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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O que você consegue enxergar pela janela da vida?


Você já parou para pensar porque há uma pressa exagerada no seio da sociedade? Para onde vão? O que buscam? É bem provável que nem mesmo as pessoas de quem estamos falando, saibam por que andam tão apressadas.

Quando olhamos atentamente para o movimento de uma rua movimentada numa grande cidade, a impressão que dá é que toda aquela multidão age como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Não dá tempo sequer de olhar no rosto da pessoa que passa ao lado. Pessoas anônimas buscando o que lhes interessa ou simplesmente vagando presas em seus pensamentos. E a vida? A vida para quem não tem um projeto pessoas de vida vai passando pelas pessoas e elas pela vida.

Quando estava na faculdade fazendo meu curso de graduação em estatística, um dos trabalhos que escolhi para fazer junto com outras pessoas, foi o de procurar na noite, nas baladas da vida, o que as pessoas buscavam além do lazer imediato. Fiquei surpreso com o resultado, pois jamais imaginava que naquela multidão de risos, abraços e de completa alegria, havia um universo de sinais contraditórios. A maioria das pessoas que meu grupo entrevistou, eram ou estavam solitárias, apesar de sempre aparecer rodeadas de pessoas. Havia uma tristeza no ar, que pela pressa nem dava tempo de se descobrir. Muitas daquelas pessoas buscavam na noite o que não encontravam em seu dia a dia.

A partir dessa visão de vida e mundo, dá para imaginar o quanto as pessoas comuns transferem de seus sonhos para seus líderes, heróis ou ídolos? Simplesmente vão ao limite emocional, onde sonhos e fantasias se misturam, amor e ódio caminham sempre lado a lado. Em determinados momentos, basta um sorriso para completar uma lacuna na vida de uma pessoa.

Na vida política não é diferente. As pessoas jogam todas as suas fichas numa eleição e a carga emocional de uma eleição é intensa. O carisma e a empatia fazem um canalha virar ídolo e uma pessoa justa ser odiada. O eleitor quer ficar perto de seu candidato, tirar fotos ao seu lado para um momento que ficará em sua história e pela questão emocional, se necessário, irá às vias de fato para defendê-lo. Uma visão cega que nada acrescenta se aquele escolhido ou escolhida for apenas um oportunista de plantão.

Talvez seja por isso que a militância é algo tão subversivo para quem tem interesses pessoais, para quem enxerga a política como um meio para se dar bem. Um militante de uma causa política jamais medirá as consequências quando sente que a luta que escolheu está sendo invadida exatamente pelos representantes da raiz do problema.

Quanto mais as pessoas conseguem entender os códigos da política e do poder, mais se apaixonam e quer participar, pelo convívio com as pessoas e pelos sonhos que conseguem nutrir com o envolvimento de outras pessoas.

Paulo Freire dizia que a militância é um ato de amor por si e pelo próximo. Só milita por alguma causa que tem amor para dar. Dedicar parte da vida por uma causa, às vezes tão distante, onde a maioria das pessoas talvez nem saiba ou ainda não consiga entender é um ato pleno de amor pela vida, assim como brincar com os sonhos das pessoas se traduz na maior traição.

A sociedade está repleta de falsos líderes, falsos gestores e falsas pessoas que vendem ilusões e no meio de tudo isso vários sonhadores, leais à suas causas continuam lutando para que o rio da vida não se já desviado de seu curso normal.

A janela da vida é assim. Uns enxergam apenas o imediato, o lucro fácil, o dinheiro fácil e a idolatria como resposta aos seus interesses pessoais, enquanto outros dedicam à vida, se necessário, pelo sonho da liberdade de milhares de pessoas anônimas que sonham por uma vida melhor.

O que nutre esses sonhadores? A possibilidade, nem que seja longínqua, de um dia ao calar da noite todas as pessoas injustiçadas se unam e resolvam descer o morro da vida e cobrarem o tempo perdido, onde seus sonhos foram apropriados.

“O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro”. Paulo Freire

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

domingo, 15 de dezembro de 2013

Quais as marcas que um governo deveria deixar ao sair?


Crescemos ouvindo que política não se discute, que política é para os políticos, que só conseguem se eleger quem é do ramo da política e principalmente quem tem dinheiro, pelo fato do alto custo de uma campanha. Nos dias de hoje ouvimos que todo político é ladrão e bom mesmo é que é privado.

Depois de ouvir que só tem prestígio e poder quem tem “garrafinhas” para trocar, sendo as “garrafinhas” as pessoas ligadas a determinado político, ouvi algo ainda pior: o mundo da política não é para fazer amigos e sim fazer o que tem que ser feito. É claro que não vejo assim, não concordo com isso e conheço inúmeras pessoas que também não. O mundo da política é para todos. Para desconstruir as farsas criadas e para construir uma sociedade justa, fraterna e igual, onde a maior ideologia seja a solidariedade.

No curso que tenho feito nas diversas prefeituras do país, tenho promovido um forte debate sobre algumas marcas que a meu ver seriam importantes que um governo construísse e deixasse ao seu término. Os participantes tem se dividido quanto às impressões. Uns defendem ser possível trabalhar essas marcas e deixa-las para a história, mesmo que não sejam absorvidas pelos próximos governos e outros têm afirmado serem impossíveis, principalmente pelo formato de disputa eleitoral existente e como se compõe a maioria dos governos.

