Foto: quebala.blogspot.com
A questão
racial no Brasil vem de um contexto histórico, dos tempos do Brasil colônia,
que em grosso modo poderia ser traduzido como sendo o uso e dominação de homens
e mulheres, trazidos à força de suas origens, formando senzalas para servir
senhores e senhoras da Casa Grande e que a resistência significava tortura e
morte.
Meu primeiro
contato histórico-científico com esse apaixonante tema aconteceu em 1989,
quando ganhei da minha companheira o Livro: “Retrato em Branco em Negro”, da
antropóloga Lilia Schwarcz. Um livro que trazia a visão da imprensa
paulista sobre a questão da escravidão, sobre os escravos e como foram
abandonados pela sociedade, após a abolição da escravatura. Foi uma leitura
impactante, pois defendia que na prática, a verdadeira escravidão ocorrera após
a abolição.
Como
militante político e coordenador na época de um projeto de mutirão
habitacional, com pessoas vindas de várias partes do país, vivia na pele a
discriminação e as portas fechadas para todas as nossas necessidades. O caminho
mais natural foi à resistência, a indignação e a solidariedade a todas as lutas
pela igualdade.
A
identificação com a causa dos negros e negras no Brasil se deu automaticamente
pela identidade da causa: a luta histórica, a resistência e a luta constante
contra a toda forma de discriminação econômica, política e social.
Numa
entrevista, Lilia faz uma revelação: “Aqui no Brasil, “ninguém é
racista”, como determinou, em 1988, no centenário da Abolição, uma pesquisa
cujos resultados eram sintomáticos: 97% dos entrevistados afirmaram não ter
preconceito. Mas, ao serem perguntados se conheciam pessoas e situações que
revelavam a discriminação racial no país, 98% responderam com um sonoro “sim””.
No mundo
católico, um fato ocorrido em 1981, idealizado por D. Helder Câmara, Bispo de
Olinda e escrita por D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, por um lado
escandalizava o universo conservador da igreja, mas opor outro enchia de
orgulho todos os militantes da Teologia da Libertação. A Missa dos Quilombos,
que era a continuidade da Missa da Terra Sem Males, sobre a exploração do
índio, pedia perdão pela conivência e pela aceitação a todos às atrocidades
cometidas contra os negros e negras. Milton Nascimento foi convidado a musicar
a missa. D. Pedro escreveu sobre o evento:
Em nome de
um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como
se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vêm sendo
submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil,
na América, na África mãe, no Mundo.
Deportados,
como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os
canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados,
clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e
as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as
favelas, as baixadas, os xadrezes).
D. Helder Câmara invoca Mariama na Missa dos Quilombos em 1981
Postado por Daniel Tomazoni
A luta dos negros e negras, apesar de serem equivalentes a outras lutas contra a discriminação e a exclusão, por seu contexto histórico e sua origem, possui uma dimensão maior, sentida na pele, principalmente pelas mulheres negras, que são duplamente discriminadas.
Na véspera de iniciar um trabalho maior, no sentido de colocar na pauta nacional a questão da Igualdade Racial como texto
e contexto na Gestão Pública, onde o Partido dos Trabalhadores governa, é vice
ou faz parte da gestão, só tenho a agradecer pela grande oportunidade que a
vida me deu e agradecer especialmente aos companheiros que identificaram no meu
trabalho uma contribuição num assunto tão grandioso.
O importante é que possamos nesse
novo trabalho, envolver pessoas na causa, incentivar a criação de Políticas
Públicas inclusivas e participativas e essas cheguem possam chegar, com
clareza, na fonte para quem de fato necessita.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
O uso e dominação de homens e mulheres , a Casa Grande, suas lutas, principalmente as mulheres negras.D. Helder grande líder da igreja.
ResponderExcluirÉ com alegria que o PT traz para a pauta a Questão da Igualdade Racial.
Parabéns!!
Precisamos pagar essa dívida enorme que ainda existe e pedir desculpas por todas as atrocidades causadas a todos os negros e negras.
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