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sábado, 24 de maio de 2014

Em busca de uma nova forma de governar

Um assunto intrigante surgiu num dos cursos que ministro nas prefeituras. Porque alguns governantes ou mesmo gestores, quando estão em exercício não se consideram mais povo e sim alguém iluminado? Pratica essa que os afasta da população e por necessidade voltam apenas no início do próximo pleito eleitoral, ou em busca de reeleição ou no apoio de seus sucessores.

Os participantes do curso concluíram ainda que essa atitude faz parte de um processo cultural conservador, onde a população, por não acreditar na política, não participar dos movimentos sociais e muito menos buscar entender a função da política e dos políticos, principalmente por concordarem com o senso comum de que todos são iguais e por isso não merecem crédito, votam por obrigação ou pela paixão, em qualquer um, passando a cobrá-los como se fossem seus legítimos representantes.

Como ser um legítimo representante se não há vínculos e nem mesmo um discussão que levasse a construção de um projeto ou mesmo um “faz de conta” que agradasse seus seguidores?

Outro dado levantado pelos participantes vem do fato de que quando essas pessoas saem de seus postos, ou saem bem financeiramente porque usaram a máquina em benefício próprio, ou ainda entram em crise existencial.

Ao analisar de forma mais conceitual essas afirmações, chegamos à conclusão que Michel Foucault nos ofereceu os referenciais para afirmarmos: “O poder está à margem da loucura”. Quem não souber utilizá-lo para servir a uma causa, por ele será usado e sem que perceba, virará outra pessoa. Em regras gerais, tornar-se-á arrogante, vaidoso e com um objetivo claro de fazer o que for necessário para no poder permanecer. Trata-se de um modelo vertical de governar, onde o indivíduo de tão grande que se tornou, começa a ser venerado e não admirado como um líder.

Podemos até afirmar que esse modelo de gestor, gestão e de relacionamento com a sociedade é o utilizado na extrema maioria das gestões públicas no Brasil e que governar de forma contrária, ou seja, de forma participativa e transparente, que requer atitudes éticas e um processo integrado, portanto uma gestão horizontal chega a ser subversivo aos olhos de quem necessita a população bem longe.

Estamos em busca de uma nova forma de governar, onde o gestor ao chegar à conclusão de que governar não é um fim em si mesmo e sim um meio para as mudanças efetivas da sociedade, chegue também à conclusão de que isso necessita que o mesmo seja ou se transforme num militante de uma causa, que antes de ser partidária fará parte de seu projeto de vida.

A caminhada para se aproximar desse objetivo, começa quando gestor se pergunta qual é o seu papel no processo de mudanças, qual é a sua missão e passa a estar disposto em aprender e reaprender.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Uma velha reivindicação colocada em prática pela Fundação Perseu Abramo

O Partido dos trabalhadores em seus trinta e quatro anos de vida já teve diversos momentos importantes e decisivos para sua história desde a sua criação. Dos cursos em Cajamar, passando pelo 13 de Maio e com a Escola Nacional de Formação.

Após a entrada do economista Marcio Pochmann como Presidente em 2013, criou-se a Área do Conhecimento, voltada exclusivamente para a formação tecnopolítica, como dizia Carlos Matus. Ou seja, cursos de formação técnica, a partir do contexto político.

O trabalho teve início com o Programa de Capacitação continuada em Gestão Pública nas prefeituras petistas, que já chegou a mais de 140 prefeituras, avançando para os Cursos de Pós-Graduação em Gestão e Políticas Públicas, que já formou a primeira turma e tem mais duas em andamento e com o Curso Difusão do Conhecimento, já presente em alguns Estados. Esse curso é oferecido a todos os filiados do partido, necessitando apenas da formação do Ensino Médio.

Para completar o ciclo de capacitação, na última sexta feira teve início a primeira turma de Mestrado Profissional em Políticas Públicas. Um dia histórico.

Com todas essas ações, as que já existiam e essas novas possibilidades, todos os setores do Partido estão contemplados com algum curso de formação, tanto técnica como política.
Bastava olhar nos olhos daquelas 40 pessoas que se habilitaram para esse importante momento, para saber que estavam ali não pelo diploma futuro, mas sim pela possibilidade de colocar à disposição do Partido dos Trabalhadores seus novos conhecimentos. Um alto grau de comprometimento.

Pessoas de várias partes do país compunham um cenário diversificado com a linguagem do Brasil, com seus casos e um histórico peculiar de cada um na trajetória do Partido.

Fico imaginando daqui a algum tempo, quando todas essas pessoas estivem em campo, o que serão capazes de produzir. No mínimo teremos milhares de pessoas com capacidade de fazerem de um debate qualificado sobre a conjuntura local, nacional e até internacional, exatamente como éramos no passado, onde qualquer pessoa a partir de uma boa leitura dos clássicos e das entrelinhas do poder fazia isso sem nenhuma intimidação.

Bem vindos e bem vindas a esse novo momento do Partido dos Trabalhadores, onde uma revolução silenciosa toma conta de seus bastidores. 


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O imaginário dos brasileiros a serviço da mídia e dos representantes da Casa Grande

Em dezembro de 2013 completou 80 anos da publicação de uma das obras brasileiras mais lida e emblemática: Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre. Nela o autor destaca a importância da Casa Grande na formação sociocultural brasileira, tão presente nos dias de hoje, assim como a Senzala que servia os moradores da Casa Grande que até hoje busca ainda ser servida e tenta de vez enquanto ressuscitá-la.

