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sábado, 15 de fevereiro de 2014

A vibrante militância da juventude petista da RMC em busca de uma nova forma de governar


Ontem à noite na cidade de Campinas, aconteceu um daqueles momentos, capaz de revigorar nossas energias, nos fazer voltar a sonhar e não perder a esperança jamais de que de fato a sociedade se reinventa a cada instante e as lutas do passado, não resolvidas, se entrelaçam à conjuntura atual.

Só vai entender o que estou a falar, quem não se pauta pela mídia conservadora e parcial, quem não foi contaminado pela direita raivosa e quem toma decisões estratégicas na vida a partir de um referencial coletivo, que passa a integrar seu próprio projeto de vida. Ou seja, quem milita por uma causa político-econômica e social que supere as injustiças e inclua todas as pessoas banidas da sociedade.

Fui convidado para o encerramento da Caravana Horizonte Paulista, coordenada pelo Ex-Ministro Alexandre Padilha e virtual pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, ocorrida no Sarau que a juventude preparou para ele.

O diretório do Partido dos Trabalhadores de Campinas estava repleto. Num clima descontraído, vários jovens de diversas regiões, matrizes étnicas e lideranças de diversas causas e entidades, estavam presentes, além de muitas outras pessoas de todas as idades e puderam livremente se posicionar com suas reivindicações e, sobretudo com suas opiniões para o conteúdo de um Plano de Governo Participativo, em busca de uma nova forma de governar São Paulo.

Rostos alegres e descontraídos. Falas carregadas de emoções. Indignação pelo abandono do Estado de São Paulo, pela forte repressão e assassinato de jovens paulistas, principalmente os da periferia e negros. Tudo isso aliado ao compromisso de irem às ruas e fazer a disputa rumo a um novo projeto de governo do Estado.

Do outro lado um pré-candidato atento, conectado com os interesses da juventude e, sobretudo vibrando junto a cada depoimento. Foi assim, o tempo todo, o comportamento de Alexandre Padilha. Naquele momento, mal dava para separar quem era povo e quem era o personagem principal daquele encontro. Assim como não dava para separar jovens e pessoas mais idosas, misturadas numa forte energia prontas para a segunda etapa.

Por um instante eu passei a entender perfeitamente o porquê tinha escolhido em 1974, numa pequena cidade de Pernambuco, minha querida Belo Jardim, ter um lado, apoiando junto com um pequeno grupo de pessoas Marcos Freire para Senador e o MDB como ponto de partida na minha militância à esquerda, com opções claras e prontas para no futuro ajudar as Comunidades Eclesiais de Base ligadas à Teologia da Libertação, as longas caminhadas ao Estádio da Vila Euclides e ao Paço Municipal de São Bernardo do Campo nas greves de 79 e 80 e principalmente a opção sem hesitar de me filiar ao Partido dos Trabalhadores. Aliás, por duas vezes. Uma em 1980 que a ficha desapareceu e a outra em 1982.

Imagino que viver é isso. Numa semana estar com os gestores, militantes e pessoas da aldeia indígena numa pequena cidade na divisa de Mato Grosso com Rondônia, chamada Rondolândia, ajudando a capacitá-los e aprendendo com eles e na outra viver as emoções da alegria incontida daquela juventude e poder dizer: estamos juntos.

Para completar o cenário, como esquecer as palavras do Vereador Líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores em Americana, Moacir Romeiro, proferidas no evento com o Ex-Ministro Padilha. Disse ele: “Companheiro Padilha, por certo você terá apoio do empresariado, de vários partidos e de várias partes da sociedade, mas de nada vale se você não vier a governar com o povo, respeitando os setores organizados e ouvindo suas reivindicações. Só assim seu governo poderá ser considerado um governo democrático e popular”.

Só consegue entender o que significa isso quem escolheu um lado para atuar e quem ainda se indigna com todo processo de exclusão provocado pelo poder econômico global.

Ser petista, não é ter cargo e muito menos posição em qualquer tipo de poder. Ser petista é antes de tudo sentir na alma o pulsar da sociedade se reinventando e se sentir também sujeito dessa história que está sendo escrita a várias mãos.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Caminhos FPA: um registro dos Cursos Rondolândia/MT


Coordenar o Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e ter a possibilidade de levar dois cursos a uma cidade tão pequena como é Rondolândia, pode parecer pouca coisa para quem não esteve lá, porém ela é cheia de tantas histórias e práticas diferenciadas, que mais parece uma cidade grande, com pelo menos uma grande diferença: O ato de governar se inicia no gabinete da Prefeita Bett Sabah e se expande até às Aldeias.

Quando temos uma missão de vida, não importa os caminhos. Se longe ou perto.
Todos que vamos encontrando na estrada passam a ser convidados para o grande banquete. Um banquete de conhecimento, de troca de saberes, de carinho e pura sabedoria. Que nos diga os Índios Suruís.

Que a vida nos conceda mais momentos sublimes como esse, onde a mistura de etnias, e de culturas se entrelaçam numa grande caminhada em busca da liberdade.


Obrigado a Fundação Perseu Abramo, obrigado Marcio Pochmann, obrigado a Prefeita Bett pela possibilidade, obrigado aos povos de Rondolândia e um obrigado especial ao Setor de Comunicação da FPA pela magia que foi transformar todos aqueles momentos num registro histórico.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo

toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Os desafios do trabalho em equipe

Figura: www.portalcocal.com.br

O que é trabalhar em equipe? O que as pessoas precisam aprender para exercer o trabalho em grupo? Porque a maioria das pessoas sente tanta dificuldade em se adaptar?

Nos dias de hoje parece uma coisa natural o termo trabalho em equipe. É como se a sociedade moderna tivesse simplesmente se reinventado, como se isso fosse amplamente possível, sem os meios adequados.

Até os capitalistas de plantão descobriram que podem produzir e ganhar mais ao adotar o trabalho em equipe, o que seria uma verdadeira evolução, a partir da Teoria Z de William Ouchi, se no meio disso tudo não existisse a exploração. Onde estão as contradições? Na essência da discussão, na possibilidade subversiva de juntar pessoas, onde de um lado, passa a ser plenamente aceitável para a produção e até mesmo para a qualidade, porém terminantemente proibido e reprimido quando o caso se refere à cobrança de direitos.

No mundo empresarial moderno chegou-se a conclusão, que quanto mais se investe no ser humano, mais ele produz e com prazer, embora não participe da divisão dos lucros, mas a sensação de bem estar acaba produzindo uma forma de recompensa. Essa evolução está presente, se iniciando pela Teoria Y e se configurando na Teoria Z.

Acredito que é nesse gueto que se encontra, por exemplo, parte do sindicalismo no Brasil, que vai desde a renúncia do trabalhador atual em não acreditar ser possível ter sindicatos que defendem seus direitos, sem ter nada em troca, até alguns sindicalistas que se perderam no tempo, seja pela desatualização ou mesmo por ter se vendido à promiscuidade. É claro que não estou generalizando, pois existem sindicatos e sindicalistas procurando se adaptarem às mudanças do mundo do trabalho, porém a maioria se encontra nessa eterna contradição.

Vale ressaltar mais uma contradição, que é o deslocamento existente, por exemplo, nos últimos 20 milhões de trabalhadores com carteira assinada, com um grande contingente de prestadores de serviços, que sem serem sindicalizados, pelo menos por opção, cria uma espécie de bolha de poder ou sua negação, requerendo um estudo específico de como tratar política e economicamente essa situação.  Esse fato, além de resultar uma nova classe trabalhadora, resulta também no desprestígio às instituições sindicais que não estão acompanhando as mudanças do Século XXI .

Quando trazemos a discussão da importância do trabalho em equipe para a Gestão Pública, as contradições são ainda maiores. Primeiro pelo fato dos funcionários, servidores e colaboradores, virem de um mundo onde jamais foram chamados sequer para discutir as tarefas, quanto mais o que e como fazer essas tarefas de forma coletiva.

Tratando-se, portanto, de um mundo ou de uma relação estática, onde o ser humano vira apenas maquina e desenvolve precariamente sua função ou ainda da tarefa mal trabalhada, onde de um lado o servidor desmotivado finge que ganha e que trabalha e de outro um grande contingente de gestores satisfeitos com essa situação, pelo fato da possibilidade de terceirizar da máquina pública, rifando assim a sorte principalmente da população carente.
Trabalhar em equipe requer antes de tudo uma mudança de postura, mudança de valores e consequentemente de atitudes. Talvez tudo fique mais fácil quando se tem ou um problema ou um propósito coletivos, pois a necessidade impõe a ação, só que para isso requer outra configuração.

Só para lembrar, nenhum gestor que esteja na promiscuidade ou ainda que não respeite a organização popular, por exemplo, se atreve em desenvolver um trabalho em equipe, pois quando as pessoas se juntam com um propósito, nasce a partir daí algo tão grandioso, que além de impor respeito, para aqueles que o rejeitam, os demais na plateia também sentirão vontade de incorporá-lo. É a aí que nasce a subversão da ordem vertical em favor da ordem horizontalizada, onde todos serão ouvidos e respeitados.

Uma ação coletiva pode representar até mesmo a busca da liberdade para alguns, o encontro de elos perdidos pela contradição da vida para outros, mas, sobretudo representará antes de tudo, a busca da superação construída em comunhão, na medida em que “eu” sozinho não dou conta da tarefa e preciso do “nós” para completar a ação.

Como dizia Paulo Freire: "A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O que você entende por Empreendedorismo Social?


Empreendedorismo Social representa na atualidade um termo com alguns significados, onde cada um deles se situa num contexto ideológico.  

O livro do Carlos Montaño: “Terceiro Setor e Questão Social”, resultado de sua tese de doutorado, mostra claramente a procedência do termo terceiro setor, ao qual o autor afirma ser de denominação ideológica, cunhado lá nos EUA e importado para o Brasil e outros países da América Latina e Caribe, a partir do desmonte do Estado no processo de privatização.

Segundo seu estudo, o termo nasce na efervescência da implantação do neoliberalismo na América Latina e no Caribe, onde a partir da falência do Estado-Providência, como grande pressuposto da redução do Estado e reafirmando a tese do Estado Mínimo, necessita das ONGs – Organizações não Governamentais para assumir as funções sociais do Estado.

Carlos Montaño cita ainda a fragilidade e contradição das ONGs, não aquelas surgidas a partir dos movimentos sociais, mas as criadas para assumir essa nova tarefa, pois apesar de se caracterizarem como entidades não governamentais, é justamente o Estado “falido” que mantém essas instituições com dinheiro público.

A partir do surgimento de milhares dessas ONGs no Brasil, também surge um novo mercado para esses novos profissionais da miséria. De um lado pessoas bem preparadas para captar recursos, seja público ou privado e em nome da benevolência, suprir as deficiências sociais do Estado e de outro lado os voluntários se dedicando a ajudar pessoas. Uma combinação perfeita se tudo isso não estivesse a serviço do desmonte do Estado enquanto provedor de seus problemas e não estive dando suporte ao neoliberalismo, como afirmou Paulo Nogueira Batista em seu livro “O Consenso de Washington”.

