"Luta & Vida Pela Vida"
Ricelle Miranda - Cartunista - Brasília/DF
Criadora da tirinha @monologosconjuntos
Hoje senti vontade de sair um
pouquinho da linha das metáforas da vida, que tem sido minha
dinâmica nos últimos tempos e voltar um pouco à linha original do
blog, que era trazer algumas temáticas para reflexão e a partir
delas envolver o maior número de pessoas possíveis em busca de
novas reflexões e cumplicidade no enredo tratado. A temática de
hoje versará sobre a “Causa”.
O que é uma Causa? O que a
alimenta? O que a Causa tem a ver com a missão de vida que cada ser
humano traz em seu destino?
Em busca de algum alento
diante da grave situação política que estamos vivendo na
atualidade, onde a verdade, da forma que a entendemos morreu para
muita gente, trago como reflexão alguns referenciais do que seja
“Viver por uma Causa”. Algo que pauta as ações, de sonhadores e
sonhadoras, no processo de enfrentamento aos desmandos do momento;
contra a saga da Casa Grande que pretende aniquilar de vez a Senzala
Brasil e nos encoraja para o enfrentamento ao sistema, rumo à
construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e
todas. Uma utopia que nos move e que nos faz cultivamos vários
sonhos com a possibilidade de um novo amanhã.
Como parte da minha revolta
como ser político a tudo que estamos vivendo, usarei nesse texto o
termo “Viver por uma causa” em vez de “militar por uma causa”,
onde militar poderia ser confundido como algo derivado do militarismo
e portanto não faz parte do meu ideário. Não somos soldados a
serviço de uma causa e sim pessoas politizadas e organizadas em
busca da construção de uma nova sociedade, contra qualquer tipo de
injustiça e no resgate da cidadania sequestrada.
Sempre quando penso em
formação ou atuação política, penso antes em buscar compreensão
do que seja defender e viver por uma causa. Algo que se constitui
muito mais abrangente do que atuar por um partido ou por um segmento
da sociedade. A meu ver, uma causa poderia ser explicada como sendo
um conjunto de valores que define a forma de relação com
determinados setores da sociedade e os enfrentamentos ao que se
diverge de forma ideológica, alinhado aos princípios que adotamos
como regra de conduta em nossa forma de pensar e agir durante nossas
vidas. Ficou complexo?
Uma causa representa ainda o
alinhamento político-ideológico de quem a defende, que vai se
constituindo em sua trajetória de vida e que poderá se caracterizar
na razão da existência de quem faz essa opção. No caso de quem
luta à esquerda, uma causa é um caso de amor coletivo, onde o que
se deseja é a vitória das diversas lutas organizadas pelos direitos
básicos, respeito pelas diferenças existentes e principalmente a
conquista do que se move em direção à base da pirâmide econômica,
no sentido de elevar economicamente as pessoas que são jogadas nessa
direção. Assim sendo, não se concilia com quem explora ou com quem
defende quem explora a classe trabalhadora.
Com o passar do tempo e a
participação em diversas frentes no enfrentamento aos desmandos dos
representantes do sistema, fica mais claro entender o que levou
milhares de pessoas a doarem suas vidas pelas causas que defendiam e
pelos sonhos da criação de uma nova sociedade onde a qualidade de
vida para todos e todas fosse algo natural ao invés da luta pela
sobrevivência e os direitos individuais constitucionais respeitados.
São pessoas que morreram para defender a democracia, a liberdade, a
qualidade de vida e a justiça soberana para todos e todas.
Como uma forma de provocação
e de levantar a percepção dos participantes dos cursos que faço a
abertura em várias partes do país, pergunto sempre se a causa que
defendem ou a luta que estão envolvidos vale a própria vida e
concluo dizendo: “Caso não valha tem que ser melhor avaliado”,
pois o momento político se caracteriza como uma verdadeira guerra
pela destruição completa dos direitos, principalmente das pessoas
mais necessitadas e sobretudo das que pensam e agem entendendo para
onde estamos caminhando. Essas estão sendo perseguidas, banidas e
assassinadas.
Do ponto de vista pessoal,
tenho uma tese de que viver por uma causa é fazer tudo que a vida
nos oferece por amor. É amar de forma incondicional a vida. É
brincar de viver, sendo leal com quem nos segue e acreditar no
humanismo que nos move, porém isso não nos limita de enfrentarmos
os agentes do caos e seus seguidores e seguidoras, que por convicção,
alienação ou mesmo por completa ignorância, se aliam a quem usa o
poder em benefício próprio e transformam num verdadeiro inferno a
vida de milhões de pessoas que passam fome e todos os tipos de
necessidades.
Quem sabe o ato de sair do
individual para o coletivo, como apontou um dos grupos da Associação
de Construção Comunitária Novo Horizonte de São Bernardo do
Campo, ao discutir e procurar uma resposta para a metáfora criada
por Paulo Freire no final da década de 80, ao responder a minha
pergunta, de como tirar o melhor proveito da luta encampada pela
nossa entidade por habitação, seja o caminho para a transformação
necessária rumo a tão sonhada sociedade a ser criada.
Ao buscar uma finalização
para esse texto, se faz necessário que eu diga que a causa que me
move ha muito tempo, não foi plantada por alguém por qualquer
interesse e sim nasceu das sementes vindas comigo das sertanias da
vida como imigrante da cidade de Belo Jardim - PE, regada pela chuva
e o frio insistente de São Bernardo do Campo onde viemos parar e
cultivada com os enfrentamentos desde cedo contra a discriminação
por ser nordestino, pobre e de família muito humilde. Aprendi na
prática o que é luta de classe e quem são os agentes da Matrix.
Paulo Freire terminou a nossa
conversa que tivemos em 1989 me dizendo: “O que move o ser humano
são seus sonhos e o que alimenta esses sonhos é a utopia de
sabermos que viemos ao mundo para servir e que podemos exercitar isso
na medida em que essa utopia se torna a nossa missão de vida.”.
Depois daquela conversa nunca mais fui o mesmo e transformei essa
utopia na razão da minha existência.
Aqui estou destino. Faça hoje
de mim instrumento das melhores notícias que possam colorir o amanhã
e que minha disposição de luta por uma vida digna para todos e
todas seja minha eterna companheira junto com as pessoas que quero
bem.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em
Gestão Social
Salve Ricelle Miranda a nova parceira do Blog Gestão Pública Social.
E os sonhos que sonhamos sozinhos, são apenas sonhos, mas aqueles sonhos que são compartilhados, podem virar realidade! Excelente texto meu irmão!
ResponderExcluirOlá meu mano querido.
ResponderExcluirGrato pela leitura e pelo comentário.
De fato! Sonhar porque ainda é a única coisa que ninguém tenm acesso.
Abraço