Se o poder
está à margem da loucura, como se chega à conclusão após ler Michel Foucault,
como lidar com ele? Como criar alternativas políticas que seduzam a população?
Ontem ele
era apenas um ser mortal. Transitava entre seus pares como um ser normal, sem
ser notado, executando seu trabalho e cumprindo tarefas triviais e necessárias.
Podia não ter compromissos com o que fazia, mas o resultado do seu trabalho
agradava seu comandante.
No dia
seguinte, se perfumou, vestiu sua melhor roupa e caminhou para o trabalho. Nem
ele mesmo se aguentava. Era outra pessoa, como se repente uma entidade tivesse
se apoderado de seu corpo, alma e espírito. Convocou uma reunião
extraordinária. Falava alto com voz impositiva e comunicou que a partir daquele
momento, era ele quem mandava e que iria modificar a seu critério toda rotina.
Quem não aceitasse podia pedir para sair. A partir daquela data aquele ambiente
descontraído, tornava-se um verdadeiro inferno. Ninguém sabia, mas ele tinha
acabado de ser promovido.
A pequena
história ilustra o dia a dia de muita gente que chega o poder e transforma algo
que era para ser compartilhado num poder vertical centralizado, onde manda quem
pode e obedece quem tem juízo.
Quando criei
a frase em Hortolândia/SP: “O poder é como um saquinho de algodão doce”,
quase ninguém entendeu, mas aquela pessoa que se tornara “monstro”, um dia
reconheceu que essa frase era a mais absoluta verdade. Ele tinha acabado de
perder todo poder que imagina ter.
Sergio
Cortela, numa de suas belas palestras afirmou: “O poder foi feito para
servir, assim, todo poder que ao invés de servir, se seve, é um poder que não
serve”.
Milton de
Oliveira, Consultor da Corp – Centro de Educação Corporativa, ao
analisar o clima organizacional, cita a contradição contida na maioria das
organizações:
"Ao
chefe, é permitido ter raiva, ser autoritário, vaidoso, manipulador,
competitivo. Quem está no poder pode descarregar toda sua carga emocional em
cima dos subordinados, pode bater na mesa e bater a porta. Mas os subordinados
devem ser racionais, leais, obedientes, adaptados, eficazes, organizados e
altamente equilibrados. Ao externar qualquer tipo de emoção, podem ser
considerados fracos, desequilibrados e serem dispensados por quem está no poder”
A
necessidade de legitimação do poder nasce na busca de autoafirmação, onde sonho
e fantasia se confundem, onde criador e criatura se encontram, apenas para
provar quem é o mais forte e a quem pertence o poder. O resultado imediato
desse processo é a solidão.
Segundo
Vinicius de Moraes: “A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se
defende, que se fecha e que se recusa a participar da vida humana”.
A concepção
do poder central, mesmo nos espaços públicos, antes de ser uma questão clínica
é uma questão cultural, onde na cabeça de alguns gestores, eles foram eleitos
para pensar pela sociedade e assim, sem a menor necessidade de prestação de
contas ou ainda de criar formas participativas na formulação das Políticas
Públicas.
Um das
formas de desconstruir a lógica perversa do poder centralizado é
potencializando a inversão de valores, trabalhando o Poder Local e esse
ocupando os espaços para se contrapor ao Poder Central. Mesmo que isso não
garanta o respeito necessário na busca de soluções definitivas dos problemas
existentes, só assim serão ouvidos e é a ação necessária para que os sonhos não
morram.
O Poder
Local pode ser entendido como o conjunto das forças sociais, políticas,
econômicas e culturais e a relação política entre os diferentes sujeitos
sociais, a partir da organização local.
Que tal
começar por transformar todos os Conselhos Gestores em deliberativos, realizar
todas as conferências, promover os fóruns, encontros, chamar os funcionários
públicos para a gestão e ampliar os canais participativos. O mais importante é
a reunião de pessoas, debatendo, elegendo suas prioridades e alimentando pouco
a pouco o direito dessas pessoas continuarem a sonhar.
Como dizia
Paulo Freire: : “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de
sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em
lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o
hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de
rotina”.
Para quem se
considera um militante de uma causa, em qualquer situação, o sonho da
transformação da sociedade, numa sociedade justa, fraterna e igual dando voz ao
povo jamais pode morrer.
Bem vindo à
utopia! Bem vindos ao direito de sonhar!