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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Você tem "garrafinhas" para disputar o poder?

Foto: minhavidaeco-chique.blogspot.com

Certa vez ouvi uma frase que me deixou intrigado: “Só tem espaço nas grandes esferas de poder, quem tem garrafinhas para contar, mesmo para aqueles que já tenham provado sua capacidade”. Por mais incrível que pareça, as garrafinhas a contar em questão eram pessoas, da base de apoio de alguém, contadas por cabeça e transformadas em votos. O fato de tê-las próximas legitimava uma pessoa para uma vaga num conselho, num fórum, numa instância partidária e até mesmo para se lançar como candidato a qualquer cargo público. Quando olhei para mim, descobri imediatamente que pelas vias triviais jamais teria destaque junto às mentes centrais do poder, simplesmente pelo fato de não possuir nenhuma garrafinha para contar.

Sou do tempo em que ampliar a base de uma instância, se dava pela cooptação, pelo convencimento das ideias, pela afinidade, pelo amor à causa e principalmente pela identidade ao projeto, ou simplesmente pela sedução de caminhar juntos, de forma ampla, geral e irrestrita, onde cabiam todos e quanto mais as pessoas fossem instruídas e capacitadas, mesmo que viessem a discordar de quem o trouxe para o fórum em questão, mais dava prazer em participar, pois era sinal de que a linguagem estava clara e o projeto certamente seria fortalecido.

Sou daqueles apaixonados pela causa, um tanto velho na idade, mas jovem na essência e na ousadia, que abre mão de contar garrafinhas, só pelo fato de não querer transformar, sonhos em pesadelos, causas em ocupação de lugar ou ainda transformar a magia da participação em simples disputa para ver quem manda mais. Todo poder emana do povo e, portanto cabe ao povo esclarecido: discutir e construir seu futuro.

Assim foi coordenar um Conselho Popular de Habitação, coordenar a construção de 200 casas em mutirão, contribuir na organizar das rádios comunitárias, nos conselhos populares e mais recentes na ocupação de postos na gestão pública. Os espaços de poder, cedidos pelo povo, tem que ser com o povo compartilhado.

Tenho feito um longo debate, nas instâncias do partido que faço parte, no sentido de defender que toda mudança da sociedade tenha que começar e terminar na valorização humana, no respeito mútuo ao cidadão, colocando-o como protagonista de seu próprio destino e levando-o a entender que será tratado como pessoa e não apenas como número, pois se assim for, pelo menos para ele, o resultado sempre será zero.

Como homem aprendi que, apesar de viver numa sociedade machista, se não houver respeito para com as mulheres, que são as verdadeiras protagonistas da vida, tudo que fizermos será em vão, pois existirá sempre uma dívida a ser paga e uma lacuna a ser preenchida.

Como ser social, aprendi que se não tivermos uma causa para lutar, jamais completaremos a nossa missão, sendo que essa causa nasce num primeiro momento de forma pessoal e se consolida na medida em que compartilhamos o direito de sonhar.

Como militante político, jamais me interessou e jamais me interessará, nem a ditadura do proletariado, nem tampouco a manutenção de uma sociedade desigual e para isso se faz necessário, encurtarmos todos os dias a distância entre a teoria e a prática.

Como ser humano aprendi que algumas pessoas se deslumbram com poder, outras sofrem porque gostariam de estar lá, mas tem aquelas, que tornam sua vidas numa eterna subversão e desconstroem, dia após dia, as muralhas do poder vertical e são essas que   realmente me seduzem.

Amo poder contribuir com o crescimento intelectual das pessoas, porém isso não me transforma num intelectual, apesar de lidar bem com a criação, mas num militante de uma causa humana, onde a apropriação das pessoas dos velhos e novos conhecimentos possa provocar sempre a dúvida de quem deseja aprisioná-las e ao menor descuido se transforme numa grande revolução de conceitos e valores para a criação de uma nova sociedade, onde as pessoas sejam contadas como parceiras, a partir de suas histórias de vida e jamais como “garrafinhas”.

A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”.  (Paulo Freire) 


Quero apenas um sorriso sincero pela minha lealdade e a certeza de que ao por do sol alguém desfrutará dos pequenos gestos que pratiquei ao longo do dia.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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