É dentro desse contexto que o termo Empreendedorismo Social se encontra. Para os adeptos do chamado terceiro setor, o empreendedor social é aquele profissional que se especializou e descobriu uma nova forma de ganhar dinheiro a partir dessas ONGs, onde de um lado capta recursos para aplicar no universo da pobreza e por outro até presta serviços na formação de cooperativas e associações compostas pela população em vulnerabilidade social. Já para os militantes políticos, o Empreendedorismo Social representa o investimento na população pobre no sentido de libertá-las das amarras da exclusão social e econômica. Nesse contexto está contida a capacitação e a formação tecnopolítca, capazes de formar cooperativas, associações ou mesmo grupos associativos com autonomia de seus participantes e dentro da lógica dos negócios solidários, onde o mais importante é a organização coletiva.

O grande debate que se estabelece nessa discussão é a de que o neoliberalismo ao encurtar o tamanho do Estado, com sua tese do Estado Mínimo, transfere ao mercado a mediação dos interesses da população, principalmente a mais necessitada e é aí que entra o chamado terceiro setor, como uma privatização das funções sociais do Estado. Assim, fica a demonstração clara de que quanto mais um Estado forte num país capitalista, menos poder de mercado e quanto mais fraco esse Estado for, mais necessidade da criação de novos organismos que supra essa necessidade.

Como afirma Montaño, a justificativa para tudo isso vem da satanização de tudo que é estatal e, portanto tem que ser privatizado para o “deus” mercado. “Por outro lado, sataniza-se o Estado-providência como “burocrático”, “paternalista” e em “crise de governança”; como se os gastos com o processo burocrático (dos quais o capital sempre se beneficiou e comandou) fosse só negativo (pense-se na garantia dos processos de licitação, concursos públicos etc.), como se fosse “paternalista” a assistência ao necessitado e a garantia de direitos sociais, mas sem considerar o constante socorro e financiamento ao capital como paternalista”.

É impensável para quem defende uma sociedade livre e soberana, se submeter à industrialização da miséria. Esse debate estará todos os dias nas próximas eleições, onde os defensores do neoliberalismo dirão que o Governo Federal gasta muito com o social, por exemplo, deixando o mercado desprovido e os representantes da população pobre dirão que foram esses investimentos nas causas sociais que salvaram o Brasil dessa crise mundial.
Foi com o propósito de trazer o Empreendedorismo Social como elemento de organização solidaria e de uma prática coletiva, que criamos pela Fundação Perseu Abramo o Curso Empreendedorismo Social e Economia Solidária e sentimos seus efeitos na prática ao aplicar o curso para gestores e para integrantes de uma Aldeia indígena na cidade de Rondolândia/MT.

A resposta foi imediata, principalmente por parte dos membros da aldeia, que nos mostraram um alto grau de organização, ajuda mútua e solidariedade, uns com os outros. Uma clara demonstração de que não necessitaria de uma ONG mantida com recursos públicos para assessorá-los e sim da prefeitura participando junto e abrindo espaços para seu desenvolvimento.

Sou adepto da ideia que grande parte da população é empreendedora, faltando apenas oportunidade, investimentos públicos e criação de novos espaços.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma lição de sabedoria


Quando tomamos a decisão de iniciar a segunda fase do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo, que fazemos com os gestores nas cidades que o PT governa, é vice ou faz parte da gestão pela cidade de Rondolândia/MT, tinha na verdade alguns significados, porém eu nem imaginava que o significado mais interessante ainda estava por vir.

Escolhemos essa cidade, primeiro porque em Mato Grosso tinha sido realizado o primeiro Curso de Gestão Pública com prefeituras (Plano de Governo e Ações para Governar) e lá me chamou a atenção a disposição da Prefeita Bett Sabah, que trouxe sua equipe para o curso, com uma distância de mais de 1100 km e participou ativamente. 

É importante ressaltar que estamos falando de um município com 3726 habitantes, com a economia predominante rural, com algumas aldeias indígenas e com um histórico de violência política e pela disputa de terras, que atingiu o Padre Ezequiel a 25 anos, o sertanista, indigenista e ex-presidente da FUNAI Apoena Meireles em 2004 e recentemente na antevéspera da última eleição para prefeito, o presidente do PT local foi achado morto. Em segundo por ser uma mulher que ganhou as eleições violentas com dois partidos sem dinheiro contra 11 com todos os recursos disponíveis e também por ser um município pequeno no limite de dois Estados: Mato Grosso e Rondônia.

Foi lá também que resolvemos lançar o segundo Curso de Gestão Pública da Fundação: Empreendedorismo Social e Economia Solidária, com o principal propósito de trabalhar o social como resgate da cidadania e um processo de inclusão, se diferenciando do tal terceiro setor, que mostra o social como uma benevolência e também trabalhar o empreendedorismo sob a ótica do coletivo e não como um talento individual. Para isso a equipe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, representada pela jornalista Fernanda Estima e pelo bravo companheiro Serginho, fotógrafo, cinegrafista e que traz como trauma a violência da polícia do Governador Alckmin nas manifestações de junho último, quando perdeu uma das vistas com as balas de borracha, me acompanhou com o objetivo de elaborar um documentário sobre o trabalho. Apenas para registro, vale lembrar que esse triste fato ocorrido com o Serginho, que está nas mãos da justiça, não interrompeu sua carreira e sim lhe deu mais motivação para a vida e para o trabalho.

O cenário descrito até aqui já propõe que a ida para Rondolândia não foi atoa. Tinha algo de especial, do começo ao fim.

Resolvemos dividir o tempo de três dias em duas etapas. A primeira com o Curso Plano de Governo e Ações para Governar, onde mesmo aqueles gestores que fizeram o primeiro em Cuiabá, participaram novamente e sentiram que o curso vai se refazendo, se atualizando com a conjuntura e com as questões políticas e culturais por onde passa e a segunda etapa do trabalho foi dedicada ao lançamento do Curso de Empreendedorismo Social e Economia Solidária.

Todas as pessoas que já fizeram teatro como eu sabem que o lançamento de uma peça dá um frio na barriga ao iniciar, um caminho desconhecido por não sabermos a reação da plateia e também uma enorme satisfação se a peça atingiu plenamente seus objetivos.

