguir e acompanhado vamos virando estrelas também. Que céu pode resistir a uma constelação?

Um céu azul é um convite para apreciarmos as estrelas e desfrutarmos de um dia de sol. Algo que nos vai aproximando do infinito. Suspeito que sejamos filhos do sol e nascemos das estrelas, por isso essa relação tão próxima.

Diante de nossos dilemas e desafios, um céu azul nos convida sempre a refletir sobre o futuro, sobre que história de vida deixar e que causa estamos dispostos a defender, onde o infinito seja o limite entre nossas vontades e a capacidade que temos de chegar até o final.

Perdemos muito tempo em busca de respostas para os problemas que surgem no nosso dia a dia e quase sempre as respostas estão dentro de nós, porém para descobri-las, precisamos antes de tudo, saber onde queremos chegar.

Numa dessas caminhadas, me pus a observar duas pipas que voavam juntas, desafiando a natureza e driblando o vento para permanecerem no ar. Uma ao lado da outra e senti além da saudade do meu tempo de criança, o quanto existe de mistério e liberdade na simbologia de empinar uma pipa. Algo que exige atenção, controle, cuidados e principalmente conhecimento com a direção do vento. Mesmo de forma imperceptível se cria uma estratégia para que o resultado seja no mínimo o esperado. Assim deveriam ser todas as nossas ações. Um plano, um projeto, um planejamento e uma estratégia.

Vale salientar nessa conversa duas situações. A primeira de que mesmo nessa brincadeira de soltar pipas, existem disputas pelo espaço no horizonte e até certa dose de maldade ao cortar a pipa de outra pessoa, às vezes só por prazer e a segunda, como fui lembrado por uma pessoa próxima, que as pipas precisam de vento para subir e não de ventania que as façam perder o controle. Assim também são as nossas vidas. Precisamos de motivação que nos movam e não de turbulências que nos tirem do controle.

Só é pipa quando se sabe que do outro lado existe uma forte linha que dá sustentação aos sonhos, que voam livres pelas mentes e corações de quem brinca livremente ao sabor do vento. Algo que pode ser apenas um passa tempo delicioso, mas também algo mais duradouro que fique para sempre em nossas mentes. Depende muito do que se busca com essa brincadeira de pipar. Pipar, seja qual for à intensidade, é algo que nunca se esquece.

Escrevo como se estivesse pipando e como resposta ao que escrevo, tive uma observação bem diferente das que normalmente recebo, dessa vez de uma leitora terapeuta, que me disse que meus textos são previsíveis, que por eles observa meus pensamentos e que eu tentasse ser mau em alguns deles, pois não é feio ser fora do ecologicamente correto. Nunca tinha pensado nisso, visto que escrevo para quem lê e busco contextualizar pensamentos e observações, buscando sempre a identidade do publico leitor.

Fiquei pensando o que deveria ser fora do ecologicamente correto? Que lado ruim eu deveria revelar, se nem ao menos conheço os vários eu(s) que habitam em mim? O que de fato ela quis abordar com essa análise? Bom, no mínimo ela conseguiu me chamar à atenção para suas observações.

Não sei escrever se não for com o coração e isso é se deixar levar sem a preocupação de buscar enquadramento seja qual for, para o conteúdo proposto; enquanto que escrever com os olhos de quem lê se torna um desafio constante, tanto para prender a atenção, como principalmente para atrair o público para caminhar e sonhar junto com quem escreve. Uma identidade que vai se fortalecendo através da empatia e uma conquista literária de cada vez através da possibilidade de interação,.

Voltando ao tema do post, em tempos de ódio e desamor precisamos de um céu azul para voltar a sonhar e buscarmos afinidade com o maior número de pessoas possíveis no sentido de uma nova sociedade. Uma sociedade onde o senso de justiça seja o imperativo à ausência de igualdade e de oportunidades.

Suspeito que não há mais tempo. O tempo de tomar uma decisão, se não foi ontem é hoje, pois amanhã poderá ser tarde demais.  

Existe uma linha ideológica que divide quem sonha só e quem sonha acompanhado com todos os loucos e loucas que expõem suas vidas em busca de mudanças profundas na sociedade pelo respeito à cidadania e a dignidade de viver. Um sonho coletivo onde caibam todas as pessoas excluídas e as façam sonhar novamente. É nesse ponto que se estabelece a causa, além da escolha de que lado optar para caminhar e com quem.

Que a empatia seja o elemento principal de encontro do que queremos para o futuro, assim como a catarse esteja sempre presente para expelir de nós todas as energias negativas que nos fazem recuar da necessidade de lutar.

Somos mensageiros do futuro e responsáveis para anunciar que o céu continua azul para quem escolheu dividir sonhos e somar energias em busca de um novo amanhã.

Caso o céu escureça e o sol tarde a chegar, que o brilho que vem da luta por justiça e liberdade seja o condutor para os caminhos rumo ao futuro.

Quero a causa que se funde como projeto de vida. Quero o lado da história com a multidão desvalida. Quero o hoje e o amanhã e os sonhos que virão. Quero junto com esse povo lutar por uma nova nação.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã...


A escolha por essa temática foi ao lembrar que nasci num sítio, na cidade de Belo Jardim – PE, circundado por mata fechada e a possibilidade de usar essa imagem como uma metáfora para nosso dia a dia. Algo que transitasse por algumas contradições e o que não faltam são contradições a serem observadas, tanto nossas como de pessoas que conhecemos. Quem não conhece uma criatura que mudou de lado ou de opção ao primeiro lampejo?

Caminhar em mata fechada sem conhecer o caminho é o mesmo que entrar num rio sem saber nadar. Por outro lado, para quem vive a vida ao deus-dará, qualquer destino serve ou estará entregue ao acaso.

Lembrando que a mística: destino-acaso não se define por si só, pois o acaso pode ser o atrevimento de um momento que queria ser destino.

A partir desse contexto me deparo com as primeiras dúvidas: Será que todo ser humano tem dois “eus” dentro de si? Duas personalidades? Duas formas de ser? Dois estilos de sentimentos, com oalgo próximo da dualidade do bem e do mal?

A impressão que se dá é a de que de fato somos luz e sombra ao mesmo tempo, como sugere a Psicologia Analítica de Jung. Um lado se esconde para que o outro aflore. Fenômenos esses que ocorrem todos os dias com milhares de pessoas e nem mesmo elas se atem às mudanças de comportamento, que provavelmente também afetam quem vive ao lado. Isso pode gerar um estado depressivo, onde alegrias e tristezas se misturam, assim como sofrimento e felicidade, fazem parte dessa caminhada. A partir daí, o grande desafio é a busca do conhecimento interior e como dominar cada um desses sentimentos.

Ao buscar ajuda nos clássicos sobre essa dualidade, chegamos a várias compreensões. Segundo Rousseau o ser humano nasce bom e é a sociedade que o vicia. Daí vem à discussão de que o ser humano é produto do meio.

Por outro lado, no Estado da Natureza, Thomas Hobbes afirma que os homens (usarei por conta própria a mudança de homens para seres humanos) podem todas as coisas e para tanto utilizam todos os meios para atingi-las. Afirma ainda que os “seres humanos” são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado.

Hobbes afirma ainda que no uso de suas faculdades naturais, para conquista e manutenção do bem conquistado, os “seres humanos” usam da razão, da paixão, da experiência e da força física se necessário for, mas também o descarta quando não mais se interessam. Talvez isso explique o drama, por exemplo, de quem ama ou se apaixona e não é correspondido. Um drama desnecessário, pois não há a menor razão de se gostar de alguém que não corresponde à outra pessoa, porém isso acaba sendo um fator importante para o crescimento dos seres humanos. O sofrimento também gera crescimento.

Já Santo Agostinho afirma que, sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar. O livre arbítrio, aliado às escolhas levam os seres humanos a amar, mas também a odiar, de forma particular de cada um e de cada uma. A contraposição ao ódio vem da máxima religiosa de que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Máxima essa totalmente desvirtuada nos dias de hoje por muita gente.

Para fechar a questão de forma particular para esse post, Nietzsche afirma que o conceito de bom ou de mau na esfera moral não possui sentido em si mesmo, de modo que nada, em sua essência, é objetivamente bom e tampouco mau. Creio que a partir dessa visão, vêm as crenças, valores e atitudes. Imagino ainda que dê para encaixar nesse contexto o fato de que não existe verdade absoluta e sim a verdade particular de cada um e de cada uma e suas consequências, como por exemplo, a lei do retorno.

Ao nos darmos conta de que possuímos duas pessoalidades, como agir com cada uma delas? Por onde anda meu outro eu? Esse caminho pode nos dar respostas do porque que algumas pessoas mudam da água para o vinho sem nenhuma explicação? O importante é entendermos que o lado do bem conserva, enquanto o do mal destrói o que vier pela frente.

A partir dessa conversa, o que fica latente a meu ver é a necessidade permanente do autoconhecimento, que pode levar até a vida toda e que mesmo que uma pessoa venha a se descobrir, se torna impossível um autoconhecimento pleno, pois somos momentos, lutamos pelo previsível, buscamos coisas simples e nos decepcionamos quando nos deparamos com o imponderável. Ninguém se conhece totalmente, apenas o que é aparente o resto se torna ilusão.

Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã. Isso vale para os dias complicados que vivemos hoje, onde o ódio tenta competir com o amor e se tornar o senso comum, porém serve mesmo é para acreditamos que por trás de cada arvoredo existe uma bela paisagem para ser vista, mas também para ser vivida. Basta acreditamos e servir à causa maior que pode mudar o mundo.

Algo me parece real. Quando tudo que nos rodeia começar a parecer tangível, principalmente pelos nossos desencontros, por certo o amor continuará sendo uma coisa finda, usando um trecho da belíssima poesia “Memórias” de Carlos Drummond de Andrade. A partir dessa compreensão, é visível que o ato de amar perpassa religiões, credos e ideologias e sua materialização faz com que a solidariedade seja um caminho seguro em busca das nossas essências.

Enquanto há vida existirá um amanhã, que podemos imaginá-lo, tanto como uma chuva de verão com cheiro de terra molhada, como gotas de orvalho com cheiro de mato verde ou como luz ao sair da escuridão, pois virá recheada de esperança.

