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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Uma caixinha chamada utopia



Com uma grande contribuição de Paulo Freire, aprendi desde cedo que a utopia nos move em direção dos nossos sonhos e desejos de viver bem. Pode até ser um viver do faz-de-conta, mas o importante é sabermos que a utopia cabe perfeitamente em qualquer tipo de sonho e também em qualquer tipo de coração, até naqueles que parecem ser de pedra, desde que seja algo que faça nosso corpo estremecer e nossa alma pedir para que a vida seja longa, só pelo prazer de por ela lutar.

Porém, como tentar explicar a utopia de forma simples e sem a necessidade de um conceito mais acabado ou recorrer à filosofia para possíveis explicações que unam a realidade presente a um impossível ideal futuro?

Do ponto de vista popular, utopia poderá ser interpretada como algo abstrato, longe de ser realizado e com referência mais no campo pessoal do que no coletivo. A partir dessa premissa, utopia perpassa o campo dos sonhos possíveis e se envereda no campo das fantasias. Daquelas que imaginamos nas noites e nos dias que estamos em busca do êxtase para viver.

Do ponto de vista etimológico, utopia vem do grego "ou+topos" e se refere a “não lugar”. Algo que não existe do ponto de vista real, só no imaginário.

Para o filósofo Michel Foucault, buscando uma possível caracterização, utopia seria um ideal de sociedade futura. Algo irreal a partir de um pensamento real.

Para Mateus Bunde do site Todo Estudo (www.todoestudo.com.br/historia/utopia), "a utopia pode ser referida, sim, como algo irreal. No entanto, ela parte muito mais do princípio hipotético do ideal, do que propriamente do irreal". Caso não se acreditasse ser possível acontecer, ninguém lutaria por algo inexistente ou surreal. Nem que seja nas ilusões ou a partir das crenças, a utopia ganha vida todos os dias pelo mundo afora.

Ao buscar uma forma de afirmar esse pensamento, me deparo com o amor verdadeiro, duradouro e perfeitamente correspondido. Ele existe? Para milhares de pessoas isso não passa de algo utópico e totalmente inexistente ou temporariamente existente. Nessa mesma linha o que pensar de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas? Duas formas de exercitar a utopia. Um na busca do amar a dois por identidade e na outra da construção de uma utópica sociedade ideal. Algo tão simples e tão complexo ao mesmo tempo, que nem o tempo foi capaz de ajustar.

Porém, o que nos chama a atenção, é que apesar das duas formas utópicas de convivência humana, para um grande setor da humanidade, há quem busque a vida toda, tanto por um grande amor que emudeça quem o vive, como pelas mudanças efetivas da sociedade, que acabe com a desigualdade e se torne numa vida justamente humana. Isso não é incrível?

A partir dessa leitura da vida, o que move a utopia? O que nos faz transferir sentimentos e emoções para um futuro incerto, se não for à esperança de que o que é utópico hoje possa ser real amanhã? Nesse ritmo precisamos de uma boa dose de utopia misturada com uma alta dose de fantasia. Utopia e fantasia juntas pode-nos levar ao Olimpo, mesmo numa manhã onde o sol tem preguiça de sair para dar o ar da graça ou que as angústias da vida tentam roubar nossos sonhos.

Em particular, minha utopia vai em direção ao sol, invade mentes e corações e chega para contemplar um belo arco-íris depois de uma tremenda tempestade. Nela quero brincar de faz de conta. Quero a luz da manhã como guia. Quero voltar à beira mar, andar descalço pelas areias meio sem direção e se o tempo colaborar ir por trás daquele monte ver o por do sol.

Não quero fadas e nem duendes no meu caminho tentando me iludir. Quero um ser de verdade, com muita luz, que cante, chore, abrace e beije em dias de todas as luas e que me diga bem baixinho que quer ir comigo ver o por do sol.

Guardo na minha caixinha chamada utopia, sonhos inacabados, rostos da multidão, passos rumo ao infinito, lindas paisagens vistas em sonhos e uma vontade imensa de ser um beija-flor para contemplar aquela teimosa flor que se esconde no meio daquele jardim.

Sonho ainda com as fantasias que me levem ao encontro daquela estrela que insiste em andar sozinha pela imensidão do universo. Quer algo mais utópico que isso?

Utopio-me para viver. Utopia para seguir estrada afora e até utópico posso continuar a ser, mas jamais será distante da minha esperança de chegar próximo ao lúmen das estrelas.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

2 comentários:

  1. Esta caixinha do faz-de-conta se tornou uma realidade persuasiva, para que estejamos incluídos na modernidade. As redes sociais estão cada vez mais fartas de perfis infestados de irrealidades entorpecidas e elaboradas para se parecerem com a verdade. As pessoas tem se escondido por trás de opiniões alheias, de ideias espúrios, e falsidades sem limites. O ser, o estar, o haver, não tem mais valor... apenas 'O TER', o acumular, o ostentar.... à que caminhos futuros a modernidade nos levará???? JÁ QUE TUDO É UTOPIA, E DAS GRANDES???

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  2. Muito bem meu grande amigo. Tudo vitou uma utopis.

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