Empreendedorismo
Social representa na atualidade um termo com alguns significados, onde cada um
deles se situa num contexto ideológico.
O
livro do Carlos Montaño: “Terceiro Setor e Questão Social”, resultado de sua
tese de doutorado, mostra claramente a procedência do termo terceiro setor, ao qual o autor afirma
ser de denominação ideológica, cunhado lá nos EUA e importado para o Brasil e
outros países da América Latina e Caribe, a partir do desmonte do Estado no
processo de privatização.
Segundo
seu estudo, o termo nasce na efervescência da implantação do neoliberalismo na
América Latina e no Caribe, onde a partir da falência do Estado-Providência, como
grande pressuposto da redução do Estado e reafirmando a tese do Estado Mínimo, necessita
das ONGs – Organizações não Governamentais para assumir as funções sociais do
Estado.
Carlos
Montaño cita ainda a fragilidade e contradição das ONGs, não aquelas surgidas a
partir dos movimentos sociais, mas as criadas para assumir essa nova tarefa,
pois apesar de se caracterizarem como entidades não governamentais, é
justamente o Estado “falido” que mantém essas instituições com dinheiro
público.
A
partir do surgimento de milhares dessas ONGs no Brasil, também surge um novo
mercado para esses novos profissionais da miséria. De um lado pessoas bem
preparadas para captar recursos, seja público ou privado e em nome da
benevolência, suprir as deficiências sociais do Estado e de outro lado os voluntários
se dedicando a ajudar pessoas. Uma combinação perfeita se tudo isso não
estivesse a serviço do desmonte do Estado enquanto provedor de seus problemas e
não estive dando suporte ao neoliberalismo, como afirmou Paulo Nogueira Batista
em seu livro “O Consenso de Washington”.
É
dentro desse contexto que o termo Empreendedorismo Social se encontra. Para os
adeptos do chamado terceiro setor, o empreendedor
social é aquele profissional que se especializou e descobriu uma nova forma de
ganhar dinheiro a partir dessas ONGs, onde de um lado capta recursos para
aplicar no universo da pobreza e por outro até presta serviços na formação de
cooperativas e associações compostas pela população em vulnerabilidade social. Já
para os militantes políticos, o Empreendedorismo Social representa o
investimento na população pobre no sentido de libertá-las das amarras da
exclusão social e econômica. Nesse contexto está contida a capacitação e a
formação tecnopolítca, capazes de formar cooperativas, associações ou mesmo
grupos associativos com autonomia de seus participantes e dentro da lógica dos
negócios solidários, onde o mais importante é a organização coletiva.
O
grande debate que se estabelece nessa discussão é a de que o neoliberalismo ao
encurtar o tamanho do Estado, com sua tese do Estado Mínimo, transfere ao
mercado a mediação dos interesses da população, principalmente a mais
necessitada e é aí que entra o chamado terceiro
setor, como uma privatização das funções sociais do Estado. Assim, fica a
demonstração clara de que quanto mais um Estado forte num país capitalista,
menos poder de mercado e quanto mais fraco esse Estado for, mais necessidade da
criação de novos organismos que supra essa necessidade.
Como
afirma Montaño, a justificativa para tudo isso vem da satanização de tudo que é
estatal e, portanto tem que ser privatizado para o “deus” mercado. “Por outro lado,
sataniza-se o Estado-providência como “burocrático”, “paternalista” e em “crise
de governança”; como se os gastos com o processo burocrático (dos quais o
capital sempre se beneficiou e comandou) fosse só negativo (pense-se na
garantia dos processos de licitação, concursos públicos etc.), como se fosse
“paternalista” a assistência ao necessitado e a garantia de direitos sociais,
mas sem considerar o constante socorro e financiamento ao capital como
paternalista”.
É
impensável para quem defende uma sociedade livre e soberana, se submeter à
industrialização da miséria. Esse debate estará todos os dias nas próximas
eleições, onde os defensores do neoliberalismo dirão que o Governo Federal
gasta muito com o social, por exemplo, deixando o mercado desprovido e os representantes
da população pobre dirão que foram esses investimentos nas causas sociais que
salvaram o Brasil dessa crise mundial.
Foi
com o propósito de trazer o Empreendedorismo Social como elemento de organização
solidaria e de uma prática coletiva, que criamos pela Fundação Perseu Abramo o
Curso Empreendedorismo Social e Economia Solidária e sentimos seus efeitos na
prática ao aplicar o curso para gestores e para integrantes de uma Aldeia
indígena na cidade de Rondolândia/MT.
A
resposta foi imediata, principalmente por parte dos membros da aldeia, que nos
mostraram um alto grau de organização, ajuda mútua e solidariedade, uns com os
outros. Uma clara demonstração de que não necessitaria de uma ONG mantida com
recursos públicos para assessorá-los e sim da prefeitura participando junto e
abrindo espaços para seu desenvolvimento.
Sou
adepto da ideia que grande parte da população é empreendedora, faltando apenas
oportunidade, investimentos públicos e criação de novos espaços.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
É muito importante a questão do empreendedorismo social e m São Paulo estamos estimulando e criando diversos trabalhos criativos vejam: http://associacaoguaianazes.blogspot.com.br/
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