Meu propósito nos dias de hoje é escrever coisas
leves, apesar do momento político, econômico e social do país não estar para
brincadeiras, pois o país está tomado por zumbis neoliberais e fascistas, os
direitos de cem anos de lutas sequestrados e o que é pior, com o aval de grande
parte da população pobre. Minha contraposição a isso tem sido lutar com as
armas e os sonhos que tenho, porém com a certeza de serem bem diferentes, das usadas
na chacina de Suzano, executada por adoradores do Zumbi Maior.
De
que somos feitos? Como construímos nossos sentimentos? Como lidar com a saudade?
É possível dialogarmos com as nossas incertezas?
Acredito
sermos compostos, além da matéria, por atos e fatos, por momentos e sentimentos,
mas principalmente por lembranças e saudades que nos fortalecem para a vida e fazem
parte das nossas histórias. Resolvi tornar a saudade como o objeto principal do
tema desse post, mirando num certo saudosismo necessário, mas com o propósito e
o desafio de tocar os corações dos leitores e das leitoras que me acompanham no
blog.
Quer
saber o tamanho de uma saudade? Basta fechar os olhos e sentir o que ela
provoca em seu coração. Uma sensação inexplicável começa a invadi-lo e de
repente estamos há horas, dias, meses e até anos do cenário que a produziu. De
saudade em saudade compomos a melodia da nossa existência e produzimos os
sentimentos que nos fazem caminhar rumo à felicidade. Tem muitos momentos em
nossas vidas que a saudade é a única companheira.
E
por falar em saudade, que tal um banho de chuva, com direito ao cheiro de terra
molhada? Tive o privilégio de viver várias vezes essa cena no meu passado e
hoje de vez enquanto, volto lá no local daquela casinha, que hoje só restam os
escombros e a visito em pensamentos, principalmente em dias nublados. Parte de
mim ainda permanece lá, quem sabe sentado naquela pedra que ficava atrás de
casa, onde distraído brinquei tantas vezes.
Era uma casinha simples, localizada na parte alta do sitio onde morava a família toda, pintada de branco, com um vasto quintal de terra e um jardim sempre florido e bem cuidado pela minha mãe, onde os beija-flores faziam a festa e quando chovia um cheiro de terra molhada invadia a casa. Um fogão à lenha e o trivial para se viver de forma modesta. Nossos banhos de chuva no quintal sempre terminavam com muitas brincadeiras. Esse é um daqueles momentos que faço questão de nunca esquecer e que me fazem entender que é na simplicidade que as melhores emoções se nutrem.
Morava
eu, minha mãe, minha vó Isabel, que guardo as lembranças dos mimos que fazia
para nos agradar e minha irmã, que ainda era um bebê e sem a presença do meu pai
com suas idas e vindas para São Paulo, em busca de recursos financeiros. Não
havia luz elétrica e nas noites eu e meu primo João brincávamos com as sombras
produzidas pelos candeeiros, que sempre nos confundiam e ora usávamos elas pra
brincar e ora tínhamos medo. Nessa época eu ainda não tinha descoberto como era
tão bom brincar de pipas...
Certa
vez quando criança caminhava só por uma estradinha que ligava a casa à vargem
onde os bichos ficavam e onde estavam nossas cabras. Apesar de toda família
morar em casas próximas uma das outras, era um completo silêncio, que chegava a
dar medo pela vegetação fechada. Naquele momento a minha dúvida era saber se o
meu pai, que tinha nos deixado para vir trabalhar em São Paulo, voltaria para
nos buscar. Lembro que eu estava triste pela dúvida e chamava-o num lugar da estradinha
que tinha eco, só para eu ouvir o retorno da minha voz, como uma busca de
reafirmação ou mesmo de companhia.
Porque
contar uma parte da minha história para vocês? Porque sei que como eu, milhares
de pessoas deixaram parte de suas vidas para trás e se aventuraram em busca de
uma vida melhor e hoje muitos ainda sofrem por isso, como meu pai, por exemplo,
que quando partir dessa vida levará com ele a vontade de ter dado certo por
aqui, mas com o direito de ter voltado para sua terra natal e isso jamais aconteceu.
Que
os pingos do passado possam sempre refrescar as nossas mentes em busca de
nossas origens, pois consiste numa parte fundamental na composição de nossas identidades,
assim como nos encorajem para dialogar sempre com as nossas incertezas, que as
vezes querem tomar nosso ser por completo.
Quando
eu era criança sonhava com os brinquedos que via com as outras crianças e
morria de inveja por não poder tê-los. Quando cresci descobri que para que toda
criança possa ter determinados brinquedos, mesmo que sejam simples, precisamos antes mudar a sociedade.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Muito bom... gostei do texto
ResponderExcluirGrato!
ExcluirFui transportada para Belo Jardim. E também para minha infância, diferente da sua pela localidade, já que sou filha da metrópole. Mas temos em comum o jardim, os banhos de chuva e a vida incertaa
ResponderExcluirOlá minha amiga Rita
ExcluirQue bom que o texto lhe conduziu. Essa era a ideia.
Grato pela leitura e pelo comentário.
Muito legal ,Toni! Gostei muito! Sensível e emocionante. Estamos precisando.
ResponderExcluirOlá Bella
ExcluirQue bom ouvir isso.
Escrevo com o coração.
Obrigado pela leitura e pelo comentário.
Parabéns, me fez reviver alguns momentos que vivi com meus avós sentir o cheiro da terra molhada, as brincadeiras com a sombra da lamparina!!!! Saudades!!!!!
ResponderExcluirOlá Fagma
ExcluirQue bom. O objetivo era esse mesmo. OU seja, envolver que lesse.
Grato pela leitura e pelo comentário.
Gratíssimo!
ResponderExcluirParabéns,companheiro, pelo belo texto. Um grande abraço.
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