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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A democracia está em crise?


De que democracia estamos falando? Qual a real diferença política entre a representatividade e participação? As duas caminham juntas?

Em tão pouco espaço, não tenho a pretensão de responder na íntegra essas perguntas, até mesmo porque se trata de um debate de cunho ideológico, repleto de desvios construídos na disputa do poder, porém, é importante ressaltar alguns aspectos contidos nessas perguntas, que construíram a história do passado e interferem diretamente na história presente.  

John Gaventa, ao escrever o Prefácio do Livro Participação e Deliberação, afirma: “No mundo todo estão surgindo novos debates sobre como revitalizar e aprofundar a democracia”. Segundo ele existe um “déficit democrático” ou uma “perda de vitalidade” da democracia: “Os cidadãos estão se distanciando das instituições representativas tradicionais, à medida que grupos de interesse ganham controle sobre as instituições e que a participação passa a ser impulsionada mais pela lógica do consumo do que por uma postura ativa de cidadania”.

O autor explica em seu texto que tanto a deliberação quanto a participação estão sendo usadas por um espectro de atores muito diversos, com objetivos também muito diversos e que isso traz implicações radicalmente diferentes na agenda democrática.

Segundo ele, para alguns, a visão democrática é aquela que privilegia menos governo (tese neoliberal do Estado mínimo), impulsionada pela perspectiva neoliberal da eficiência e da austeridade e para outros, trata-se de utilizar novos espaços democráticos e oportunidades e promover uma ampla transformação social.

Em regras gerais, o que está em jogo é que tipo de sociedade estamos construindo e que sociedade queremos para o futuro e no centro dessa análise está metade da população mundial que ainda se encontra fora das estatísticas econômicas e de desenvolvimento. 

Partindo do pressuposto que ainda é um tabu estabelecer um processo de governância, citado por Yehezkel Dror, como sendo o ato de governar a várias mãos, qualquer iniciativa de governo que se transforme numa ferramenta com resultados concretos, que trabalhe a fundo tanto a participação como a deliberação como uma ação do próprio governo, passa a ter uma importância significativa, tanto do ponto de vista da gestão como principalmente pelos resultados políticos obtidos a partir da experiência, porém para que isso ocorra é necessário cumplicidade e compromissos claros das pessoas envolvidas com o projeto em construção.

Nem estou me referindo aos Conselhos Municipais, que não vejo o menor sentido de serem apenas consultivos, mas da construção do que chamamos da Arquitetura da Participação, com todas suas ferramentas: fóruns, conferências, encontros e outros.

Assim sendo, trabalhar de forma participativa e com transparência, requer antes de qualquer coisa, mudanças de postura do gestor com relação ao poder e principalmente em relação à forma de administrar uma instancia de poder, porém isso só é possível se o projeto que está em sua mente como meta de vida não for individual e sim coletiva, construída a várias mãos.
           
A democracia não pode servir de pretexto para punir de forma injusta ou privilegiar quem quer que seja, ferindo o direito da maioria.

A partir da cultura individualista concebida numa sociedade capitalista e de consumo, por onde todos os serem humanos passam desde seu nascimento até sua vida adulta, o ato de sair do individual para o coletivo, onde se abandonem às posições pessoais e se valorizem as posições coletivas, requer uma postura humanista e, sobretudo política, se sobrepondo a qualquer situação que vise à valorização do indivíduo ante a necessidade da população e em especial a que mais necessita e isso possa resultar na inclusão dessas pessoas e no resgate coletivo do direito à cidadania, visando à construção de uma sociedade justa e igual para todos e todas.

A experiência de um trabalho em grupo só faz sentido para quem está preparado a mudar se necessário e fazer a defesa de sua proposta como mais uma apresentada e não como soberana, pois a verdade de cada um ou de cada grupo representa o somatório dos diversos pensamentos e nesse somatório está contido: interesses, desejos, vínculos afetivos e posições ideológicas e o que poderá unificar esses pensamentos e materializá-los é a construção de forma coletiva e ideológica do projeto central, aliado ao compromisso de cada um em fazer esse projeto dar certo.

Não é que a democracia esteja em crise, mas em constante ebulição, acometida pelas investidas das forças conservadoras e reacionárias, através de seus representantes legais ou não. Para isso, tem a velha imprensa golpista e todo aparato ideológico, que às vezes está presente num determinado personagem numa simples novela.

O sonho de Paulo Freire era ver uma sociedade reinventando-se de baixo para cima, onde as massas populares tivessem na verdade o direito de ter voz e não o dever apenas de escutar. Assim como ele acredito que isso seja possível e em experiências como a de Artur Nogueira com o Grupo Gestor de Integração e Planejamento e principalmente com a de hoje, levando conhecimento e um forte debate nas diversas regiões do país, estamos plantando uma semente e se essa semente for bem cuidada, num futuro próximo o “Compromisso com o Futuro” será uma tarefa de todos e a geração futura poderá dizer que na história de qualquer cidade, que teve um governo que teve a coragem de reinventar o próprio ato de governar. Assim foi Artur Nogueira.

Mais vale uma verdade, mesmo que tenha que ser contada mil vezes ao dia, do que a teoria da conspiração, que ronda e invade as cabeças das pessoas que vagam perdidas.


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