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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Ontem sonhei com uma sociedade se reinventando de baixo para cima...

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A frase do título vem de uma das respostas de Paulo Freire no livro “Essa escola chamada vida”. Uma entrevista feita pelo Jornalista Ricardo Kotscho com Frei Beto e Paulo Freire. Uma verdadeira obra prima. Algo tão belo que ao ler o livro nos remete a uma reflexão permanente sobre a vida e sobre qual é a nossa missão em vida e o quanto estamos comprometidos com ela.

A utopia de mudar essa sociedade de desiguais, de injustiças e violência, para uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, acaba se tornando uma missão de vida para quem dela se nutre e vai preenchendo nosso imaginário e nos fazendo mirar no futuro em busca de quem estará conosco. Diria até que serve em muitas situações como a razão das nossas existências.

Dizem os sábios que quando desejamos muito que algo aconteça e ela se encontra muito distante de acontecer, precisamos mirar no horizonte ao por do sol para buscarmos sinais e conversarmos com nosso imaginário na esperança de sonharmos ao dormir, como se estivéssemos em pleno estado do desejo. Enquanto isso os poetas sugerem que a cada “não” formemos um verso, para quando o “sim” chegar à poesia esteja pronta, ou quem sabe uma canção que fale de amor pela vida e transborde para quem caminha conosco.

Já os pensadores comprometidos com uma causa nos faz um alerta. Os sonhos, diferentes das fantasias que apenas nos levam ao abstrato e muitas vezes ao nada, requerem de nós compromissos para que possam ter a possibilidade de acontecerem. Além disso, como alimentar os sonhos se não for através das nossas utopias? Uma utopia não pode ser confundida com uma fantasia, pois nasce da esperança armazenada em nossos corações e nos vai levando vida afora até a última mensagem da nossa história de vida.  

Ao alimentar meus sonhos diários, desviando das minhas contradições, ontem à noite sonhei com uma nova sociedade. Uma sociedade onde o ódio não existia, nem pessoas perdidas por não saber quem são e o que vieram fazer em vida. Uma sociedade de iguais, alimentada por atos de amor, que é algo que está fora de moda. Fazer qualquer coisa sem amor, nem todo bicho faz, mas fazer com e por amor, só as pessoas especiais se dão a esse luxo.

Que sociedade é essa que tanto almejamos? Como pensar nela se uma grande parte da sociedade nem sabe o que estamos falando e outra parte luta contra o que pensamos? O que fazer em plenas trevas?  

Antes de qualquer pensamento ou ação abstrata, vale lembrar que mudar a sociedade, antes mesmo de ser um ato político e às vezes um ato revolucionário, é um ato de amor. Amor pela causa. Amor por quem não enxerga o outro lado da rua e amor pelo que ainda vai nascer. É um ato pela vida de milhares de pessoas e um pacto com a liberdade. Mudar a sociedade só nos importa se tivermos condições de pautar todo processo através da solidariedade, que na prática é a maior das ideologias.

Ser de esquerda e ser revolucionário ou revolucionária, não é somente fazer parte de um partido ou um grupo de esquerda e sim, se revolucionar, amar de forma radical, agir com sinceridade para mundo e criar condições das pessoas acreditarem que a verdadeira revolução começa no nosso universo, transborda para nossos meios e invade a sociedade com o que plantamos, regamos, ajudamos a crescer e virou parte dos sonhos que um dia acreditamos ser.

Revolucionar-se é antes de tudo ter a coragem de fazer uma catarse interior e por para fora tudo que é banal e assumir que somente a confiança, a verdade, a solidariedade, a lealdade e o amor, nos fazem gente de verdade.

Antonio Lopes Cordeiro(Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

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