Gosto
de escrever buscando construir uma narrativa que seja capaz de dialogar com
todas as divindades que o cosmo abriga e também consiga prender a atenção de quem
lê. Fecho os olhos e tento fazer uma conexão entre o coração que ainda pulsa
forte pelo amanhã e os dedos inquietos que buscam digitar o que a mente vai
oferecendo em termos de conteúdo. Uma equação emocional que me leva a refletir sobre
o ato de viver e sobre como viver a vida.
De
repente olho para um céu azul e vejo no limite do horizonte o sol nascendo em
todo seu esplendor. São raios de luzes e de vida que chegam para nos aquecer em
dias tão frios pelas incertezas do momento e de muita tristeza pela perda de
tantas vidas. Porém poder respirar, sentir o cheiro das flores e o gosto do néctar
que a vida nos oferece é a certeza de que estamos vivos.
Nessa
viagem mental fui me lembrando de vários momentos que já vivi e algo muito
distante devido ao tempo, mas tão presente em termos de lembranças, me veio à
mente. Quando eu era muito pequeno, o animal aonde eu e meu pai vínhamos das
suas andanças em busca de negócios, caiu num buraco em pleno breu. Uma luta
intensa do meu pai para salvar o animal e ao mesmo tempo uma carga viva que
trazia. Depois de muito tempo apareceu alguém para ajuda-lo. Sairmos e seguimos
viagem de volta para casa, por mais de uma hora e eu tão pequeno e assustado rezava
baixinho para chegarmos bem.
Nessa
época morávamos numa modesta casa na parte alta de um sítio da família, com direito
a céu estrelado, noites enluaradas e um barulho inquietante ao passarmos por um
canavial nas margens de um riacho perto de casa, que eu tremia de medo só em
pensar passar por lá. Quando chegávamos em casa, as luzes dos candeeiros nos
fazia confundir o que era real e o que era pura fantasia medrosa, de uma
criança que ainda não convivia com a luz elétrica, com as sombras projetadas
nas paredes ou mesmo no teto da casa.
Na
simplicidade éramos felizes. Colo da vó com cafuné, banhos de chuva no terreiro
ou no rio quando conseguia encher, requeijão feito por ela no café da manhã com
bolo de milho, bolacha da feira de Serra do Vento à tarde e à noite cuscuz com
leite puro das cabras. Eu nem sabia que tudo isso junto poderia ter composto uma
linda poesia e ser recitada nas brincadeiras de roda com os primos e primas e
depois dormir com uma cantiga de ninar tirada do baú da Vó Isabel. Saudade do
tempo em que a fantasia se misturava aos sonhos.
A
vida é assim. Uma hora dispomos até com sobra do que nem sempre valorizamos e noutra
estamos no meio do mundo, no pico de uma montanha procurando encontrar o ponto
de partida para à terra do bem comum. A nossa história é repleta de vários
acontecimentos que vão marcando cada folhinha do nosso calendário de vida. Sonhar
com o amanhã é preciso e nos faz viver.
Diante
da ladeira íngreme à nossa frente tudo parece assustador, mas a utopia que
construímos de uma nova vida numa nova sociedade nos anima e quem sabe esse
seja o “novo normal” que tanto esperamos. Um projeto de vida onde nem
precisemos nos envergonhar em não termos os bens que a burguesia ou a pequena
burguesia tanto veneram, tampouco sermos tratados como um vegetal e ignorados na
sala de espera, mesmo rodeados de tanta gente.
Quando
o sol novamente reaparecer e a lua der o ar da graça, aproveitaremos que estão
brincando no cosmo, sairemos às ruas saudando a liberdade de andarmos sem medo
e agradeceremos o dia, à noite, à madrugada e principalmente ao raiar de um
novo amanhã que trará com ele a resposta para todas as esperanças contidas em
nossas preces.
Quem viver verá...!
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário sobre o Post