Certa
vez quando estava fazendo meu mestrado, li um texto interessante do Thomas Wood
Jr, que hoje é articulista da Carta Capital. O título era: “Nem tudo é
verdade”. Ele se referia no texto ao mundo organizacional. Afirmava que muitas
coisas que ocorrem nesse universo, nem de longe são o que representam ser e
tampouco são o que afirmam.
Algo
que me deixou mais intrigado ainda quando li dois livros. Um deles Feitas para
Durar. Trazia um estudo sobre o porquê que algumas empresas fecham em tão pouco
tempo e outras resistem ao tempo e ultrapassam a barreira dos cem anos. A
conclusão foi a de que, para que uma empresa dure cem anos ou mais, depende
principalmente de uma ideologia estável. Algo que transcende quem a criou e tem
como eixo principal uma política do ganha-ganha, onde funcionários e gestores
exercitam e praticam uma regra de conduta, onde tudo é desenvolvido de forma
transparente e os resultados são compartilhados. Imagino que são poucas em
relação ao universo empresarial que conseguem trabalhar e se desenvolverem
dessa forma.
O
outro livro a que me referi e que também me impressionou tem como título Empresa
com Alma, onde o autor Francisco Gomes de Matos, explica que a alma do negócio
está na empresa. No dia a dia, na lida e como são tratados principalmente os
parceiros e os colaboradores. Cada um deles que incorpora a empresa, como
extensão da sua própria vida, refrigera a alma da empresa.
Será
que é possível transportar isso para um partido político ou uma gestão pública?
E os resultados serão compartilhados? Haverá transparência no conflito de
interesses? Os maiores respeitarão os menores? As decisões são tomadas em grupo
ou somente por um grupo?
São
respostas embaraçosas a serem elaboradas, pois no universo do poder político a
coisa se complica mais ainda. Assim como nas empresas, os partidos e as
instâncias de poder sofrem da mesma anomalia, ficando a diferença para a
objetividade e os diversos interesses em jogo. Qualquer empresário saber
perfeitamente o que quer de sua empresa: lucro imediato, de preferência de forma
exponencial. Quantas pessoas saberão responder de forma objetiva o que estão
fazendo num partido político ou mesmo numa gestão pública?
Em
ambos os casos, as disputas pelos espaços de poder saem do campo racional e se
alojam no inconsciente de algumas pessoas como se fossem batalhas a serem
vencidas a qualquer custo. Como um objeto venerado. Nesse momento o lema é:
amigos, amigos, disputas a parte. Sendo que em algumas instâncias de um partido
político, o mais incrível é que as listas com os escolhidos para os cargos de
direção, com “garrafinhas” ou não, já vêm prontas.
É
claro que como militante político, de uma causa, não vou aqui generalizar, mas,
no entanto usar esse espaço para expor o que penso a respeito desse assunto e
me solidarizar a todos aqueles e aquelas que foram excluídos do processo.
Fico
imaginando se esse procedimento ou prática está incluído na missão que cada ser
humano tem ao cumprir seus dias de vida. Caso esteja, ou essa pessoa terá que
voltar num outro momento da vida para consertar o que sua volúpia destruiu, isso
para quem acredita, ou estarão abreviando seu projeto original, buscando
desvios que cheguem mais rápidos, mesmo que com isso destruam toda vegetação.
Da
minha parte prefiro à calma e branda brisa que me bate ao rosto, onde terei
condições de me reciclar, de repensar minha vida e melhorar o que fiz até hoje.
O poder que em mim habita servirá apenas para que muitas outras pessoas
desfrutem do que nunca conseguiriam por conta própria. Como nos livros que li, um
projeto construído a várias mãos e compartilhado pode se tornar uma nova
instância de poder e essa ser tão duradoura, como aquelas empresas que construíram
uma ideologia estável.
Bem
vindos ao mundo do poder verticalizado, onde as portas só estarão abertas para
quem tem a senha ou “garrafinhas” para trocar.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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