É
cantada em versos e prosas que a máquina pública é uma bagunça generalizada,
composta por pessoas que ganham sem trabalhar. Além disso, pessoas atendendo a população
de mau humor, funcionários mal remunerados e fingindo que trabalham e os
governos que entram com a fama de que usam a máquina para se beneficiarem e
também beneficiarem os parceiros que os financiaram nas campanhas eleitorais,
como uma forma de compensação.
O
que é verídico dessa situação? A população não culpa nessa história? Na parte
que for verdade, quem são os responsáveis?
Vamos
iniciar essa conversa repudiando o que nos impuseram com a cultura popular de
que política não se discute. É uma frase forjada por quem não queria que a
população se aproximasse do poder e por quem sempre teve a visão de que a população
precisa de um líder, ou mesmo de um representante para conduzi-la.
Esse
aprendizado ficou no imaginário das pessoas e transformou a política em algo indecifrável
ou ainda em algo ruim, como a mídia quer provar diariamente nos dias de hoje,
transformando a corrupção, que é algo inerente ao próprio processo de
distanciamento do povo da política, ou seja, falta de transparência, em algo
que envolve a todos que lá estão, ou ainda o fato dos maus políticos em
atividade serem consequência do povo não saber votar. É como se tudo isso
tivesse resultado numa verdade absoluta e, portanto, bom mesmo seria a volta da
ditadura, pois o povo, além de não sabe conviver com a democracia, as eleições de
nada valem, pois a política está repleta de ladrões.
É
importante ressaltar que essa cultura do caos na política só interessa ao setor
econômico dominante e seus aliados, tornando a situação em algo extremamente
favorável à promiscuidade. Assim, a falta de informação, formação e capacitação
tornam-se armas poderosas para o desinteresse da política e a manutenção de quem
dela se beneficia. Não é atoa que a academia nunca deu bola para esse setor e
só está dando agora, porque de repente descobriu que pode ganhar muito
dinheiro. O caos só interessa a que descobriu que vender dificuldades para
colher facilidades é um dos negócios mais lucrativos.
Além
disso, é fato que uma coisa leva a outra e o abandono, tanto da política, como
também da máquina pública, só pode produzir essa qualidade de políticos,
gestores e de funcionários públicos sem a menor perspectiva profissional e
financeira e assim reagem com a precarização dos serviços para a população,
apesar de também fazer parte dela.
Para
as pessoas de bem e bem intencionadas, seja na política, na gestão, na máquina
pública ou mesmo na sociedade, a reação natural é de revolta e com toda a
razão, sendo que essa revolta, em grande escala não nasceu da procura, da
investigação, da participação e por consequência saber separar o joio do trigo,
mas insuflada por uma mídia viciada, com múltiplos interesses e comandada pelos
seus donos que são ligados às pessoas que lucram com esse estado das coisas.
Infelizmente
é fato que inúmeras máquinas e gestões públicas e inúmeros políticos são assim,
mas também é verdade que há outro Brasil Político se movimentando, com milhares
de pessoas se capacitando, inúmeros gestores envolvendo a população no processo
de governança e muita gente descobrindo o gosto de participar da boa política.
O Presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann tem defendido a ideia
de que foi a política, ou seja, a boa política, que salvou o país nos últimos
dez anos, não só das amarras do FMI e outros agentes, como também do processo
de inclusão que deu vida novamente a milhares de pessoas.
Como
estudiosos, mas principalmente como militantes políticos e de uma causa
humanitária, o que a fazer? Entrar no processo seja expurgando os falsos
líderes que enxergam as pessoas desprovidas de conhecimento como “garrafinhas”,
que poderão ser trocadas na hora do voto como se fossem mercadorias, ocupando o
espaço seja aonde for, investindo na formação e capacitação em todos os setores
da sociedade e principalmente preparando a população para participar de forma
consciente do processo político, que envolve o presente e principalmente seu
futuro.
Não
há ninguém que possa fazer por alguém, o que fato essa necessite, sem ao menos lhe
perguntar se é isso que resolverá. Assim, não acredite em quem vende o paraíso,
principalmente porque o paraíso não pertence a quem quer lhe vender.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo