Ao
caminharmos pelas veredas da vida o que se busca em sua essência é uma pausa na
agitação do dia a dia, ainda mais num ano tão atípico como esse que termina de
forma tão desigual, aonde o que sobrou a comemorar é só o fato de continuarmos
vivos e bem, vivermos alguns momentos felizes com amigos e amigas e termos alguém
que se importe de verdade conosco hoje, amanhã e depois de amanhã quando a
velhice chegar, que não é nada fácil nem simples.
No
meio disso tudo uma pequena e aconchegante cidade chamada Montenegro no Rio
Grande do Sul, onde no passado era habitada pelos índios Ibiraiaras, dizimados
pelos bandeirantes paulistas, entre eles Raposo Tavares. Um bando de
aventureiros com a função principal de matar índios e se apoderarem das terras,
do ouro e de outras riquezas que encontravam pelo caminho. Muitos ainda hoje
tratados como heróis por parte da história oficial.
Uma
tarde de sol. Um pequeno passeio de uma viagem construída sem ser programada e
o convívio com pessoas a espera de uma nova vida. Diante de nós um belo cenário
à beira do Rio Caí, composto por pescadores, vegetação densa e uma orla
convidativa para uma longa caminhada sem compromisso.
Fazendo
parte do cenário um paredão de proteção para uma das margens do rio e nele,
numa das frestas, nascera uma planta que se tornara uma pequena árvore e que
crescia lentamente, meio sem sustentação. De repente um pequeno pássaro pousa
em um de seus galhos e de forma inusitada a árvore se parte ao meio nos
deixando a perguntar o que teria provocado àquela cena que jamais imaginávamos observar.
Naquele momento, seja por destino, por acaso, ou mesmo por um descuido da
natureza, algo aconteceu na vida daquela planta, que só a própria natureza seria
ou será capaz de explicar.
O
que pensar diante de algo tão raro? Ao voltarmos ao post anterior, defendo que
há uma simetria perfeita entra a vida das plantas e de nós humanos que vivemos
com sentimentos e emoções e de repente ora somos gente, ora somos plantas no
jardim de alguém. Parece ser o ciclo natural da natureza humana misturada ao
ato de sonhar, resultando na composição da própria vida, que respira no dia a
dia, o ar das nossas escolhas, decisões e incertezas.
Ouvi
de uma leitora assídua que de forma até irritante eu me conservo esperançoso
por uma vida melhor e por uma sociedade justa, fraterna e igualitária para
todos e todas. Porém, o que seria das nossas vidas se não fosse o ato de
esperançar, de viver de sonhos que alimentam nossas utopias? Creio que seríamos
bem pouco e deixaríamos quase nada enquanto história de vida. Vivemos a
desafiar a natureza, de criar o imprevisível, de escrever poemas ao compor uma
vida juntos e de ir à busca de uma leve brisa quando o tempo fecha e nos põe em
reflexão. Isso é humanizar as relações do viver.
Quem
sabe o fenômeno ocorrido naquela planta tenha vindo para nos dizer muitas
coisas, entre elas que é preciso amor verdadeiro e amar de forma incondicional,
onde o cuidar é a seiva da planta que somos e buscamos na natureza o
complemento do que gostaríamos de ser diante da nossa incompletude. Ninguém é
tão completo(a) que não necessite de acabamentos.
Uma
coisa é certa. Nem a árvore está morta, necessitando apenas de alguns cuidados,
nem nós seremos os mesmos ou as mesmas amanhã quando acordarmos. Vale
lembrarmos que ora somos o jardim no coração de alguém e ora somos apenas
sementes que requer plantar, adubar a terra, regar todos os dias e sentirmos os
frutos crescendo como resultado de toda nossa dedicação.
Que
o ano que se aproxima nos possibilite cuidarmos dos nossos jardins com mais
carinho e termos a capacidade de nos emocionar a cada flor que nascer para a vida.
Jardinar a vida é um ato de coragem e de puro amor pelo próximo.
Antonio
Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão social
Aqueles de nós que sabem a necessidade de mudança farão isso. Queria que, como no pós guerra, as pessoas se mexessem em busca de um bem maior. Isso salvaria a árvore e as vidas
ResponderExcluirOlá minha amiga Rita. Tens razão.
ResponderExcluirÉ algo difícil, mas não impossível.
Grato pela leitura e comentário.