O que tem a ver o Brasil real com o Brasil surreal pintado pela elite econômica e mantida pela classe média, caso eles estivessem no poder? Em regras gerais poderíamos responder que nada, porém uma cultura forjada pela elite brasileira e sua direita raivosa, vai moldando através das novelas, dos editoriais de rádios, tvs, jornais e revistas, além dos hábitos herdados do dia a dia um país extremamente surreal e segmentado.
Lembro-me da primeira vez que a minha amada mãe me disse para não tomar leite e chupar manga a seguir, que com certeza faria mal? Por certo minha mãe tinha aprendido com sua mãe que certamente aprendeu em sua época. Existe algum estudo científico que comprove isso? Que eu saiba não. Esse é um termo que tem como herança o triste momento de escravidão no país. Onde a necessidade de afastar os escravos dos pés de mangas e principalmente de peitos das vacas, relegando-os às sobras da Casa Grande, enquanto a Senzala passava sérias necessidades, ressoa pelos rincões brasileiros, como se ainda hoje representasse uma verdade absoluta.
Outra maléfica questão difundida nacionalmente vem do fato de que também nos ensinaram que política, religião, nem futebol não se discutem. Alguém pode nos dizer o porquê? Talvez o futebol a gente entenda, até pelo machismo que o mesmo representa, além da promiscuidade financeira que está metido e até mesmo a religião, com o pressuposto de preservar a maioria católica, porém a política tem um endereço certo: afastar qualquer possibilidade de domínio popular da ciência e da prática política, na medida em que para eles, política é coisa para políticos e assim, basta votar num herói que tenha nascido para isso, que suas necessidades serão atendidas.
Sem contar outros absurdos contidos na história do país, como o Brasil ser descoberto se estava habitado pelos índios, como os Bandeirantes serem pintados como desbravadores, quando na verdade matavam os índios e delapidavam pedras preciosas, ou então Calabar ser tratado como um traidor, quando na verdade ficou do lado dos holandeses apenas pelo fato de enxergar uma possibilidade de liberdade do seu povo.
Querem mais duas? Quem sabe com nasceu o termo “Terra grilada?” ou o termo “Santo do Pau Oco”. Vamos lá para as explicações.
No caso da “Terra Grilada”, é sabido que até 1850 o país não possuía uma Lei da Terra, sendo regido pela Lei das Sesmarias, criada em Portugal em 1375 e trazida pelos portugueses. Em sua origem essa lei pretendia fixar os trabalhadores rurais às terras e diminuir o despovoamento. Quando a primeira Lei da Terra foi promulgada, o governo brasileiro (português), disse o seguinte: “Ora, pois, pois, quem apresentar para o governo um documento antigo de posse da terra onde está, ganhará sua propriedade”. Legal não, é? Pois então. Praticamente ninguém tinha. O que fez o “jeitinho brasileiro”? O indivíduo ia ao cartório e fazia o documento. Como o papel estava novinho, deposita-o numa gaveta juntamente com diversos grilos e tempos depois o papel estava amarelado, parecendo que tinha sido feito há muitos anos. De uma sacanagem nasceu o termo “Terra Grilada”.
Porém, sacanagem ocorreu com as imagens. Ocas que eram, vinham em procissão de Portugal para o Brasil vazias e voltavam repletas de ouro e pedras preciosas, também em procissão e o mais incrível: ninguém nem desconfiava.
Na atualidade a coisa continua com a velha mídia, que faz um papel ridículo de servir somente a um lado, de informar apenas o que esse setor deseja e plantar falsas informações, somente as vezes para levantar a dúvida. Alguns exemplos: Nenhum partido no Brasil é sério. Todo político é ladrão. O país está quebrado. A direita organizada, mesmo que para um golpe, isso é chamado de democracia. O Brasil tem um grande gasto social (Ao se referir aos projetos sociais). O tal do terceiro setor surgiu para suprir o Estado falido. O governo federal está perdido e tantas outras teorias da conspiração.
Na verdade a elite brasileira e o seu braço fiel que é a classe média, através do PIG (Partido da Imprensa Golpista), destila seu veneno por uma raça pura. Um Brasil sem cotas, sem negros, sem periferia, sem homossexuais, sem escolas públicas para os pobres, sem pessoas com deficiência, só com partidos de direita, sem sindicatos, sem greve, sem manifestações contra eles, pode apenas contra o PT e o governo federal, enfim um país branco, racista, machista e homofóbico. Isso seria o sonho. Onde os pobres existiriam apenas para lhe servir.
E o pior é que grande parte da sociedade brasileira, mesmo a menos afortunada, votam nos representantes da elite, simplesmente por achar brega votar nos seus. Pobre povo que não consegue fazer a leitura correta do ponto de partida de sua exploração.
Ao recorrer a Paulo Freire para me dar suporte no encerramento desse pequeno desabafo, o que ele diz: “Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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