Uma coisa é o valor de um artista ou esportista na sua arte ou na sua
atividade esportiva; outra coisa, bem diferente, é o valor da percepção que
eles têm da vida em geral, da opinião que expressam a respeito, especialmente
quando enveredam por temas espinhosos e que, a par de apaixonantes, requerem
conhecimentos, informações confiáveis e sensibilidade social. Ha campos em que
as fontes nem sempre são fidedignas, como é o caso da Politica. Alguns se
arriscam e, julgando-se satisfatoriamente informados, já que leem Veja e Folha
e assistem aos telejornais, especialmente os da emissora ainda campeã
(decadente) de audiência, desandam a vomitar o senso comum que lhes servem os
meios de comunicação.
Sem capacidade critica de ver e julgar, optam - como me disse um amigo,
tentando embora dizer o contrário - por repetir uma tal "verdade
subjacente, sabida e indiscutível", como aquela que, de tão repetida
diuturnamente, anos a fio, pela mídia comprometida, transformou uma farsa, uma mal
engendrada trama ficcional, no inquestionável "mensalão", aceito por
todos, exceto por aqueles que, raciocinando minimamente e sopesando os
interesses envolvidos, conseguem ver a realidade. Ou como o "mar de
lama" que envolveria o governo federal, ou como o assistencialismo do
"bolsa-escola, fábrica de vagabundos"...
A última celebridade vítima da mediocridade do superficialismo foi Ney
Matogrosso, um gênio nos palcos, cuja trajetória musical torna-o, ele mesmo,
uma "verdade indiscutível", no que tange ao talento, e o faz imergir
num "senso comum" em que eu mesmo mergulho com gosto, já que não
disponho de conhecimentos e recursos técnicos que me permitam um juízo idóneo e
confiável sobre seu desempenho como cantor. Não ignoro que o juízo da qualidade
de um artista se dá essencialmente pelo senso médio. Os que sobrevivem aos
desafios do tempo, via-de-regra, são mesmo os que têm valor, ressalvados,
sempre, alguns talentos esquecidos e algumas celebridades artificiais
resistentes.
Nisso, arte, esporte e Política têm um ponto em comum. Via-de-regra - e
neste campo também há as exceções a confirmar a regra -, só os bons políticos
sobrevivem, e o juízo sobre quem merece a consagração histórica ou quem ha de
ser condenado ao ostracismo se dá pela simples percepção da maioria. Os
resultados de um governo, positivos ou negativos, são percebidos pelas pessoas
dentro de casa e nas suas demais circunstâncias, e não há propaganda
governamental ou orquestrada pela mídia que convença do contrário os habitantes
de cada casa. É por isso que, Lula, embora afastado do poder - e da mídia - há
quatro anos, segue lembrado e preferido por imensa maioria do eleitorado, mesmo
dizendo e repetindo que não é candidato. É por isso que, atacados pela mídia e
opositores impiedosamente e sem trégua, Getúlio, Juscelino e Jango - todos
acusados de graves casos de corrupção nos respectivos governos, o tal "mar
de lama" -, por uma mídia de índole udenista, falso-moralista e golpista,
hoje são reverenciados pelos brasileiros, consagrados pela Historia. Já os
militares, apesar de toda propaganda oficial, apoio midiático e mesmo do
"milagre econômico", de passageiros efeitos positivos, quem ainda se
lembra deles? E o que dizer de um Fernando Henrique Cardoso, a quem os próprios
correligionários candidatos à Presidencial nas ultimas eleições, Serra e
Alckmin, fizeram questão de esconder nas respectivas propagandas eleitorais?
Na Politica, porem, não basta o superficialismo, muito pelo contrário.
Um juízo honesto deve levar em conta os números oficiais, os dados
estatísticos, os resultados concretos, as informações corretas, a tudo se
devendo sopesar os interesses de todos os atores envolvidos, governos de todos
os níveis, opositores, partidos, mídia, demais instituições e respectivos
agentes. Ney Matogrosso embarcou no senso comum, saiu a dizer as besteiras que
dizem os colunistas de jornais e os especialistas-em-tudo dos telejornais,
desconsiderou os interesses dos poderosos da mídia e a percepção popular.
Ignorou o reconhecimento internacional - a começar das recomendações da própria
ONU sobre programas como o Bolsa-Família, as informações oficiais de que não há
dinheiro do orçamento da União investido na construção e reforma dos estádios
da Copa, dos múltiplos benefícios que esta já vem proporcionando ao pais e a
seu povo, às estatísticas estrangeiras que destroem o mito interno de que a
carga tributária brasileira seria "a maior do mundo". Não se atentou
à grandiosidade do atendimento do SUS ao universo de habitantes do País, um
exemplo de que o dinheiro dos impostos, à parte os casos de desvios, é, sim,
aplicado em beneficio da maioria. Ignorou a vigilância de órgãos governamentais
no combate à corrupção, como a CGU e a Policia Federal, para citar apenas as
subordinadas diretamente ao governo da presidenta Dilma.
Ney falou bobagem, mas nada fez de diferente do que tantos e tantos
fazem todos os dias nas redes sociais, nas ruas e nos botequins.. Sua opinião
tem o mesmo valor que o meu canto sob o chuveiro, só que ouvida por bem mais
gente que meus azarados vizinhos. Mesmo assim, continua sendo, para mim, um
grande artista da música popular brasileira, como outros que erraram pelo mesmo
caminho, como Caetano, Fagner ou Seu Jorge. Porque uma coisa é uma coisa e
outra coisa é outra coisa.
Nessa temática, fico com a opinião de outros gênios - não por acaso
maiores - que conseguem aliar espirito critico, sensibilidade social e
informação confiável, como Beth Carvalho, Chico Buarque e Luís Fernando
Veríssimo.
Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br
Querido amigo Albiero.
ResponderExcluirLi, atentamente, seu artigo, como sempre muito bom!. Ney me surpreendeu tambem. Nunca o havia visto falando de política. Até então considerava-o uma pessoa de princípios e personalidade, haja vista seu enfrentamento ao público e, principalmente à sua família. Tudo isto em função de sua escolha comportamental. Sempre considerei-o um cantor, um artista de valor! Aqui peço-lhe vênia para uma discordância: não o considero gênio, nem em sua especialidade! Se ele é gênio o que seriam Chico, Jobim e Vinicius?
Um puta abraço!
Jairo.
Valeu, caro Jairo. Abraçãol
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