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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Ah, Brasil mostra a tua cara...

 

Para não dizer que não conheço nada do exterior, conheço alguma coisa do Paraguai e da Bolívia. Algo deprimente e pobre perto de quem conhece grande parte do mundo, mas ao mesmo tempo me sinto gratificado e rico por conhecer alguma coisa de uns e bastante de outros, dos 21 estados que fiz trabalho pela Fundação Perseu Abramo e dos 23 que conheço.

Uma viagem ao mundo e ao submundo de um país construído a partir das desigualdades econômico-sociais. Estudo da Oxfam revela que os 5% mais ricos detêm mesma fatia de renda que outros 95%. Mulheres ganharão como homens só em 2047 e os negros como os brancos em 2089 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/22/politica/1506096531_079176.html). Esse é o país real mantido principalmente pelo comportamento da classe média que ostenta imitando os ricos e acaba dando uma grande contribuição.

Vivemos no país das negociatas políticas por grande parte dos eleitos e das eleitas por uma população que vota pela emoção e se recusa a entender o processo político, o que faz com que as figuras eleitas sigam negociando nossas almas em busca de projeção e de acordos para as eleições de 2022. Uma vergonha nacional e um grande problema humanístico a se resolver.

Ao chegarmos a algumas cidades brasileiras, criadas e mantidas por uma cultura europeia, no sentido de atrair turistas e fazer com que se venda a ilusão de que nem existem pobres, pois por certo são proibidos até de transitarem, ficamos com a sensação de que bom seria que o país com toda sua riqueza, fosse cuidado e requintado como essas cidades que são mantidas pela aparência para atrair turistas, como se fosse uma cópia perfeita de uma Europa que 99,99% da população brasileira não conhece e nunca vai conhecer.

São cidades para se sonhar acordado e se sentir fora do Brasil. Porém ao voltarmos à vida real o que temos na extrema maioria são cidades que não foram projetadas e planejadas para todos e todas. Apenas para um pequeno setor. Cidade que vive vários conflitos onde o maior deles é o da terra ou a falta dela, desde as primeiras privatizações em 1850 com a primeira Lei da Terra e hoje, 170 anos depois, praticamente a terra foi parar nas as mãos de 1% da população. A pergunta é: quem invadiu o que e em nome de quem?

A vida urbana no formato que temos hoje foi composta pela necessidade de sobrevivência, primeiro pelos trabalhadores e trabalhadoras que tiveram que abandonar suas localidades de forma forçada e depois pela pobreza urbana que foi ocupando os morros por falta de política habitacional e outras políticas. Esse é o Brasil real. Um encanto aos olhos de pouca gente endinheirada e grandes tarefas para a maior parte da população.

No interior dessas contradições nos encontramos a reivindicar e lutar por outra forma de civilização. Por uma cidade e campo que queremos em defesa da agricultura familiar. Por novas formas de ocupação e principalmente por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Sonho ou fantasia? Como dizia Paulo Freire, prefiro acreditar ser uma utopia que nos move a continuar lutando, mesmo com nossas dificuldades e contradições de unir uma esquerda que só pensa na disputa de pequenos poderes e não se junta numa frente para lutar contra todas as desigualdades. O poder burguês ainda ocupa as mentes e os corações de muita gente que se diz lutar por uma causa.

Uma coisa é certa. Continuamos muito distantes dos nossos sonhos e há anos luz das nossas utopias. Uma situação movida pelo nosso individualismo. Porém quem veio ao mundo a trabalho e para servir, continuará a doar sua vida se necessário for e grande parte do seu tempo na construção de uma terra sem amos, sem exploradores nem explorados, lutando pelo Bem Comum.

Viva todos e todas que estarão juntos e juntas em 2021, lutando contra toda forma de discriminação e principalmente contra todas as formas de se ignorar o ser humano fazendo-o nem existir para o mundo real.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

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