Imagem: diferençaediversidade.blogspot.com
Acordei
pensando o que escrever num dia tão importante como o de hoje e resolvi fazer
uma pequena reflexão, no sentido de evidenciar que se a educação fosse levada a
sério, como deveria ser, por uma grande parte dos governantes, poderia sem
dúvidas mudar o rumo de milhares de brasileiros e brasileiras, assim como do
próprio país.
Quero antes
de tudo agradecer de coração a todos os professores e professoras que contribuíram
com a minha educação. Nos meus tempos de criança era muito complicado, em plena
ditadura militar. Entre outras coisas éramos obrigados a cantar todos os hinos,
todos os dias, com a mão no peito e nunca entendi porque, pois se era por
respeito à questão era outra.
Como um
seguidor da linha de pensamento de Paulo Freire, quero aqui exaltar a figura do
educador, que diferente daquele professor, que dá aula por falta de opção
profissional, que chama os alunos da rede pública de “bando”, tira um tempinho
para ouvir cada um de seus alunos e compreender o cotidiano de suas vidas. Ao
fazer isso descobre que há sentimentos e sofrimentos escondidos em cada olhar. Com
um gesto como esse o educador simplesmente o acolhe e evita que muitos deles, por
ação ou reação, venham a se desviar para o universo da criminalidade futura ou
a violência presente.
Lembro-me
de um caso recente que me chamou a atenção, ocorrido numa feira de ciências na escola
pública estadual que a minha companheira é diretora. Uma aluna loirinha chegou
até ela e dizendo: “O que faço diretora,
queria tanto comer um pastel, mas não tenho dinheiro? Minha mãe não tem.” E
ela respondeu para a menina: “Pronto esse
caso está resolvido”, passando a seguir o dinheiro para a menina comprar o
pastel. Após isso, eu e a minha filha vimos o tamanho do sorriso e o brilho no
seu olhar. Em outro caso na mesma escola, vi no dia de uma gincana, onde os
meninos se vestiam de meninas e vive e versa, uma professora de Educação
Física, se vestir como homem e entrar na brincadeira, além de muito divertido,
foi um momento lindo onde com certeza ganhou o respeito e a confiança de todos
aqueles alunos e alunas. Pequenos gestos que ficam.
Principalmente
na questão educacional, vemos claramente no Brasil dois mundos completamente
diferentes: um que esqueceu a educação, a partir do momento que não investe no
professor, em equipamentos, em materiais de apoio e principalmente na qualidade
de vida dos alunos, com a falta de políticas integradas que envolva a família.
Não estou nem me referindo aos políticos que desviam verbas da educação e até
da merenda escolar, onde faltam os alimentos básicos, pois para esses não tem
perdão. Estou me referindo ao país neoliberal, que sucateou o ensino, que
construiu milhares de universidade particulares, a maior parte delas para os
pobres e as públicas para aqueles ou aquelas privilegiados, que estudaram nas
melhores escolas e assim passam com mais facilidade. Esse é o país que da
desigualdade e da violência.
O outro
Brasil caminha para o desenvolvimento social, contra o primeiro é claro, com
cotas para os estudantes das escolas públicas e raciais, com construção de
Escolas e Universidades públicas, estabelecendo um salário mínimo para os professores,
com um Plano Nacional de Educação extremamente avançado e com milhares de novas
oportunidades para os jovens, como é o caso do PRONATEC, por exemplo. Esse será
o país do futuro se continuar sendo governado com essa perspectiva.
Quantos
prefeitos e prefeitas não estão “enrolados”, porque ou usaram mal a verba da
educação ou desviaram os recursos? Essas pessoas tem que serem presas.
Se os
gestores querem de fato governar colocando a educação como centro das
prioridades, parem de fazer de conta e mãos a obra. O que não falta é recurso
do Governo Federal, faltam projetos. Todas as ações e projetos da Educação
necessitam integração ampla de governo e a participação efetiva dos atores
envolvidos (Professores, pais, alunos, funcionários e parceiros). O que falar das centenas de prefeituras, que
sequer fizeram a Conferência Municipal de Educação? Tenho pena das crianças da
rede pública dessas prefeituras. Apenas como lembrete, seguem algumas ações que
poderão ser criadas, a maioria sem nenhum custo e as que têm custo, quase todas
com apoio do Governo Federal:
- Criação de um Fórum de Educação com todos os setores envolvidos.
- Criação de um Núcleo de Programas Educacionais.
- Criação do Plano de Plano de Cargos e Salários para os professores e funcionários da educação.
- Criação ou adequação de um Plano Municipal de Educação.
- Modernização das salas de aula e dos equipamentos.
- Investimento nos professores, capacitando-os para o mundo digital e outras ferramentas.
Ser
Educador é promover naquela criança que a autoestima está em baixa, sonhos
capazes de se realizar, onde ela consiga enxergar, que apesar das dificuldades,
sempre terá uma mão amiga a lhe conduzir.
"Se nossa opção é
progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da
injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não
de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção."
"O educador se eterniza em cada ser que educa". (Paulo Freire)
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
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