A imprensa, esse instrumento de poder, reinventada por Gutemberg, se porta nos dias de hoje, talvez mais agressiva e rápida, porém com os mesmos propósitos e os mesmos vícios que do passado. Tão servil como antes, escondendo o que pode comprometer os patrões e principalmente disseminando informações enviesadas, com o único propósito de confundir leitores, expectadores, ouvintes, internautas e principalmente os eleitores, com o medo de não prejudicar os representantes da Casa Grande. O “Geraldo” e o “Aécio”, que o digam. Pessoas bichadas por vários escândalos, porém blindados por seus agentes.

Não me recordo de constar na historia oficial do país, que em algum momento da época da escravatura, tenha havido qualquer questionamento por parte das autoridades e da justiça sobre o tratamento dado aos moradores da Senzala ou ainda algum morador da Casa Grande que tenha se revoltado com a situação de barbárie que os escravos viviam, renunciado de forma espontânea da situação de Senhor e que tenha adotado os escravos como pessoas de igual valor. Se houver, com certeza serão muito poucos e a imprensa fez questão de esconder.

Não me recordo também ter lido em algum lugar sobre os moradores da Senzala que cometam suicídio como forma de se livrar das amarras da escravidão ou ainda como uma forma de resistência, que além dessa, as outras formas conhecidas foram à fuga, as vezes perseguidos por seus pares  e a formação dos quilombos.

Nos dias de hoje a escravidão se apresenta de uma forma moderna. Quase imperceptível. Com uma nova roupagem e incluindo também pessoas de cores diversas, porém a maior parte nessa triste história, ainda é composta por afrodescendentes.

Escravos são todos e todas que estão à margem da sociedade, que se encontra em estado de vulnerabilidade social, onde seus direitos foram solapados por uma minoria que se considera proprietárias dos direitos universais. Talvez seja por isso, que jamais admitimos a corrupção ou ela mais disfarçada como um gordo “caixa dois”, mesmo que seja para levantar recursos para uma eleição, reeleição ou sucessão. Usar a máquina pública como moeda de troca, além de crime é imoral.

Porém, ao voltar a falar na imprensa, mídia, meios de comunicação, PIG, ou qualquer outra forma que o leitor queira chamar, chega a ser assustadora a quantidade de informações contraditórias disseminadas, com o principal objetivo de confundir a cabeça dos eleitores, onde a pior situação é a dúvida que fica na cabeça das pessoas mais simples ou desavisadas.

Para exemplificar essa situação, vou citar o meu pai, uma pessoa que nos últimos trinta anos, não só participou da vida ativa da política, como é um eleitor de Lula e Dilma, sem igual. Dias atrás ele me perguntava o porquê da Presidenta Dilma ter caído tanto nas pesquisas, pois tinha ouvido na CBN (A Rádio da Conspiração), a queda e a notícia de que muito mais ela haveria de cair até as eleições. Eu simplesmente lhe disse, que além de não ser verdade, pois os Institutos de Pesquisa tinham combinado isso, disse também que a tal Rádio tinha dono e que só poderia passar lá notícias que agradasse seus proprietários, que tinham lado e que não era o nosso.

Desafio alguém que se preste a ficar durante uma semana ouvindo a CBN, assistindo principalmente a Globo, SBT e Bandeirantes em seus programas sensacionalistas e seus noticiários, lendo a Veja, Época, Isto É, Estadão, O Globo, Folha de São Paulo e de quebra tente analisar uma pesquisa do Ibope, Data Golpe ou Sensus, que não entre em depressão ou passe a acreditar que o Brasil está quebrado e tudo que o Governo Federal de Lula e Dilma fizeram está errado ou se fizer não dará certo.

Trata-se de uma overdose neoliberal. Trata-se também de uma dose cavalar de mau gosto e principalmente de desprestígio do Brasil e idolatria aos países quebrados dos EUA e da Europa, como se tudo que tem lá é bom e tudo que for feito aqui é de segunda linha.

Como piorar essa situação? Muito simples. Um dia e meio ouvindo Funk, outro dia e meio ouvindo a avaliação do governo pelo Jabor ou pelos discursos neoliberais e direitosos na TV Senado ou TV Câmara e de quebra o restante da semana tentando entrar no metrô de São Paulo em plenas seis horas da tarde. Ah esqueci-me de falar uma coisa: a partir de setembro tentar tomar banho diariamente em São Paulo com água encanada da rua.

Nesse quesito posso afirmar que sou feliz, pois da água que bebo, com certeza beberão também todos os moradores que ainda se encontram na Senzala.

Bem vindos e Bem vindas todas as pessoas que lutam por liberdade e justiça.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 12 de maio de 2014