Como uma boa parte da plateia era composta por indígenas da Aldeia Apoena Meireles da etnia Suruí, inclusive com a presença de uma das lideranças Naray e em alguns momentos pelo Cacique Itabira Narai, fiquei procurando linguagens e metáforas, além de vídeos, que facilitasse a compreensão, pois mesmo eles falando português, necessitavam de cuidados quanto ao entendimento de alguns conceitos novos. Essa estratégia me levou a fazer uma pequena mudança de conteúdo no curso, introduzindo algo a partir do diálogo com os participantes. O curso transcorreu de forma leve e participativa e com muito interesse dos participantes. Percebia que pouco a pouco a plateia ia se envolvendo, não só no conteúdo, mas principalmente no clima organizacional.

A surpresa veio no encerramento do curso, pois enquanto o povo branco tinha uma enorme dificuldade de revelar e ajustar seus valores, o povo da aldeia estava totalmente preparado, no que se refere a organização, ajuda mútua, solidariedade e compromisso com o trabalho. Esses elementos se materializaram, não só no depoimento das participantes indígenas, ou ainda nas avaliações por escrito, mas sobretudo nas tarefas de trabalho em grupo, onde formatamos a Estrutura de um Plano de Negócios Solidários. Estava claro que o que eles necessitavam era apenas de conhecimentos técnicos e não de resgate de valores e princípios, pois já dispunham, inclusive para socializar.

Que venham mais desafios como esse, capaz de quebrar estruturas, derrubar muros e consolidar ainda mais o modo petista de governar.

Que venha mais governos como o da Prefeita Bett Sabah, que governa com a população carente e não apenas do gabinete, que governa nas conexões Mato Grosso - Brasília e principalmente governa com o Partido dos Trabalhadores. 

Quero terminar esse post afirmando sem medo de errar, que foi um dos momentos em que mais aprendi, em todas as áreas, muito mais do que ensinei. 

A experiência do povo Suruí ficará na minha história, na história da Fundação Perseu Abramo e na historia do Partido dos Trabalhadores, pois a comunidade, não só apoia a Prefeita Beth Sabah, em todas as suas ações, como agora estão se filiando ao partido, numa clara demonstração de que a luta continua e juntos.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Há no seio da sociedade uma guerra invisível a serviço do poder econômico global


Que guerra seria essa? Uma guerra de palavras, de informações distorcidas, de frases prontas e principalmente de conceitos. Diariamente milhares de pessoas se alimentam de informações banais. Essas (des)informações, com a desculpa de estarem a serviço da população, são usadas para manter o pensamento econômico global que mantém o sistema capitalista vivo, ao alimentarem principalmente o consumo, além de nutrir a teoria da conspiração contra seus adversários.

Não estou me referindo nem a guerra de fato, aquela que extermina milhares de jovens negros e pessoas da periferia, muitos sem a menor necessidade e inocentes, além das mulheres consumidas pelo machismo, além de outras formas de eliminação dos seres humanos e sim de uma guerra psicológica e ideológica, aquela que nasce do enfrentamento ao modelo de sociedade que se quer para o futuro. Uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Ao ligar a televisão aberta, em quase todos os canais, a impressão que se dá é a de que não existe mais volta. Não tem mais solução. Com isso, ou se vende a ideia de uma sociedade surreal sem problemas ou ainda de uma sociedade totalmente violenta que só a pena de morte resolveria a situação, como se a pena de morte já não existisse para as pessoas que tem quer descartadas. Essa justificativa tem como pano de fundo o enfrentamento contra os direitos humanos e contra os direitos sociais da sociedade excluída, em contrapartida a um modelo de sociedade inventado para poucos.

Fica evidente que essa violência é forjada todos os dias no movimento de reação dos setores marginalizados da sociedade, que age e reage ao preconceito e a discriminação, além da indústria da miséria, das drogas e da corrupção. A polícia prende, mas justiça solta e os condenados são mantidos apenas afastados do convívio social, porém sem nenhuma política de recuperação de fato. Ao contrário, essas indústrias do mal necessitam de muitas dessas pessoas como seus agentes.

Não é atoa que somente nos governos de Lula e Dilma a população pobre começa a ser tratada de forma diferenciada, com políticas inclusivas em todas as áreas como jamais tinha ocorrido. Na história mais recente, desde João Goulart que tinha um Plano de Reformas para o Brasil e por isso sofreu um golpe militar e foi assassinado, que o Brasil dos ricos sucumbia o país dos pobres.

Coisas como, ter uma casa própria, filho de pobre e pessoas negras fazendo faculdade, ou ainda em cursos elitizados; emprego com carteira assinada; população pobre comprando carro novo; diferentes programas sociais em várias áreas governamentais; capacitação técnica para os jovens da classe C e D; programa de desenvolvimento econômico para os pequenos empresários e para os empreendedores individuais e tantas outras ações de inclusão econômica e social que estão acontecendo, jamais seria dessa forma se o Brasil não estivesse sendo governado por pessoas que conseguem entender e falar a língua do povo.

A elite brasileira e seus representantes ditam as regras, seja através dos valores construídos nos guetos burgueses, que vai da educação aos instrumentos culturais elitistas, até o conteúdo disseminado diariamente através dos veículos de comunicação, vendendo uma sociedade ilusória e produzindo cada vez mais setores homofóbicos, separatistas e discriminatórios, seja racial ou econômico.  

Tudo isso junto, aliado ao problema das drogas que virou um problema de saúde pública, alimentado pelos usuários da elite; a falta de preparo da polícia, que existe principalmente para manter o Estado capitalista e sem preparo no trato com as questões sociais; a falta de uma política de recuperação prisional e a falta de opção de cultura e lazer para os jovens brasileiros, entre outros, fazem do país um dos mais violentos do mundo.

