Qual a dimensão de um governo? Que tipo
de governo está na cabeça dos gestores? É possível trabalhar como profissional
mesmo num campo político?
Há pouco mais de dez anos, ninguém
podia imaginar que o país passasse por tamanha transformação. Primeiro pelo
fato do Brasil, até aquele momento estar refém do FMI, Clube de Paris e
principalmente dos Estados Unidos, onde qualquer mudança na economia ou mesmo
na política salarial tinha que ter o aval de seus credores e muitas vezes
recuar da proposta em nome da governabilidade. Um verdadeiro vexame
governamental, sem contar nas heranças malditas das ditaduras, onde muita gente
morreu em nome da liberdade.
Em segundo, quem podia imaginar que um
operário fosse eleito duas vezes, elegesse a primeira mulher na história como
sua sucessora e ambos criassem Políticas Públicas capazes de gerar uma grande
revolução silenciosa: política, econômica e social. Não é atoa que uma Rádio
como a CBN, que considero uma peça chave da Teoria da Conspiração, dedicou os
dez últimos anos de suas programações, na tentativa de desconstruir todas as
políticas federais, a tal modo que quando ouço algo que consideram uma boa
política federal, fico pensando onde foi que o governo errou.
A dimensão de um governo tem que ser
proporcional à necessidade da população, tem que ser construída nas ruas e não
em gabinetes, porém isso só é possível se o grupo que governa for de fato
representante da população e em especial da população menos favorecida. Não tem
segredo. Cada governo representa um segmento da sociedade e fundamentada nos
interesses de quem economicamente financiou a campanha eleitoral. Quanto mais
dinheiro para as campanhas, mais comprometidos os governos ficarão com seus
credores. O pensamento politico da gestão tem que ser advindo da interação com
a sociedade.
Como afirma Yehezkel Dror: “O
pensamento político deve lidar com opções estratégicas voltadas a ter impacto
significativo no futuro, às vezes estabelecendo e alterando trajetórias de longo
prazo”.
Governar é uma ação política e não
meramente administrativa, assim sendo, o resultado de um governo não pode ser
avaliado apenas pela quantidade de obras executadas e sim por quanto avançou em
termos de soluções para a população e é nesse momento que sabemos a quem esse
governo serve. Não se governa olhando apenas para o presente e tampouco da
mesma forma para o futuro, se governa ouvindo a população e junto com ela
preparando as ações futuras. Uma junção de representatividade com participação,
ou ainda de representantes eleitos nos fóruns participativos. É com essa
concepção que se pode enxergar e avaliar se um governo é conservador ou
progressista.
Outra afirmação que faço é que num país
capitalista e voltado ao mercado, o Estado tem que ser forte e junto a isso, se
faz necessário à criação de instrumentos participativos que interaja com a
população e construa Politicas Públicas a partir de seus referenciais. É dever
do Estado suprir as necessidades da população carente e criar condições dessa
população voltar novamente a ser incluída no seio da sociedade, lhe garantido o
direito de cidadania.
Assim, não é somente um governo criar,
por exemplo, coordenadorias da mulher, da juventude ou da igualdade racial e de
outros setores, quando criam, mas se responsabilizar para que cada setor criado
trabalhe a partir da interação integração com o setor específico e com os
demais setores de governo, pois não existe nenhuma Política Pública que seja
independente, necessitando assim uma ampla integração de governo. Outra questão
importante é saber se os gestores nomeados envolvidos têm a ver com os
instrumentos criados, tenham entendimento da necessidade de envolvimento dos
atores e principalmente compromissos com o contexto de cada área governamental.
Outra questão relevante se refere a que
tipo de capacitações e treinamentos está sendo oferecido, tanto para os
gestores, para os funcionários públicos de carreira e também para a população.
Podemos aqui fazer uma breve referência a pelo menos três tipos de focos
distintos:
1) Para os gestores e técnicos, se
torna fundamental uma capacitação tecnopolítica, motivadora e que facilite a
compreensão quanto aos compromissos assumidos técnicos e políticos pelo
governo, fundamentado principalmente no Plano de Governo e de suas atualizações
nos fóruns participativos realizados;
2) Para os servidores de carreira, uma
formação técnica continuada, no sentido de passar a visão que a máquina pública
pode ser transformada num campo profissional, com perspectivas claras a partir
da construção de um plano de carreira participativo e o envolvimento dos
servidores, quanto aos seus compromissos perante à população;
3) Para a população, uma capacitação
técnica voltada à preparação de novas lideranças, que ocupem os cargos nos
instrumentos existentes e a serem criados, com a visão de representantes de
fato da população e não de oportunistas que apenas ocupam as funções em
benefício próprio. Além disso, ampliar a oferta de cursos técnicos, no sentido
de melhorar a qualidade técnica da mão de obra, ampliando assim para novas
possibilidades.
Governar sob o ponto de vista político
de mudança da sociedade e de melhoria na qualidade dos serviços oferecidos, vai
muito além de um gerenciamento de governo como se fosse uma empresa, que é
compreensão dos gestores ligados aos partidos de direita com uma visão
neoliberal, na verdade se constitui na prática de um exercício de mudanças
contínuas e de reeducação, tanto interno como externo.
Como afirma Zenaide Sachet: “A
constatação mais triste é que muitos dos nossos governantes assumem os espaços
de governo sem ter consciência de que o processo de condução é muito distinto
de um processo de gerência rotineira e que a rotina é apenas parte do sistema
de gestão. Parte bastante pequena, já que, dos problemas que um dirigente
enfrenta em um sistema de governo, apenas alguns poucos são bem-estruturados”.
Com essa visão, a criação e a
implantação de uma Escola de Governo, tratada de forma séria, poderá contribuir
e muito para a manutenção de um Programa de Capacitação Continuada, onde todos
possam beber na fonte do conhecimento e esse conhecimento possa ser
transformado no veículo necessário para as mudanças definitivas que a sociedade
necessita.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
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