UMA E OUTRA COISAS

Uma coisa é o valor de um artista ou esportista na sua arte ou na sua atividade esportiva; outra coisa, bem diferente, é o valor da percepção que eles têm da vida em geral, da opinião que expressam a respeito, especialmente quando enveredam por temas espinhosos e que, a par de apaixonantes, requerem conhecimentos, informações confiáveis e sensibilidade social. Ha campos em que as fontes nem sempre são fidedignas, como é o caso da Politica. Alguns se arriscam e, julgando-se satisfatoriamente informados, já que leem Veja e Folha e assistem aos telejornais, especialmente os da emissora ainda campeã (decadente) de audiência, desandam a vomitar o senso comum que lhes servem os meios de comunicação.
Sem capacidade critica de ver e julgar, optam - como me disse um amigo, tentando embora dizer o contrário - por repetir uma tal "verdade subjacente, sabida e indiscutível", como aquela que, de tão repetida diuturnamente, anos a fio, pela mídia comprometida, transformou uma farsa, uma mal engendrada trama ficcional, no inquestionável "mensalão", aceito por todos, exceto por aqueles que, raciocinando minimamente e sopesando os interesses envolvidos, conseguem ver a realidade. Ou como o "mar de lama" que envolveria o governo federal, ou como o assistencialismo do "bolsa-escola, fábrica de vagabundos"...
A última celebridade vítima da mediocridade do superficialismo foi Ney Matogrosso, um gênio nos palcos, cuja trajetória musical torna-o, ele mesmo, uma "verdade indiscutível", no que tange ao talento, e o faz imergir num "senso comum" em que eu mesmo mergulho com gosto, já que não disponho de conhecimentos e recursos técnicos que me permitam um juízo idóneo e confiável sobre seu desempenho como cantor. Não ignoro que o juízo da qualidade de um artista se dá essencialmente pelo senso médio. Os que sobrevivem aos desafios do tempo, via-de-regra, são mesmo os que têm valor, ressalvados, sempre, alguns talentos esquecidos e algumas celebridades artificiais resistentes.
Nisso, arte, esporte e Política têm um ponto em comum. Via-de-regra - e neste campo também há as exceções a confirmar a regra -, só os bons políticos sobrevivem, e o juízo sobre quem merece a consagração histórica ou quem ha de ser condenado ao ostracismo se dá pela simples percepção da maioria. Os resultados de um governo, positivos ou negativos, são percebidos pelas pessoas dentro de casa e nas suas demais circunstâncias, e não há propaganda governamental ou orquestrada pela mídia que convença do contrário os habitantes de cada casa. É por isso que, Lula, embora afastado do poder - e da mídia - há quatro anos, segue lembrado e preferido por imensa maioria do eleitorado, mesmo dizendo e repetindo que não é candidato. É por isso que, atacados pela mídia e opositores impiedosamente e sem trégua, Getúlio, Juscelino e Jango - todos acusados de graves casos de corrupção nos respectivos governos, o tal "mar de lama" -, por uma mídia de índole udenista, falso-moralista e golpista, hoje são reverenciados pelos brasileiros, consagrados pela Historia. Já os militares, apesar de toda propaganda oficial, apoio midiático e mesmo do "milagre econômico", de passageiros efeitos positivos, quem ainda se lembra deles? E o que dizer de um Fernando Henrique Cardoso, a quem os próprios correligionários candidatos à Presidencial nas ultimas eleições, Serra e Alckmin, fizeram questão de esconder nas respectivas propagandas eleitorais?
Na Politica, porem, não basta o superficialismo, muito pelo contrário. Um juízo honesto deve levar em conta os números oficiais, os dados estatísticos, os resultados concretos, as informações corretas, a tudo se devendo sopesar os interesses de todos os atores envolvidos, governos de todos os níveis, opositores, partidos, mídia, demais instituições e respectivos agentes. Ney Matogrosso embarcou no senso comum, saiu a dizer as besteiras que dizem os colunistas de jornais e os especialistas-em-tudo dos telejornais, desconsiderou os interesses dos poderosos da mídia e a percepção popular. Ignorou o reconhecimento internacional - a começar das recomendações da própria ONU sobre programas como o Bolsa-Família, as informações oficiais de que não há dinheiro do orçamento da União investido na construção e reforma dos estádios da Copa, dos múltiplos benefícios que esta já vem proporcionando ao pais e a seu povo, às estatísticas estrangeiras que destroem o mito interno de que a carga tributária brasileira seria "a maior do mundo". Não se atentou à grandiosidade do atendimento do SUS ao universo de habitantes do País, um exemplo de que o dinheiro dos impostos, à parte os casos de desvios, é, sim, aplicado em beneficio da maioria. Ignorou a vigilância de órgãos governamentais no combate à corrupção, como a CGU e a Policia Federal, para citar apenas as subordinadas diretamente ao governo da presidenta Dilma.
Ney falou bobagem, mas nada fez de diferente do que tantos e tantos fazem todos os dias nas redes sociais, nas ruas e nos botequins.. Sua opinião tem o mesmo valor que o meu canto sob o chuveiro, só que ouvida por bem mais gente que meus azarados vizinhos. Mesmo assim, continua sendo, para mim, um grande artista da música popular brasileira, como outros que erraram pelo mesmo caminho, como Caetano, Fagner ou Seu Jorge. Porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Nessa temática, fico com a opinião de outros gênios - não por acaso maiores - que conseguem aliar espirito critico, sensibilidade social e informação confiável, como Beth Carvalho, Chico Buarque e Luís Fernando Veríssimo.
Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A difícil tarefa de lidar com o mundo do trabalho sendo trabalhador

Hoje ao comemorar o Dia Internacional dos Trabalhadores ou o Dia do Trabalho, data que teve início em várias partes do mundo, a partir de lutas históricas, tanto por reivindicações como pela própria sobrevivência, os trabalhadores brasileiros têm muito a comemorar, mas também o que não faltam são motivos para continuar na luta por seus direitos.

Lembro-me bem de como o Brasil se encontrava há pouco mais de 12 anos, quando era governado pelos antecessores de Lula e Dilma. Não havia emprego, determinadas funções como Engenheiro Civil e Pedreiro, por exemplo, não valiam muita coisa, pois não tinha quem quisesse e da fila de trabalhadores desempregados que compunham o Exército Industrial de Reserva.

Para quem não tem intimidade com esse termo, denomina-se Exército Industrial de Reserva ao contingente de desempregados de um país, necessários para que o capitalismo selvagem faça sua chantagem. Quanto mais gente desempregada mais lucro para os patrões que enxergam os trabalhadores como máquinas (Teoria X) e não como colaboradores.