Somente uma mudança radical na forma de governar, no trato com a coisa pública e a participação efetiva da sociedade na construção das políticas públicas, principalmente nos municípios, mas também nos estados, poderá conter a explosão dessa bomba relógio que está armada na sociedade.

A própria sociedade está prestes a explodir. A prova disso foram às manifestações de junho de 2012, que tirando a manipulação da velha mídia a serviço de seus agentes, com a nítida impressão de atingir o governo federal e a Presidenta Dilma, como querem também agora com as manifestações contra a copa, revelaram a existência de um mar de problemas represados e que as ruas representaram um grito parado no ar.

A meu ver uma das únicas alternativas para uma mudança efetiva nesse estado de abandono proposital, imposto nas diversas partes do país pelos representantes da elite econômica e da direita raivosa, é ensinar a população, principalmente a mais pobre, a participar da vida política e a exigir seus direitos.

Só a participação efetiva da sociedade possibilitará, entre outras mudanças, a eleição de melhores políticos e de uma limpeza nos milhares de corruptos que trafegam diariamente nas entranhas do poder, que até são criticados pela mídia, porém mantidos por ela mesma e a quem ela representa, na medida em que se vende o senso comum de que política é uma coisa ruim e que todos os políticos roubam e por isso não haverá solução. E esse pensamento golpista na democracia se transforma no responsável por grande parte dessa violência e dos valores banais.

Três perguntas para reflexão:

1. Como fazer isso se uma grande parte de prefeitos e prefeitas, ou boicotam a população em seus direitos de participar ou tem medo dela?

2. Será que é por isso que não querem conselhos deliberativos, muitas conferências e nenhum fórum participativo, com a desculpa do povo não estar preparado?

3. Se tudo isso não for verdade, porque então não criam Escolas de Governo ou outro mecanismo de capacitação, tanto para os gestores, como principalmente para a população aprender a participar?

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo

sábado, 25 de janeiro de 2014

Não tem nada mais revolucionário do que a socialização do conhecimento

Figura: vanderleyac.blogspot.com

Às vezes fico me perguntando o que algumas pessoas querem com tanto conhecimento. Estudam em diversos cursos, fazem dezenas de outros e guardam tudo para si, numa clara demonstração de que nem de longe entenderam suas missões.

Praticamente dois terços da minha vida tenho estado envolvido com o mundo do poder. A maioria das vezes resistindo, lutando para que o poder de alguns não aprisionem as pessoas de bem, tentando entender porque algumas pessoas que se dizem dirigentes, seja lá do que for só enxergam o povo apenas como “garrafinhas e somente as valorizam próximo das eleições, mesmo que seja uma eleição interna de alguma organização e outras simplesmente quebrando os muros que dividiam o mundo dos que sabem das pessoas que pagavam caro por não saber.  

Essa prática da detenção do poder está no ar, nos partidos, nas igrejas ou em qualquer tipo de organização, onde exista disputa de poder e pessoas que só conseguem enxergar o poder vertical e principalmente no poder público, que se encontra, pressionado pelo contexto atual, numa enorme crise de identidade. Todos aqueles que de alguma forma resistir a isso serão punidos, afastados e sumariamente deletados de qualquer possibilidade futura. Ou aceitam a situação ou nunca serão convidados para sentar à mesa.

O mais interessante nessa breve discussão, é imaginar que na cabeça dessas pessoas, todas as demais dependem somente delas, pois apenas elas detêm o conhecimento de como chegar lá e defendem que só chegaram porque descobriram o conhecimento. Assim se tornaram pessoas privilegiadas pela vida e por seus enormes esforços e, portanto ganharam o direito de pensar e agir pelas outras.

Alguém conhece pessoas assim, ou é coisa da minha cabeça? Se alguém conhecer, consegue respeitá-las como seus líderes ou comandantes?

Acredito que a socialização do conhecimento possibilita que as pessoas enxerguem o próximo passo, que possam fazer escolhas, que possam se interessar por mais conhecimentos. Para quem manipula as pessoas sem conhecimento, não há nada mais subversivo do que instrumentalizá-las com informações e com novos conhecimentos. Na prática é uma subversão permanente contra toda forma de poder vertical.

Não sei nem se podemos chamar isso de fenômeno, pois é mais comum do se imagina e ocorre em todos os espaços possíveis. Está ligado à personalidade e a índole de algumas pessoas e também à matriz ideológica por onde essas pessoas passaram e transitam na atualidade.

O conhecimento na vida tem outro significado. Não pode ser chamado de conhecimento algo que estático, sem vida e que apenas serve de texto e contexto para legitimar o poder alguém contra outro. Paulo Freire dizia que o “conhecimento emerge apenas através da invenção e reinvenção, através de um questionamento inquieto, impaciente, continuado e esperançoso  de homens no mundo, com o mundo e entre si”.

Na verdade o conhecimento é um processo que transforma  tanto aquilo que se conhece como também o conhecedor, só que para isso necessita de um processo dialético, do renascimento e da transformação do saber, onde o conhecedor o faça circular, fazendo com que se reinvente e ganhe novos formatos temporais a serviços da humanidade.

A maioria das pessoas não sabe doar, nem compartilhar o conhecimento, assim perdem o senso de ensinar, simplesmente porque o ensinar é antes de tudo uma doação. Segundo Freire, ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige também, a apreensão da realidade. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. "O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção".

Não há nada mais prazeroso do que saber que o conhecimento que você socializou serviu para as pessoas se libertarem das “garrafinhas” e se transformarem em militantes de uma causa que lutarão pelos seus direitos.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O produto mais cobiçado na era informação à disposição gratuitamente para a militância do Partido dos Trabalhadores


A ideia de ampliar o conhecimento dos filiados do Partido dos Trabalhadores levou a Fundação Perseu Abramo, a criar novas ações oferecendo capacitação e formação para todos do Partido, independente da formação acadêmica e se materializando numa das maiores contribuições que o mesmo já teve em seus 33 anos de vida. É algo que quebra os muros, invade as “caixinhas de poder” e, sobretudo socializa o saber, evitando que alguns que tem conhecimentos guardem para si e quem não tem sejam tratados apenas como “garrafinhas”, a serem trocadas por votos em momentos oportunos.

