A introspecção nos leva a fazer uma viagem do ontem rumo ao futuro. Particularmente
não gosto de dias nublados. Sinto-me desconfortável. Devo ser porque sou filho
do sol e tento aproveitar toda sua energia a cada segundo.
A sociedade brasileira está
em crise. Uma alta dose de tristeza paira no ar, composta por várias
atribulações: O país em golpe, Lula preso, a politica sendo transformada em
negócios eleitorais pelos profissionais da política, a violência generalizada,
mulheres perdendo a vida por um machismo histórico, desencontros amorosos e
principalmente falta de perspectiva para o futuro, que entre tantos outros problemas,
leva muita gente ou a emoções frequentes e às vezes descontroladas, ou a agirem
de forma fria e calculista frente às questões pessoais, principalmente
emocionais e com os males da sociedade.
Após ouvir alguns desabafos sobre problemas existenciais e paixões mal
resolvidas, resolvi escrever sobre o complexo tema da paixão. Esse estranho sentimento
que deixa muita gente numa situação desconfortável. Como explicar que numa
paixão tudo nela parece ser intenso, mas em geral é de curta duração, como fogo
de palha?
Li certa vez uma lenda sobre um Velho Duende e uma Linda Flor, que retratava
um caso mal resolvido de seus personagens. O enredo chegava a ser poético,
misturava alegria com tristeza, desafios de vencer a distância entre o jardim e
a floresta e, sobretudo mostrava em detalhes, os ingredientes de uma paixão.
Viveram intensamente por muitas luas, trocaram juras secretas e de uma
hora para outra tudo que era sol virou uma tremenda tempestade. Linda Flor
resolve por um fim aos encontros, deixando o Velho Duende sem nada entender. A
história termina com ele deixando um recado para ela numa pedra e depois
seguindo floresta a fora e ela voltando ao seu jardim e o proibindo de qualquer
contato. Uma leitura dos tempos de teatro, que ficou na memória.
Nos cursos de formação política abordo sempre o tema da paixão, ao me
referir que uma eleição normalmente é decidida pela emoção e não pela razão. É o
coração quem comanda e não a cabeça os resultados eleitorais. As pessoas se
apaixonam pelo personagem principal fazendo com que desapareça qualquer
racionalidade no processo eleitoral.
Fui à busca de um conceito sobre paixão. Segundo o site significados,
paixão é um sentimento humano intenso e profundo,
marcado pelo grande interesse
e atração da pessoa apaixonada por algo ou por alguém. Exatamente
como me descreveram. Normalmente a paixão só envolve vigorosamente uma das
partes. A outra apenas transita junto, sem maior envolvimento.
Ainda segundo a definição do site, a paixão é capaz de
alterar aspectos do comportamento e pensamento da pessoa, que passa a
demonstrar um excesso
de admiração por aquilo que lhe causa paixão. A
impulsividade, o desespero e a inquietação são outras características que
costumam estar associadas ao sentimento de paixão. Algo desesperador para a
pessoa possuída pela paixão e indiferente para a outra parte.
A maioria das paixões termina sempre da mesma forma. Um lado querendo
continuar com o romance e o outro simplesmente acaba com a graça, sendo que em
tese, tudo começara com o envolvimento de ambas as partes. Paixão para muita
gente é um poço sem fundo ou um caminho sem volta.
O psicólogo
e neuropsicólogo Fábio Roesler, diz que há sim uma grande diferença entre
paixão e amor: "O amor, normalmente,
está relacionado a um sentimento bonito, estável e sereno, mais controlável e
menos temido, enquanto a paixão nos invade e domina nossos pensamentos. É tida
como arrebatadora, turbulenta e, muitas vezes, sofrida", explica.
Segundo Roesler, a principal
característica das pessoas apaixonadas é que elas passam a
enxergar no outro aquilo que desejariam que ele fosse, e não o que ele
realmente é. "O parceiro é
idealizado e transformado em um personagem", afirma o especialista. Ele
diz ainda que apesar de algumas pesquisas apontarem que a paixão tem pouca duração
(cerca
de seis meses em média), não é possível determinar um tempo cronológico
específico, já que cada história é individual e particular. Ou seja, cada caso
é um caso.
Willian Shakespeare dizia
que “Ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa”. Dizia ainda que a paixão cega: “Oh,
paixão, que fazes com meus olhos que não enxergam o que veem”?
Na música Quando a Gente Ama, dos compositores Marcelo
Barbosa, Bozo Barretti, eles afirmam que
a paixão é algo inexplicável: “Quem vai dizer ao coração que a paixão não é loucura, mesmo que pareça
insano acreditar”...
Clarice Lispector afirmava ter medo da paixão: “E talvez só o pensamento me salvasse, tenho medo da paixão”.
No meu
entendimento a paixão deve ser vista primeiro com muita cautela, pelo
sofrimento contido em várias situações, mas também com muita delicadeza, visto
que em muitos casos acaba virando amor.
Problema mesmo é quando a paixão
ou o amor vira saudade, como diz Chico Buarque: “Oh, pedaço de mim. Oh,
metade afastada de mim. Leva o teu olhar. Que a saudade é o pior tormento. É
pior do que o esquecimento. É pior do que se entrevar”... Nesse caso só há uma solução. Quando ambos entenderem que o melhor
caminho está em suas mãos.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em
Gestão Pública e Social
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