Figura: vanderleyac.blogspot.com
Às
vezes fico me perguntando o que algumas pessoas querem com tanto conhecimento.
Estudam em diversos cursos, fazem dezenas de outros e guardam tudo para si,
numa clara demonstração de que nem de longe entenderam suas missões.
Praticamente
dois terços da minha vida tenho estado envolvido com o mundo do poder. A
maioria das vezes resistindo, lutando para que o poder de alguns não aprisionem
as pessoas de bem, tentando entender porque algumas pessoas que se dizem
dirigentes, seja lá do que for só enxergam o povo apenas como “garrafinhas e somente as valorizam próximo das
eleições, mesmo que seja uma eleição interna de alguma organização e outras
simplesmente quebrando os muros que dividiam o mundo dos que sabem das pessoas que
pagavam caro por não saber.
Essa
prática da detenção do poder está no ar, nos partidos, nas igrejas ou em
qualquer tipo de organização, onde exista disputa de poder e pessoas que só
conseguem enxergar o poder vertical e principalmente no poder público, que se
encontra, pressionado pelo contexto atual, numa enorme crise de identidade.
Todos aqueles que de alguma forma resistir a isso serão punidos, afastados e
sumariamente deletados de qualquer possibilidade futura. Ou aceitam a situação
ou nunca serão convidados para sentar à mesa.
O
mais interessante nessa breve discussão, é imaginar que na cabeça dessas
pessoas, todas as demais dependem somente delas, pois apenas elas detêm o
conhecimento de como chegar lá e defendem que só chegaram porque descobriram o
conhecimento. Assim se tornaram pessoas privilegiadas pela vida e por seus
enormes esforços e, portanto ganharam o direito de pensar e agir pelas outras.
Alguém
conhece pessoas assim, ou é coisa da minha cabeça? Se alguém conhecer, consegue
respeitá-las como seus líderes ou comandantes?
Acredito
que a socialização do conhecimento possibilita que as pessoas enxerguem o
próximo passo, que possam fazer escolhas, que possam se interessar por mais
conhecimentos. Para quem manipula as pessoas sem conhecimento, não há nada mais
subversivo do que instrumentalizá-las com informações e com novos conhecimentos.
Na prática é uma subversão permanente contra toda forma de poder vertical.
Não
sei nem se podemos chamar isso de fenômeno, pois é mais comum do se imagina e
ocorre em todos os espaços possíveis. Está ligado à personalidade e a índole de
algumas pessoas e também à matriz ideológica por onde essas pessoas passaram e transitam
na atualidade.
O
conhecimento na vida tem outro significado. Não pode ser chamado de conhecimento
algo que estático, sem vida e que apenas serve de texto e contexto para
legitimar o poder alguém contra outro. Paulo Freire dizia que o “conhecimento emerge apenas através da invenção
e reinvenção, através de um questionamento inquieto, impaciente, continuado e
esperançoso de homens no mundo, com o mundo e entre si”.
Na
verdade o conhecimento é um processo que transforma tanto aquilo que se
conhece como também o conhecedor, só que para isso necessita de um processo
dialético, do renascimento e da transformação do saber, onde o conhecedor o faça
circular, fazendo com que se reinvente e ganhe novos formatos temporais a
serviços da humanidade.
A
maioria das pessoas não sabe doar, nem compartilhar o conhecimento, assim perdem
o senso de ensinar, simplesmente porque o ensinar é antes de tudo uma doação.
Segundo Freire, ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige
também, a apreensão da realidade. “Ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção”. "O
conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma
ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em
invenção e em reinvenção".
Não há nada mais prazeroso do que saber que o conhecimento que
você socializou serviu para as pessoas se libertarem das “garrafinhas” e se
transformarem em militantes de uma causa que lutarão pelos seus direitos.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
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