Referindo-me a área que coordeno que é o Programa de Capacitação Continuada para as Prefeituras, ouvi do Prefeito de Guaíra, cidade onde fizemos um dos mais interessantes cursos de gestão Pública: “A Fundação Perseu Abramo chegou à base do partido e na gestão pública na parte mais delicada que é na discussão do modelo de gestão”. Algo que contribuirá cada vez mais na consolidação do Modo Petista de Governar, que hoje já não é só do PT e sim também de sua base aliada. O Prefeito não só trouxe seus gestores para o curso, como também participou ativamente com sua companheira do início ao final do curso, avaliando o encontro como algo imprescindível.

É importante registrar que os militantes de outrora do Partido dos trabalhadores estão ficando velhos e o Partido necessita se renovar, com sangue novo, com gente nova, com pessoas interessadas na vida partidária, mas, sobretudo com o compromisso de levar o partido por um caminho programático, fugindo dos atalhos mercantilistas. A meu ver não existe outra forma de fazer isso se não for pelo caminho da formação técnica e política. É justamente isso que essa nova proposta, criada pela Fundação Perseu Abramo, na gestão do companheiro Marcio Pochmann está fazendo. Cursos para todos do Partido.

No ano passado foram 1000 pessoas que passaram por esse tipo de capacitação, sendo 400 no Curso de Pós-Graduação em Gestão e Políticas Públicas e 600 pelo Curso Plano de Governo e Ações para Governar, que chegou a 130 prefeituras em 6 Estados da Federação.

As metas para esse ano são audaciosas, pois pretende capacitar 6000 filiados e gestores, em Mestrado, em Pós-Graduação, em três cursos para as Prefeituras e uma novidade que é o Curso Difusão do Conhecimento. Esse último voltado para toda a militância do partido, sem necessidade de formação acadêmica, que será ministrado por 16 especialistas renomados do país, que lançaram seus livros no Fórum Ideias para o Brasil. Um verdadeiro encontro com quem pesquisou o que se espera do Brasil do futuro. Mais informações poderão ser obtidas no endereço: http://www.fpabramo.org.br/conhecimento.

Socializar as informações e o conhecimento é dar oportunidade das pessoas aprenderem a pensar estrategicamente, aprender como elaborar uma proposta e o mais importante, como coloca-la em prática.

Trata-se de uma revolução silenciosa onde às massas populares poderão tocar no conhecimento e onde os intelectuais sairão de seus casulos e se encontrarão com a base do partido. Quem conseguir enxergar tudo isso como uma grande oportunidade, estará, não só melhorando a gestão do partido, como principalmente colaborando para a construção de novas alternativas de ocupação do poder.

Como dizia Paulo Freire, as pessoas não deviam ter medo de socializar seus conhecimentos achando que alguém poderá se apropriar dos mesmos e lhe tirar do cenário, pois segundo ele, o mais interessante da vida é saber que alguém absorveu o que lhe foi ensinado, ampliou esse conhecimento e amanhã, além dele ser grato pelo que recebeu, poderá também ser um disseminador dessa obra prima que é o saber.


Feliz daqueles que estiverem prontos quando forem convocados para uma grande missão.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo

domingo, 19 de janeiro de 2014

A corrupção desvia dos cofres públicos do Brasil algo em torno de R$ 82 bilhões por Ano


        Órgão Público mais corrupto         Onde o suborno é mais disseminado

A gestão e o gestor público precisam se reinventar. Na verdade a boa política precisa invadir os porões do poder, onde gatos e lagartos se digladiam, ocupando o espaço com pessoas do bem. Não é mais possível tolerar uma situação dessas. A população está simplesmente financiando: campanhas milionárias, mordomias e o enriquecimento ilícito de milhares de ladrões, ao custo das desigualdades sociais, da miséria e da fome de milhares de pessoas.

Segundo estimativa de diversos órgãos, todos os anos são desviados dos cofres públicos, algo em torno de 82 bilhões de reais, que significa 2,3% do PIB nacional. Essa soma coloca o Brasil entre os países mais corruptos do mundo.

Só para se ter uma ideia, entre 2001 e 2011, a CGU - Controladoria-Geral da União fez auditorias em 15.000 contratos da União com estados, municípios e ONGs, tendo encontrado irregularidades em 80% deles. Nesses contratos, a CGU detectou desvios de R$ 7 bilhões. Vale ressaltar que muito desse dinheiro foram para o tal do terceiro setor. Algo criado para substituir o Estado em suas funções sociais e trocar o militante pelo volutário.
                                                              
Segundo levantamento da Entidade Transparência Internacional o Brasil, em 2013, ficou na 72ª posição (42 pontos), numa escala que vai de zero (mais corrupto) a 100 (menos corrupto). Ficamos empatados com a África do Sul, Bósnia Herzegovina, Sérvia e São Tomé e Príncipe. Subimos 3 pontos em relação a 2012.

O ranking é baseado em opiniões de especialistas e pesquisas de 13 entidades internacionais de acordo com o nível de percepção percebida nos governos de cada um desses países. O Brasil continua atrás dos seus vizinhos sul-americanos, como o Uruguai (19º lugar) e o Chile (22º), e de outros emergentes, como Arábia Saudita e Gana (ambos na 63ª posição).

De acordo com Transparência Internacional, 70% dos 177 países que compõem o ranking tiveram avaliação inferior a 50 pontos, o que indica a dificuldade no combate à corrupção. Ainda segundo a entidade, 25% das pessoas subornou algum órgão público no último ano.

