Mais de cem dias de pandemia e em quarentena permanente são suficientes para darmos várias
voltas ao mundo de nossas imaginações. Pegarmos carona nos sonhos alheios e
brincarmos de roda nos círculos que a vida nos põe dentro. Momentos que vieram para
modificar o ciclo natural das coisas e para nos preparar de que nada mais será como
antes, porém com a grande oportunidade de nos reinventar, nos humanizar ou quem sabe nascermos novamente . Quem viver verá...
Nesses dias de isolamento brinquei de poeta, de
escritor, de menino tolo e atrevido que acha que pode entrar em qualquer
lugar e ser muito bem aceito, de construtor de sonhos e de ser uma fortaleza frente à
solidão e o silêncio provocado que estão sempre presentes. Ofereci sempre o que meu coração tem de sobra e
controlei a explosão emocional que invade minha alma em momentos de rejeição e
quando me sinto sozinho diante do perigo.
Cantei por prazer, mimei quem me permitiu mimar, andei de um lado para outro em busca da minha luz. Fiz tratados com a vida, compus
melodias, escrevi muitas vezes para ninguém ler e achei no meio do nada um feixe de luz que aponta para o amanhã. Quem sabe seja um daqueles anjos de luz que me vem
nas sequências numéricas me avisar que mais dias, menos dias realizarei os meus sonhos e para que eu não desista nunca.
Procurando conviver de forma sadia com
esse estado de coisas assustador e driblar as emoções e as dores, que às vezes transbordam
em meu peito, me valho do tempo, das músicas que canto agora com violão e das que recebo quando alguém se lembra de mandar, das histórias
que conto para meus personagens, do cuidar de forma dedicada das flores e plantas e da
velha esperança de que o que eu tiver de merecimento que o destino me trouxe continuará comigo e tudo
aquilo que veio numa ventania ao acaso, que o vento se encarregue de levar de volta para não atrapalhar o ato de pipar.
Ah vida quanto já me ensinaste. Quanto
eu já vivi. Quantos banhos de chuva tomei apenas para brincar com o tempo. Quantas
noites enluaradas brincando de rodas. Quantas estrelas já contei. Quanto
brinquei com as sombras dos candeeiros. Quantos banhos de rio. Quantos risos
nos embalos da vida e quanto choro em momentos de introspecção. Quanto já
ganhei na vida e quanto ainda tenho para doar. Viver é a arte de juntar o que se espalhou com o tempo e ter o cuidado ao montar o quebra cabeças que o momento exige.
Ontem eu sonhei entrando num ambiente
repleto de orquídeas e bromélias. Suaves mãos a lhe tocarem. Um toque d’água.
Uma réstia de sol e uma borboleta pousando lentamente nas suaves flores
nascidas com amor. De repente acordei e por um instante não sabia se estava
sonhando ou era realidade. Seja o que for, enquanto as flores estiverem lá e em
meu pensamento, novas borboletas poderão vir e as metamorfoses poderão ocorrer de forma natural. Só o tempo dirá...
Hoje parei em frente a um espelho no quarto vazio e perguntei para a minha imagem refletida: O que eu sou? Quem sou eu? Depois
de um silencio eu mesmo respondi: Ainda não sei. Quem sabe um dia... Quem sabe
uma noite... Quem sabe no café da manhã...
Agradeço ao ontem que me trouxe ate aqui, ao hoje que me faz resistir e persistir e ao amanhã que é onde meus sonhos estão
depositados. Por via das duvidas, estou saindo agora em plena madrugada em busca desses mimos que a
vida nos oferece. Que eu tenha a felicidade de encontrar alguns deles entre o raiar do dia e o por do sol...
Antonio Lopes Cordeiro
(Toni)
Estatístico e Pesquisador em
Gestão Social
Parabéns!
ResponderExcluirA pandemia veio para nos mostrar o quão vulneráveis somos, e como necessitamos nos melhorar como seres humanos. Que a vida é muito além que nosso umbigo e que, o que não quer ficar, que deixemos ir, pois coisas melhores virão!
Belo texto!
Que pena que não consigo identificar quem escreveu, mas agradeço a leitura e o comentário. A vida segue mesmo diante dessa nuvem que nos cobre diante do caos.
ResponderExcluirMeu amigo, você me fez chorar, e por um bom motivo. Sim, vejo pessoas horríveis perto de mim a todos os momentos e isso cresceu durante a pandemia, já que não posso estar perto daqueles que amo. Mas aí eu paro e leio um texto como o seu, simples e de coração aberto. Não aquelas frases motivacionais pré-fabricadas, mas algo vindo da alma e sinto alento, porque ainda há pessoas lindas e do bem neste mundo. Obrigada!
ResponderExcluirAh minha cara amiga. Quantos anos de luta. Quantas histórias já construímos juntos. Esse texto foi uma forma de eu lidar com algumas tristezas que me aconteceram ultimamente e que ao escrever eu consigo envolver de uma só vez, cabeça, coração e alma e isso me alia. Olho para os lados e vejo um vazio, mas olho para frente e me sinto caminhando de cabeça erguida rumo aos meus sonhos. Como bem Paulo Freire me disse em 89, precisamos dos sonhos para nos alimentar, mas são as utopias que não nos deixam esmorecer. Tudo isso vai passar e sairemos mais humanos e maios amorosos com a vida. Obrigado pela leitura e obrigado pelo comentário. As amizades sinceras nunca morrem. Grande Abraço.
ResponderExcluirResiliência e resignificações para quem decidiu viver apesar do contexto...
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