As cenas do campo
de batalha dos covardes policiais armados contra uma legião de professores e
professoras desarmados do Paraná, que lutam contra a delapidação de seus
direitos, só nos faz lembrar o quanto custou à conquista da liberdade e da
democracia e o falso discurso da direita reacionária e a mídia golpista, de que
acabando com o PT o paraíso é logo ali.
A cena foi comandada por um governador
tucano desqualificado e por infelizes policiais que agiram piores que seus
cães. Marcharam de encontro aos professores com a clara decisão de abatê-los se
necessário fosse para que não se aproximassem do local onde falsos democráticos
deputados votavam o fim de seus direitos. Uma cena bizarra típica de quem foi é
conivente com a barbárie. Típica de quem foi e é conivente com a tortura e
morte de combatentes que lutam pelos seus direitos, exatamente como foi na
época da ditadura, onde pelo falso argumento de lutar contra o comunismo, que
99% da população não sabe e segundo eles não pode saber o que é, senão se
apaixonam pela causa.
A pergunta é: o que tem a ver
essa cena de horror com o sonho deles de acabar com o PT? Simples de responder:
o fim do PT e dos partidos mais consequentes, além das instituições que ainda
sonham para mudar a sociedade, os deixaria à vontade para impor suas condições,
onde um pobre não pode nem sonhar e muito menos ser um empreendedor, pois o
modelo de desenvolvimento que criaram não é para qualquer um segundo eles,
apenas para os afortunados e para aqueles que as divindades escolheram para
serem prósperos e logicamente políticos de carreira. Um trabalhador? Nem
pensar. Uma mulher como Dilma? Tem que ser atormentada e provar todos os dias
que não é ladrona.
Lembro-me como se fosse hoje
daquele comício ocorrido à noite em São Bernardo Campo na Praça do Rudge Ramos
em 1982, na reta final das eleições para governador daquele ano. Milhares de
pessoas presentes e Lula inspirado. Eis que de repente surge na escuridão do
céu um helicóptero sobrevoando o comício e joga milhares de panfletos.
O panfleto trazia uma montagem
com Lula debruçado na varanda de uma luxuosa mansão e dizia assim: “Enquanto
você está aí o apoiando, ele está no Morumbi rindo da sua cara”. Um golpe baixo
para ver se atingia corações e mentes de quem já tinham se decidido em quem
votar.
Desde aquela ocasião até os
dias de hoje, centenas de episódios como esse inundaram os lares e infestaram
as cabeças dos mais fracos e também daqueles que ao não participarem da vida
política do país deposita seus sonhos de vida nas mãos de quem nunca se
comprometeu com eles.
É importante registrar que
situações como essas não são produzidas por acaso ou sem nenhuma intenção. Elas
têm endereço certo. Visam intervir no processo democrático eleitoral pela via
do fuxico, pela vertente da teoria da conspiração e jogam com a desinformação da
população, onde tudo se transforma em ódio, sem ao menos a maioria saber os
reais motivos desse ódio de classe. São levados por grupos e pessoas que se beneficiam
com toda essa situação, como por exemplo, o pensamento global, que tem dono e
partido azul e amarelo no comando. Tudo isso em nome da democracia, mas que
democracia?
A grande preocupação é que existe
uma perigosa inversão de valores na sociedade nos dias de hoje, onde se prega a
ideia de que basta votar em alguém que está representado, quando está claro que
a maioria dos eleitos representa a eles próprios ou a seus grupos. Quem duvidar
disso é só ver o que aconteceu logo após as eleições com a votação contra a
Política Nacional de Participação Social e agora com a votação do projeto de
terceirização e precarização da CLT.
Com esse cenário não há dúvidas
em afirmar a existência de uma profunda crise da democracia representativa,
pois não tem lastro e muito menos vida. Sem essa de super-heróis. Sem essa de
salvadores da Pátria. Sem essa de achar que só quem pode ser político são os
iluminados e por isso ganham o privilégio de serem eleitos para sempre.
Qualquer pessoa a partir de um projeto participativo pode ser um bom político,
pois as decisões nascem e crescem a partir do coletivo e não do individual.
Para isso, basta apenas que respeitem os fóruns constituídos.
Entendo perfeitamente porque
eles consideram a democracia participativa como uma afronta. Como algo
subversivo. É que essa é uma forma de dar voz às Senzalas, aos oprimidos, aos
menos favorecidos da sociedade e a toda população discriminada. Por outro lado
os representantes da Casa Grande, além dos seus pares individualista tem a
mídia golpista como sua eterna aliada.
É bem provável que grande parte
daqueles professores votou exatamente nesse indivíduo que era governador e foi
reeleito, mas também é certo que mesmo esses que votaram e apanharam, terão a
oportunidade de aprender que não se vota por marketing e muito menos a partir
do que falam jornais, revistas, rádios e canais de tvs, que são de apenas seis famílias
abastadas e que tem como certo o fim dos direitos trabalhistas e de liberdade
de expressão.
O que fazer para mudar essa
situação? Só a organização popular poderá de fato trazer mudanças profundas. Só
com a reação da multidão nos seus micros espaços de poder, poderá criar uma
situação sustentável. Do contrário continuaremos a ver a mesma direita que
apoiou a ditadura, tortura e mortes, discursando sobre a ética, como se nada
tivesse com o ocorreu num passado bem próximo, não só no Brasil, mas
principalmente na América Latina.
Sobre o PT, no sentido de deixa-los
ainda mais indignados, transcrevo abaixo dois trechos do poema de Pedro Tierra
explica a essência petista:
“Viemos da margem. Somos a
anti-sinfonia que estorna da estreita pauta da melodia. Não cabemos dentro da moldura. Somos
dilacerados como todos os filhos da paixão. Briguentos. Desaforados. Unidos.
Livres: como meninos de rua.
Quando o inimigo não
fustiga inventamos nossas próprias guerras. Desenvolvemos um talento prodigioso
para elas. Com nossas mãos, sonhos, desavenças compomos um rosto de peão, uma
voz rouca de peão, o desassombro
dos peões para oferecer ao país, para
disputar o país....”
“Os filhos da margem têm os
olhos postos sobre nós. Eles sabem, nós sabemos que a vida não nos concederá
outra oportunidade. Hoje, temos uma cara. Uma voz. Bandeiras. Temos sonhos
organizados. Queremos um país onde não se matem crianças que escaparam do frio, da fome, da
cola de sapateiro. Onde os filhos
da margem tenham direito a terra, ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança, às histórias que povoam nossa
imaginação, às raízes da nossa
alegria. Aprendemos que a construção do Brasil não será obra apenas de nossas mãos. Nosso
retrato futuro resultará da
desencontrada multiplicação dos
sonhos que desatamos”.
Que de cada canto da cidade
surjam os personagens que se encontram escondidos. Que de cada canto dessa enorme
Senzala que se tornou o Brasil para quem pensa e principalmente para quem tem
um sonho de uma vida melhor, surjam os guerreiros para juntos lutarmos pela
transformação dessa sociedade.
Viva os trabalhadores de bem!
Viva os professores que tem a
coragem de lutar pelos direitos!
Viva àqueles 17 policiais que
foram presos por não acatarem o comando dos cães de guarda do governo tucanalha
do Paraná.
Que toquem os tambores para anunciar que a luta mal começou.