Na visão da minha existência, ontem plantei um pé de esperança e bebi na fonte cristalina daquele riacho e estou certo de que amanhã estarei nas ruas com o povo de bem comemorando a retomada da luz que está em trevas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social



Imagem: http://frestapoetica.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe...

Minha mãe, sempre se referindo a uma situação de tristeza vivida, mas também de olho nas alegrias aparentemente duradouras, repete um Provérbio Português que diz: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”. Frases gêmeas que compõem uma dualidade mantida pela mente humana e que carrega várias verdades, se alternando ao longo do tempo nos dois universos contidos em cada ser humano.

Algo que abriga, ora tristezas e ora alegrias, que podem voltar a serem tristezas, para em seguida voltar a serem alegrias. Isso vale para várias situações da vida cotidiana de quem trata com as relações humanas e de quem as vivem com intensidade.

Certa vez conversando com uma terapeuta ela me disse: “Engana-se quem acha que uma determinada situação está totalmente consumada, apenas por uma decisão unilateral, quando envolvida por duas ou mais pessoas, porque no meio de tantas certezas há sempre o imponderável”. Algo muito profundo.

Segundo ela, uma coisa é quando estamos em pleno delírio por uma situação qualquer achando que o mundo gira apenas em torno de nossas órbitas, mesmo se sabendo que existem outros atores no enredo, tentando passar a ideia de que vivemos em outra dimensão e ignorando por completo o mundo real. A outra é perceber que ao passar do tempo chegará o dia do encontro noturno com o travesseiro, onde nossos pensamentos em viagem permanente acabarão nos cobrando passo a passo os detalhes inacabados, as mágoas que provocamos em outras pessoas, os desamores e todos os resquícios de fraquezas humanas que nos acometem diariamente. O que entendi da nossa conversa foi que um dia a fatura chega e que de alguma forma iremos pagar.

Traduzindo, ela se referia ao preço que a vida cobra pelas situações mal resolvidas, pelos sofrimentos que por ignorância plena, provoca-se a alguém, pelo uso que se faz de determinadas pessoas em troca de várias formas de prazer, pelas mentiras ditas durante a convivência e tantas outras. Em resumo, só outra expressão popular para explicar: “Aqui se faz, aqui se paga”. Esse pensamento pode estar ligado a um processo de vingança pessoal que nasce dos desabafos, a um conselho de boas práticas humanas, mas também à Lei do Retorno, que em regras gerais nos remete novamente ao Provérbio do título do post.

Ao longo de minha existência, já vi muita gente rir de situações onde eram senhores ou senhoras da razão e terminarem em choro porque o mundo deu várias voltas, enquanto elas continuavam presas aos seus mundos imaginários. Por outro lado também vi pessoas chorarem por achar que não havia mais solução ao que as faziam sofrer e de repente numa dessas viradas que a vida dá saírem sorrindo, pois descobriram que não passara de mais uma peça passageira pregada por suas próprias vidas e por suas escolhas.

Aprofundando essa dualidade, há evidências de que quando o ser humano está em êxtase, seja por qual motivo for, nem que seja por pouco tempo, nega o mundo real e cria um mundo particular, voltado exclusivamente para o prazer daquele momento, em várias situações puramente ilusório. Por outro lado, quando se está em tristeza profunda o mundo parece cair aos ombros de quem triste está, como se fosse acabar em instantes e a impressão que dá é que não haverá solução para o que provocou esse estado de espírito.

No caso das tristezas, dos desencontros e da falta de crença pela busca de soluções definitivas aos problemas vividos, a mente cria um mundo imaginário para que se suportem as diversas circunstâncias vividas no mundo real. Quais os cuidados? Daí vem às drogas, as bebidas, as paixões momentâneas sem lastro, os vícios de toda ordem e todas as buscas que visam maquiar os problemas reais. Nesses momentos, ainda há até quem desdenhem das fraquezas humanas, nem sabem que a vida dá e a vida leva.

Com base nessa viagem ao centro de nossas existências, pergunta-se: O bem é passível de sofrimento, além de ter duração limitada como o próprio mal?

Segundo Walter Barbosa, membro da Sociedade Teosófica, limitada e imediatista é nossa visão do bem, pois não vai além da perspectiva do prazer. Ainda segundo ele, por isso limitada é também nossa visão nos diversos setores da vida, seja como amantes, educadores, religiosos ou profissionais.

Completando sua linha de pensamento, Walter diz: “Só o que é humano se sujeita ao vai-e-vem da polaridade, tendo por isso começo e fim. Assim o oposto ao ódio é o amor limitado pela perspectiva do prazer, do apego, cuja inclinação é instintiva, dando base à continuidade do ego. Avessa à razão, tal perspectiva alimenta comportamentos obsessivos, cegos e autodestrutivos como a paixão e o vício". Segundo ele só o amor dura para sempre.

Talvez o tempo, que é senhor da razão, possa nos explicar porque mesmo o bem, que deveria ser um sentimento de entendimento e importância universais, varia tanto, mesmo para aquelas pessoas consideradas acima de qualquer suspeita e no mesmo campo do bem e do mal, como evitar que o mal que sempre nos persegue perdure por tempo suficiente em cada um de nós, a ponto de destruir parte importante de nossas vidas?