É principalmente por esse fator que a maioria dos prefeitos, prefeitas, governadores e governadoras, querem o povo muito longe do palácio do poder. Uma espécie de “casa grande” e “senzala”

O que fazer para mudar essa situação? Uma das alternativas é investir na população, com educação e capacitação para que as pessoas saibam de seus direitos de participação e de controle social, outra medida urgente é capacitar os gestores, técnicos e servidores, no sentido de criar novas expectativas, porém a meu ver a medida mais eficiente é a população aprender que quanto mais distante da política, elegendo representantes sem conhecê-los, mais fácil dos ladrões de plantão ocuparem o espaço e em nome da democracia.

Em resumo: só a participação garante uma mudança de fato e de direito.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cursos de Gestão Pública e Social em Prefeituras

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A participação é a solução mais segura para a moralização na política e na gestão pública. Quem não me ouve não me representa!


Com dois terços da minha vida dedicados à militância política e por uma causa humanista, já vi de tudo. Desde a esquerda ortodoxa dizendo que a saída era a revolução, mas para isso tinha que ter a “ditadura do proletariado”, passando por um setor que achava e acha que é só trocar os políticos nas eleições que a coisa se ajeita, passando pelo setor dos “coxinhas”, que afirma que o Estado está falido (que eles faliram) e portanto tem que ser substituído pelo tal terceiro setor (uma invenção neoliberal), até o senso comum vendido pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista (que adoraria dar um golpe no governo da Presidenta Dilma), vendendo a ideia de que todo político é igual, pois todos roubam e assim não tem jeito.

Começando pela esquerda ortodoxa, que teve sim um papel importante na luta contra a ditadura, vejo-a nos dias de hoje aliada no discurso ao setor mais reacionário do país, ao fazer a análise do governo federal e o pior, cada vez mais virando apenas um gueto, onde todos estão errados e somente os militantes dela estão certos. Hoje tenho plena convicção de que a “ditadura do proletariado” continua sendo uma coisa ruim, onde uma minoria ao chegar ao poder aprisionarão a maioria por medo de perder o poder. Essa esquerda ganharia muito mais se fizessem a revolução armada enfrentando, por exemplo, o tráfico, que é o maior mal da atualidade.

Outro setor que deve ser combatido é o que vende a ideia de que é só votar em alguém que as coisas irão melhorar, mesmo sem a população, por falta de participação e de esclarecimentos, sequer saber em quem estão votando. Puro marketing eleitoral. Vende-se a ideia do salvador da pátria. Do político bem intencionado, que dedicará seu tempo exclusivo para o bem da população. Que fique claro: sem um projeto discutido amplamente com a população, não há político que salve ninguém.

Agora, uma verdadeira enganação é essa coisa chamada “terceiro setor”, que vende a ilusão de que a benevolência e o voluntariado substituirão o Estado. Não estou me referindo às ONGs sérias, aquelas que nasceram a partir de uma discussão coletiva e uma questão de fato e sim das que usam o Estado com seu dinheiro e vendem a ilusão de que somente elas poderão resolver os problemas sociais. Segundo Carlos Montaño em seu ótimo livro “Terceiro Setor e Questão Social”, esse foi um tema forjado pelo EUA e veio no pacote do neoliberalismo. Diminui-se o Estado (Tese do Estado mínimo), privatizando tudo, precariza-se as funções sociais do Estado (que é a negação ao Estado de Bem Estar Social) e entrega a sorte da população ao chamado terceiro setor. Ou seja, substitui-se o Estado em suas funções sociais pelo trabalho voluntário das ONGs. Trota-se o militante que dá trabalho ao sistema e adota-se o voluntário, que pode fazer maldade até sexta e benevolência aos sábados e domingos. É como se fosse uma espécie de catarse, de purificação da alma.

Porém, o pior é o que está na pauta nacional comandado pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista, formado por rádios, tvs, jornais e diversas revistas, que quer pensar, analisar, propor e agir pela população. A partir de agora não precisa fazer mais nada é só seguir um desses instrumentos do mal que você saberá o que fazer. Uma verdadeira lavagem cerebral diária. Eles determinam o que é bom para a população, em termos de:  vestir, comer, andar, falar e principalmente em quem não votar. Todos os candidatos que são contra o sistema e defendem a população pobre, viram membros dos “rolezinhos”, ou ainda gente que quer desestabilizar o “deus” mercado.

Chega dessa situação não é? O Brasil de antes de 2003, endividado, refém dos EUA e do FMI, que não dava oportunidade para ninguém, que não tinha emprego, que nenhum filho de pobre e principalmente negro podia estudar, que não se podia comprar uma casa própria ficou para trás. Estamos vivendo, apesar das criticas dos “coxinhas” e de toda a galera do andar de cima econômico, um novo momento. Andamos mais de avião, comemos melhor, trocamos nossos carros, compramos nossas casas e principalmente trabalhamos e se quisermos com carteira assinada. Isso não foi doado foi conquistado pela população que teve a coragem do colocar um trabalhador e uma mulher no poder central do país e todas as manifestações que os antecederam. Portanto algo que deve continuar.

A única forma de darmos continuidade é com a participação. Fazer parte de todas as instâncias que vão decidir nossas vidas, a começar pela entidade de bairro e porque não a participação nos partidos políticos, que ao contrário do que o PIG e seus aliados pregam, são instancias importantes para o processo democrático e muitos deles só estão bichados por falta de gente séria dentro deles. Sem partidos políticos não hpa democracia e sim ditadura.
Assim, invadindo esses espaços com pessoas do bem, repudiando todos aqueles que nos trata como “garrafinhas” e dizendo claramente “não” para o que não concordamos e “sim” para todas as ações que tiverem como objetivo principal a mudança para melhor na vida da população, em especial da população carente que não tem condições de decidir sozinha, estaremos prestando um grande serviço para a humanidade e mantendo firme o movimento de resistência contra toda promiscuidade que invade diariamente a sociedade e os bastidores do poder.

