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terça-feira, 3 de março de 2020

Por onde anda José?

Dizem que José partiu para uma longa viagem sem volta, mas acho mesmo que ele deu uma fugida para ver se acordava Nazaré, pois achava que ela estava dormindo lá no quarto em que os dois ficavam e depois disso foram caminhar juntos rumo ao infinito, brincando no caminho de contar estrelas.

José foi um sonhador. Um trabalhador. Um homem durão, que às vezes nem ligava de não agradar seja quem fosse, mas fazia questão de ser gentil e carinhoso e de exigir tratamento nobre a alguém que abandonou suas raízes e enfrentou até uma forte depressão só para estar ao seu lado e daria sua vida, se necessitasse só para vê-lo feliz. Alguém que sempre o mimou por amor.

José foi um negociante incansável enquanto teve forças e viveu buscando em várias frentes de trabalho e negócios, os melhores resultados, para que pudéssemos ter na simplicidade da vida o básico para se viver com dignidade. Sonhava em voltar à nossa terra natal, mas as desigualdades não permitiram.

José não conseguiu realizar seu sonho de repousar para sempre em seu berço de origem, mas realizou sonhos que muita gente ainda hoje tem dificuldade de realizar. Uma luta constante de alguém que nunca desistiu de lutar.

José me deu a honra de estar comigo em várias caminhadas nas inúmeras passeatas em 1978, 79 e 80, nos encontros do Estádio da Vila Euclides e Paço Municipal de São Bernardo do Campo, além dos enfrentamentos que tivemos no caminho entre o Paço Municipal e o Sindicato dos Metalúrgicos.

Saiba José que isso contribuiu para uma caminhada com dignidade e uma razão de viver com convicção de que a luta nunca acaba. Algo que nunca me arrependi e faria tudo novamente com você ao meu lado nas manhãs de domingo, só para participarmos, ouvimos, assistirmos e aprendermos novamente e quem sabe até chorarmos do que foi um dia e que não volta mais.

José um inquieto nordestino que lutou contra uma doença degenerativa até o dia que se sentiu só. Em alguns momentos foi incompreendido, em tantos outros, questionado e enfrentado, mas sua única razão nos últimos tempos era dar qualidade de vida a sua parceira eterna por mais de setenta anos.

José resolveu partir logo cedo naquela manhã de segunda feira, depois de sofrer mais de um mês de saudade e solidão e passar por vários dissabores. Foi de braços dados com sua amada viverem juntos em outra dimensão. Entregou-se por amor por ter perdido a razão de viver. Egoísmo ou loucura? Que nada! José e Nazaré viveram dentro do possível e dentro de suas limitações e formas de ser, uma das mais belas histórias de amor.

José acalma tua alma. O momento do encontro chegou. Tua partida é hoje comemorada por alguém de estatura baixa, de óculos e cabelos brancos que veio te buscar, como afirmou teu vizinho de quarto. É o momento de vocês continuarem juntos para a eternidade e nós filhos, netas, bisnetos, amigos e amigas só temos a agradecer o tempo que você ficou conosco e o carinho que dedicou a Nazaré e a nós também, principalmente em teus últimos momentos de vida, onde a fragilidade se confundia com o que havia em teu coração.

Siga em paz José. Siga a estrela e se incorpore à constelação, que de cá onde estamos cultivaremos com respeito tua história de vida, tua honestidade e tua luta e determinação em defender quem amava. Honraremos teu nome e viveremos nos dias futuros muito dos teus ensinamentos.

José Lopes Cordeiro - Presente!
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

2 comentários:

  1. Você me fez ter mais saudades dos que perdi no caminho

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  2. Lindo texto, de quem entendeu a dimensão de Pais e filhos.Amor eterno e único.

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