Sou de uma
geração que se acostumou a ouvir que o Brasil era o “país do futuro”, mas esse
futuro nunca chegava e parecia que jamais chegaria.
O fim da
ditadura militar trouxe enormes esperanças numa democracia que incluísse
justiça social, mas as eleições diretas foram rejeitadas e tivemos que engolir
a escolha do primeiro presidente civil pós-64 pelo voto indireto de deputados e
senadores. Graças a um eficiente trabalho da mídia elitista, Tancredo Neves, o
eleito, tornou-se nova fonte de esperança. Morreu antes de ser empossado.
Tivemos que suportar outros cinco anos com o vice, José Sarney, ex-aliado do
regime militar (eterno aliado de qualquer governo), no comando da Nação.
Foi um período
desastroso. Sarney legou-nos, ao menos, a Constituição de 1988, realentando as
esperanças. Vieram, finalmente, as primeiras eleições diretas e a esperança
ressurgiu com força, para muitos com a possibilidade de Lula ser eleito. Lula
não venceu, mas o escolhido, Fernando Collor de Mello, representava, para a
outra metade do país, a esperança incubada desde minha meninice. Foi uma
decepção desde os primeiros dias de mandato, desde que promoveu o confisco das
poupanças. Caiu por “impeachment”, num movimento iniciado pela oposição, mas ao
final orquestrado pelos barões da mídia que outrora o havia tornado o célebre
(e falso) “caçador de marajás”. A elite agia como um deus concedia o sopro da
vida e o retirava quando desejasse.
Seguiu-se o
período de outro vice, Itamar Franco, que se revelou um presidente apagado, por
vezes pusilânime, mas que teve o mérito de conceber o Plano Real. Reavivaram-se
as esperanças e seu ex-ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, sucedeu-o na presidência.
A precária
estabilidade econômica não era suficiente, porém, sequer para manter a inflação
em níveis sustentáveis, muito menos os juros, sempre altos. Nem a entrega no
atacado e a preços de banana das empresas públicas, com justiça apelidada de
“privataria tucana”, serviu para melhorar a vida dos mais pobres, para
enfrentar o dramático problema da miséria extrema que acometia grande parte da
população brasileira, realidade que eu conhecia na própria pele, desde a
infância. Cresci, portanto, vivenciando a história de um país que tinha razões
de sobra para ser pessimista. Éramos o país que não daria certo, jamais.
Enfim, veio
Lula e as esperanças, vencendo o medo já expressado pela elite e seus
cachorrinhos de luxo (quem não se lembra da atriz global apregoando seu temor
pelo futuro, caso o ex-metalúrgico fosse eleieto?), finalmente se tornaram
realidade em grande medida. Milhões de esquecidos nos afastados rincões do país
e nas periferias paupérrimas das grandes cidades, até então condenados a morrer
na miséria absoluta, viram-se contemplados com políticas de socorro
emergencial, bastantes para lhes assegurar não morrer de fome. Esses
brasileiros aos poucos foram tomando gosto por experimentar uma vida digna.
Vieram muitos outros programas, que levaram energia elétrica para milhões de
famílias, que promoveram sua inserção no mercado de consumo, que asseguraram
que seus filhos pudessem ingressar em cursos técnicos ou universitários.
O filho da
faxineira passou a ter a oportunidade de ser doutor – coisa que, no meu tempo,
era algo inimaginável, salvo raríssimas exceções, como no meu próprio caso. Sou
do tipo que não deve nada a ninguém, portanto, a não ser à minha mãe, à minha
irmã e ao tio que me criou, que participaram da minha sofrida trajetória. Fiz
Direito em universidade particular, pagando mês a mês com o salário que recebia
(de um cargo conquistado por concurso público), do qual não sobrava nada,
sequer para comprar os livros necessários. O que conquistei na vida é mérito
exclusivamente meu e de minha família. Jamais fui beneficiado por bolsa de
estudos, nem por qualquer favor governamental ou particular.
Eu tinha tudo,
por conseguinte, para fechar-me em meu mundo, viver em função do meu trabalho,
do meu escritório de advocacia do qual retiro meu sustento, e me “lixar” para o
que acontece com a vida dos outros. Tinha razões de sobra para ser ególatra e
egocêntrico, defensor da “meritocracia”, do “esforço próprio”, como tenho visto
em manifestações de diversas pessoas, nas redes sociais – como numa carta
recentemente disseminada, de uma senhora que se diz “da elite”, na defesa do
valoroso marido “self made man” (como os norte-americanos chamam a pessoa que
venceu na vida graças ao próprio esforço). Gente que, em muitos casos, estudou
em faculdades públicas, mantidas pelo povo, mas que, apesar disso, é do tipo
que se gaba dizendo “ralo dez horas por dia”, “vivo do meu trabalho”, o que
justificaria seu comportamento ativo contrário a programas sociais, como o
“bolsa-família” ou as cotas nas universidades e no serviço público.
Eu tinha
razões, enfim, para ser como essas pessoas desprovidas de solidariedade
(geralmente, falsos cristãos), mas faço questão de não ser. Construí minha
carreira profissional paralelamente à militância política. Estudei, trabalhei e
continuo trabalhando sem abdicar de lutar para que as oportunidades que eu
cavei para mim, com méritos próprios, sejam garantidas por programas
governamentais para todos os brasileiros, pobres ou ricos, brancos ou negros.
É uma questão
de índole, de berço. Embora não deva nada a ninguém, não me sentiria bem num
mundo em que eu gozasse de privilégios à custa do sacrifício de uma imensa
maioria. É por isso que sou e sempre fui PT. É por isso que, em outubro,
votarei em Dilma para presidenta e em Padilha para governador.
Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br
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