O Curso
Plano de Governo e Ações para Governar permite diversas discussões entre os
gestores presentes e uma delas se refere em saber se os gestores estão
preparados para governar com o povo. De forma tranquila, a maioria deles tem
afirmado que não.
Apesar
de ser uma resposta impactante, não deixa de ser interessante, pois ao assumir
que não estão preparados, além de detectar um problema de gestão, ou melhor, um
formato de gestão desassociado da população, chama para si a responsabilidade
de refazer caminhos, de construir novos referenciais e mudar o que for
necessário para que terminem suas gestões com projetos e políticas públicas, ao
menos próximos da população.
Outra
pergunta apresentada, completa a anterior, a partir de questionamentos
levantados no próprio curso: e o povo está preparado para uma gestão
participativa? Alguns afirmam que sim, porém a maior parte dos gestores chega à
conclusão que não. Segundo a avaliação, a população está acostumada a cobrar e
delegar a quem nem mesmo conhecem, em muitos casos em troca de pequenos
favores, sendo que uma grande parte se recusa em participar.
Poderíamos
aceitar isso como verdade, principalmente pela comodidade contida na resposta,
porém como gestores de um partido de “esquerda” e que tem como eixo principal a
implantação do Socialismo Democrático, essa resposta, além de comprometedora,
deixaria a certeza de que não há solução para o combate de todas as
desigualdades existentes na sociedade e assim o ato de governar ficaria
restrito ao processo burocrático e a ocupação dessa importante parcela de poder.
Temos
chegado à conclusão de que se trata de um conflito cultural, antes de ser
político, pois expõe velhos conceitos e formatos, aonde o servilismo vem sempre
à frente, o mercantilismo no processo eleitoral nem é notado, pois a sociedade
exige resultados a qualquer custo.
Fazendo
uma analogia com o mundo empresarial, regido religiosamente pelo “deus mercado”,
em seu processo de modernização houve tentativas de mudanças, a partir da
concepção das Teorias “X”, “Y” e “Z”, embora não seja tão fácil a mudança e a
maioria não mudou, pois a noção capitalista de posse e lucro impedem mudanças
mais significativas em termos de abertura, participação e gestão compartilhada.
As mudanças ocorridas se deram mais pela necessidade do que por um processo de
crescimento.
Ao
olharmos para o universo da Gestão Pública, numa breve análise, muito mais
emocional do que racional, a impressão que se tem é que a maioria dos espaços
públicos ainda está na Teoria “X”. Segundo essa teoria desenvolvida por Douglas
McGregor nos EUA depois da Segunda Guerra Mundial, os
trabalhadores seriam preguiçosos e necessitariam ser dirigidos, assumindo-se a
mediocridade das massas trabalhadoras, a partir das seguintes premissas:
a) o cidadão
médio tem uma inerente ojeriza pelo trabalho e, se lhe for permitido, não
trabalhará;
b) as pessoas
devem ser coagidas, controladas, dirigidas e ameaçadas com punições para que
realizem o esforço necessário para que uma organização alcance seus objetivos;
e
c) o cidadão
comum prefere ser dirigido (a dirigir), prefere evitar responsabilidades, é
pouco ambicioso e, acima de tudo, gosta de segurança.
Nota-se claramente que essa teoria enxerga o ser humano como
máquina e assim, a única coisa que interessava era a produção em alta escala,
com a simples troca em caso de doença ou diminuição na produção individual.
Por incrível que pareça, ao fazer um comparativo “ao pé da letra”,
notamos claramente que a Gestão Pública para alguns, nem mesmo estaria na
Teoria “X”, pois a noção é de completo abandono, da máquina pública, dos
funcionários públicos e principalmente dos serviços oferecidos pela população,
que mesmo essa população se constituindo como patroa de todo processo, pois é
quem paga, o resultado é o mais precário possível.
Em resumo, pois se torna impossível aprofundar questões tão
amplas, em tão pouco espaço, a resposta para ambas as perguntas, contrariando
todo processo conservador, é que cabe sim aos gestores a preparação de ambientes
que facilitem a compreensão do cidadão, por mais leigo que seja e
principalmente os gestores busquem capacitação para
cumprir o papel de mediadores, no sentido de empoderar o cidadão e
respeitar seu direito de participação e controle social.
Portanto, é necessária uma ação planejada para se conquistar o
direito de continuar no caminho.
Como dizia Rousseau: “Para conhecer os homens, torna-se indispensável
vê-los agir”.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo