Dizem que José partiu para uma longa viagem
sem volta, mas acho mesmo que ele deu uma fugida para ver se acordava Nazaré,
pois achava que ela estava dormindo lá no quarto em que os dois ficavam e depois
disso foram caminhar juntos rumo ao infinito, brincando no caminho de contar estrelas.
José foi um sonhador. Um trabalhador. Um
homem durão, que às vezes nem ligava de não agradar seja quem fosse, mas fazia
questão de ser gentil e carinhoso e de exigir tratamento nobre a alguém que abandonou
suas raízes e enfrentou até uma forte depressão só para estar ao seu lado e
daria sua vida, se necessitasse só para vê-lo feliz. Alguém que sempre o mimou
por amor.
José foi um negociante incansável
enquanto teve forças e viveu buscando em várias frentes de trabalho e negócios,
os melhores resultados, para que pudéssemos ter na simplicidade da vida o
básico para se viver com dignidade. Sonhava em voltar à nossa terra natal, mas
as desigualdades não permitiram.
José não conseguiu realizar seu sonho de
repousar para sempre em seu berço de origem, mas realizou sonhos que muita
gente ainda hoje tem dificuldade de realizar. Uma luta constante de alguém que
nunca desistiu de lutar.
José me deu a honra de estar comigo em várias
caminhadas nas inúmeras passeatas em 1978, 79 e 80, nos encontros do Estádio da
Vila Euclides e Paço Municipal de São Bernardo do Campo, além dos
enfrentamentos que tivemos no caminho entre o Paço Municipal e o Sindicato dos
Metalúrgicos.
Saiba José que isso contribuiu para uma
caminhada com dignidade e uma razão de viver com convicção de que a luta nunca
acaba. Algo que nunca me arrependi e faria tudo novamente com você ao meu lado
nas manhãs de domingo, só para participarmos, ouvimos, assistirmos e
aprendermos novamente e quem sabe até chorarmos do que foi um dia e que não
volta mais.
José um inquieto nordestino que lutou
contra uma doença degenerativa até o dia que se sentiu só. Em alguns momentos
foi incompreendido, em tantos outros, questionado e enfrentado, mas sua única
razão nos últimos tempos era dar qualidade de vida a sua parceira eterna por
mais de setenta anos.
José resolveu partir logo cedo naquela manhã
de segunda feira, depois de sofrer mais de um mês de saudade e solidão e passar
por vários dissabores. Foi de braços dados com sua amada viverem juntos em
outra dimensão. Entregou-se por amor por ter perdido a razão de viver. Egoísmo
ou loucura? Que nada! José e Nazaré viveram dentro do possível e dentro de suas
limitações e formas de ser, uma das mais belas histórias de amor.
José acalma tua alma. O momento do
encontro chegou. Tua partida é hoje comemorada por alguém de estatura baixa, de
óculos e cabelos brancos que veio te buscar, como afirmou teu vizinho de quarto.
É o momento de vocês continuarem juntos para a eternidade e nós filhos, netas,
bisnetos, amigos e amigas só temos a agradecer o tempo que você ficou conosco e
o carinho que dedicou a Nazaré e a nós também, principalmente em teus últimos
momentos de vida, onde a fragilidade se confundia com o que havia em teu
coração.
Siga em paz José. Siga a estrela e se
incorpore à constelação, que de cá onde estamos cultivaremos com respeito tua história
de vida, tua honestidade e tua luta e determinação em defender quem amava. Honraremos
teu nome e viveremos nos dias futuros muito dos teus ensinamentos.
José Lopes Cordeiro - Presente!
Antonio Lopes Cordeiro
(Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Você me fez ter mais saudades dos que perdi no caminho
ResponderExcluirLindo texto, de quem entendeu a dimensão de Pais e filhos.Amor eterno e único.
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