Com o sentido de polemizar, levo à discussão algumas marcas que imagino ser possível implantar e conceber: um governo ético, integrado, transparente e participativo. O conjunto delas abrange um universo onde os gestores, uma vez adotando-as como meta e princípios de governo, não teriam problemas com a sociedade, com seus pares e muito menos com a justiça.

Ao explorar cada uma delas fica evidente que o mundo da política e o mundo do poder necessitam urgentemente serem modificados. Faz-se necessário que os principais atores interessados, excluídos do processo, decidam para onde caminha o mundo da gestão e também o da sociedade. Não é possível um ser humano e seu grupo decidir os rumos de uma cidade, do estado e da própria nação.

Vale salientar, quebrando esse paradigma, que o Ex-Presidente Lula realizou 74 Conferências Nacionais e a Presidenta Dilma vai à mesma toada. Ou seja, de alguma forma, governando com a população. Mesmo assim, muitas pessoas que estiveram nas Conferências Nacionais, representavam elas próprias, ou ainda não deram feedback para os seus representados, justamente pelo processo cultural que envolve a representação e a participação.

A coisa fica um pouco mais complicada, quando conversamos com um prefeito da Região Metropolitana de Campinas, que fez uma ótima gestão, que se elegeu com um gasto de campanha irrisório e se reelegeu apenas com a impressão de um jornal. Na conversa com outro prefeito, o prefeito citado perguntou quanto tinha custado a campanha do segundo prefeito e ficou espantado quando ouviu que tinha custado dez vezes mais que a sua. Esse gasto de campanha deve ter saído de algum lugar.

Nessa história das marcas, a ética sem dúvidas é a mais relevante. O que pode ser um governo ético, entendendo a ética como um valor absoluto? Imagino que em primeiro lugar seria aquele governo que tratasse os recursos públicos como algo sagrado, onde qualquer transação financeira, mesmo que fosse para garantir a permanência desse governo no poder, ou seja, sua continuidade estaria descartada.

Passado algum tempo daquela conversa com o prefeito da RMC, consigo refletir sobre o tamanho do problema que apresento para debate. Como pode um governo ser ético tendo que fazer “caixa 2” para as eleições, no sentido de se tornar competitivo? Como pode um governo ser integrado quando seu governo foi concebido de forma mercantilista, a base de troca: cargo por apoio? Como pode um governo ser transparente se não pode revelar os bastidores do poder? Como pode um governo ser participativo se a população tem que ser afastada para não saber a verdade?

A partir dessa constatação chegamos a algumas conclusões: ou mudamos o processo ou o cenário será o mesmo. Ou envolvemos a população de fato e de direito, na construção dos Planos de Governo, na formulação das políticas públicas  ou não podemos falar em governo democrático. Ou mudamos o mundo da política, com a ampla participação da sociedade, em todos seus segmentos, a partir da formação, ou jamais teremos uma sociedade consciente que use seus direitos em benefício da própria sociedade.

Finalizo afirmando que se faz necessário criar uma rede da boa governança, de bons governos, que traz a população junto, que promove as lideranças, que não tem medo de conselhos deliberativos, no sentido de fazer o enfrentamento necessário e a catarse (purificação) de toda promiscuidade que contamina todos aqueles que enxergam o ato de governar como um meio para as mudanças efetivas da sociedade e não como um fim em si mesmo.

O que mantém a sociedade viva são os sonhos que a alimenta.

Como afirma Yehezkel Dror: “É necessário uma mistura de visões utópicas e realistas para estabelecer objetivos que “estiquem” a governância (ato de governar a várias mãos) para além do que parece possível...Por essa razão, a reflexão política deve ser acompanhada de sonhos, embora a distinção entre ambos deva ser obviamente mantida”.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Que tal um movimento nacional? “Quem me trata como “garrafinha” não me representa”


O que é "garrafinha"? Para quem não está acostumado com essa linguagem vamos a algumas explicações. Trata-se de um termo usado nos bastidores do mundo da política, para determinar quem tem força, prestígio e o que é mais importante: muitos votos. Não se trata de base política e sim de pessoas, que não recusarão a um pedido daquele ou daquela que consideram como líder. Uma base política requer interação, organização e principalmente um projeto que seduza as pessoas e por ele todas estarão juntas para o que for necessário.

Para algumas pessoas que enxergam o mundo da política como uma oportunidade de se dar bem e não como um campo de ação política e social em busca da liberdade das pessoas excluídas do processo econômico e social, para que base? As “garrafinhas” são suficientes, principalmente porque, enquanto não se libertarem não haverá cobranças e nem reclamarão.

Numa situação como essa, a política vira um negócio, um espécie de escambo, onde pessoas, ou seja, o voto delas ou o apoio são trocados por posições políticas, cargos ou prestígio, seja num partido, numa instância qualquer de poder, numa entidade de bairro ou mesmo numa ONG. O método é o mesmo e os resultados também. As pessoas que vem votar a pedido de alguém são contadas e vulgarmente chamadas de “garrafinhas”. Quem tem mais "garrafinhas" é considerado "o cara", preparado inclusive para ser um candidato a vereador, a presidente dessa ou daquela entidade e portanto respeitado nesse meio.

