Você já parou para pensar porque há uma pressa exagerada no seio da sociedade? Para onde vão? O que buscam? É bem provável que nem mesmo as pessoas de quem estamos falando, saibam por que andam tão apressadas.
Quando
olhamos atentamente para o movimento de uma rua movimentada numa grande cidade,
a impressão que dá é que toda aquela multidão age como se o mundo fosse acabar
no dia seguinte. Não dá tempo sequer de olhar no rosto da pessoa que passa ao
lado. Pessoas anônimas buscando o que lhes interessa ou simplesmente vagando
presas em seus pensamentos. E a vida? A vida para quem não tem um projeto pessoas
de vida vai passando pelas pessoas e elas pela vida.
Quando
estava na faculdade fazendo meu curso de graduação em estatística, um dos
trabalhos que escolhi para fazer junto com outras pessoas, foi o de procurar na
noite, nas baladas da vida, o que as pessoas buscavam além do lazer imediato. Fiquei
surpreso com o resultado, pois jamais imaginava que naquela multidão de risos,
abraços e de completa alegria, havia um universo de sinais contraditórios. A
maioria das pessoas que meu grupo entrevistou, eram ou estavam solitárias,
apesar de sempre aparecer rodeadas de pessoas. Havia uma tristeza no ar, que
pela pressa nem dava tempo de se descobrir. Muitas daquelas pessoas buscavam na
noite o que não encontravam em seu dia a dia.
A
partir dessa visão de vida e mundo, dá para imaginar o quanto as pessoas comuns
transferem de seus sonhos para seus líderes, heróis ou ídolos? Simplesmente vão
ao limite emocional, onde sonhos e fantasias se
misturam, amor e ódio caminham sempre lado a lado. Em determinados momentos,
basta um sorriso para completar uma lacuna na vida de uma pessoa.
Na
vida política não é diferente. As pessoas jogam todas as suas fichas numa
eleição e a carga emocional de uma eleição é intensa. O carisma e a empatia
fazem um canalha virar ídolo e uma pessoa justa ser odiada. O eleitor quer
ficar perto de seu candidato, tirar fotos ao seu lado para um momento que
ficará em sua história e pela questão emocional, se necessário, irá às vias de
fato para defendê-lo. Uma visão cega que nada acrescenta se aquele escolhido ou
escolhida for apenas um oportunista de plantão.
Talvez
seja por isso que a militância é algo tão subversivo para quem tem interesses
pessoais, para quem enxerga a política como um meio para se dar bem. Um
militante de uma causa política jamais medirá as consequências quando sente que
a luta que escolheu está sendo invadida exatamente pelos representantes da raiz
do problema.
Quanto
mais as pessoas conseguem entender os códigos da política e do poder, mais se
apaixonam e quer participar, pelo convívio com as pessoas e pelos sonhos que
conseguem nutrir com o envolvimento de outras pessoas.
Paulo
Freire dizia que a militância é um ato de amor por si e pelo próximo. Só milita
por alguma causa que tem amor para dar. Dedicar parte da vida por uma causa, às
vezes tão distante, onde a maioria das pessoas talvez nem saiba ou ainda não
consiga entender é um ato pleno de amor pela vida, assim como brincar com os
sonhos das pessoas se traduz na maior traição.
A
sociedade está repleta de falsos líderes, falsos gestores e falsas pessoas que
vendem ilusões e no meio de tudo isso vários sonhadores, leais à suas causas continuam
lutando para que o rio da vida não se já desviado de seu curso normal.
A
janela da vida é assim. Uns enxergam apenas o imediato, o lucro fácil, o
dinheiro fácil e a idolatria como resposta aos seus interesses pessoais,
enquanto outros dedicam à vida, se necessário, pelo sonho da liberdade de
milhares de pessoas anônimas que sonham por uma vida melhor.
O
que nutre esses sonhadores? A possibilidade, nem que seja longínqua, de um dia ao
calar da noite todas as pessoas injustiçadas se unam e resolvam descer o morro
da vida e cobrarem o tempo perdido, onde seus sonhos foram apropriados.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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