Há inclusive uma teoria do mal, pregada por alguns economistas neoliberais, que prega que num país emergente como o Brasil, que está no Pleno Emprego, teria que mandar embora, pelo menos um terço de sua mão de obra ativa para que o deus mercado, pudesse novamente ter o controle absoluto da situação. Ou seja, empregar sem registro e por qualquer valor, ao colocar medo em quem está empregado, mostrando a fila de desempregados lá fora, como era num passado recente. Esse é um dos vetores que estará em curso nas próximas eleições, incluindo nessa história o Salário Mínimo que eles acham estar muito alto, sendo que nenhum deles viveria com apenas um Salário Mínimo.

Ponho-me a pensar o que leva as diversas empreiteiras, usinas de cana de açúcar e várias outras empresas, em pleno século XXI, com o país jorrando dinheiro público e eles lucrando como nunca lucraram em toda história, manterem trabalhadores em estado de escravidão, se não forem a sacanagem e a ganância completa para que o dinheiro seja somente deles. O que fazer com empresários como esse? Porque esses sujeitos não são presos? Transitam livremente com seus aliados da justiça. Quanto mais ganham, mais querem ganhar.

Só para se ter uma ideia da situação, o Ministério Público Federal está investigando na atualidade 1480 casos, sendo desses 125 só em São Paulo e a Procuradoria Geral da República instaurou 480 Inquéritos Policiais desde 2010 e 469 Ações Penais nos últimos 10 anos. O pior é que com tudo isso, ninguém foi preso por explorar o trabalho escravo.

Do ponto vista empresarial, essas empresas estão fora do que chamam de capitalismo moderno, onde a exploração é feita de outra forma, como por exemplo, nas empresas de serviço, onde o trabalhador tem livre mobilidade de horário, porém em compensação trabalham diuturnamente.

Do ponto de vista trabalhista, ao mesmo tempo em que comemoramos o Pleno Emprego e os mais de 20 milhões de postos de trabalho com carteira assinada, lamentamos o fato de não se ter controle desse universo, seja pela extrema maioria desses trabalhadores não serem sindicalizados, seja pelo fato de seus sindicatos terem parado no tempo ou mesmo pela falta de capacidade política desses trabalhadores de se organizarem.

No mais, é inegável que o Brasil mudou, de que hoje um pedreiro é valorizado, principalmente porque constrói casas populares, coisa impensável quando éramos governados pelos representantes dos “coxinhas” e um engenheiro civil nunca ganhou tanto dinheiro em sua vida. Jamais podemos voltar ao passado.

Por tudo isso que foi comentado, é impensável num país capitalista não ter um Estado forte, que assuma o Bem Estar da população e não terceirize suas funções sociais, tornando-o um Estado Mínimo.

É bom que os trabalhadores entendam de uma vez por toda uma frase do meio sindical que na verdade revela a fragilidade de diversos setores e a cultura de que cada um é cada um: “Sozinho o problema é seu e juntos o problema é nosso”.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 29 de abril de 2014

Como você lida com seus sentimentos?

Fonte da Imagem: http://mrgomelli.blogspot.com.br/

Após alguns medos, euforias, certa dose de raiva, mas ao mesmo tempo um amor incondicional à vida, às pessoas e pelo projeto que a vida me ofereceu, de forma quase atrevida, me arrisco a escrever sobre os sentimentos humanos. Em especial àqueles que podem nos levar ao centro do universo da nossa existência ou tão distante dele que jamais alguém nessa situação poderá se encontrar.

Diante dessa decisão, me vejo curioso a observar as pessoas que vieram ao mundo a trabalho, que mesmo diante de tantos obstáculos simplesmente vão fazendo, como se nada fosse capaz de contê-las. Como se o resultado do que fazem gerasse satisfação suficiente para ir muito além de seus momentos de introspeção, de medos ou de tristeza. Algo onde a superação invade a alma e alimenta a razão de viver.

Por outro lado, me chama também a atenção outras pessoas, que parecem que vieram ao mundo a passeio ou ainda para atrapalhar quem faz o que elas não conseguem dar conta e se desesperam ao verem alguém à sua frente, agindo de forma tão simples que até parece brincadeira. Algo sombrio, onde os sentimentos ruins são seus únicos parceiros. Na verdade essas pessoas lutam contra elas mesmas.

Todos os dias, seja em que ambiente for, nos deparamos com essas duas formas de encarar a vida e de vez em quando também com pessoas do mal. Alguém que veio ao mundo por engano, com capacidade de destruir sonhos e se enveredar para sempre num mundo de trevas.

Na busca de respostas para essas formas de existência, dizem os estudiosos que os seres humanos têm a sua disposição cinco sentimentos para quem busca a luz. Entendendo a luz como o ponto de encontro ao que se almeja e ao que de fato cada um busca em termos de projeto de vida, ou então aquele brilho que não sabemos explicar de onde vem e qual sua intensidade. São eles: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Amor.

Entender esses sentimentos em suas dimensões no sentido de usá-los a nosso favor, acaba se transformando numa enorme necessidade, pois do contrário poderão gerar momentos sem volta. O desconhecimento ou a falta de habilidade para lidar com cada um deles pode gerar uma mistura de euforia, depressão, pânico, ódio e às vezes até mesmo de um estranho sentimento que absorve o ser humano e pode levá-lo a ações e reações inesperadas. Tudo em demasia demonstra descontrole. Como diz o poeta: "rir de tudo é desespero".

Como buscar o equilíbrio? Como descobrir claramente qual a nossa missão na vida? Como respeitar o limite das pessoas para que não cobremos o que elas não são capazes ou ainda não estão prontas para executar? O que fazer para adquirirmos a confiança suficiente capaz de nos conduzir aos resultados com qualidade que queremos? Como estimular as pessoas para que elas usem o que possuem de melhor?