Como a vida é bela e sabemos que nada é definitivo, nem mesmo nossa própria existência, bom é saber que sempre haverá um novo dia, uma nova noite e um novo amanhã, enquanto vida tiver, onde podemos encurtar a distância entre o que somos e o que de fato queremos ser e mesmo que o amanhã seja o fim, terão as nossas histórias de vida, que por certo alguém dará continuidade e tomara que tenham orgulho delas.

Termino essa reflexão com uma frase de Friedrich Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Por onde andam nossos sonhos?


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Ando com pouca inspiração nos últimos tempos e lembrando-me disso recorri a algo que considero ser um verdadeiro sonho. Trata-se de UBUNTU. Uma linda filosofia e uma ética africana, que entre outros ensinamentos nos trás: “Sou o que sou porque somos todos nós. Sou afetado quando um semelhante meu também é afetado”. Algo tão nobre que ao mesmo tempo em que é comunidade, também é bem-comum. UBUNTU é amor em ação e principalmente à superação das diferenças a partir da solidariedade coletiva.

Ao me referir aos sonhos acordados, pergunto: Você acredita sinceramente na realização de seus sonhos, ou pelo menos em parte deles? O que faz para torna-los viáveis e facilitar para que ocorram? Já se sentiu enganado com os resultados de algum sonho? Já se frustou em não realizá-los?

Já para os sonhos ao dormir, algumas surpresas: Você prepara sua mente para seus sonhos noturnos? Você sabia ser possível planejar o cenário de um sonho, ou ainda dar sequência ao que sonhou? Você sabia ser possível resolver um problema real dentro de um sonho, ou ainda um estímulo ambiental real intervir num sonho em andamento?

Acredito que sonhar dormindo seja uma expressão do nosso espírito, enquanto sonhar acordado seja a luz que precisamos para viver. Por isso se torna tão importante e necessário simplesmente sonhar. Eis um dos grandes alicerces da humanidade. Segundo Willian Shakespeare nós somos do tecido de que são feitos os sonhos. Um ser sem sonho não vive, apenas vegeta.

Em sua expressão mais ampla, enxergo o sonho como um ato de beleza tão intensa, que basta dizer que são os sonhos quem alimentam nosso gosto pela vida. Sonhar nos faz acreditar que sempre podemos chegar com final feliz.

Segundo o Neurologista Leandro Teles, membro da Academia Brasileira de Neurologia, todos os seres humanos saudáveis sonham por 4 ou 5 vezes por noite, com durações de 5 a 30 minutos cada sonho, porém se não acordarmos logo em seguida, a tendência é o esquecimento total do que foi sonhado.

Ainda segundo Leandro, os sonhos provavelmente apresentem diversas funções. Do ponto de vista cognitivo, imagina-se que ela tenha funções de ajustes importantes no aprendizado. Também segundo Leandro, um exercício mental de criatividade, confrontação de dilemas conscientes e inconscientes.

Todas as considerações de Leandro sobre sonhos estão disponíveis em seu site:   http://www.leandroteles.com.br/blog/2013/09/08/curiosidades-sobre-os-sonhos-o-que-a-ciencia-tem-a-dizer-sobre-isso/

Para quem tem o hábito de sonhar acordado, vale sonhar mesmo que se ache tratar de um sonho impossível de se realizar, porque do ponto de vista racional, nada é impossível. A vida é cheia de imprevistos, mas também de previsibilidade. O importante é sonhar um sonho onde ao se completar continue parecendo que ainda estamos sonhando.

Vivemos num momento tão tenso em nosso país que parece ser proibido sonhar. Uma grande parte da população deixou de sonhar acordada e muitas dessas pessoas ao dormir têm pesadelos. Isso ocorre quando a luta pela sobrevivência é maior do que a manutenção pela vida. Quem tem fome não sonha, apenas luta pelo direito de viver. Aí é que entra em ação quem sonha com uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Somos a extensão dos sem sonhos. A utopia necessária para quem já sonhou.

Um dia ouvi numa palestra que os sonhos são diferentes das fantasias, porque com as fantasias não há compromisso algum para que ocorram, fazem parte de nossas viagens mentais, enquanto com os sonhos, parte deles possíveis de ocorrerem, requerem compromissos constantes para que as condições se tornem favoráveis.

Toda vez que sonho seguindo por uma estrada onde não sei exatamente onde irá chegar, lembro imediatamente que ainda bem que a vida não e uma linha reta, assim não corremos o risco de enxergarmos o final. Os altos e baixos, assim como as diversas curvas, as surpresas, além dos montes que temos a escalar, serão sempre novas possibilidades que a vida nos dispõe. É como se um processo de catarse sempre nos tivesse disponível no sentido de purificar nossas almas e nos preparar para as novas etapas da vida que virão.

Quem sabe o resultado de um sonho bem sucedido não pudesse ter esse cenário: “Quando tudo parecia caminhar para um dia nublado, coisa factível em tempos de chuva, eis que surge o sol, com seus raios firmes a nos convidar para uma caminhada pelos roçados da vida. O cheiro do mato, associado ao frescor do vento que bate em nossos rostos, nos faz lembrar que a vida é bela, basta que nos esforcemos minimamente e dê vazão a todas as emoções que ela nos oferece. Mesmo com os contratempos imprevistos, mas lembrando-me que a vida é bela, acabo de perceber que certa angústia que invadia meu ser, está calmamente indo embora junto com os contratempos. O que terá ocorrido”?

Para finalizar uma frase genial de Oscar Wilde: “Um sonhador é aquele que só ao luar descobre o seu caminho e que, como punição, apercebe a aurora antes dos outros”.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Dizem que a Sabedoria mora logo ali atrás daquele monte...

Falar de conhecimento é trivial, mas falar de Sabedoria é fundamental.

Imagino que para descrever com precisão o que é Sabedoria, seria necessária quem sabe uma poesia, tamanha é a sensibilidade envolvida, ou evocar os filósofos para que nos ajudasse a entender sua dimensão, porém como não sou poeta, faço aqui uma breve saudação: “Querida Sabedoria tu és o mantra sagrado para a nossa forma de ser. Andaste por minha cabeça, caminhaste comigo pelas veredas do conhecimento, mas foi o encontro de quem sou com a missão que carrego no peito que me fez te observar com outros olhos e me aproximar de ti. Seja Bem Vinda!”. 

Para os antigos gregos Atena era a deusa da Sabedoria e das artes, concebida da união de Zeus e da deusa Métis, também chamada pelos romanos de Minerva, pelo voto de desempate que deu quando julgou Orestes juntamente com o povo de Atenas. Uma deusa guerreira protetora de seus heróis escolhidos e também de sua cidade Atenas. Atena foi a deusa da Sabedoria, da prudência, da capacidade de reflexão e do poder mental, além de ser amante da beleza e da perfeição. Uma divindade completa.

Como falar de Sabedoria nos dias de hoje? Como se tornar sábio em plena era do conhecimento? Qual a contribuição do conhecimento para a Sabedoria e que caminho seguir para o seu encontro?

Quero crer que nos dias atuais, um caminho para a Sabedoria seria agregar uma junção de elementos que vão além dos conhecimentos adquiridos nos bancos escolares ou acadêmicos, aliando experiência de vida, militância por uma causa, sensibilidade humana e bom senso, onde um ato de sabedoria seria aprender com os erros. Como resultado, quem sabe se teria a saída do individual para o coletivo e principalmente saber ponderar os conflitos gerais com os conflitos pessoais.

Ao me referir à Sabedoria através de um monte, quero chegar com isso à discussão de que metaforicamente falando, podemos afirmar que no decorrer de nossas vidas temos muitos montes a escalar, muitos deles advindos das nossas próprias escolhas. O que são de fato esses montes? São todas as dificuldades, obstáculos, desamores e falta de crença em nossa capacidade de enfrentamento e busca de soluções. Uma longa caminhada cheia de contradições, provocadas pelo fato de não agirmos com sabedoria na maioria das vezes.

Por outro lado, há um ditado da sabedoria popular que diz: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”.  Uma incômoda verdade para o bem, mas um tremendo alívio para as coisas do mal que de vez enquanto aparecem em nossos caminhos. Algo que se encarnou no imaginário popular e de uma verdade quase que absoluta.  

A parte boa de uma escalada é que provavelmente se encontre no caminho o inesperado, onde tudo parece ser a primeira vez. Com isso, virão às novas escolhas e oportunidades para se chegar ao topo mais uma vez. Talvez essas caminhadas nos façam ricos em conhecimentos, mas se não tivermos Sabedoria suficiente para entender os porquês de estarmos lá, a vida vai e nos coloca novamente diante de novas encruzilhadas e novos montes teremos que escalar até que aprendamos.

Referindo-me aos letrados num país de desiguais, onde o sistema seleciona os melhores pela meritocracia, porém com oportunidades diferentes, a grande pergunta é: o que será que todos esses anos de estudo e títulos contribuíram para a sabedoria de cada um e de cada uma de nós? A resposta a essa pergunta pode nos levar a uma melhor compreensão da diferença entre conhecimento e sabedoria e como e onde aplicá-los.

Conheço muitas pessoas que flutuam no saber com todo conhecimento que possuem, mas em termos de Sabedoria são verdadeiros elefantes andando sobre taças de cristais. Creio que tal fenômeno ocorra pelo fato da Sabedoria ser o ponto de equilíbrio da sensibilidade humana. Uma espécie de amadurecimento da alma, independente da idade. Tem pessoas que logo amadurecem, enquanto outras morrem sem saber do que se trata.

Sempre quando escrevo busco referências, tantos nos clássicos, como nos grandes nomes que deixaram suas histórias como contribuição. Trago dessa vez duas frases sobre Sabedoria, a partir de dois contextos diferentes:

A primeira da poetisa e contista brasileira Cora Coralina, considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, que lançou seu primeiro livro em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), com quase 76 anos de idade: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A Sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”.

A segunda de Lao-Tsé, que de acordo com a tradição, viveu no século VI A.C. numa época conhecida como Cem Escolas de Pensamento. Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder”.

