Assim seja, espero que, oxalá, ou simplesmente tomara. E
tomara que não estejamos abusando muito desta palavra. O tomara não pode
substituir nossas responsabilidades e nossas atitudes. Sim, há uma diferença
entre aquilo que é passível de ser realizado por nós e aquilo que gostaríamos
que acontecesse, mas que independe de nossas atitudes. Delimitar claramente
cada caso pode não fácil em algumas situações, mas é preciso. Tomara que pelo
menos até aqui este texto esteja sendo claro o suficiente.
Muito esperamos e pouco fazemos. Queremos ser um país de
primeiro mundo, queremos desenvolvimento, queremos educação, mas se pararmos
bem pra pensar estamos só no tomara que tudo melhore e não fazendo nada de
concreto para uma mudança de fato. Se cada um de nós não mudarmos, melhorarmos,
nada muda, nada melhora.
Só pra não restar dúvidas: nem tudo depende de nós,
diversos fatores nos influenciam e as circunstâncias e oportunidades não são
homogêneas, de modo que o que é possível pra um pode não ser para o outro.
Assumindo isso, vamos nos concentrar na idéia daquilo que é realizável, daquilo
que é possível de ser feito e que poderia ajudar à nós mesmos a nos livrar de
tantos ‘tomara’.
Podemos aplicar essa idéia para o convívio familiar, para
os relacionamentos, trabalho, estudos, enfim, para a vida. Pequenas e grandes
conquistas não caem do céu, é preciso estar no lugar certo e na hora certa, é
preciso se preparar e estar sempre pronto.
Já que mergulhamos nessa discussão pretensiosamente
filosófica, não há que se poupar outra idéia bastante profunda: o caminho se
faz caminhando, e as alegrias do caminho rumo ao que se deseja, que se sonha,
podem ser até maiores do que as alegrias da chegada, ou seja, talvez seja mais
prazerosa o trajeto de subida da montanha do que simplesmente estar no cume.
Então não fiquemos parados, caminhemos! Não nos
permitamos afundar na areia movediça da rotina e dos padrões fabricados e à nós
impostos de maneira sutil. Tomara que haja mais questões do que certezas, e que
sempre possamos nos permitir a autocrítica.
A comunicabilidade talvez seja a grande virtude e o
grande mal dos nossos tempos. As possibilidades que a vida virtual nos abre
podem nos estar fechando para o que é, de fato, importante. Podemos interagir
com colegas distantes, conhecer pessoas novas, e isso é bacana, mas não podemos
deixar passar a oportunidade de abraçar o amigo de perto. É legal e lícito
acessar atalhos e utilizar modelos prontos, mas isso não pode ser empecilho pra
que nós mesmos saibamos fazê-los. Não podemos confundir informação com
conhecimento.
Se pensarmos no nosso bairro, nossa cidade, nosso Estado,
no País, todos listaremos uma grande quantidade de problemas e de mudanças que
gostaríamos que acontecessem, correto? A lista de problemas é extensa e todos
nós; uns mais e outros menos; sabemos o que precisa ser mudado, mas o que não
podemos é acreditar que tudo está perdido, que não há solução e então não nos
comprometermos com mais nada. Não podemos ser egoístas à esse ponto, cruzar os
braços e simplesmente deixar rolar. Talvez o nosso maior desafio seja mudar a
idéia convencional de que ao votarmos escolhemos alguém para nos representar e
só poderemos nos manifestar novamente quatro anos depois. Não, o que precisamos
é construir instâncias para a maior participação, de modo que não decidam por
mim, mas comigo.
Que nós nos comprometamos com o ideal transformador à partir
de ações práticas. Está certo que o Governo Municipal, Estadual ou Federal pode
não ser aquele que mais nos agrada e também não é mentira que podemos fazer
muito pouco individualmente diante da força do grande capital. Mas tal fato não
pode ser motivo para nos fazer encurvar ao senso comum, às falsas informações
das redes sociais e às mídias convencionais tendenciosas.
Nelson Rodrigues foi categórico ao afirmar que "quem
pensa com a maioria não precisa pensar". Portanto, não compre idéias
prontas, vamos vestir a camisa do otimismo e do compromisso com nossos ideais, vamos
deixar os ‘tomara’ de lado e começar a mudança que tanto queremos ver. Será que
um dia nos livraremos de tantos ‘tomara’? Sinceramente: tomara!
Roberto Rodrigues
Economista, Especialista em Economia Social e do Trabalho, Mestrando em
Desenvolvimento Econômico junto ao Instituto de Economia da UNICAMP, Professor
do ISCA Faculdades e Economista Associado à LMX Investimentos.
rodriguesrobertto@yahoo.com.br
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