É bem provável que algumas dessas perguntas jamais iremos descobrir suas exatas respostas, pois a vida vai nos absorvendo e vamos nos embrutecendo de acordo com o meio em que vivemos. Porém, se moldarmos com o tempo e a sabedoria o nosso projeto de vida, é bem capaz de chegarmos a um momento onde estaremos usando esses sentimentos, que pode nos acometer a qualquer momento, para tirarmos de cada um deles as lições que a vida nos vai oferecendo.

Com as lições que a vida nos oferece aprende-se também que, assim como não podemos cobrar das pessoas o que essas não estejam preparadas para nos oferecer, pois cada um ou uma tem seu tempo e isso emana na tarefa fantástica de ajudá-las nessa descoberta, cada um nós também temos que achar nossos limites, tanto em termos racionais, como principalmente no lidar com corpo e alma. Esse encontro poderia ser descrito como um verdadeiro ato de sabedoria.

Descartar o que nos faz mal pode funcionar como a catarse que necessitamos, porém isso tem que ser alicerçado no ato de perdoar, não como a necessidade de consertar o que se quebrou, mas com o simples objetivo de criar espaços no coração e mente para novas emoções que nos façam bem.

Uma coisa é certa: quem veio ao mundo a passeio com certeza não perceberá que a vida passa tão rápido e de repente já passou, porém, quem veio ao mundo a trabalho, com o livre propósito de servir, encontrará em cada momento e cada sentimento a razão de sua existência e a inspiração suficiente para dizer: valeu e valerá.

Sábios serão aqueles que buscarem nas experiências de vida referenciais para ampliar o que é bom e não cair na tentação de repetir o que lhe fez e faz sofrer.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

domingo, 27 de abril de 2014

Uma revolução silenciosa promovida pela Fundação Perseu Abramo está em curso

Encerramento da Primeira Turma do Curso de Pós-Graduação

Estive nesse final de semana participando do encerramento da Primeira Turma do I Curso de Pós-Graduação em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores, nas diversas atividades, principalmente nas apresentações dos TCCs dos concluintes.

Entre os participantes uma mistura de alegria, expectativa e nervosismo por ter que apresentarem seus trabalhos para uma banca. Algo que uma boa parte daquelas pessoas nunca experimentou. Seja pelo fato de alguns estarem fora das universidades há tempo e outras que nunca fizeram a defesa de um TCC.

Pouco a pouco, de um em um, as apresentações completavam um cenário, aonde seus atores iam descobrindo o prazer de suas obras, o reconhecimento das bancas e o prazer principalmente de terem chegado a um importante ciclo em suas vidas.

A sensação que tive foi de ter ocorrido uma verdadeira revolução na vida daquelas pessoas, tamanha era a concentração durante as apresentações e a alegria no termino de cada uma. Algo que ao mesmo tempo em que possibilitou a integração e o encontro de pessoas com afinidades partidárias comuns de várias localidades do país, ampliou seus conhecimentos, divulgou essa nova fase do Partido e da Fundação e ofereceu referenciais que possibilitarão o envolvimento dessas pessoas em várias atividades, seja em que campo for, porém com uma nova visão mais ampliada com esses novos conhecimentos. Em síntese uma nova possibilidade de voltar a sonhar.

A mensagem do Presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, em sua aula não deixa dúvidas quanto ao compromisso de cada um. Ao responder uma pergunta de um participante, disse ele: “Vocês serão protagonistas do Partido no futuro e as mudanças que o partido necessitar ocorrerá com vocês”.

São homens e mulheres em que muitos deles se apresentaram carentes de conhecimentos ao entrar e ao chegarem ao final de suas participações, saíram irradiando felicidade, como se de uma hora para outra, tudo aquilo que parecia impossível para muitos, simplesmente aconteceu e isso é de um valor incomensurável. Os pagamentos pela adesão aos cursos com certeza se realizarão na ampliação de suas militâncias e na possibilidade da socialização de parte desse conhecimento absorvido com outras pessoas do Partido e da sociedade, criando uma nova rede em busca de objetivos comuns.

Assim foi, está sendo e será com os atores da Capacitação em Gestão Pública nas prefeituras onde o Partido está presente; com os atores do Curso Difusão do Conhecimento, democraticamente oferecido a todos e todas filiados e filiadas que tenham formação até o ensino médio; com a primeira turma formada e as turmas que virão da Pós-Graduação e com certeza para aqueles que comporão a Primeira Turma do Mestrado.

O Partido dos Trabalhadores que já tinha uma tradição na formação política com a Escola Nacional de Formação, com a criação pela Fundação Perseu Abramo da Área de Conhecimento que compõe o Laboratório de Gestão e Políticas Públicas, composta pelas quatro áreas de Capacitação Tecnopolítica: Mestrado, Pós-Graduação, Difusão do Conhecimento e Gestão Pública, está na verdade construindo um processo revolucionário silencioso, onde o ponto de encontro é o saber.

No sentido de ampliar esse importante trabalho e a utopia de uma nova sociedade, assim como consolidar o modo petista de governar, legislar e de participação na sociedade, a Fundação Perseu Abramo convoca homens e mulheres petistas a se juntarem aos que já estão participando, para que num futuro próximo o conhecimento, que até então era privilégio de poucos possa ser ampliado para todos os integrantes do Partido dos Trabalhadores e principalmente para os buscam uma nova compreensão de suas militâncias por uma causa humanista.

Numa sociedade desigual em plena Era do Conhecimento, a utopia de uma nova sociedade: fraterna, justa e igual, com certeza passará pela apropriação e socialização do saber.

Parabéns a todos e todas que estão participando desse novo momento do Partido dos Trabalhadores.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com


quinta-feira, 24 de abril de 2014

O que isso tem a ver comigo?

