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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Os desafios da integração de um governo


Humanistas e militantes de diversas causas dedicam suas vidas a pensar como fazer com que o que é plantado diariamente em termos de ideias e ideais não morra e possa, além de ser cultivado, gerar mudas para que toda a humanidade possa se nutrir. É certo que para muitos, isso não passa apenas de um sonho, mas o que será do ser humano se perder a capacidade de sonhar.
Esses e outros sonhadores alimentam-se todos os dias só de pensar que sempre será possível dedicar algum tempo para melhorar a situação de quem de fato precisa e se indignam em saber que às vezes perde-se muito e se negocia tanto, apenas para se marcar uma posição ou não se afastar do poder. Por essas e outras razões, infelizmente a desigualdade acaba se tornando um fato consumado e necessita um enfrentamento constante para evitar que alguns sonhos virem pesadelos.
Ao trazer para um governo os sonhos que muitos cultivam há anos, por exemplo, o de mudar a sociedade, fazendo com que a população, principalmente a mais necessitada, seja a protagonista de sua própria história, além da complexa engrenagem que é o ato de governar, com ações produzidas peça a peça, com atores de origens diversas, de pensamentos variados e muitas vezes com objetivos e interesses bem diferentes, há uma sociedade carente repleta de pessoas que sonham, criam expectativas e depositam nos governantes, em muitos casos, sua última esperança. Assim, toda vez que um governante trai essa confiança, fere a dignidade humana.

É de se imaginar que uma das situações que pode unir a humanidade é o caos e esse caos poderia ser caracterizado pela fome, que em regras gerais nega existência de grande parte da humanidade. Porém, o que se enxerga é um caminho distante para que a fome represente apenas um pesadelo do passado. O sonho de mudar essa realidade está presente apenas no imaginário e às vezes na prática, de um pequeno número de pessoas comprometidas com um novo amanhã. O Governo Federal fez uma parte dessa história, criando programas para o fim da miséria, porém o grande desafio será a redução drástica da pobreza, que alimenta diariamente as desigualdades.

O poder existente num governo, que muitos imaginam ter, representa apenas um empréstimo cedido pelo povo e por um curto espaço e tempo. Além disso, o tempo, que é senhor da razão, avisa diariamente, que o bonde da história acabou de sair e todos estão a bordo. Sábio será aquele que usar o tempo da viagem para apreciar a paisagem, consertar o que necessita reparos, convidar o povo que encontra no caminho e quem caminha ao lado, porém a pé, para juntar-se ao grupo, fazendo com que a caminhada seja mais prazerosa.

Integrar um governo, do ponto de vista de unificar sua linguagem e suas ações, não é uma tarefa fácil, pois não é só fazer parte dele, mas fazer com que esse governo caminhe na mesma direção e para isso necessita uma luta constante contra a vaidade e interesses individuais, além de um projeto consistente construído a várias mãos.

Parece simples, porque é tão difícil? Uma possível resposta sugere uma nova cultura, algo que transforme cada “caixinha de poder” numa peça fundamental do projeto unificado de governo, que leve em consideração o fato da maioria dos colaboradores serem de origens diferentes e às vezes com poucos conhecimentos, em metas estabelecidas na busca de novos conhecimentos, com o único propósito de melhorar as mentes centrais do governo, mas também todos aqueles que se dispuser a contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e consequente melhoria também na qualidade de vida da população, em especial a população mais carente.

A militância por uma causa nos ensina, que quanto maior for à aproximação com a população, mais fácil de conhecer e se comprometer com o sonho de cada pessoa. Assim, mais vale uma ação determinada, mesmo que inconveniente, do que a convivência enganosa, onde se imagina realizar o que nem mesmo existe.

Para que se faça uma revolução nas cidades, ou seja, que se crie uma nova forma de governar, se faz necessário, antes de qualquer ação, uma mudança interior de cada gestor, que provoque a necessidade de ouvir a população em todas as suas instâncias, ter o maior número de contatos possíveis, construir novas formas de convivência, governar para fora e não para dentro e acreditar que se o povo delegou poderes, que na verdade lhes pertence, está aí a grande oportunidade de escrever ou reescrever sua história e da própria humanidade.

A integração de um governo começa no momento em cada colaborador, escolhido que foi, eleito ou nomeado para um projeto coletivo, entender que está diante de uma nobre missão e para que tudo saia do jeito que a população espera é necessário sair do individual para o coletivo. Caminhar lado a lado com o povo sem medo, receio ou vergonha, de olhar para trás. Porém, isso só será possível se esse governo ao ser formado, teve como texto e contexto, uma proposta programática escrita de forma participativa, com o maior número de pessoas possíveis e não de forma mercantilista, onde só a troca alimenta os interesses de que se junta nessa situação.

Um governo só será integrado se a ação coletiva ocorrer de corpo, alma e espírito, por cada integrante desse governo, ou seja, traduzindo usando as palavras do Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é pura realidade”.

Que a vida que proporcionou a oportunidade desses gestores transformarem os sonhos da população em realidade, além de fazê-los entender que a representação sem a interação com os atores de nada vale, seja senhora do tempo que lhes resta para governar e os faça operários leais dessa grande obra, que é a mudança efetiva na qualidade de vida da população e em especial a que mais precisa, para que cada um possa dizer no futuro: Valeu e Sempre Valerá! 

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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