Dizem que a Sabedoria mora logo ali por trás daquele monte e repousa calmamente em águas cristalinas para saciar a sede de quem conseguir chegar até lá.

Bem que a Sabedoria poderia dar em árvores. Eu mesmo ia ter várias plantadas no quintal da minha vida. Vamos à caminhada?
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social

terça-feira, 19 de junho de 2018

Que tal falarmos de amor-próprio?

O que e amor-próprio?

Você saberia explicar o que é amor próprio? Sente-se com amor-próprio suficiente para perdoar se necessário for? Como uma pessoa que não se ama ou se ama em excesso pode representar os sonhos de um povo e ainda mais caminhando junto com o povo?

Que tal iniciar essa conversa com uma frase de Oscar Wilde? “Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda vida”. Isso a meu ver é amor-próprio. O objetivo dessa conversa é apenas tentar bulir com a consciência dos leitores e das leitoras do blog e ao mesmo tempo afirmar que sem amor-próprio, ou com o excesso dele, se torna impossível amar alguém. Tanto conheço pessoas sem amor-próprio algum, como conheço outras que se amam tanto que se bastam. Em ambos os casos não conseguem amar ninguém.

Podemos afirmar que amor-próprio, sem a preocupação de buscar um conceito mais elaborado, é um sentimento de dignidade, respeito e amor que o ser humano tem por si mesmo ao se valorizar, se respeitar e ser cuidadoso com seu dia a dia. É um tema tão amplo que envolve a psicologia e a psicanálise para um entendimento mais aprimorado. Por outro lado, os desencontros da vida em termos de realizações e aspirações, por certo são grandes conflitos na contramão da autoestima e também do amor-próprio.

O que me leva a escrever sobre um tema tão complexo é sem dúvidas tentar entender o porquê das pessoas terem uma enorme dificuldade de falarem de seus projetos de vida, de seus sonhos e principalmente de tentarem projetar seus futuros. Há evidência de que essas dificuldades só ocorrem porque inúmeras pessoas vão perdendo o amor próprio e com ele até o gosto de viver. Fato que desagua em vários problemas do nosso dia a dia.

O que considero mais complicado é que vivemos um período de embrutecimento na sociedade, fruto dos eternos desencontros sem causa, que se tornaram o epicentro das diversas crises de identidade da atualidade. Como resultado disso, um imediatismo surreal, pessoas frias e calculistas buscando várias formas de relacionamentos e depois os descartando e principalmente uma grande novidade pública que é o ódio de classe, que mata e deixa inúmeras sequelas. 

No texto anterior afirmo que gosto mais do termo comunidade, pois está mais próximo ao bem comum, em contraposição ao termo sociedade, que a meu ver é uma convenção voltada muito mais em servir ao deus mercado e onde se alojam todas as contradições humanas e todas as formas de desamor.

É hilário afirmar, mas as pessoas odeiam o que não veem porque seus vizinhos de fofocas também odeiam e amam o que a velha mídia determina, sem saber ao menos o que é o amor. Como algo assim pode dar certo? Não há espaço para amor-próprio quando a pessoa está perdida, em crise existencial ou de identidade. Amar-se requer antes de tudo saber aonde se quer chegar.

Dizem que essas mudanças de cursos comportamentais são sinais dos tempos. Eu sinceramente não acredito, creio mais ser resultado dos efeitos do sistema, da meritocracia, do individualismo e principalmente da alienação institucional, que desvia os seres das conquistas do pertencimento e os remete à veneração do que não lhes pertence. Ou seja amor e ódio caminham lado a lado.  

Esses efeitos geram um falso cenário que impede o entendimento e a visualização de que a maioria da população brasileira é fruto da expropriação de valores, da sonegação de direitos e principalmente da desumanização, onde os valores individuais se sobrepõem aos valores coletivos, onde o ter e o ser estão em eterno conflito. Como ter amor-próprio diante dessa realidade?

Para quem assistiu a trilogia Matrix sabe que a sociedade está voltada para a alimentação do sistema e que quando se fala em sistema existem apenas duas dimensões: uma moldada para servi-lo e a outra de quem luta contra o tal. No vácuo existente entre as duas, está situada a maioria das pessoas, perdida sem saber ao certo qual é seu papel humano e uma disputa invisível se trava no sentido de tentar absorver esse grande contingente de pessoas.

Creio que o processo de namoro político e a cooptação ideológica deveria se dá por aí, a partir do resgate humano das pessoas, ajudando-as a se encontrarem e melhorando a autoestima delas. Fazendo-as acreditarem que juntas poderão mudar o mundo se quiserem. Isso só é e será possível a partir do entendimento da missão como um grande mutirão e saindo do individual para o coletivo. Talvez aí esteja a grande diferença num processo eleitoral, de quem busca eleitores e eleitoras para a manutenção de seus cargos e quem organiza a base da sociedade a partir de valores coletivos ao invés de individuais, no sentido de mudá-la.

Diante do exposto, ficam ainda algumas perguntas a serem respondidas: É possível alguém sem amor-próprio ou com excesso dele sair do individual para o coletivo? O que tem a ver a vaidade com amor-próprio? Quais são os efeitos do amor-próprio ou do amor em si em excesso em relação ao verdadeiro amor? É possível trabalhar o amor-próprio a partir de uma ação coletiva?

