Humanistas e militantes de diversas
causas dedicam suas vidas a pensar como fazer com que o que é plantado
diariamente em termos de ideias e ideais não morra e possa, além de ser
cultivado, gerar mudas para que toda a humanidade possa se nutrir. É certo que para
muitos, isso não passa apenas de um sonho, mas o que será do ser humano se
perder a capacidade de sonhar.
Esses e outros sonhadores alimentam-se todos
os dias só de pensar que sempre será possível dedicar algum tempo para melhorar
a situação de quem de fato precisa e se indignam em saber que às vezes perde-se
muito e se negocia tanto, apenas para se marcar uma posição ou não se afastar
do poder. Por essas e outras razões, infelizmente a desigualdade acaba se
tornando um fato consumado e necessita um enfrentamento constante para evitar
que alguns sonhos virem pesadelos.
Ao
trazer para um governo os sonhos que muitos cultivam há anos, por exemplo, o de
mudar a sociedade, fazendo com que a população, principalmente a mais
necessitada, seja a protagonista de sua própria história, além da complexa
engrenagem que é o ato de governar, com ações produzidas peça a peça, com
atores de origens diversas, de pensamentos variados e muitas vezes com
objetivos e interesses bem diferentes, há uma sociedade carente repleta de
pessoas que sonham, criam expectativas e depositam nos governantes, em muitos
casos, sua última esperança. Assim, toda vez que um governante trai essa
confiança, fere a dignidade humana.
É
de se imaginar que uma das situações que pode unir a humanidade é o caos e esse
caos poderia ser caracterizado pela fome, que em regras gerais nega existência
de grande parte da humanidade. Porém, o que se enxerga é um caminho distante
para que a fome represente apenas um pesadelo do passado. O sonho de mudar essa
realidade está presente apenas no imaginário e às vezes na prática, de um
pequeno número de pessoas comprometidas com um novo amanhã. O Governo Federal
fez uma parte dessa história, criando programas para o fim da miséria, porém o
grande desafio será a redução drástica da pobreza, que alimenta diariamente as
desigualdades.
O
poder existente num governo, que muitos imaginam ter, representa apenas um
empréstimo cedido pelo povo e por um curto espaço e tempo. Além disso, o tempo,
que é senhor da razão, avisa diariamente, que o bonde da história acabou de
sair e todos estão a bordo. Sábio será aquele que usar o tempo da viagem para
apreciar a paisagem, consertar o que necessita reparos, convidar o povo que
encontra no caminho e quem caminha ao lado, porém a pé, para juntar-se ao grupo,
fazendo com que a caminhada seja mais prazerosa.
Integrar
um governo, do ponto de vista de unificar sua linguagem e suas ações, não é uma
tarefa fácil, pois não é só fazer parte dele, mas fazer com que esse governo
caminhe na mesma direção e para isso necessita uma luta constante contra a
vaidade e interesses individuais, além de um projeto consistente construído a
várias mãos.
Parece
simples, porque é tão difícil? Uma possível resposta sugere uma nova cultura,
algo que transforme cada “caixinha de poder” numa peça fundamental do projeto
unificado de governo, que leve em consideração o fato da maioria dos
colaboradores serem de origens diferentes e às vezes com poucos conhecimentos,
em metas estabelecidas na busca de novos conhecimentos, com o único propósito
de melhorar as mentes centrais do governo, mas também todos aqueles que se
dispuser a contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e
consequente melhoria também na qualidade de vida da população, em especial a
população mais carente.
A
militância por uma causa nos ensina, que quanto maior for à aproximação com a
população, mais fácil de conhecer e se comprometer com o sonho de cada pessoa. Assim,
mais vale uma ação determinada, mesmo que inconveniente, do que a convivência
enganosa, onde se imagina realizar o que nem mesmo existe.
Para
que se faça uma revolução nas cidades, ou seja, que se crie uma nova forma de governar,
se faz necessário, antes de qualquer ação, uma mudança interior de cada gestor,
que provoque a necessidade de ouvir a população em todas as suas instâncias,
ter o maior número de contatos possíveis, construir novas formas de convivência,
governar para fora e não para dentro e acreditar que se o povo delegou poderes,
que na verdade lhes pertence, está aí a grande oportunidade de escrever ou
reescrever sua história e da própria humanidade.
A
integração de um governo começa no momento em cada colaborador, escolhido que foi,
eleito ou nomeado para um projeto coletivo, entender que está diante de uma nobre
missão e para que tudo saia do jeito que a população espera é necessário sair
do individual para o coletivo. Caminhar lado a lado com o povo sem medo, receio
ou vergonha, de olhar para trás. Porém, isso só será possível se esse governo
ao ser formado, teve como texto e contexto, uma proposta programática escrita
de forma participativa, com o maior número de pessoas possíveis e não de forma
mercantilista, onde só a troca alimenta os interesses de que se junta nessa
situação.
Um governo só será integrado se a ação coletiva ocorrer de corpo, alma e espírito, por cada integrante desse governo, ou seja, traduzindo usando as palavras do Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é
só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é pura realidade”.
Que
a vida que proporcionou a oportunidade desses gestores transformarem os sonhos
da população em realidade, além de fazê-los entender que a representação sem a
interação com os atores de nada vale, seja senhora do tempo que lhes resta para
governar e os faça operários leais dessa grande obra, que é a mudança efetiva
na qualidade de vida da população e em especial a que mais precisa, para que cada
um possa dizer no futuro: Valeu e Sempre
Valerá!
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
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