Nos mais de 40 cursos de gestão
pública ministrados até o momento em várias partes do país, um assunto tem tido
uma discussão acalorada. Porque alguns governantes e alguns gestores do
primeiro, segundo e até do terceiro escalão, quando estão em exercício de suas
funções, não se consideram mais povo, ou seja, um ser normal e sim alguém que
uma divindade o iluminou e o destacou para ser representante da
população? O que ocorre na cabeça dessas pessoas que chegam a mudar a voz,
a forma de andar, de vestir e principalmente a forma de relacionamento a partir
de então com seus subalternos, com a população e até com pessoas próximas?
Em geral se comportam como se uma
entidade os tivesse incorporado. Não são mais as mesmas pessoas. Por estarem
sempre estressadas tratam os subalternos aos gritos, para provar quem manda ou
em muitos casos simplesmente os ignoram. Em ambas as situações, normalmente
essas pessoas são odiadas, tanto na vida pública como na vida privada.
No caso dos gestores, um dos fatos
observado é que a partir de então não dispõem mais de tempo, para situações que
consideram sem importância, como por exemplo, uma reunião com a população ou
mesmo com seus colaboradores, fato constatado quando fazemos a pesquisa com os
servidores “O governo quer ouvir você”. A maior reclamação deles e demais
colaboradores é que ninguém senta com eles sequer para discutir uma tarefa,
quanto mais para planejar uma ação.
Esse tipo de comportamento, não só
afasta a população do direito de participação e de controle social, como
principalmente repete uma prática perniciosa, onde esses gestores pela simples
necessidade de continuidade no que chamam de poder mudam de forma inexplicável
perto das próximas eleições, em busca de reeleição ou de sucessão.
O debate nos curso leva os
participantes a concluírem que esse tipo de atitude faz parte de um processo
cultural conservador, onde a população é levada a não acreditar na política,
não participar dos movimentos sociais e muito menos buscar entender a função da
política e dos políticos, além do senso comum de que todos são iguais e por
isso não merecem crédito. Assim, uma grande parte da população vota em qualquer
um por obrigação ou influenciada pelo marketing eleitoral e paga caro, porém ao
jogar a culpa na política e nos políticos, se julga isenta de sua
responsabilidade.
A grande pergunta que fica no ar é:
como ser um legítimo representante se não há vínculos e nem mesmo uma simples
discussão que pudesse levar a construção de um projeto participativo? Isso faz
com que a velha política tenha que se reinventar para conquistar o mínimo de
respeito da população. Porém, como fazer isso diante da mídia partidária e
pertencente a apenas poucas famílias abastadas, que se apresenta como o quarto
poder? Isso se constitui num enorme desafio a ser enfrentado pela boa política
e pelos militantes de uma causa.
Outra questão levantada pelos
participantes vem do fato de que quando essas pessoas saem da vida política, ou
saem bem financeiramente porque usaram a máquina em benefício próprio, ou caso
contrário entram em crise existencial por não terem construído nenhuma
alternativa profissional.
Ao analisar de forma mais conceitual
essas afirmações, chegamos à conclusão que Michel Foucault nos ofereceu os
referenciais para afirmarmos: “O poder está à margem da loucura”. Quem não
souber utilizá-lo para servir a uma causa, por ele será usado e sem que
perceba, virará outra pessoa. Trata-se de um modelo vertical de comando, onde a
maioria dessas pessoas preferem serem temidas do que amadas, ou ainda fingirem
que são lideres, quando na verdade nem chefes de uma missão conseguem ser.
Infelizmente esse tipo de gestor,
gestão e de relacionamento com a sociedade é o utilizado numa grande parte das
organizações públicas do Brasil. Assim sendo, governar de forma ética,
integrada, transparente e participativa, portanto uma gestão horizontal chega a
ser subversivo aos olhos de quem necessita a população bem longe, para que não
se aproxime dos códigos do poder.
Há evidente necessidade da busca de
uma nova forma de governar, partindo do pressuposto que o ato de governar não é
um fim em si mesmo e sim um meio para as mudanças efetivas da sociedade. Porém,
isso requer que os gestores cheguem à conclusão de que governar, antes de ser
uma atividade pública seja ou se transforme num ato de militância constante de
uma causa, que antes de ser partidária faça parte do projeto de vida de cada um
deles.
A caminhada em
busca desse objetivo começa quando o ser político e social se perguntar qual é
a sua missão e estiver disposto a aprender e reaprender e ainda a discutir com
os atores sociais qual o melhor caminho para realizar seus sonhos.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
Parabéns pelo artigo prezado Toni!
ResponderExcluirObrigado Professor
ResponderExcluirAbraço