Termino nossa conversa com duas frases sobre amor-próprio. A primeira do Jean-Jacques Rousseau, fazendo uma alerta: “O homem, guiado pelo amor-próprio, corrompe-se, passa a ter o desejo de ser superior aos outros, aliena-se”. A segunda do Marquês de Maricá, fazendo uma contraposição do amor-próprio, através da consciência: “Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como a nossa consciência”.

No mais, observo com temor as tempestades, mas sei que sempre depois delas vem um arco-íris e com ele a vontade de seguir em frente... Assim foi na última sexta após a tempestade que se preparava em Macapá.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Lula está preso... na mente e no coração povo brasileiro


A imagem pode conter: 2 pessoas, incluindo Jocivaldo Dos Anjos, pessoas sorrindo, texto
Três prisões marcam a vida do maior líder político da atualidade: a literal, que é a da justiça seletiva de Curitiba, que aprisiona politicamente, a partir de “um grande acordo nacional com supremo e tudo”, com medo de perderem a eleição e o projeto de inclusão social voltar a vigorar no Brasil. A segunda prisão que acomete ao maior presidente da história do Brasil é a do coração do povo. Esta se trata de uma prisão sentimental. O homem Lula dá passagem para o Mito se manifestar. O mais amado entre os brasileiros e um dos maiores do mundo. “O presidente povo e o povo presidente”. O povo se ver no Lula, sua representação. O Lula é o espelho do povo brasileiro. Queiram ou não os opositores.

A terceira prisão que acomete o Lula (nesta pequena análise) é a da mente das pessoas. O brasileiro jamais viveu tempos de maior prosperidade. Para além dos ganhos vistos em material tem também a felicidade do povo e o otimismo. O governo de Lula deixou marcas para a história do Brasil inapagáveis. A justiça de crescimento com distribuição fez do Brasil um lugar melhor de se viver. O que sobra destas três prisões?

Destas prisões pelas quais Lula passa (além de outras) sobra o resultado da pesquisa DataFolha divulgada neste início de junho de 2018. Sobre dados inequívocos de que após mais de dois meses o eterno presidente do Brasil continua ganhando de todo mundo. Com  30% dos votos dos entrevistados. Dado relevante se encontra em relação a segunda colocação. Devido o fato de Lula está preso e ainda ser uma incógnita sua aceitação pelo TSE (MAS, QUE SERÁ REGISTRADA), conforme deliberação do PT em aceitação e consonância com o pré-candidato, a segunda colocação na pesquisa se trata de um ineditismo na política. Se em 2014  de 8% das pessoas declaravam não ter candidato ainda, esta eleição aponta 23% do entrevistados. Isso aponta que a margem de Lula pode subir de 30%, em sendo declarado candidato, para ganhar a eleição já no primeiro turno.

A relevância desta informação da pesquisa é uma demonstração de que há pessoas que a grade não prende porque é maior do que ela. Pessoas que se tornam ideias. Ideias que se tornam sonhos. E sonhos, já dizia o poeta: não envelhecem.
Não há prisão que prenda a ideia. A ideia é Lula. Lula é a ideia.

Jocivaldo dos Anjos
Aluno especial do Doutorado em Administração Pública 
pela Universidade federal da Bahia – UFBA
jocinegao@hotmail.com

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Governar e legislar são meios ou fins em si mesmo?

Mudando de conversa e voltando ao campo das discussões políticas, uma pergunta feita durante os debates do Curso Plano de Governo e Ações para Governar da Fundação Perseu Abramo na cidade de Matão/SP, em 2015, ficou na memória e levantou uma série de questões que continuam na ordem do dia.

Governar e legislar num país capitalista como o Brasil, do ponto de vista ideológico de esquerda, são meios para as mudanças efetivas e necessárias na sociedade, ou fins em si mesmo? Governar e legislar são meios ou fins?

Uma discussão acalorada que encontrou ressonância com outra questão levantada: o PT e seus aliados nos quatro governos nacionais chegaram ao poder ou apenas aos governos? De que poder estamos falando?

Quanto ao poder, se chegou à conclusão de que num país capitalista de fato quem determina é o econômico, como afirmava Karl Marx e, portanto se um partido de esquerda, ou mais à esquerda, governar o país, um estado ou um município, ou fará concessões ao capital ou não governará e mesmo assim não terá controle sobre o poder econômico. Basta ver o impeachment de Dilma.

Para início de conversa, sem entrar no mérito, tanto sociológico como antropológico, defendo a ideia de que o termo sociedade é uma convenção, que serve muito mais ao deus mercado do que ao ser humano em convivência. Prefiro o termo comunidade, pois em comunidade se vive situações coletivas e nos aproxima do bem comum, assim como das causas comuns.

Trago essa temática num momento de desencontros políticos. Entendo ser uma conversa necessária e atual, principalmente para se sair do debate pessoal contra essa ou aquela figura política que encabeça uma composição temerária como aliança e chegarmos a algumas conclusões dos porquês de tanta gana por determinadas alianças mercantilistas, comandadas pelos profissionais da política e principalmente quem ganha e quem perde com isso.