Não parece uma coisa engraçada ter “garrafinhas”? Mas o que tem de engraçado para um ser humano, que bem poderia se interessar pela boa política, saber que é apenas uma moeda de troca, como se fosse um objeto ou mesmo um animal irracional?
Para entender essa questão tem ir à raiz do problema. "Garrafinhas" não falam, não se revoltam, têm dificuldades de entender que são usadas e principalmente estão sempre dispostas a servir. Em geral são pessoas simples que imaginam estar prestando um grande serviço.

Todo indivíduo que se diz liderança que, ou acha essa prática normal, ou convive com ela sem se revoltar, não pode ser chamada ou comparada com uma liderança e sim como um oportunista de plantão. Líder que é líder implode as “garrafinhas”, libertando as pessoas de seus casulos, trazendo-as para a discussão do texto e contexto e principalmente capacitando-as para que nunca mais alguém possa confundi-las ou usá-las como “massa de manobra”. Um líder de verdade não tem medo de sua base de apoio. Seja o que for fala abertamente.

Hoje consigo entender perfeitamente porque, apesar de me considerar um militante político de uma causa humanitária, sempre rejeitei e combati a chamada "ditadura do proletariado". Todo ditador necessita de milhares de "garrafinhas" e não de pessoas conscientes.

Quero só ver quando as “garrafinhas” rolarem morro abaixo, levando com elas tudo o que as aprisionam, rompendo barreiras ou simplesmente passando por cima de quem não só as usam, mas, sobretudo se apoderam do que tem dentro delas.

Que tal unir essas “garrafinhas” e criar um grande movimento de revolta e libertação. Esse movimento poderia se chamar: “Quem me trata como “garrafinha” não me representa”. “Garrafinhas” do país: uni-vos!

“Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a serem sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.”  - (Paulo Freire - Pedagogia da Indignação, 2000).


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quem são os militantes políticos e sociais dos dias de hoje?


Podemos começar essa conversa dizendo que em outras épocas, como por exemplo, na época da ditadura militar era muito fácil caracterizar uma pessoa como militante, pois tinham aquelas que assistiam a tudo sem entender nada, as que achavam que a ditadura podia ser ruim, porém necessária, os colaboradores do regime e os que discordavam da situação e lutavam por liberdade. Esses últimos eram os militantes políticos contra a ditadura.

Como é ser um militante nos dias de hoje? Que causa ou problemas pode unir a humanidade? Como fazer com que as pessoas excluídas do processo transformem suas insatisfações e sonhos num ato de militância? Ainda existem movimentos populares autênticos?

Segundo alguns estudiosos, ser militante é estar engajado numa causa e comprometido com todas as consequências que por ela advir. Indo mais além, diria que ser militante é amar a vida e a liberdade, é construir alternativas que caibam aquelas pessoas que nunca chegariam lá pelas suas próprias pernas, é jamais colocar preço em suas atitudes, nem mesmo repetindo os erros que condenamos, com o pressuposto de que depende do resultado final. Diria ainda que ser militante é fazer uma opção clara de que lado está e para onde devia caminhar a humanidade.

A militância requer uma causa humanitária, que por não ser pessoal, envolve outras pessoas e em muitos casos desprovidas de posses, conhecimentos e, sobretudo de oportunidades. É exatamente nesse ponto que emoção e razão se encontram. O que move a militância por uma causa é antes de tudo a solidariedade, movida exclusivamente pelo coração. Um nobre sentimento, que sai do corpo e invade a alma e o que era apenas um, vai absorvendo novas energias e acumulando forças e antes que a dor invada seu ser por completo, tornam-se vários e o campo de luta se estabelece.

A partir desse momento, ganhar ou perder nem é o mais importante e sim a possibilidade do renascimento, da recriação, da possibilidade de se tornar um ser humano melhor e quem sabe cumprir sua missão de vida.

Vale o registro de que quando se tem uma causa e se opta a lutar por ela, o ser humano às vezes vai à radicalidade se necessário, o que não pode e nem deve é ter uma visão cega, negando as vezes até uma sua própria autocrítica. Não é atoa que Paulo Freire dizia que todo militante é um radical quando descobre sua razão, porém jamais poderá ser um sectário, principalmente porque o sectarismo leva à intolerância.

Principalmente nos municípios brasileiros, o que não falta são motivos para que as pessoas se juntem e defendam seus direitos suprimidos. Uma grande parte dos governantes governam para si e seu grupo de apoio e não para e com a população. A falta de atuação dos movimentos populares leva a população necessitada a desacreditar da própria existência. A participação e a militância nos diversos movimentos se transformam na esperança de uma vida melhor.

É importante apenas não esquecer que enquanto as conquistas não se concretizarem, a luta continua. Essa continuidade exige das lideranças um verdadeiro exemplo de vida, onde a ética e o respeito sejam os principais valores, capazes de transformar essa atitude na adesão de novos militantes para que a chama da liberdade nunca morra. O que não é possível é o uso por parte desses militantes dos movimentos e dos espaços políticos para se beneficiarem. Enquanto houver uso, desigualdades, discriminação e injustiças haverá militantes lutando para que um dia todos sejam iguais.