Bem ao mundo da resistência, da solidariedade e das pessoas de bem. Um espaço onde a maioria decide é certo, mas a minoria também será ouvida.

Precisamos de uma Reforma Política já!

Textos do Autor:
1. Artigo do Carlos Montaño – Pobreza, questão social e seu enfrentamento: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-66282012000200004&script=sci_arttext

2. Contraponto Carlos Montaño – Entrevista: http://www.uerj.br/arq_comuns/Contraponto_2007.1.pdf

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O “rolezinho” da juventude e o apartheid social


Contra fatos não existem argumentos. Vivemos de fato dois mundos distintos no país e isso ficará ainda mais claro nas disputas das próximas eleições.

De um lado um governo federal inclusivo, dando voz e vez aos excluídos da sociedade, num processo iniciado pelo Ex-Presidente Lula, um líder advindo da camada mais pobre da sociedade e que consolidou sua liderança na luta sindical, comandando os trabalhadores, junto com outros companheiros em plena ditadura militar e na continuidade com a Presidenta Dilma, uma mulher que lutou contra a ditadura e foi presa e torturada. Esses fatores que compõem as figuras de Lula e Dilma dão calafrios na elite e deixam seus representantes aterrorizados com a possibilidade de continuidade desse processo por longos anos.

Lembro claramente de duas coisas na campanha de Lula de 2002: o medo da vendida global Regina Duarte e o pedido de Mario Amato, presidente da FIESP, aquela mesma entidade que financiou a repressão na ditadura militar, através da Operação OBAN, sugerindo que os empresários fossem embora do país, pois Lula no poder iria tomar tudo o que eles tinham. Imagino que ele estava com o amigo FHC na cabeça, que realmente tomou tudo que era estatal, como se fosse seu e simplesmente privatizou a preço de banana e o dinheiro até hoje ninguém sabe onde está.

Quer dizer, ninguém vírgula, pois no livro “A Privataria Tucana”, disponível aqui: http://privatariatucanaolivro2.files.wordpress.com/2011/12/a_privataria_tucana_-_amaury_ribeiro_jr1.pdf, o autor conta tintim por tintim toda tramoia e para saber com detalhes qual era o papel do FHC no processo de implantação do neoliberalismo no país, é só ler o livro: “O Consenso de Washington – A visão neoliberal dos problemas latino-americanos” de Paulo Nogueira Batista. Disponível aqui: http://www.fau.usp.br/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/aup0270/4dossie/nogueira94/nog94-cons-washn.pdf.

Os governos Lula e Dilma, atuaram no econômico, ou seja, no bolso da população mais carente e de forma diferente dos EUA, que despejaram dinheiro nos bancos e nas empresas falidas para não quebrarem e aqui no Brasil, Lula e Dilma simplesmente transferiram renda e criaram junto com os atores envolvidos, centenas de políticas públicas inclusivas. Transformaram um povo cabisbaixo, desempregado e sem perspectivas em pessoas com a autoestima em dia.

No caso dos EUA a crise revelou mais uma contradição histórica do capitalismo selvagem. Quando a país está bem tudo o que estatal tem que ser privatiza, pois bom mesmo é o mercado e quando o mercado está em crise, advinha quem salva? O Estado é claro, injetando dinheiro e muito nos bancos e nas empresas. Era isso que eles esperavam do Brasil de FHC e seus aliados.

Por outro lado vivemos outro Brasil: separatista, machista, homofóbico, racista e, sobretudo violento. Um país onde muitas empresas pagam mais para os homens do que para as mulheres, para os brancos mais que os negros e para os não deficientes mais do que para as pessoas com deficiência, mesmo que esses tenham mais experiência.  Um país que extermina sua população jovem, preferencialmente negra e de periferia, comandada por uma polícia despreparada e violenta, que descarrega na população pobre e nos jovens toda sua ira e revezes da vida e dos governos estaduais, onde a maioria não faz a sua parte. O pior de tudo isso, vem do fato de que a guarda municipal em alguns municípios, como é o caso de Americana, virou a guarda de honra do prefeito e reprime a população se falar mau do prefeito, que está caçado governando com liminar. Apesar disso, em Americana, a guarda municipal acaba fazendo o trabalho da polícia que está totalmente sucateada.

É claro que não se pode generalizar, pois no meio disso tudo há homens e mulheres do bem, mas, no entanto contaminados pelos códigos do poder econômico e social.

O “rolezinho”, como está sendo chamado é a garotada pobre que também quer ir ao shopping, um lugar de vitrines bonitas, para um flerte e quem sabe uma pipoca. A partir de agora estão proibidos. Todas as pessoas com cara de pobre estão proibidas de circularem e se essa moda pegar será no país inteiro. Na verdade essa garotada, além do apartheid social carece de opções de cultural e lazer, sem contar com uma educação de qualidade. Os municípios brasileiros estão em débito com a juventude brasileira.

O que fazer? Acho que a melhor solução foi dada pela promotoria de São Paulo, que vai ouvi-los, que vai entender antes de punir, que vai intermediar a situação antes da coisa complicar e eles começarem a ser encontrados nas valas, como mais um cadáver a ser descartado. 

Vale ressaltar que o Prefeito Haddad é totalmente a favor dessa medida. Só ouvindo a população é que os gestores poderão, não só construir políticas públicas alternativas, mas principalmente entender que a repressão poderá desencadear numa das maiores injustiças que o país já viveu: a exclusão até da possibilidade de apreciar, pois a de comprar num shopping está mais próximo, devido aos vários programas nacionais e melhoria na vida dos brasileiros, mas ainda está bem distante.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo