Diz uma lenda que no início dos tempos o
céu, a terra e o mar brincavam de um mundo de faz de conta, mesmo com a
distância que os separavam, enquanto os séculos passavam, e para não correrem o
risco de nunca mais se avistarem recorreram à Linha do Horizonte para ficarem mais
próximos e num passe de mágica ficaram tão juntos que imaginamos um coladinho
ao outro.
Chamamos de Linha do Horizonte o ponto onde
o céu parece encontrar com a terra no limite de uma esplanada ou num encontro
com mar até onde nossa visão alcançar. É ali, naquele ponto, onde a nossa
imaginação alça voo, onde depositamos nossos pensamentos e às vezes nos
perdemos na imensidão sem fim que essa linha reproduz. Uma viagem no campo das nossas
emoções.
Só me dei conta dessa cena quando já era
adolescente e tive contato com o mar. Nasci num sítio, num vilarejo e longe do
mar e depois cresci em contato com outra selva. Uma selva de pedra, em
descompasso com a minha infância.
Às vezes fecho os olhos e me imagino
seguindo em direção à Linha do Horizonte, quem sabe num resgate das várias
viagens que fiz por diversos rios do norte do país que parecem mares. Miro em
direção àquele ponto onde na nossa imaginação a terra acaba ali e o céu acabou
de encontrar o mar.
Sinto-me em viagem. Uma leve brisa vem
ao meu encontro, junto com ela pingos de água reproduzidos pela embarcação que
imagino estar. Sinto frio e não há nada por perto para me aquecer. Um filme de vida
desfila suas cenas pelos meus pensamentos e uma sensação de que a vida é o encontro
entre as nossas fantasias, os sonhos refletidos num instante como esse e a
realidade quando estamos de os olhos bem abertos e encaramos a vida de frente.
Nesse instante me lembro de muitas coisas,
entre elas da gostosa brincadeira da arte de Pipar. Linha, carretel, uma pipa
na mão, o desafio ao vento e o sabor de horas de um leve pensar, onde se
permite fantasiar até mesmo o que queremos ser quando crescer e na brincadeira
do dia seguinte.
De repente começo a recordar das várias
músicas que cantei para alguém ou cantarolei no percurso da minha vida e que me
podiam fazer companhia numa viagem mental como essa e uma delas não me sai da
cabeça, pois fala de um percurso de vida, da precaução que a maturidade nos
trás, do choro incontido que às vezes chega às pessoas que se comovem com o que
vem do coração, mas principalmente fala de esperança nas flores que ainda vão
nascer.
Obrigado Flávia Wenceslau por compor
algo tão belo. “Por uma folha” é uma daquelas canções que nos faz viajar dentro
de uma viagem onde se busca a paz interior e o sonho justo que embala nosso
sono.
Ainda em viagem vou deslizando pelos
rios da vida e lá na frente abro os olhos e dou de cara com uma revoada de
pássaros, onde minha imaginação voa junto rumo ao que sonho, ao que amo e
principalmente ao que quero ser. Pego carona com a primeira ave que passa e voo
lentamente em busca da felicidade e do que fazer amanhã, quando abrir os olhos,
enxergar o sol que brilha e olhar a telinha do computador para ver quem de
forma descuidada me deu um bom dia e quem me deixou a ver os barquinhos que
deslizam rio afora.
O horizonte revela que quem sonha
acordado chega mais perto do infinito e se esse sonho tiver uma boa companhia à
próxima viagem poderá ser ao Jardim do Éden via Linha do Horizonte.
Antonio Lopes Cordeiro
(Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
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