Para quem sonha com uma sociedade se reinventando de baixo para cima, como era o sonho de Paulo Freire, a militância será vista como uma poesia que vai contando a história a partir de cada conquista. Quem sabe para esses militantes autênticos, a militância não seja o refúgio dos sonhadores e o momento em que se descobre que nunca a pessoa que luta estará só.

Como dizia Paulo Freire: "A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Porque e para que algumas pessoas querem tanto o poder?


Certa vez quando estava fazendo meu mestrado, li um texto interessante do Thomas Wood Jr, que hoje é articulista da Carta Capital. O título era: “Nem tudo é verdade”. Ele se referia no texto ao mundo organizacional. Afirmava que muitas coisas que ocorrem nesse universo, nem de longe são o que representam ser e tampouco são o que afirmam.

Algo que me deixou mais intrigado ainda quando li dois livros. Um deles Feitas para Durar. Trazia um estudo sobre o porquê que algumas empresas fecham em tão pouco tempo e outras resistem ao tempo e ultrapassam a barreira dos cem anos. A conclusão foi a de que, para que uma empresa dure cem anos ou mais, depende principalmente de uma ideologia estável. Algo que transcende quem a criou e tem como eixo principal uma política do ganha-ganha, onde funcionários e gestores exercitam e praticam uma regra de conduta, onde tudo é desenvolvido de forma transparente e os resultados são compartilhados. Imagino que são poucas em relação ao universo empresarial que conseguem trabalhar e se desenvolverem dessa forma.

O outro livro a que me referi e que também me impressionou tem como título Empresa com Alma, onde o autor Francisco Gomes de Matos, explica que a alma do negócio está na empresa. No dia a dia, na lida e como são tratados principalmente os parceiros e os colaboradores. Cada um deles que incorpora a empresa, como extensão da sua própria vida, refrigera a alma da empresa.

Será que é possível transportar isso para um partido político ou uma gestão pública? E os resultados serão compartilhados? Haverá transparência no conflito de interesses? Os maiores respeitarão os menores? As decisões são tomadas em grupo ou somente por um grupo?

São respostas embaraçosas a serem elaboradas, pois no universo do poder político a coisa se complica mais ainda. Assim como nas empresas, os partidos e as instâncias de poder sofrem da mesma anomalia, ficando a diferença para a objetividade e os diversos interesses em jogo. Qualquer empresário saber perfeitamente o que quer de sua empresa: lucro imediato, de preferência de forma exponencial. Quantas pessoas saberão responder de forma objetiva o que estão fazendo num partido político ou mesmo numa gestão pública?

Em ambos os casos, as disputas pelos espaços de poder saem do campo racional e se alojam no inconsciente de algumas pessoas como se fossem batalhas a serem vencidas a qualquer custo. Como um objeto venerado. Nesse momento o lema é: amigos, amigos, disputas a parte. Sendo que em algumas instâncias de um partido político, o mais incrível é que as listas com os escolhidos para os cargos de direção, com “garrafinhas” ou não, já vêm prontas.

É claro que como militante político, de uma causa, não vou aqui generalizar, mas, no entanto usar esse espaço para expor o que penso a respeito desse assunto e me solidarizar a todos aqueles e aquelas que foram excluídos do processo.

Fico imaginando se esse procedimento ou prática está incluído na missão que cada ser humano tem ao cumprir seus dias de vida. Caso esteja, ou essa pessoa terá que voltar num outro momento da vida para consertar o que sua volúpia destruiu, isso para quem acredita, ou estarão abreviando seu projeto original, buscando desvios que cheguem mais rápidos, mesmo que com isso destruam toda vegetação.

Da minha parte prefiro à calma e branda brisa que me bate ao rosto, onde terei condições de me reciclar, de repensar minha vida e melhorar o que fiz até hoje. O poder que em mim habita servirá apenas para que muitas outras pessoas desfrutem do que nunca conseguiriam por conta própria. Como nos livros que li, um projeto construído a várias mãos e compartilhado pode se tornar uma nova instância de poder e essa ser tão duradoura, como aquelas empresas que construíram uma ideologia estável.

Bem vindos ao mundo do poder verticalizado, onde as portas só estarão abertas para quem tem a senha ou “garrafinhas” para trocar.

"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. “A educação necessita tanto de formação técnica e científica como de sonhos e utopias". Paulo Freire

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A sociedade brasileira ainda necessita de governos ou mandatos personalistas?


Ao olharmos o comportamento da sociedade brasileira, sem querer generalizar, nota-se claramente que um herói, mesmo sendo de araque, ainda faz um grande sucesso. É a partir dessa premissa que os personalistas de plantão fazem a festa.

Segundo os especialistas, o personalismo é uma filosofia que tem como maior ênfase conduzir o homem para sua realização como pessoa, colocando-o acima de quaisquer instituições ou coletividade, pois o ser humano com sua pessoalidade é único e peculiar e essa peculiaridade impossibilita que todo o seu querer e as suas ânsias, estejam totalmente em harmonia ou satisfeitos com as vontades, aspirações ou conquistas de uma classe, grupo ou instituição.

Em outras palavras, o indivíduo personalista, não só não admite que as instituições, sejam elas quais forem, estejam acima dele, como também necessita constantemente de afago, fortes elogios e uma reverência continua.

É nesse cenário que nascem à maioria dos candidatos a cargos eletivos na política brasileira. Primeiro afasta-se o povo, com o argumento de que política não se discute ou ainda na versão atual midiática golpista, o argumento de que todo político rouba e assim tanto faz como tanto fez. Se votar é necessário e obrigatório vota-se em qualquer um, pois o resultado será o mesmo e a seguir vem à figura da boa pessoa, que entendendo os apelos da população, coloca seu tempo precioso a serviço dela. Não é uma atitude maravilhosa e humanística?

Porem, em alguns casos chega a ser deprimente. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, cidade onde cresci, tinha um vereador que perdi a conta de quantas vezes se elegeu com sua benevolência. Ele simplesmente comprou uma ambulância e levava as pessoas necessitadas ao pronto socorro e aos hospitais. Era só ligar. Não parece uma ideia genial? O que há de errado nisso? O mais interessante é que seu filho seguiu a mesma carreira do pai generoso.

Quem não conhece um político, seja de que cargo for que age dessa forma? Em muitos casos, pessoas que delapidam o patrimônio público, mas que fazem muitas obras e muitas benevolências. Uma pessoa tipo assim: Maluf.

Venho de uma cultura de resistência. De muita luta pela liberdade e assim, aprendi com os clássicos, que se alguém quer fazer com que a população seja beneficiada, coloque seu governo ou seu mandato a serviço de uma causa e essa causa resulte na libertação das pessoas que vivem de favores, mendicância ou excluídas do processo econômico e social. O que não falta são recursos e projetos nacionais para isso.

O político personalista benevolente necessita se perpetuar no poder e para isso não medirá esforços nem práticas espúrias. Quanto mais fazem pelo povo, mais o povo pobre o venera como o salvador da pátria. Em muitos casos, as Emendas Parlamentares contribuem muito para essa prática. Com isso, não respeitam as entidades representativas, os conselhos municipais, impedindo-os que se tornem consultivos e deliberativos e não querem a participação da sociedade nas decisões, para que não interfiram em sua conduta ou o rumo que traçou para si e para seu grupo.

A democracia plena, aquela que nasce das bases é ferida brutalmente a cada ação personalista e ao eleger pessoas que promovem o distanciamento do direito à participação e de controle social.

Quem nunca ouviu a seguinte frase: “As pessoas são chamadas, mas não querem participar”. Será? Por acaso foram chamadas para o processo de construção desse governo ou mandato? Conseguem entender seus direitos? Se não estão preparadas porque não preparam?

Para desconstruir essa lógica perversa só tem três caminhos: o primeiro sem briga, onde o indivíduo entra no processo sem reclamar e se fingindo que não sabe pensar, pois quem pensa logo age e é combatido ou se organiza e luta pelos seus direitos. Uma terceira opção que é a mais comum é o abandono completo de todo processo, com o argumento de que todos as chegarem ao poder são iguais e se fizerem alguma coisa é lucro.

Como dizia Paulo Freire: “Precisamos construir uma nova cultura política de natureza democrática” e transformar essa cultura numa possibilidade do surgimento de novas lideranças, que irão representar, a partir da delegação coletiva, as necessidades e os sonhos da população e em especial da que mais necessita e ainda se encontra excluída da sociedade.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

sábado, 7 de dezembro de 2013

O que fazer quando o bem e mal se confundem?

Figura: meussonhosdoces.blogspot.com

Podíamos começar essa conversa dizendo que o mundo está dividido entre o bem e mal, que num processo metáfico, resultaria em quem faz o bem recebe sempre o bem de volta e quem faz o mal também com o mal será pago.

É tão simples assim? Dá para dizermos de primeira quem é do bem e quem é do mal, mesmo sem um conhecimento profundo? Apenas para lembrar, vale citar aquela frase popular: “O inferno está cheio de boas intenções”.

Analisando a sociedade como um ser social, nota-se perfeitamente que no discurso o bem e mal se confundem. Ninguém que é o do mal se declara, a não ser que esteja drogado ou já tenha sido totalmente absorvido pelo mal e quem é do bem, mesmo repetindo mil vezes suas intenções, ainda assim terão pessoas que dirão: será?

Usando o terceiro elemento, que não quer ter controle, que tem dono e que quer ser o caminho, a verdade e a luz da humanidade, que é a imprensa e grande parte dela golpista, a coisa fica muito mais complicada. Ela é capaz de fazer um monstro virar anjo e um anjo ser jogado nas trevas rapidinho. Por outro lado, a população que depende, principalmente da televisão como lazer, deixa-se levar torcendo por seus personagens prediletos.

É nesse cenário que a maioria das decisões políticas, econômicas e sociais da humanidade é tomada e decidida e as pessoas que conseguem elaborar um pensamento, que têm poder de intervenção e quem principalmente tem uma causa a ser defendida, são excluídas do processo de poder, simplesmente pelo medo da competição ou para não atrapalhar as intensões de quem está no comando, deixando o caminho livre. É importante citar que em muitos casos, isso não ocorre pela via da anulação plena ou do confronto, mas criando um desvio aonde de forma ilusória vem um contentamento momentâneo para aquele ser que imagina estar colaborando.

Quem nunca passou por uma situação como essa? “Olha, bem que você poderia fazer parte da direção central dessa instituição, mas como temos que atender ao pedido de outras pessoas, criamos algo muito melhor para você: você será o assessor coordenador para assuntos aleatórios”.  Com isso aquela a pessoa com um sorriso amarelo e com medo de ficar totalmente de fora, simplesmente agradece e aceita. É claro que na prática dará tudo errado, pois a verdadeira intensão era afastar a pessoa do comando central, mas também poder cobrá-la no futuro com o argumento de que a mesma está sendo ingrata e não entendeu aquela fantástica oportunidade. Num processo de ação e reação, a pessoa simplesmente desiste de tudo e abandona, as vezes um sonho antigo.

A luta entre o bem e o mal é antiga. Por muito menos Caim matou Abel. Nos dias de hoje, onde os valores se confundem. Não há outro caminho. Para que de fato o bem possa reinar, se faz necessário que seja materializado por um projeto de vida e esse projeto aponte para onde devemos caminhar.

Ao trazermos isso para o campo político a coisa se complica mais ainda, pois a própria democracia está em cheque. De que democracia estamos falando? Daquela da austeridade e choque de gestão ou da democracia plena desenvolvida e nutrida de baixo para cima, dando voz a sociedade? Da que afasta o povo das decisões, mas mostra que tem alguém que foi eleito para isso ou daquela em que as lideranças às vezes se anulam para que a população organizada seja protagonista de seu futuro?

A manutenção do poder a qualquer custo, através dos cargos públicos, se traduz num caminho sem volta, pois coloca no mesmo nível de compreensão, o bem e o mal. Tanto os que querem permanecer no poder para encher os bolsos, ou mesmo aqueles “bonzinhos”, que querem permanecer no poder para fazer o bem pela população, mas afastando-a das decisões, agem e se transformam em seres semelhantes, pois se os métodos utilizados forem os mesmos, todos serão iguais no processo de julgamento no “juízo final”.

Tenho lançado vários desafios no Curso Plano de Governo e Ações para Governar e que se de nada servirem, servirão pelo menos para uma reflexão ao travesseiro. Uma dela é se dá para entender um prefeito ou prefeita que tem medo do povo e ser chamado(a), pelo menos de progressista. Ou ainda se é necessário tanto dinheiro para uma campanha eleitoral se esse prefeito ou prefeita tiver o povo ao seu lado.

Seja pela via que o ser humano escolher, o bem e o mal estão sempre à sua disposição. Como dizia Paulo Freire: O simbólico e o diabólico estarão à nossa disposição a qualquer hora do dia e da noite. Felizes daqueles que conseguirem passar pelo poder e deixar marcas a serem seguidas.

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
Friedrich Nietzsche


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A violência nas cidades brasileiras é só uma questão de polícia?


O Brasil está em guerra e não sabe. O número de assassinatos no país é 274 vezes mais que Hong Kong e 137 que a Inglaterra e mais mortes que Iraque. Em apenas três anos: de 2008 a 2011, foram assassinadas mais de 200 mil pessoas.

Segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 50 mil mulheres foram assassinadas entre 2001 a 2011. Uma média de 5 mil por ano. Segundo o órgão, nem a Lei Maria da Penha foi capaz de reduzir essa violência doméstica. Aliás, até aumentou. Sinal que o machismo no Brasil ignorou essa lei, que está completando sete anos. Cerca de 170 mil pessoas foram mortas nos 12 maiores conflitos no globo entre 2004 e 2007. No Brasil, mais de 200 mil perderam a vida somente entre 2008 e 2011.

Segundo levantamento de diversas entidades, 20 mil jovens negros são assassinados no país, todos os anos, com idade entre 15 e 24 anos. Um verdadeiro genocídio. No total de assassinatos, os negros representam 70%.

Em 2012 o Brasil teve mais de 50 mil assassinatos. Apenas os que aparecem nas investigações e que não dá para esconder, porém, assassinatos ocorridos em várias partes do país, como por exemplo, na baixada fluminense, nem aparecem nos noticiários e tampouco nas estatísticas.

O que fazer? Qual o papel dos municípios? Quais as Políticas Públicas que poderão incidir diretamente no combate a esse estado de calamidade pública?

Vale a pena lembrar que toda essa violência ocorre nos municípios. Assim, se faz necessário, de forma urgente, um Plano de Ação de Segurança Pública, mas, sobretudo de Prevenção à Violência. Esse Plano Municipal, para que tenha o mínimo de inferência positiva, tem que partir do Executivo Municipal, envolvendo todos os setores da sociedade e principalmente desenvolvido de forma integrada a todas as áreas de governo.

É necessário seduzir a juventude. Os centros de lazer patrocinados pelo Governo Federal coloca à disposição dos municípios uma estrutura capaz de oferecer aos jovens várias alternativas.

Além disso, é urgente a necessidade de criação da arquitetura da participação, com políticas inclusivas, para as mulheres, jovens, idosos, pessoas com deficiências e para as pessoas negras. O SEBRAE deu um belo exemplo, criando uma área específica de empreendedorismo para as pessoas de matrizes africanas. Uma ação como essa atua na raiz do problema. A desculpa não pode ser a econômica, pois a criação de um Fórum Temático, que reúna as pessoas e discuta seus principais problemas e soluções, não tem custo algum.

Diante dessa situação, existem pelo menos três questões gravíssimas: A questão das drogas, que invadiu os municípios e afeta principalmente os jovens. A questão da violência contra as mulheres que ultrapassou todos os limites, se é que tem limite e a violência generalizada contra os negros, se não bastasse o apartheid econômico, que distancia em pelo menos 30%, o salario de homens e mulheres, negros e brancos e deficientes e não deficientes.

A velha mídia se nutre dessa violência. Ao ligarmos a tv, principalmente nos canais e programas que se alimentam da violência, temos a sensação de que não há mais solução. Os crimes ocorrem sem nenhum propósito.

A sociedade está em crise. Uma crise de valores. Onde a pena de morte é solicitada todos os dias, assim como a redução da maioridade penal e o aumento do efeito policial e muito mais presídios. Serão essas as soluções? Criar um bolsão seguro como é o caso do Rio de Janeiro, faz diminuir a violência, ou isso servirá apenas para deixar a cidade bonita para a copa do mundo e as olimpíadas? Qual é a participação de cada um de nos nessa situação, por ação ou por omissão?

Perguntas que ficarão para uma reflexão futura.

Participe dessa conversa, diretamente no comentário dessa matéria ou pelo e-mail: toni.cordeiro1608@gmail.com

A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.
Jean-Paul Sartre.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo




Comentário do Bruno Francisco Pereira, chamando a atenção para a violência pela falta de uma Reforma Urbana que rediscuta a cidade:

Meu caro amigo Toni Cordeiro,você traz um tema muito pertinente para o debate. Em uma sociedade onde o que está pautado pela mídia é a culpabilização da violência sobretudo pelos pobres e jovens,com a temática da redução da maioridade penal, você traz a tona muito bem o esforço das políticas publicas que enfrentam esta temática e sobretudo a interdisciplinariedade das áreas. Quero aqui somar a esta reflexão com uma contribuição. O tema da Violência também esta ligada a questão da reforma urbana que deve ser implementada nos municípios, sobretudo com a ocupação dos espaços e a significação destes espaços dentro do território. Muitas vezes nos grandes centros há uma ocupação desordenada dos espaços gerando uma segregação social, criando grandes bolsões de violências, e quando isto acontece não há politica publica de dê conta. O debate da reforma Urbana deve perpassar todas estas questões, porque espaços democráticos são sementes que geram participação politica consciente. 




domingo, 1 de dezembro de 2013

Ideias para o Brasil: o sucesso do I Fórum FPA

Abertura do Fórum FPA

A ideia de criar um Fórum para discutir Ideias para o Brasil se materializou, como um daqueles momentos que ficará na história do partido dos trabalhadores, de sua militância e principalmente na cabeça de todos que consideram que o Brasil está no caminho certo e resgatando a dignidade humana, perdida há muito tempo.

O envolvimento dos alunos do Curso de Especialização em Gestão e Políticas Públicas foi fundamental, principalmente no sentido de decifrar aos alunos, alguns códigos do poder e fazer uma avaliação de conjuntura, mostrando os inúmeros avanços, avaliando possíveis falhas, mas, sobretudo apontando onde é que teremos que ficar atentos, para que as forças conservadoras não destruam tudo que foi plantado e a vigorosa colheita que começa a vingar.

Um instrumento lançado me chamou a atenção no evento. A criação do FPA Dados, capaz de trabalhar em rede com todos os municípios governados pelo Partido dos Trabalhadores, não só cumpre um valoroso papel técnico e científico, como também responde a necessidade apontada por diversos municípios, de um banco de dados com as melhores práticas a serem socializadas. Será uma revolução em termos da ampliação das possibilidades na gestão pública desses municípios.

A sociedade brasileira, principalmente a que saiu às ruas em busca da moralização na política, não suporta mais a corrupção, o uso do “caixa dois”, notadamente para a manutenção de campanhas milionárias e gestores que governam para si, transformando o ato governar num método individualizado, com fim em si mesmo e não como meio para as mudanças efetivas na sociedade. O Brasil não precisa de heróis e sim de lideranças que não tenham medo da população e de novos líderes que aparecerão em seus caminhos.

Evento como esse Fórum ocorrido em São Paulo, promovido pela Fundação Perseu Abramo, com pessoas de todas as regiões do Brasil possibilita entre outros fatores, a troca de experiências, a busca incessante e o encontro de informações e novos conhecimentos, mas principalmente eleva a autoestima dos participantes, ao serem convidados a optarem os novos caminhos que o Brasil trilhará no futuro.

Algo novo esta no ar. As sementes plantadas pela formação técnica e política, envolvendo gestores, técnicos e principalmente a militância, resultam e resultarão em pessoas mais críticas e que enfrentarão qualquer tipo de gestão e gestor que não respeite a população, com todos seus segmentos organizados, além de mostrarem claramente estarem se preparando para a construção ou a intervenção nas Políticas Públicas, que sejam transversais e respondam aos anseios dos principais atores da sociedade envolvidos no processo.

Estamos de forma lenta e gradual construindo um novo Brasil: inclusivo e participativo.

Feliz daqueles que conseguirem entender esse momento e se colocarem à disposição como mais um membro na luta do individual versus coletivo.

Se depender da militância que convivi nesse final de semana, o Brasil do futuro será plural e igual para todos e todas.

Mais informações: http://novo.fpabramo.org.br/acervo?page=1

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública
Laboratório de Gestão e Políticas Pública - Fundação Perseu Abramo

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A democracia está em crise?


