A
existência de um espaço livre para minhas andanças
filosóficas e existenciais, se
tornou ao longo do tempo um refúgio, um encontro, uma busca e
principalmente um voar com as asas da liberdade para
escrever o que gosto. Escrever
um texto é como esculpir uma figura humana num rochedo. Vamos
encontrando seu formato e sua feição durante o processo de criação.
Um texto só faz sentido se for
capaz de envolver os sonhos e
as fantasias
de quem lê e ganhar esse leitor ou leitora para os próximos
capítulos.
O
desafio pessoal de
hoje, ao me situar no contexto da vida e na convivência com pessoas
que pensam próximos ao que penso e outras tão longe da minha
natureza, é divagar e abstrair sobre ao que chamamos de “verdade”,
passeando por alguns de seus formatos e interpretações e buscando
apoio na filosofia. Algo
desafiante e complexo.
Há
pouco tempo participei como convidado de uma oficina num grupo
filosófico de São Bernardo do Campo, onde o tema principal era a
discussão do Livro: “A Morte da Verdade”, da escritora
norte-americana
(de origem japonesa) Michiko Kakutani, jornalista e escritora,
crítica de literatura do “New York Times” por longo tempo.
Em
regras gerais, o livro traz as diversas inquietações sobre a
vitória de Donald Trump, como foi arquitetada essa vitória e os
bastidores da política americana da atualidade. Algo
que sai do espectro da democracia e caminha a passos largos rumo ao
fascismo. Vale
ressaltar que estamos falando de alguém integrada ao sistema, porém
incomodada com todas as alterações que a vitória de Trump
proporcionou para a visão de democracia que tem, principalmente da
democracia representativa, onde
Trump não
lhe
representa.
De
fato é um assunto pra lá de inquietante, pois segundo a autora,
existe um universo novo repleto de teoria da conspiração, mudanças
culturais preocupantes que intervém no mundo científico e caminham
pelo mundo acadêmico, destruindo os avanços em prol da humanidade e
cada vez mais fortalecendo o mundo material (a serviço do império).
Não
por acaso, vivemos essa dura realidade aqui também no Brasil. A
eleição do presidente atual foi moldada com os mesmos ingredientes
que a de Trump. Uma indústria do que se chama de fake news invadiu
tanto a eleição de lá como a de cá. O objetivo principal de
ambos, lembrando que se aproximam muito um do outro em termos de
visão de mundo, a meu ver, era dizer que a verdade morreu e uma nova
verdade estava nascendo com um tom verde-amarelo e um pato laranja
comandando o espetáculo.
Perante
a filosofia, verdade se estabelece a partir de um conjunto de
valores, advindos das nossas crenças, vivências e princípios e
passando necessariamente pelo universo ético e moral de uma
sociedade, a
partir das diversas visões de verdade que cada indivíduo vai
encontrando e construindo. Somado a tudo isso, a ideologia vai
formando o percurso das nossas caminhadas a partir das nossas
verdades, com quem vamos e o que pretendemos como resultado final em
termos de qualidade
de vida.
Além
disso, a
incômoda verdade tida como oficial, que transita governos afora e
vai criando um caldo de cultura, sem nenhuma
consistência política por falta de entendimento
da
maioria do povo.
Enquanto
o relativismo moral traz a visão e os conceitos da verdade de
determinado grupo social,
que a meu ver foi o grande embate nas últimas eleições, o
dogmatismo tem a pretensão de mostrar a verdade como algo absoluto,
embora seja pra lá de complexo entrar nessa discussão, pois se
partirmos, por exemplo, das religiões, que cada um ou uma tem a sua,
voltamos novamente ao relativismo moral, a partir das influências
dos diversos grupos religiosos, que foi a tônica principal nas
últimas eleições por aqui.
Ao
buscar o conceito de verdade em alguns pensadores, nos deparamos com
uma grande diversidade de interpretações e teses sobre o assunto,
da afirmação à negação. Longe de querer me enveredar sobre as
diversas linhas filosóficas sobre
o assunto, mas
apenas de trazer algumas impressões como apoio geral
ao texto.
Para
Platão a verdade precisa sempre ser buscada, pelo fato de não ser
algo concreto e muito menos palpável. Segundo
ele aplicava-se
primeiro ao objeto, ou ao sujeito e depois ao que se propunha a ser.
Enquanto
para Sartre (Jean Paul Sartre – 1905-1980), a verdade está na
essência do indivíduo, pois é resultado dos valores de uma
sociedade, Nietzsche (Friedrich – 1844 – 1900), ao fazer duras
críticas ao pensamento clássico, afirma que a verdade não existe.
Por
outro lado, Foucault (Michel Foucault – 1926-1984) afirmava que
para algo seja considerado como verdade, necessita ser livre, sem
vínculo a uma institucionalização, caso contrário será
manipulado e gerará constrangimentos e formas de comportamentos.
Pondo
um pouco mais de lenha na fogueira do que estamos discutindo, uma
pergunta que não quer calar: O amor é uma verdade absoluta? Caso
seja, como podemos conceituar se esse amor não for correspondido?
Continua sendo?
Uma
das coisas que me fez ter vontade de escrever sobre um assunto tão
complexo, foi imaginar como lidamos com as
nossas
verdades.
Até que ponto não tentamos impô-la diante das nossas contradições?
Como enfrentamos a verdade alheia, muitas vezes fantasiada de
conhecimentos, mas que em
muitos casos não
passa de pura arrogância?
Apenas
como reflexão, quero crer que se as nossas verdades estiverem
repletas de sonhos, de vontades infinitas de servir e ter a
solidariedade como ideologia maior, versamos sobre a verdade a partir
de um universo plural, defendendo que os de baixo tenham vez e o
enfrentando os de cima, todas as vezes que se apoiarem na base da
pirâmide para tirarem proveito. Essa é a verdade de quem busca o
bem comum.
Que
minha verdade possa soar na vida de quem eu quero bem apenas como
algo a ser pensado e não imposto e que ao longo da caminhada possa
vir a se tornar uma só verdade e quem sabe ao praticá-la, possamos
juntos considerá-la uma verdade absoluta.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
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