Um
assunto intrigante surgiu num dos cursos que ministro nas prefeituras. Porque
alguns governantes ou mesmo gestores, quando estão em exercício não se
consideram mais povo e sim alguém iluminado? Pratica essa que os afasta da
população e por necessidade voltam apenas no início do próximo pleito
eleitoral, ou em busca de reeleição ou no apoio de seus sucessores.
Os
participantes do curso concluíram ainda que essa atitude faz parte de um
processo cultural conservador, onde a população, por não acreditar na política,
não participar dos movimentos sociais e muito menos buscar entender a função da
política e dos políticos, principalmente por concordarem com o senso comum de
que todos são iguais e por isso não merecem crédito, votam por obrigação ou
pela paixão, em qualquer um, passando a cobrá-los como se fossem seus legítimos
representantes.
Como
ser um legítimo representante se não há vínculos e nem mesmo um discussão que
levasse a construção de um projeto ou mesmo um “faz de conta” que agradasse
seus seguidores?
Outro
dado levantado pelos participantes vem do fato de que quando essas pessoas saem
de seus postos, ou saem bem financeiramente porque usaram a máquina em
benefício próprio, ou ainda entram em crise existencial.
Ao
analisar de forma mais conceitual essas afirmações, chegamos à conclusão que
Michel Foucault nos ofereceu os referenciais para afirmarmos: “O poder está à
margem da loucura”. Quem não souber utilizá-lo para servir a uma causa, por ele
será usado e sem que perceba, virará outra pessoa. Em regras gerais, tornar-se-á
arrogante, vaidoso e com um objetivo claro de fazer o que for necessário para
no poder permanecer. Trata-se de um modelo vertical de governar, onde o
indivíduo de tão grande que se tornou, começa a ser venerado e não admirado
como um líder.
Podemos
até afirmar que esse modelo de gestor, gestão e de relacionamento com a
sociedade é o utilizado na extrema maioria das gestões públicas no Brasil e que
governar de forma contrária, ou seja, de forma participativa e transparente,
que requer atitudes éticas e um processo integrado, portanto uma gestão
horizontal chega a ser subversivo aos olhos de quem necessita a população bem
longe.
Estamos
em busca de uma nova forma de governar, onde o gestor ao chegar à conclusão de
que governar não é um fim em si mesmo e sim um meio para as mudanças efetivas
da sociedade, chegue também à conclusão de que isso necessita que o mesmo seja
ou se transforme num militante de uma causa, que antes de ser partidária fará parte
de seu projeto de vida.
A
caminhada para se aproximar desse objetivo, começa quando gestor se pergunta qual
é o seu papel no processo de mudanças, qual é a sua missão e passa a estar
disposto em aprender e reaprender.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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