Ao
olharmos o comportamento da sociedade brasileira, sem querer generalizar,
nota-se claramente que um herói, mesmo sendo de araque, ainda faz um grande sucesso.
É a partir dessa premissa que os personalistas de plantão fazem a festa.
Segundo
os especialistas, o personalismo é
uma filosofia que tem como maior ênfase conduzir o homem para sua realização
como pessoa, colocando-o acima de quaisquer instituições ou coletividade, pois
o ser humano com sua pessoalidade é único e peculiar e essa peculiaridade
impossibilita que todo o seu querer e as suas ânsias, estejam totalmente em
harmonia ou satisfeitos com as vontades, aspirações ou conquistas de uma
classe, grupo ou instituição.
Em outras palavras, o indivíduo personalista, não só não admite que as instituições, sejam elas quais forem, estejam acima dele, como também necessita constantemente de afago, fortes elogios e uma reverência continua.
É nesse cenário que nascem à maioria dos
candidatos a cargos eletivos na política brasileira. Primeiro afasta-se o povo,
com o argumento de que política não se discute ou ainda na versão atual midiática
golpista, o argumento de que todo político rouba e assim tanto faz como tanto
fez. Se votar é necessário e obrigatório vota-se em qualquer um, pois o
resultado será o mesmo e a seguir vem à figura da boa pessoa, que entendendo os
apelos da população, coloca seu tempo precioso a serviço dela. Não é uma
atitude maravilhosa e humanística?
Porem, em alguns casos chega a ser deprimente.
Em São Bernardo do Campo, por exemplo, cidade onde cresci, tinha um vereador
que perdi a conta de quantas vezes se elegeu com sua benevolência. Ele
simplesmente comprou uma ambulância e levava as pessoas necessitadas ao pronto
socorro e aos hospitais. Era só ligar. Não parece uma ideia genial? O que há de
errado nisso? O mais interessante é que seu filho seguiu a mesma carreira do
pai generoso.
Quem não conhece um político, seja de que cargo for que age dessa forma? Em muitos casos, pessoas que delapidam o patrimônio público, mas que fazem muitas obras e muitas benevolências. Uma pessoa tipo assim: Maluf.
Venho de uma cultura de resistência. De muita
luta pela liberdade e assim, aprendi com os clássicos, que se alguém quer fazer
com que a população seja beneficiada, coloque seu governo ou seu mandato a
serviço de uma causa e essa causa resulte na libertação das pessoas que
vivem de favores, mendicância ou excluídas do processo econômico e social.
O que não falta são recursos e projetos nacionais para isso.
O político personalista benevolente necessita
se perpetuar no poder e para isso não medirá esforços nem práticas espúrias.
Quanto mais fazem pelo povo, mais o povo pobre o venera como o salvador da
pátria. Em muitos casos, as Emendas Parlamentares contribuem muito para essa
prática. Com isso, não respeitam as entidades representativas, os conselhos
municipais, impedindo-os que se tornem consultivos e deliberativos e não querem
a participação da sociedade nas decisões, para que não interfiram em sua
conduta ou o rumo que traçou para si e para seu grupo.
A democracia plena, aquela que nasce das bases
é ferida brutalmente a cada ação personalista e ao eleger pessoas que promovem
o distanciamento do direito à participação e de controle social.
Quem nunca ouviu a seguinte frase: “As pessoas
são chamadas, mas não querem participar”. Será? Por acaso foram chamadas para o
processo de construção desse governo ou mandato? Conseguem entender seus
direitos? Se não estão preparadas porque não preparam?
Para desconstruir essa lógica perversa só tem
três caminhos: o primeiro sem briga, onde o indivíduo entra no processo sem
reclamar e se fingindo que não sabe pensar, pois quem pensa logo age e é
combatido ou se organiza e luta pelos seus direitos. Uma terceira opção que é a
mais comum é o abandono completo de todo processo, com o argumento de que todos
as chegarem ao poder são iguais e se fizerem alguma coisa é lucro.
Como dizia Paulo Freire:
“Precisamos construir uma nova cultura política de natureza democrática” e
transformar essa cultura numa possibilidade do surgimento de novas lideranças,
que irão representar, a partir da delegação coletiva, as necessidades e os
sonhos da população e em especial da que mais necessita e ainda se encontra
excluída da sociedade.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com