Ao olhar pela janela da vida, às vezes fico a me perguntar o que move as pessoas? Qual a razão de suas existências? Como fazer para que não sejam usadas como massa de manobra, seja por quem for? Ou ainda, porque as pessoas mudam tão rápido de opinião sem a menor convicção ou sem elementos que lhes deem sustentação? Simplesmente embarcam na teoria da conspiração sem o menor constrangimento. O que fazer para conter a violência generalizada que aos poucos vai tomando conta da sociedade e nos fazendo refém da indústria do crime?

Vivemos numa sociedade de interesses e de pleno consumo comandada pelo mercado. Para que sua manutenção esteja sempre ativa, os que caminham na mesma direção vão sendo selecionados, bastando para isso jogar o jogo sem reclamar e os que se colocam contra ou não se enquadram por não terem tido as mesmas oportunidades vão sendo excluídos ou separados para servir. Isso se transforma no dia a dia numa das maiores violência contra a humanidade.

Ao falar em violência, o que falar dos números? Em 2012 ocorreram 50 mil assassinatos no Brasil e só no Rio de Janeiro, quase 10 mil foram assassinatos nos últimos 10 anos. Trata-se de um número maior do que os assassinados em todos os países que adotam a pena de morte. Esses assassinatos foram cometidos, parte deles pelas próprias vítimas em disputa pelo tráfico, outras por várias razões e tantas outras pela polícia, que se tornou uma máquina de matar. Errados ou inocentes, o fato é que já adotamos nossa pena de morte legitimada pelo Estado e pela sociedade.

Dados do Blog Viomundo, mostra que a polícia brasileira é extremamente mal vista por organismos internacionais. “Violenta. Truculenta. Máquina de matar. É assim que a polícia brasileira, e em especial a Polícia Militar, tem sido classificada por organismos e entidades de defesa dos direitos humanos. Ano passado, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), foi recomendado sua extinção, como forma de combate à violação aos direitos humanos e à prática de execuções extrajudiciais cometidas por uma parcela dos membros da corporação”. 

Uma sociedade enlouquecida, que vai matando mesmo sem motivos ou os que incomodam o sistema. Fazendo na verdade uma grande limpeza, onde a maioria é composta por negros e pobres. Trata-se da visão do sistema, que de uma forma segura encontrou uma solução para os conflitos humanos, onde não se resolve os problemas centrais, pois esses incomodariam os agentes do mercado e em troca eliminam-se todos aqueles que caíram em desgraça ou de alguma forma incomodam quem controla ou quer controlar a sociedade.

O cientista político Luis Eduardo Soares, que já foi Secretário Nacional de Segurança Pública, revela algo preocupante: o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope) ofereceu aulas de tortura até 2006. A Polícia Civil do Rio também ensinava como bater até 1996. Ou seja, práticas herdadas dos agentes do golpe militar e que ainda hoje estão infiltradas na sociedade, onde o pior é saber que essas práticas são homologadas pela justiça, seja por ação ou por omissão.

Se for fato que a violência está instalada nos municípios brasileiros, também é fato que um dos maiores problemas está na falta de políticas públicas de segurança e prevenção à violência, principalmente nos estados e municípios e isso faz com que cada governante trate à sua maneira e interesse o problema.

Porém, se a proposta for de recuperar o cidadão que caiu em desgraça, de criar mecanismos que evite que as pessoas escolham o caminho do mal por falta de opção, de lutar contra o mercado das drogas e incluir novamente os recuperados no seio da sociedade, se faz necessária a criação de políticas de segurança cidadã, que fortaleça os laços de humanidade, que coloque a educação de qualidade como fonte de saber, que não tolere a impunidade e muito menos a discriminação e que assegure as mesmas oportunidades para homens e mulheres, brancos e negros e deficientes e não deficientes. Caso isso não ocorra, todas as tentativas serão em vão, apenas iludirão ainda mais a população, além de fazer com que cada vez mais o estado de violência se fortaleça e se generalize.

O Poder Público precisa urgentemente criar mecanismos que possibilite a recuperação das pessoas e não eliminá-las para ser ver livre da situação. Policial que mata primeiro para depois perguntar quem era, ou está completamente louco e necessita de internação ou é tão bandido como outro qualquer. 

A grande pergunta que muita gente se faz é: o que eu tenho a ver com isso? “Pago meus impostos, sou bem informado através dos veículos do PIG, não gosto de política, defendo  pena de morte, meto a boca no mundo quando vejo coisas erradas, principalmente com meus vizinhos e odeio todos os políticos”.

Talvez para responder com mais precisão essa pergunta, seja necessário recorrer a Bertold Brecht e ler e reler “O analfabeto Político”. Por ação ou por omissão, a sociedade tem sua parcela de culpa.

Você parou para pensar o que você tem a ver com isso? 

Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quarta-feira, 23 de abril de 2014

QUE AS PRÓXIMAS HORAS NÃO SEJAM AS ÚLTIMAS DO DIA

Cheguei ao mundo muito tarde o grande evento que aconteceu por volta das 18 horas. Já eram quase 21 horas quando cheguei. Tudo já estava decidido e a festa já corria solta. Muita gente que participou deste evento/reunião não se deu conta de que a partir dali se concretizariam novos rumos para a estrutura da sociedade, mas não sem promover tensões. Outras reuniões como esta já haviam acontecido mais cedo, mas para nós, esta foi, sem dúvida, a mais importante e, embora a pauta não estivesse tão bem definida, é a que pauta nossa vida até hoje. Bom, não posso dizer por eles, mas imagino que os que tiveram à frente desta reunião não tinham toda a clareza e nem estiveram muito preocupados em mensurar a proporção que os desdobramentos tomariam e quão perniciosos poderiam ser.