Em minha avaliação, quase que de forma geral, o processo eleitoral é conduzido, primeiro por vários interesses político-econômicos, que passam longe dos reais interesses da população que mais precisa e segundo que quase sempre é conduzido pelo emocional e não pela razão de ser. Ou seja, existe uma paixão cega pelo candidato ou pela candidata, sem nenhuma racionalidade. Isso na prática distancia as pessoas de entenderem a intencionalidade dos candidatos e das candidatas, deixando-os livres para agir.

A racionalidade está na discussão e formulação dos projetos políticos, que é quem pode dar vida a qualquer candidatura e as quantas mãos foram realizados. Em resumo, se tem projeto coletivo dá para se respeitar, mesmo que se discorde, agora se for uma carreira solo ou de interesses de um determinado grupo financeiro, serve apenas à Matrix, ou seja, ao sistema.

Ouço e observo por várias vezes crises de vingança que mais expressam a falta de maturidade política de seus atores, do que uma posição ideológica de discordância na essência da questão. Aquelas do tipo: “Ah se acontecer isso ou aquilo, saio do partido...”. Ou ainda “Caso isso ocorra, abandono a vida política...”. Isso é tudo que o sistema quer. Criar contradições e crises infantilizadas diante da complexidade da escolha de uma causa a se lutar, que se for real, acaba se transformando em projetos de vida.

É importante registar que existem vários desvios de conduta num processo eleitoral, quase imperceptíveis aos olhos de quem apaixonado está ou ainda de uma parcela da sociedade que foi transformada em massa de manobra para servir ao sistema, com a grande contribuição do PIG – Partido da Imprensa Golpista. Com isso, o voto, que se lutou tanto para se ter o direito de votar, tornou-se quase uma brincadeira obrigatória. Vota-se por obrigação, porém sem convicção. Vota-se por interesses e não por identidade política.

Eis alguns desvios politico-eleitorais que considero relevantes:

1. Vende-se a ideia de senso comum, de que todo político é ladrão e que política é uma coisa ruim. Com isso, todo pleito fica comprometido, fazendo com que a população vote em qualquer um ou qualquer uma, até por deboche.

2. Desclassificam-se as eleições como forma de elegerem quem a direita quer, usando para isso o ódio de classe e o ódio à classe política.

3. Priorizam-se os cargos majoritários, não por acaso, em detrimento dos legislativos, que é quem cria leis e as modificam. Isso faz com que se passe também a ideia de um voto de segunda classe para os cargos legislativos

4, Compõe-se os governos a partir de acordos mercantilistas, meio que do tipo escambo, ao invés de busca de afinidade a partir de um Plano de Governo.

5. Devido aos tipos de alianças e compromissos com as mesmas, não se discute a integração de governo a partir de um Plano Estratégico. Os diversos setores de governo acabam virando “caixinhas de poder”, com projetos personalistas, individualizados e bem longe da participação.

6. A maioria dos eleitos e das eleitas governa e legisla para si e às vezes até para a população, porém nunca com a mesma. Uma gestão participativa, seja no executivo ou no legislativo, necessita de instrumentos participativos, tais como: Conselhos de Mandatos e de Governos, Fóruns Temáticos Participativos, Mandatos Itinerantes, Capacitação Contínua, etc...

7. Predominância mercantilista, tanto para a maioria dos governos, como dos mandatos legislativos, tendo o assistencialismo como única moeda de troca.

Se o ato de governar e o de legislar são apenas fins em si, talvez se justifique as carreiras políticas solos. Aqueles ou aquelas que governam e legislam pensando apenas em seus umbigos e ficam para a história como heróis e heroínas do caos. Em tese, comandam um exército de ovelhas bem treinadas e vão tecendo a grande teia do poder, além de contribuir para que a pirâmide econômica seja cada vez mais dinâmica.

Porém, se os atos de governar e de legislar são entendidos como meios para as mudanças necessárias e efetivas na sociedade, cada espaço conquistado tem que ser transformado em pontos de empoderamento, conscientização e consequentemente em atos de militância constantes. Nesse caso, governa-se e legisla-se buscando a construção de bases na sociedade e não apenas de eleitores e de eleitoras. Não se busca heróis ou heroínas para ficarem na história e sim representantes dos anseios das comunidades.

As inquietudes de Matão foram discutidas nos cursos em 19 estados e serviram para que pudéssemos expor com clareza, a diferença de um modelo de governança individual e de outro coletivo. Um modelo que se encaixa perfeitamente em golpes e o sistema neoliberal, porém também dissimulado em mandatos ditos participativos e outro que visa libertar a sociedade de suas amarras e tem como eixo central a luta contra a exclusão econômica e social e todas as formas de desigualdades.

A cegueira política e a falta de entendimento dos códigos do poder provocam o caos e o ódio de classe que vemos hoje em curso.

Indigne-se como eu me indignei e exija seu espaço de participação, esteja onde estiver, porém ame como eu amei descobrir a causa que me move rumo ao futuro e saberás que não vieste ao mundo para ser mais um ou mais uma na multidão e sim sujeito e sujeita de sua própria história.

Aguardo-te nas estradas da vida, onde caminharemos juntos para a construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social