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Ouvi
recentemente de uma pessoa influente do meu partido, que já foi prefeito por
dois mandatos, que a sua segunda eleição rumo à reeleição foi feita
exclusivamente pela população, com baixíssimo custo. O resultado de seu
trabalho no primeiro mandato, organizando os fóruns representativos,
reorganizando os conselhos municipais e promovendo debate através do Orçamento
Participativo, resultaram na apropriação de seu mandato pela população e essa
lhe deu como presente o segundo mandato. Foi algo que soou como uma sinfonia,
que jamais esperava naquele momento ouvir.
Por
outro lado, ouvi não faz muito tempo de um prefeito de primeiro mandato, já inebriado
pelo poder, que não queria muitos conselhos municipais organizados e nem
deliberativos, pois travaria a máquina, assim como queria também poucas conferências
municipais, porque o povo não estava preparado para uma gestão participativa.
Por alguns instantes me perguntei o que estava fazendo ali para ouvir tamanha
insensatez.
As
situações descritas são tão antagônicas, que a vontade que me dá é colocar um
em frente ao outro e torcer para que a magia da participação descrita pelo
primeiro contaminasse o personagem do segundo caso.
Esses
episódios, que marcam bem dois modelos de gestão, na verdade, em alguns casos,
estão além de partidos, pois faz parte de uma questão cultural, ideologicamente
moldada. Um que enxerga a população organizada como protagonista de seu futuro
e outra que se molda ao sistema, realçando ainda mais o processo de exclusão.
Vários
instrumentos de participação poderão ser criados, como: fóruns, seminários,
conferências, conselhos, coordenarias, orçamento participativo e tantos outros.
Porém, de nada vale um instrumento, mesmo que criado a partir de uma lei
municipal, se o coração do gestor e as mentes centrais do governo, não pulsarem
forte ao verem o povo reunido, nem se indignarem ao ver todos os dias: a
miséria, a fome e a exclusão.
Para
governar com o povo, é necessário ser povo, ter vindo das bases e ter passado
por provações. É saber que cada momento como “senhor”, se não for
compartilhado, o distancia cada vez mais da ideia de ser humano e o faz, nem
que seja por segundos, num ser imortal. Como dizia Paulo Freire é preciso
gostar de ser gente:
"Gosto de ser gente porque, inacabado, sei
que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir
mais além dele."
Para sentir essa magia
é necessário um processo interior de transição, que ao mesmo tempo valorize a
conquista da vitória, mas por outro lado leve ao entendimento que esse poder
foi emprestado pelo povo.
Valendo-me mais uma
vez de Paulo Freire, ouso comparar o encontro da população organizada, em busca
de seus ideais, a partir da abertura provocada por um gestor consciente, com o
final de sua “Canção Obvia”, em busca da tão sonhada liberdade:
"Estarei preparando a tua chegada, como
o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera."
O Presidente Lula, sentiu essa magia. Não só governou com o povo, como também fez milhares de pessoas voltarem a sonhar.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
Perfeito seu artigo Toni! Realmente são dois modelos distintos de governo. Mas a esperança é cada dia maior em ver que estamos no rumo certo. A maioria sairá vitoriosa. O Brasil está entendo o recado da transformação que começou no governo Lula. Abraço.
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