Como cheguei atrasado, o mínimo que posso fazer é tentar entender os caminhos que decidiram tomar para assim, poder entender o que está acontecendo agora, poucas horas depois. Não é tarefa fácil, pois além de ser necessário entender o que aconteceu nas últimas horas, durante minha pequena permanência aqui, preciso tentar vislumbrar o que vai acontecer antes do dia acabar e deixar, ainda que um recado, para os que chegarão mais tarde, pois acredito que muitos chegarão e, quando eles chegarem, talvez sejam mais habilidosos do que temos sido para postergar o fim do dia.

Algum filósofo há muito tempo, já sugeriu que sob o prisma da humanidade o nosso tempo de vida é uma gota d'água no oceano e, de modo similar, sob o prisma da idade da Terra nossa vida duram poucos minutos. O oceano é imenso, é profundo, é raso, é escuro, é claro, é agitado, é tranquilo, é assustador e ao mesmo tempo admirável. Mas, infelizmente nós, gotas d’água, talvez não tenhamos nos conscientizado para o fato de que, querendo ser diferentes, nos destacar, não querendo ficar tão ao fundo, seja individualmente, seja em grupos, podemos comprometer a perenidade desta maravilha que é o oceano.

O ser humano, entendido como o ser vivo dos seres vivos, aquele que está acima dos demais animais por ser “racional”, tem sido muito mais irracional do que imagina. Quem estava aqui às 18 horas não vive mais, e nós, atrasados ou não, aqui chegamos. Preocupados com nossas tarefas, com nossos desejos, com nossos próprios “nós”, parece que acabamos por nos esquecer de um precioso fato: não basta reproduzir a espécie para reproduzir a vida.

Embora não tenhamos estado aqui às 18 horas, recebemos um pacote dos que aqui estavam, e notadamente parece ser difícil imaginar que este pacote possa ser substituído, tão já, por algo novo. Pode ser que este grande evento tenha sido não o melhor, mas o menos pior sistema já experimentado pelos seres humanos, mas está muito longe de ser o ideal. Está ai, é o que temos, quando nascemos ele já existia e quando morrermos, acredito eu, ele ainda estará ai, em pleno vigor. Cuidado, não se trata de 'aceitar a vida como ela é'. A questão é que este pacote nos tornou mais individualistas e menos livres ao no impor padrões, além de ser intrinsecamente desigual e nem tão justo quanto dizem.
A livre iniciativa, a liberdade de expressão, a democracia, a propriedade privada, ganharam nossa simpatia e há motivos de sobra para justificarmos as razões pelas quais. Mas esse quadro pintado esconde coisas por trás, e o nosso 'sucesso' ou 'bem-estar' não dependem somente da 'livre iniciativa'.

Acreditamos na 'liberdade de expressão' mas nem sempre nos damos conta de que as informações à que temos acesso carregam consigo boas doses de parcialidade. Passamos a pensar que o voto é o ápice da nossa condição de cidadãos e não refletimos sobre o modelo de 'democracia representativa', aliás, como boas gotas d'água, preferimos nos recolher à nossa pequenez e acreditar que não há o que fazer e assim contribuímos para a manutenção do status quo. Acreditamos que teremos tudo o quanto quisermos se assim nos esforçarmos para tal, mas nem sempre entendemos porque queremos ter tanto. Esforçamo-nos para ter 'a minha casa' e para encher 'a minha barriga' e somos inclinados a pensar que a fome e a moradia precária se devem ao fato de não estarem se esforçando o suficiente para terem o que precisam, atribuindo ao indivíduo toda a responsabilidade pelo seu insucesso e perpetuando a falsa ideia de que todos, sem exceção, 'competem' com as mesmas armas e, portanto em pé de igualdade.

Por estas e outras razões nos distraímos, e com pequenas coisas nos roubam os minutos que temos, nos impedindo de olhar, refletir e compreender nossa condição sob um prisma mais amplo, pois nossos minutos passam rápido demais para nos preocuparmos com os minutos de 'todos os demais' e menos ainda com os minutos dos que virão depois.

Esse pacote que recebemos impõe um modo de vida, que há existia quando nascemos e que estamos perpetuando. Esse pacote permitiu à humanidade coisas grandiosas, porém não temos conseguido dar respostas a problemas relativamente simples, o da fome, por exemplo, que nos parece não ser um problema de escassez material. O problema é que, se não enxergarmos sob um prisma que exceda nosso tamanho, nossos minutos se passarão e não teremos dado nossa contribuição para os que virão depois de nós e que, poderão mudar a pauta e, quem sabe, se reúnam e façam melhor que nós.

Há potencial de crescimento econômico em diversos países, mas não paramos para pensar se o 'modelo' de crescimento é o mais adequado. O crescimento pode vir, mas o desenvolvimento não necessariamente. Precisamos aprender a fazer diferente e melhor, para evitar que as próximas horas sejam de caos. É incontestável que os Estados Unidos da América (EUA) são o baluarte do capitalismo, o modelo mundial de sociedade 'desenvolvida' e, mais uma vez sob um ponto de vista de muitas horas, precisamos refletir sobre o fato de que se este 'modelo' pode ser reproduzido e sustentado por mais quantas horas.

O que poderia acontecer se outras grandes economias quiserem adotar para si um modelo de desenvolvimento similar ao do 'baluarte'? Se os padrões de produção e consumo do 'baluarte' se disseminarem por muitos outros países, o que aconteceria? Sem mudanças, sem novos rumos no processo produtivo, caso continuemos o caminho que estamos trilhando, estaremos acelerando o processo de catástrofes climáticas.
Precisamos de uma nova agenda de desenvolvimento, de um novo pacote que seja construído nos próximos minutos e que paute a atuação da humanidade para as próximas horas, tarefa ingrata, incompreendida, que não atrai atenção popular e que não angaria voto.

