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domingo, 24 de novembro de 2013

O ato de governar é um meio ou é um fim?


No Curso Plano de Governo e Ações para Governar que realizamos na cidade de Matão/SP, com vários gestores de diversas localidades, fizemos uma ampla reflexão sobre ato de governar e o tema que mais chamou a atenção dos participantes está relacionado ao objetivo estratégico de quem governa.

Os gestores encaram o ato de governar como um meio ou como um fim? Não nos parece algo simples de se responder? Porém, o próprio debate foi esclarecendo que por trás da intensão de governar existem várias questões: culturais, pessoais e principalmente ideológicas, que se não forem trabalhadas, com o objetivo da construção de uma nova forma de governar, tornará qualquer governo num fim em si mesmo.

Vamos iniciar essa conversa afirmando a necessidade de entendimento de que no ato de governar existirão sempre, pelo menos, dois caminhos a serem trilhados.

O primeiro caracterizado pelos gestores que governam como algo pessoal, numa clara evidência e demonstração de uma ação individual do gestor, atendendo aos anseios de sua vaidade ou de seus interesses, que se assim for requer uma verticalização na forma de governar, para não se correr o risco da interpretação, seja por quem for, de que qualquer ação de governar não tenha partido de sua vontade e principalmente da sua forma de governar.

O segundo caminho, muito mais complicado, requer ações compartilhadas desde o início, já na formulação da escolha da equipe que conduzirá o processo eleitoral, passando pelo método na formulação do Plano de Governo, na escolha das mentes centrais de governo e principalmente na relação interna e externa na condução do governo.

Outra questão que podemos eleger como imprescindível no ato de governar e que terá reflexos contínuos, não só no modelo de gestão, mas principalmente no comportamento dos gestores, é sabermos se o governo foi concebido a partir de questões programáticas ou mercantilistas, pois se o objetivo for continuar governando a qualquer custo, justifica-se o lobista para trazer projetos rápidos, caixa dois para as campanhas futuras e liberdade total para os aliados, mesmo que cada setor de governo se transforme em “caixinhas de poder” instransponíveis.

Algumas conclusões que chegamos após o debate estabelecido, que merecem ser socializadas:

1. Muitos governantes centralizam a gestão em suas mãos por medo de perderem o controle e passam a confiar, ou apenas neles próprios ou em um gestor de sua relação pessoal ou ainda no Núcleo de Governo, o que faz com que os escolhidos se sintam com mais capacidade e principalmente poder dos demais e os demais se sintam constrangidos diante dessa situação.

2. Quem governa acreditando que o ato de governar é um fim, não tem tempo de ouvir a população e demais gestores, técnicos e servidores, pois a preocupação maior será a de mostrar sua “sabedoria” ou força de governar, tendo como foco principal apenas a reeleição ou a sucessão quando for o caso e entendendo a organização popular e social, como um enfrentamento aos seus anseios.

3. Governar tendo o ato de governar como meio, significa principalmente entender que o gestor principal e de mais gestores estarão usando o espaço de governo como elemento fundamental para preparação da sociedade para grandes mudanças. Nesse sentido, nem precisa brigar para que um Conselho Municipal seja deliberativo, para que sejam realizados diversos encontros com a população, como: seminários, conferências, cursos de formação técnica e tantos outros, assim como a preparação dos setores específicos e suas Políticas Públicas, através de seus Fóruns específicos, como: mulher, juventude, pessoas com deficiências, pessoas idosas, igualda racial e outros.

4. Só será possível se falar em integração de governo, ou seja, a necessidade da transversalidade das Políticas Públicas e das Ações de Governo, se o gestor principal entender o ato de governar como meio, conceber seu governo com bases programáticas, desautorizar que seus gestores governem para eles próprios e faça da sua gestão uma possibilidade de militância ativa e contínua.

Após esse diagnóstico, algumas perguntas geraram novos debates que complementaram o assunto principal desse post:

1. Fazendo dessa forma, ou seja, governando com a população, necessita de tantos recursos para uma eleição?
2. Os gestores estão preparados para governar com o povo?
3. Porque temem conselhos municipais deliberativos?
4. O povo está preparado para fazer parte da gestão e se não tiver qual deve ser a tarefa dos governantes?
5. De que governantes estamos falando: o que enxerga o ato de governar como meio ou como fim?
6. Os gestores estão preparados para uma gestão do futuro? De que futuro estamos falando?
6. Que sociedade temos e que sociedade queremos?

De forma simples e objetiva a afirmação que se tornou relevante no debate foi a de que quem enxerga o ato de governar como fim, mesmo tendo sido eleito por um partido de esquerda ou do campo da esquerda, não tem compromissos de organização com os diversos setores excluídos do processo de governança, entendendo a organização como empoderamento de seus atores, nem mesmo com os funcionários públicos e seus pares, principalmente por medo de enfrentamento e consequente apropriação dos valores contidos em cada setor do governo e no ato de governar por quem entende o processo.

Governar sob o ponto de vista politico e ideológico visando à construção de outro tipo de sociedade: justa, fraterna e igual para todos, requer postura política, decisão de enfrentar as forças conservadoras e reacionárias, preparação contínua dos setores organizados da sociedade e compreensão plena de que nada será doado para a população excluída e sim conquistado, até porque trata-se de direitos e não de benevolência.


Já dizia Confucio: Um governo é bom quando faz felizes os que sob ele vivem e atrai os que vivem longe.

Um comentário:

  1. Caro Toni, primeiro parabéns pelo texto. Bem alinhado com a proposta que a gente vem discutindo nos últimos períodos.

    Entendo, que questionar se a prática de governar é um meio ou um fim? É uma pergunta central para nortear muitos governantes, com destaque aos governantes de esquerda e compromissados com as causas populares e transformações progressistas.

    Tenho convicção que governar é um meio. Um meio e instrumento para transformar a vida da população com desenvolvimento e qualidade. Com protagonismo e emancipação real do povo.

    Iniciativas como plenárias nos bairros e com os diferentes segmentos, Orçamento Participativo (OP), conferências, entre outras... são essências na busca do diálogo e participação da população.

    Além dos canais de participação, os canais de diálogo também devem ser eficientes e inclusivos, levando em consideração deficientes auditivos e visuais.

    Outro ponto, são as chamadas "Escolas de Governo" dentro da estrutura administrativa. Tal pasta não deve ser encarada enquanto gasto, mas sim investimento. Pois possibilita intersetorialidade e alinhamento entre as áreas e diversos atores que compõe o governo, desde o governante eleito, assessoria, servidores públicos, prestadores de serviços e estagiários.

    Aproveito para citar um caso pontual que vai na contramão da lógica de nosso debate e propósito. É o caso da cidade de Franca/SP que o poder executivo estabeleceu um acordo bilateral com os tubarões do transporte com uma série de irregularidades que deixam o contribuinte refém de um desserviço e às margens da discussão deste processo.

    Aproveito para desejar êxito com este blog! Que este espaço tenha cada vez maior alcance e conquiste corações e mentes e conscientize na plataforma de se governar dentro das perspectivas democráticas e popular.

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