Existe
nos bastidores do poder uma guerra invisível permanente pelo controle do país,
que a população menos informada ou menos participativa, jamais ficará sabendo,
pois continua ainda muito distante da maioria da população, o conhecimento do que
venha a ser esquerda e direita, ou ainda quem são os defensores dos projetos
sociais não assistencialistas e quem defende apenas o deus mercado em nome do
desenvolvimento. O que venha a ser direitos humanos, que nada tem com a defesa
de bandidos e aqueles que defendem a redução da maioridade penal, sem ao menos
defenderem uma política de recuperação dos presos, com uma medida, por exemplo,
dos mesmos trabalharem quando estão aprisionados.
Como
discutir desenvolvimento com a população, com a elite defendendo que só eles
podem estudar e serem empreendedores? Como dizer para os moradores da periferia
das grandes cidades que foi a elite e o desenvolvimento excludente que os
colocaram ali? Como alertá-los que os candidatos da elite não os representam?
É
nessa confusão terminológica e de valores, alimentada por uma mídia partidária
e golpista, que se estabelece o modelo de atuação política de parlamentares e
gestores e principalmente das gestões dos órgãos públicos. O modelo vigente é
aquele em que o mandato de um político pertence a ele mesmo e os gestores de um
órgão público transformam o espaço onde estão em “caixinhas de poder”, apenas
para resolverem seus problemas ou de seu grupo de atuação. O ódio da classe
dominante e da elite vem justamente da desconstrução dessa lógica, fazendo com
que a população exerça de fato o direito de participação e controle social para
todas as políticas públicas e para as ações de governo.
Vale
a pena ressaltar que é a indústria do poder que mantém a corrupção, numa
aliança entre o corruptor e o corrupto. Não é atoa que o ódio atual vem também
do fato de que agora, através da Lei 12.846/14 (Lei Anticorrupção), seja possível prender
corruptos e corruptores. Antes de qualquer discussão os eleitos deveriam vir à
público explicar quanto custou de fato suas campanhas.
O
Governo Federal está pagando caro pelo fato de não ter criado canais
alternativos de comunicação. Enquanto a ABRAÇO – Associação Brasileira de
Radiodifusão Comunitária tem como principal projeto dar voz ao povo, através
das Rádios e TVs Comunitárias, a ABERT – Associação Brasileira de Empresas de
Rádio e Televisão promove uma devassa para fechamento desses veículos
comunitários em nome da lei. Não estamos falando daquelas rádios e tvs disfarçados
de comunitárias, onde um dono se disfarça de ONG, mas daquelas nascidas e
administradas por uma entidade e um conselho democraticamente formado para
discussão da grade de programação. O espectro que é uma concessão pública
passou a ter dono e os canais comunitários foram tratados como subversivos perante
o poder econômico.
O
que se viu nos últimos vinte anos foram muitas prisões de equipamentos e
perseguição pela Polícia Federal aos instrumentos comunitários. É por essa e
por outras razões, que o país encontra-se refém de seis famílias abastadas, que
detém nada mais nada menos que 75% de todos os meios de comunicação. Trata-se
de um setor elitista que controla o que se fala, o que se vê e o que se lê,
induzindo as pessoas a odiarem o social e amarem o deus mercado, ou ainda
apoiarem descaradamente um candidato, como fez a Globo e demais canais de
comunicação com o Collor e recentemente com Marina e Aécio Neves nas últimas
eleições. Uma mídia partidária e que incentiva um golpe, como visto nas últimas
manifestações de 15 de março.
Não
há dúvidas que por conta disso e outras questões, como por exemplo, o medo de
uma mulher ser bem sucedida como presidenta, ou ainda o pavor da volta de Lula
em 2018, se passa a ideia de que o Brasil está dividido e, portanto resistente
a qualquer mudança que altere o processo da zona de conforto, que a classe
média e a elite conservadora desfrutaram até pouco tempo atrás.
Em
seu último texto, o teólogo Leonardo Boff chamava a atenção para o centro da
crise ao afirmar sem medo de errar, que a questão principal não é de ordem econômica
e sim política e social. As manifestações do último dia 15 não deixaram dúvidas.
Patricinhas e coxinhas de toda espécie coloriam o cenário com palavras de
ordens de pura intolerância, que se avizinhavam do que foi e é o fascismo. A
maioria da população não conhecia de perto essa parte do país. Esse não é o
país que queremos para nossos filhos e nossos netos. Um país onde apenas a
elite possa comer, estudar, trabalhar, ter um teto e principalmente desfrutar
das melhores coisas com o dinheiro sofrido, seja dos trabalhadores ou dos
contribuintes que pagam seus impostos em dia, enquanto a maioria deles sonega o
que pode. Isso tem que ser tratado também como corrupção.
As
manifestações da elite, como foram patrocinadas pelos canais de televisão e
alguns afortunados, tiveram o privilégio de ter transmissão ao vivo, bem
diferente do protesto do último dia 13, onde se contava gente apenas pelo foco
da câmera, enquanto que a do dia 15 se contava de helicóptero para dar uma
dimensão ampliada. Uma demonstração de que lado está essa mídia e de onde
sempre esteve sem contar o enredo de ódio contra o PT e contra a Dilma. Todos nós
sabemos que o alvo é acabar com o PT, com o governo Dilma e principalmente com
Lula pelo medo das próximas eleições.
Essa
turma não sabe perder. Aliás, não se conforma com a derrota nem da candidata do
Itaú e muito menos com a derrota do playboy do Leblon.
Leonardo
Boff, em seu texto “O que se esconde atrás do ódio ao PT I”, cita um trecho do
clássico do historiador José Honório Rodrigues: Conciliação
e Reforma no Brasil (1965), onde o mesmo diz com palavras que parecem
atuais:
“Os liberais no império, derrotados nas urnas e
afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes;
construíram uma concepção conspiratória da história que considerava
indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do
ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso
inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias” (p. 11).
Em
regras gerais, trata-se de um ódio de classe alicerçado na cultura da Casa
Grande, que considera grande parte da população brasileira como os herdeiros da
Senzala e encaram os projetos sociais como se fossem financiados pelo seu
dinheiro, na maioria dos casos ganho através da mais valia pela pura exploração
dos trabalhadores. Esse fato pode ser ilustrado pelas empreiteiras, que nunca
ganharam tanto dinheiro em suas vidas e muitas delas ainda mantém trabalhadores
em regime de escravidão.
Não
se pode generalizar, porém quem se pauta pelo PIG – Partido da Imprensa
Golpista, que atua como o quarto poder e que foi conivente com os golpes que a
democracia sofreu ao longo do tempo, não se pode esperar outra coisa senão a
possibilidade de um novo golpe.
A
sensação que ficou desde a última eleição é que aquele Brasil gentil e
hospitaleiro perdeu sua identidade e foi invadido por uma nação de zumbis racistas,
fundamentalistas, machistas e principalmente que odeiam os pobres, criados por
ação ou por omissão, dos alpendres da Casa Grande. Estamos caminhando para um
país desenvolvido ou estamos regredindo aos tempos do império?
Nesse momento que a mídia e a elite querem dividir o Brasil, também me sinto senzala e já fiz a minha opção. Na defesa do governo que incluiu mais de 40 milhões de brasileiros e tirou o país do mapa da fome da ONU, nos encontraremos nas ruas.
Assim,
só resta um caminho e uma palavra de ordem:
SENZALAS DO BRASIL UNI-VOS –
A LUTA MAL COMEÇOU!
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em gestão pública e social
tonicordeiro1608@gmail.com