De que democracia estamos falando? Qual a real diferença política entre a representatividade e participação? As duas caminham juntas?

Em tão pouco espaço, não tenho a pretensão de responder na íntegra essas perguntas, até mesmo porque se trata de um debate de cunho ideológico, repleto de desvios construídos na disputa do poder, porém, é importante ressaltar alguns aspectos contidos nessas perguntas, que construíram a história do passado e interferem diretamente na história presente.  

John Gaventa, ao escrever o Prefácio do Livro Participação e Deliberação, afirma: “No mundo todo estão surgindo novos debates sobre como revitalizar e aprofundar a democracia”. Segundo ele existe um “déficit democrático” ou uma “perda de vitalidade” da democracia: “Os cidadãos estão se distanciando das instituições representativas tradicionais, à medida que grupos de interesse ganham controle sobre as instituições e que a participação passa a ser impulsionada mais pela lógica do consumo do que por uma postura ativa de cidadania”.

O autor explica em seu texto que tanto a deliberação quanto a participação estão sendo usadas por um espectro de atores muito diversos, com objetivos também muito diversos e que isso traz implicações radicalmente diferentes na agenda democrática.

Segundo ele, para alguns, a visão democrática é aquela que privilegia menos governo (tese neoliberal do Estado mínimo), impulsionada pela perspectiva neoliberal da eficiência e da austeridade e para outros, trata-se de utilizar novos espaços democráticos e oportunidades e promover uma ampla transformação social.

Em regras gerais, o que está em jogo é que tipo de sociedade estamos construindo e que sociedade queremos para o futuro e no centro dessa análise está metade da população mundial que ainda se encontra fora das estatísticas econômicas e de desenvolvimento. 

Partindo do pressuposto que ainda é um tabu estabelecer um processo de governância, citado por Yehezkel Dror, como sendo o ato de governar a várias mãos, qualquer iniciativa de governo que se transforme numa ferramenta com resultados concretos, que trabalhe a fundo tanto a participação como a deliberação como uma ação do próprio governo, passa a ter uma importância significativa, tanto do ponto de vista da gestão como principalmente pelos resultados políticos obtidos a partir da experiência, porém para que isso ocorra é necessário cumplicidade e compromissos claros das pessoas envolvidas com o projeto em construção.

Nem estou me referindo aos Conselhos Municipais, que não vejo o menor sentido de serem apenas consultivos, mas da construção do que chamamos da Arquitetura da Participação, com todas suas ferramentas: fóruns, conferências, encontros e outros.

Assim sendo, trabalhar de forma participativa e com transparência, requer antes de qualquer coisa, mudanças de postura do gestor com relação ao poder e principalmente em relação à forma de administrar uma instancia de poder, porém isso só é possível se o projeto que está em sua mente como meta de vida não for individual e sim coletiva, construída a várias mãos.
           
A democracia não pode servir de pretexto para punir de forma injusta ou privilegiar quem quer que seja, ferindo o direito da maioria.

A partir da cultura individualista concebida numa sociedade capitalista e de consumo, por onde todos os serem humanos passam desde seu nascimento até sua vida adulta, o ato de sair do individual para o coletivo, onde se abandonem às posições pessoais e se valorizem as posições coletivas, requer uma postura humanista e, sobretudo política, se sobrepondo a qualquer situação que vise à valorização do indivíduo ante a necessidade da população e em especial a que mais necessita e isso possa resultar na inclusão dessas pessoas e no resgate coletivo do direito à cidadania, visando à construção de uma sociedade justa e igual para todos e todas.

A experiência de um trabalho em grupo só faz sentido para quem está preparado a mudar se necessário e fazer a defesa de sua proposta como mais uma apresentada e não como soberana, pois a verdade de cada um ou de cada grupo representa o somatório dos diversos pensamentos e nesse somatório está contido: interesses, desejos, vínculos afetivos e posições ideológicas e o que poderá unificar esses pensamentos e materializá-los é a construção de forma coletiva e ideológica do projeto central, aliado ao compromisso de cada um em fazer esse projeto dar certo.

Não é que a democracia esteja em crise, mas em constante ebulição, acometida pelas investidas das forças conservadoras e reacionárias, através de seus representantes legais ou não. Para isso, tem a velha imprensa golpista e todo aparato ideológico, que às vezes está presente num determinado personagem numa simples novela.

O sonho de Paulo Freire era ver uma sociedade reinventando-se de baixo para cima, onde as massas populares tivessem na verdade o direito de ter voz e não o dever apenas de escutar. Assim como ele acredito que isso seja possível e em experiências como a de Artur Nogueira com o Grupo Gestor de Integração e Planejamento e principalmente com a de hoje, levando conhecimento e um forte debate nas diversas regiões do país, estamos plantando uma semente e se essa semente for bem cuidada, num futuro próximo o “Compromisso com o Futuro” será uma tarefa de todos e a geração futura poderá dizer que na história de qualquer cidade, que teve um governo que teve a coragem de reinventar o próprio ato de governar. Assim foi Artur Nogueira.

Mais vale uma verdade, mesmo que tenha que ser contada mil vezes ao dia, do que a teoria da conspiração, que ronda e invade as cabeças das pessoas que vagam perdidas.