A mudança precisa começar nas bases, nos alicerces da sociedade. Falo da educação, da cultura, do acesso á formação é à informação, da politização. Talvez não tenhamos minutos suficientes para ver um sistema de sociedade muito diferente do atual, mas precisamos pensar no que queremos para os que virão.

Se quisermos um mundo melhor, sem pobreza, menos desigual e mais livre, precisamos nos atentar para o fato de que este mundo só será possível se pensarmos para além dos minutos que temos.

Pode ser contraditório, paradoxal, mas ainda acredito na humanidade. Espero que os que estão por vir não se decepcionem tanto quanto poderão com os seus antepassados, nós. Que possamos começar algo melhor para que os que estão por vir o desenvolvam e desfrutem, corrigindo o que há para ser corrigido, reformando o que há para ser reformando, jogando no lixo o que não serve mais e renovando.

Precisamos provar e fazer jus à “racionalidade” que dizemos que temos. Precisamos parar de olhar só para o nosso próprio relógio, pois ele funciona por pouquíssimo tempo, e começar a olhar para o tempo sob o ponto de vista da humanidade. As próximas horas virão, e elas não necessariamente precisam ser cinzentas, penosas, vazias. Se nós não fazemos as escolhas, outros farão por nós.

Roberto Rodrigues
Economista, Especialista em Economia Social e do Trabalho, Mestrando em Desenvolvimento Econômico junto ao Instituto de Economia da UNICAMP, Professor do ISCA Faculdades e Economista Associado à LMX Investimentos.

rodriguesrobertto@yahoo.com.br

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A sociedade precisa se reinventar para resgatar o humanismo

Figura: netmarinha.uol.com.br

Quero iniciar essa conversa nesse tempo de reflexão, me referindo ao humanismo em seu sentido amplo, que significa a valorização do ser humano e a condição humana acima de tudo.

Com esse olhar humanista, fica difícil compreender e aceitar a guerra invisível contida no seio da sociedade, às vezes entre pessoas que aparentemente caminham juntas. Porém quem se considera melhor que o outro, vai excluindo as outras pessoas, boicotando possibilidades, construindo a teoria da conspiração e tentando afastar quem se mostra tão capaz quanto essa que se considera a única opção possível e viável para a humanidade. Por incrível que pareça na maioria das vezes isso ocorre pelo simples fato de uma disputa por uma ínfima parcela de poder, ou ainda por simples paranoia e pura incompetência.

O fato é que infelizmente nos deparamos com situações semelhantes em praticamente todos os espaços onde seres humanos habitam. Quem não consegue se viabilizar e não tem uma missão a seguir, tenta parar o mundo para que não gire numa velocidade maior que a sua.

Que mundo é esse, onde falsos líderes tratam pessoas simples como “garrafinhas”, somente para provar que desfrutam de prestígio e de poder de voto? Nesse momento minha revolta é tamanha que me enxergo totalmente anarquista e a minha atitude é entrar na luta, apenas para não permitir que essas pessoas simples sejam mais uma vez enganadas. Quem pensa e age assim não nos representa.

Já repararam atentamente no trânsito? Algumas pessoas nos ultrapassam, até pela direita, apenas para ganhar uma vaga e ficar à frente. Uma disputa insana pela dianteira, simplesmente para ser o primeiro ou ainda para provar que o seu carro é mais poderoso. Trata-se na verdade de um desvio de conduta rumo à violência.

Outra questão que está destruindo a humanidade vem do fato de que se permitiu que a velha mídia virasse o quarto poder e determinasse os hábitos e as vontades das pessoas.

A humanidade está em crise? Que tipo de crise? O que buscam as pessoas? Qual a verdadeira intensão de quem: toca um projeto, chefia, gerencia, coordena ou mesmo governa? É preciso anular as pessoas para provar quem manda? O que fazer para resgatar o humanismo? Até que ponto isso tem a ver com cada um de nós?

É impossível responder qualquer uma dessas perguntas sem antes descobrirmos qual é a nossa missão, tanto como cidadãos, mas principalmente como seres humanos. Qual é a sua causa que alimenta sua vida? Veio ao mundo à passeio ou a trabalho?

A pressa no trânsito, a falta de crença, o desencontro com a missão, a disputa pelo nada e uma busca incontida pelo senso comum, talvez sejam apenas desculpas para a omissão. O que tenho a ver com isso? E nessa insensata falta de compromisso muitas pessoas passam a maior parte de seu tempo. Como se nada demandasse da omissão de cada um. No final das contas, ou por ação ou por omissão todos que se omitem carregará para a eternidade sua parcela de culpa.

As pessoas estão tão envolvidas ou com o nada ou com sua sobrevivência, que não conseguem enxergar que a sociedade capitalista é extremamente seletiva e faz uma seleção natural para determinar quem serão seus escolhidos para a continuidade.

De um lado seus escolhidos com direito a tudo e do outro os que a servem, esses sem direito algum. Para esses a justificativa é que não souberam aproveitar as oportunidades ou nasceram mesmo sem sorte. O pior é que esse ciclo se transfere também para o mundo da política. Em regras regais a maioria dos escolhidos por um sistema eleitoral falido e tendencioso defendem exatamente os que nasceram com sorte. Sobra para a maioria da população brasileira, ou a conformação de que nasceram sem sorte ou lutar bravamente pelos seus direitos.

Das duas uma: ou a sociedade se reinventa, no sentido de incluir e receber bem as pessoas que deram suas vidas para que a minoria pudesse se beneficiar às suas custas e nunca tiveram nada em troca ou a maioria que nunca teve nada e agora estão conquistando seus direitos marcharão rumo ao poder no sentido de destruí-lo.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com