Acabei
de ministrar em nome da Fundação Perseu Abramo em Colatina/ES o curso de número
70, no 18º Estado das cinco regiões do país. Ao todo estiveram presentes 36 participantes
de seis cidades, onde tiveram a oportunidade de trocar experiências e
participarem de forma ativa de uma viagem pelo universo da gestão pública e
pelos desafios do ato de governar, legislar e se relacionar com a sociedade, a
partir do modelo petista. Algo tão interessante que seria quase impossível
pensar num cenário desse há pouco tempo atrás.
Chegamos
a números expressivos nesses trinta meses de trabalho, mesmo com várias
dificuldades. Os 70 cursos ocorreram em 60 cidades sedes, com três diferentes
formações. Foram 60 cursos Plano de Governo e Ações para Governar, que é o
carro-chefe do trabalho, 6 cursos Plano de Desenvolvimento Econômico e Social e
4 cursos Empreendedorismo Social e Economia Solidária. Estiveram presentes 284
cidades e 2503 participantes, entre eles: prefeitos(as), vereadores(as),
deputados(as), assessores(as), dirigentes, gestores(as), técnicos(as),
servidores(as), conselheiros(as), militantes políticos, inclusive de outros
partidos da base aliada e lideranças comunitárias. A extrema maioria avaliou o trabalho como muito bom.
A
meta desse trabalho que faz parte do Programa de Capacitação Continuada em
Gestão Pública e está ligado ao Laboratório de Gestão e Políticas Públicas da
Fundação é até meados de 2016 chegarmos aos 26 Estados da Federação. Além de
criarmos em cada um deles agentes multiplicadores desse processo. Buscamos com
isso consolidar as marcas de governo discutidas nos cursos: um governo ético,
integrado, transparente e principalmente participativo.
O
curso carro-chefe, por exemplo, é dinâmico e totalmente interativo com os
participantes. Elaborado de forma cuidadosa a partir de várias práticas
exitosas, como por exemplo, governar com os partidos da
base aliada, a partir de um Conselho Político de Governo, como foi o caso de
Araraquara no governo de Edinho Silva. Ou ainda integrar o governo implodindo as “caixinhas de poder”,
como foi o caso de Artur Nogueira no governo de Marcelo Capelini, entre e várias outras apresentadas nos cursos.
Após
um amplo debate, a maioria dos participantes chega à conclusão de que governar,
legislar e se relacionar com a sociedade a partir do modo petista, tem que ser
entendido como meios para as mudanças efetivas na sociedade e não um fim em si
mesmo. Essa conclusão leva à responsabilidade desses atores e agentes políticos,
de transformarem suas participações em atos de militância constante de uma
causa, onde o principal objetivo seja a melhoria contínua da qualidade de vida
da população, em especial da mais necessitada e respeito total ao direito de
participação e de controle social por parte da sociedade organizada, em busca
de uma sociedade inclusiva e participativa. Uma sociedade de iguais.
Algo
como dizia Paulo Freire: “Uma
sociedade onde a exigência de justiça não signifique nenhuma limitação da
liberdade e a plenitude da liberdade não signifique nenhuma restrição do dever
de justiça”.
Esse
trabalho da Fundação, além de promover a capacitação tecnopolítica dos
participantes, remete ao desafio da integração de um governo a partir de seu
Plano Estratégico, provoca no sentido da construção de diversas ferramentas
participativas e principalmente compromete os participantes a governarem,
legislarem e se relacionarem com a sociedade de forma diferente do que a
sociedade brasileira está acostumada a ver.
É necessário o entendimento de que
foram eleitos(as) ou escolhidos(as) pela população com a principal tarefa de serem
diferentes dos agentes da velha política interesseira, onde se governa e
legisla para si, além de terem em mãos o compromisso de não frustrar os sonhos
de milhares de homens e mulheres que sempre foram excluídos do processo e da
sociedade, por vários motivos que vemos no dia a dia e esperam dos nossos
governantes ou legisladores um caminho seguro.
Chegamos
à conclusão de que só se governa e legisla dessa forma se ambos os atos forem
interpretados como um grande mutirão. Ou seja, um governo ou um mandato
elaborado e gerido a várias mãos, onde as mãos mais importantes sejam da
população organizada em seus fóruns ou de um conselho de mandato, no caso de
legislar.
Um
dos temas em discussão nos cursos e que continua recorrente, vem do fato de que
se imagina, a partir do terrorismo da imprensa partidária, de que todos e todas
odeiam o PT. Porém, ao analisar a pesquisa do Vox Populi, divulgada apenas pela
Carta Capital, afirmando que de fato 12% da população, sendo a maioria com
renda alta e das capitais, odeiam o Partido dos Trabalhadores, chegamos à
conclusão que 88% não odeiam. Aliás, a Carta Capital chama a atenção para isso,
o que faz cair por terra o falso argumento de que a população está indignada
com o PT, onde na verdade somente os remanescentes da Casa Grande e a própria imprensa
viciada em se dar bem contando o que não se pode provar, faz parte desse
universo de ódio. Inclusive a mesma pesquisa aponta que apenas 10% dos
entrevistados odeiam qualquer partido.
Depois
desse trabalho, acabo chegando à conclusão de que o PT só é odiado porque trás
em seu DNA uma pluralidade de pensamentos e pensadores, fazendo com que não
exista apenas uma verdade e sim uma verdade que tenha que ser debatida e
convencida perante a maioria dos filiados. Isso faz com que de fato o PT não
seja um Inteiro dos Trabalhadores e sim um Partido. Pessoas das mais diversas
linhas de pensamento disputam entre si por onde caminha o partido e principalmente
o modelo de sociedade que se sonha para o futuro. É certo que houve e haverá
erros, porém a quantidade de acertos nos seus trinta e cinco anos de vida é muito
maior.
No
que se refere à gestão pública, vale ressaltar que há dez anos não havia nenhum
curso de gestão pública no Brasil. Havia apenas vinte e dois, porém de
Políticas Públicas e não sobre gestão. Algo de extraordinário nesse processo ocorreu
no país a partir dos governos de Lula e Dilma, pois até a direita reacionária
descobriu que a gestão pública pode se transformar num campo profissional e aí
descobriram também que podem ganhar muito dinheiro com o setor e lançaram
milhares de cursos pelo país afora. É claro que em todos eles há um conteúdo
ideológico do que se quer dessa gestão. Nós queremos usar a formação e o
planejamento como ferramentas de liberdade e eles querem transformar a gestão
num grande mercado de burocratas. Quem não acredita nisso é só tentar explicar
o que deva ser o tal “choque de gestão”, pregado pelo tucanato, que em regras
gerais não possui nenhum valor científico.
Seguimos
em frente levando conhecimento, ampliando a visão a partir das demais
ferramentas da Fundação Perseu Abramo, como a Pós-Graduação, Mestrado e os
cursos de Difusão do Conhecimento para a base do Partido, atuando na prática
como o único partido na América Latina a investir grande parte de seus recursos
em formação para seus quadros.
Elejo
aqui como a maior aventura até o momento, três desses cursos na Ilha de Marajó
e cidades próximas. Uma viagem que durou quarenta e quatro horas de barco pelo
Rio Amazonas até encontrar homens e mulheres felizes pelo momento e
principalmente pela possibilidade de interagirem com as demais prefeituras
petistas do país.
Tenho a plena convicção que estamos construindo o futuro a partir de sonhos, tendo a
certeza que o melhor ainda está por vir.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br