Para não dizer que não
conheço nada do exterior, conheço alguma coisa do Paraguai e da Bolívia. Algo deprimente
e pobre perto de quem conhece grande parte do mundo, mas ao mesmo tempo me
sinto gratificado e rico por conhecer alguma coisa de uns e bastante de outros,
dos 21 estados que fiz trabalho pela Fundação Perseu Abramo e dos 23 que
conheço.
Uma viagem ao mundo e ao submundo
de um país construído a partir das desigualdades econômico-sociais. Estudo da Oxfam revela que
os 5% mais ricos detêm mesma fatia de renda que outros 95%. Mulheres ganharão
como homens só em 2047 e os negros como os brancos em 2089 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/22/politica/1506096531_079176.html).
Esse é o país real mantido principalmente pelo comportamento da classe média
que ostenta imitando os ricos e acaba dando uma grande contribuição.
Vivemos no país das negociatas políticas por
grande parte dos eleitos e das eleitas por uma população que vota pela emoção e
se recusa a entender o processo político, o que faz com que as figuras eleitas sigam
negociando nossas almas em busca de projeção e de acordos para as eleições de
2022. Uma vergonha nacional e um grande problema humanístico a se resolver.
Ao chegarmos a algumas cidades
brasileiras, criadas e mantidas por uma cultura europeia, no sentido de atrair
turistas e fazer com que se venda a ilusão de que nem existem pobres, pois por
certo são proibidos até de transitarem, ficamos com a sensação de que bom seria
que o país com toda sua riqueza, fosse cuidado e requintado como essas cidades
que são mantidas pela aparência para atrair turistas, como se fosse uma cópia
perfeita de uma Europa que 99,99% da população brasileira não conhece e nunca
vai conhecer.
São cidades para se sonhar
acordado e se sentir fora do Brasil. Porém ao voltarmos à vida real o que temos
na extrema maioria são cidades que não foram projetadas e planejadas para todos
e todas. Apenas para um pequeno setor. Cidade que vive vários conflitos onde o
maior deles é o da terra ou a falta dela, desde as primeiras privatizações em
1850 com a primeira Lei da Terra e hoje, 170 anos depois, praticamente a terra
foi parar nas as mãos de 1% da população. A pergunta é: quem invadiu o que e em
nome de quem?
A vida urbana no formato que
temos hoje foi composta pela necessidade de sobrevivência, primeiro pelos
trabalhadores e trabalhadoras que tiveram que abandonar suas localidades de
forma forçada e depois pela pobreza urbana que foi ocupando os morros por falta
de política habitacional e outras políticas. Esse é o Brasil real. Um
encanto aos olhos de pouca gente endinheirada e grandes tarefas para a
maior parte da população.
No
interior dessas contradições nos encontramos a reivindicar e lutar por outra
forma de civilização. Por uma cidade e campo que queremos em defesa da
agricultura familiar. Por novas formas de ocupação e principalmente por uma
sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Sonho ou fantasia? Como
dizia Paulo Freire, prefiro acreditar ser uma utopia que nos move a continuar
lutando, mesmo com nossas dificuldades e contradições de unir uma esquerda que
só pensa na disputa de pequenos poderes e não se junta numa frente para lutar
contra todas as desigualdades. O poder burguês ainda ocupa as mentes e os
corações de muita gente que se diz lutar por uma causa.
Uma
coisa é certa. Continuamos muito distantes dos nossos sonhos e há anos luz das
nossas utopias. Uma situação movida pelo nosso individualismo. Porém quem veio
ao mundo a trabalho e para servir, continuará a doar sua vida se necessário for
e grande parte do seu tempo na construção de uma terra sem amos, sem exploradores
nem explorados, lutando pelo Bem Comum.
Viva
todos e todas que estarão juntos e juntas em 2021, lutando contra toda forma de
discriminação e principalmente contra todas as formas de se ignorar o ser
humano fazendo-o nem existir para o mundo real.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
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