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segunda-feira, 14 de julho de 2014

O que aprendemos com a Copa do Mundo do Brasil?


Quero iniciar essa breve reflexão, fazendo uma pequena análise sobre as manifestações de junho de 2013, que tem tudo a ver com o resultado da Copa, com o fracasso da seleção e com o desejo incondicional do PIG.

Apesar de aquelas manifestações terem nascido de uma reivindicação justa do Movimento Passe Livre, tomaram outro rumo a partir da violência policial em São Paulo e deram contorno por algum tempo, com a manipulação explicita dos meios de comunicação.

Em regras gerais, na essência do movimento estava a revolta da população, em especial dos jovens, contra a onda de corrupção que assola o país e o desprezo contra a política e os políticos, potencializado pela mídia que generaliza a situação, na medida em que vende a falsa ideia de que todos os políticos são ladrões ou ainda que a política seja uma coisa do mal.

Vários estudiosos escreveram sobre o assunto, principalmente sobre quem era os personagens das ruas, o que de fato buscavam e quem os tentou manipulá-los.

O que ficou evidente foi que o PIG – Partido da Imprensa Golpista (Termo usado para definir os 75% dos meios de comunicação: Rádios, TVs, Jornais e Revistas, pertencentes a seis famílias abastada, que fazem opção clara por partidos direitosos e seus candidatos e se colocam no período eleitoral contra qualquer candidato que represente algum partido mais à esquerda, principalmente o Partido dos Trabalhadores, ou ainda contra qualquer ação ou Política Pública que represente benefícios ou inclusão das pessoas menos favorecidas), enxergou nas manifestações uma grande possibilidade de passar a imagem de que o Brasil de Dilma e do PT estava um caos e as manifestações eram contra Dilma e, portanto pedindo mudanças radicais nas próximas eleições.

As próprias manifestações desmoralizaram essa imprensa, ao deixar claro que a luta era contra a corrução, que infelizmente atinge todos os partidos, principalmente pelo alto custo das campanhas eleitorais e alguns gestores que transformam sua gestão numa grande oportunidade de se dar bem financeiramente e não contra o Governo Federal.

A saga do PIG visando às próximas eleições vai longe. Nos últimos três meses ele se concentrou seus esforços, contra a Copa do Mundo, vendendo a ideia de que o país não estava preparado, de que havia gasto muito dinheiro e que esse poderia ter ido para a educação e para a saúde (como se os seus governantes ou gestores, tivessem feito a lição de casa em tempos anteriores ou na atualidade em inúmeros municípios ou estados), de que a infraestrutura não ia dar conta, de que era trágica a situação dos aeroportos, de que os estádios não iam ficar prontos e tantas outras coisas que confundiam a cabeça do povo e alimentava o ódio dos “coxinhas”. O PIG enxergou que se a Copa fosse um fracasso, seria uma ótima oportunidade para afirmar que o Governo Federal teria fracassado.

Todos os dias esses assuntos eram pautas dos principais jornais televisivos ou radiofônicos e programas diversos, jornais impressos, sites dos mais diversos e semanalmente em suas revistas, principalmente na inVeja ou na Isto É, passando a visão de que o Brasil não estava preparado para um evento como esse. Cansei de ouvir em minhas viagens para os cursos da Fundação Perseu Abramo, os chamados “Coxinhas” vociferarem: “Imagina esse aeroporto na Copa. Não vai aguentar, vais ser um caos. É um absurdo!”. O ápice dessa calhordisse ocorreu na abertura da Copa, quando a nossa Presidenta foi xingada de  forma vil.

Foi necessário que a imprensa mundial afirmasse que a Copa do Mundo do Brasil foi um sucesso para que o PIG embarcasse nessa onda, pelo simples fato de não ficar sozinha e passar a reconhecer que o Brasil recebeu bem seus convidados, que não aconteceu o caos que pregara, que não aconteceram as manifestações que queriam, etc. Uma verdadeira desmoralização para uma imprensa que está longe de ser livre dela mesma e que morre de medo de ser controlada por um Conselho Nacional de Comunicação.

Agora a bola da vez é a Seleção Brasileira. As duas derrotas renderão comentários negativos por muito tempo, pelo menos nos próximos noventa dias, que não por acaso chegará até as eleições.

Entrando num campo que não e de meu total conhecimento, porém como torcedor, arrisco-me a enumerar alguns palpites sobre o que está sendo chamado de fracasso:

1.  O mercado futebolístico brasileiro necessita de uma grande reforma, que vai desde a transformação dos clubes brasileiros em empresas, onde todos os jogadores, independentes de suas famas, tenham seus direitos como trabalhadores, passando pela valorização e chegando à formação de base que teria que ser obrigatória em todos os clubes.

2. Se de fato a CBF – Confederação Brasileira de Futebol representa o país em suas modalidades, se faz necessário uma composição de forças com o Governo Federal, talvez para evitar que apenas o mercado seja o protagonista, inclusive impondo condições aos próprios jogadores, através de seus patrocinadores.

3. É impossível a Seleção Brasileira de Futebol ter um pleno sucesso, sem base, sem regras e sem um projeto consistente, como vimos em outras seleções, que acumularam vários anos de trabalho com o mesmo técnico e com um grande trabalho de base. Além disso, se torna impossível manter uma base no Brasil, onde um mercado predatório destina as melhores condições para o exterior e nossos melhores jogadores vão e absorvem vários ensinamentos, que na prática vira uma grande “salada”, a ser digerida em tão pouco tempo de preparação.

Vimos na seleção campeã, que a maioria dos jogadores está em clubes na Alemanha e o técnico vem de várias temporadas.

A grande lição que a Copa nos deixou foi em primeiro lugar, que a Copa do Mundo no Brasil foi um sucesso, em várias áreas, em segundo que a mídia golpista foi desmoralizada e que nenhuma das pragas que jogaram contra o Governo Federal vingou e em terceiro, que o futebol brasileiro necessita de uma grande reforma, de moralização, de trabalho de base e principalmente de criação de um projeto que analise o passado, aprenda com o presente e se prepare para o futuro. 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

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